Eram 4 horas da manhã. Estava a
chuviscar aquela chuvinha que nos molha lentamente até aos ossos. Entrei num bar,
com luzes vermelhas, onde algumas prostitutas conversavam, ao balcão, com dois
ou três clientes…
Sentei-me numa mesa, não sabendo
muito bem o que escolher. Veio uma moça muito vistosa, pedir-me para se sentar.
Eu acedi, já sabendo que isso significava, no mínimo pagar o dobro do «consumo
obrigatório». Pedi uma garrafa de tinto, argumentando que o champagne me fazia
azia (o champanhe surrado, com certeza…)!
A partir daí, as minhas memórias
começam a ficar confusas; as luzes muito fracas, davam um halo de «mistério»
àquilo que não o tinha. Quanto à conversa, não retive nem um pouco do seu
conteúdo; a moça tinha jeito em me fazer sentir bem-disposto, isto ainda me
lembro.
Após uma pausa na música, iluminou-se
uma zona do fundo, que afinal era um pequeno palco, onde se desenrolou o espetáculo
de striptease: uma falsa loira, que imitava Marilyn Monroe com alguma
verosimilhança… a meus olhos.
Posso ter sonhado tudo o que
descrevi acima, pois no dia seguinte, acordei na minha cama, sem mais do que
uma persistente dor de cabeça. Não me recordo como acabou a noitada e como vim
para casa. Com certeza, vim no meu próprio carro; as chaves estavam pousadas ao
lado da mesinha de cabeceira. Mas mais do que isso não sei.
Estranhamente, não sentia cansaço
nenhum. Levantei-me, tomei um duche; engoli o pequeno-almoço e fui para o
trabalho. Tudo sem pensar, num automatismo bem rodado.
Nunca mais fui àquele bar; nem sei
se realmente ainda existe, nem se as personagens que encontrei ainda aí
trabalham. Tudo se passou como se fosse «noutra vida». Mas tal não pode ser; pois eu
sei, até certo momento no tempo, o que fiz.