1/ O cavalo branco apascentava calmamente no monte, lá
ao longe, na orla de um formoso bosque. Ele apareceu-me várias vezes. Nunca
pude decidir se o cavalo era alucinação ou se era real. O monte e o bosque são
visíveis nas traseiras da minha casa. Sempre que olho para lá, lembro-me da
estranha visão, que nunca mais voltei a ter.
2/ No pino do Verão, vi uma linda serpente, de mais de
um metro de comprimento, estendida sobre o muro do jardim. Eu tive todo o tempo
para a observar da janela. Depois dum pedaço, deslocou-se com movimentos
ondeantes. Rastejou para um matagal nas traseiras, uma propriedade abandonada.
Não tive receio; fiquei fascinado com a ondeante sensualidade de sua locomoção
tranquila.
3/ Os gatos das redondezas, embora eu não lhes dê
comida, vêm ao jardim, terreno seguro e calmo para eles. Eu não os enxoto.
Costumam preguiçar à sombra das tuias. Não fogem quando entro pelo portão do
jardim, apenas me fixam tranquilos com o seu olhar.
4/ Um cão de guarda da vizinha, um são bernardo, está
sempre a vigiar quem passa atrás do portão. Considero-o um amigo pessoal, que
cumprimento de formas diversas, sempre que passo frente deste portão. Ele
exprime alegria efusiva, pulando e ladrando, quando me vê, no meu regresso,
após uma curta ausência de alguns dias.
5/ Sonho, frequentemente, com aves; sobretudo com gaivotas,
com maçaricos e outras aves da orla marítima. Estou sempre atento às aves
selvagens, esteja eu onde estiver.
6/ Estava uma vez, num cocktail, no último piso dum
hotel em Lisboa. Vi através da larga vidraça o que me pareceu ser um falcão ou águia
de pequeno porte. Aterrou num rebordo imediatamente abaixo da janela
envidraçada do restaurante panorâmico. Depois desta insólita visão, decidi
investigar se aves tipicamente selvagens
fazem incursões dentro das cidades. Foi então - e só então - que soube
tratar-se de um fenómeno relativamente vulgar...
7/ Ouvi, num recinto público, o canto melodioso duma
ave, muito diferente de tudo quanto estou habituado a ouvir. Tentei observar a
ave canora pela janela, mas não consegui. Gosto de ouvir o canto das aves e
tento identificar as espécies correspondentes. Estranhamente, o mesmo fenómeno
ocorreu algumas semanas depois, exactamente no mesmo local.
8/ Sonhei com uma estrela-do-mar, que se encontrava na
zona de rochas entre duas praias, próximo de minha casa. Na manhã seguinte, como
de costume, fiz um passeio à beira-mar. Lá estava ela, morta ou moribunda, sobre
a areia da praia, virada para cima. Escrevi um conto/poema sobre este encontro.
9/ Na mesma zona costeira vi um grande cardume de
peixes bastante grandes, do alto de falésias, durante uma das minhas caminhadas
quotidianas. Olhei para baixo e vi o mar, o substrato rochoso, as zonas que
ficam acima e abaixo do nível do mar. Nunca tinha observado tal espectáculo
embora muitas vezes veja o dorso prateado de peixes que aparecem à superfície
das ondas. Mas desta vez, cada peixe era perfeitamente visível à transparência
das águas calmas. Contei para cima de uma dúzia. Aproveitavam a maré para se
chegar à zona intertidal. Nunca mais vi algo assim, pelo que talvez tenha
observado o raro momento da desova, neste recanto calmo e nutritivo para a nova
geração.