As proporções do corpo humano devem ter interessado a
humanidade desde tempos imemoriais.
No entanto, a partir das primeiras civilizações, Suméria,
Babilónica, Egípcia e Grega… formam-se cânones, os quais correspondem a uma
forma estilizada e ideal do corpo.
Porém, no bebé recém-nascido, essa proporção corresponde
a 1:4.
Segundo a sua simbólica, os personagens mais importantes
deviam ser representados com dimensão maior, independentemente das leis da
perspetiva (que não ignoravam, mas que eles, simplesmente, não aplicavam na
representação do sagrado).
Dentro da mesma lógica, o Deus-menino tinha de ter as
proporções perfeitas, porque o seu corpo era o corpo de Deus feito humano.
«A Virgem com o Menino», da Basílica de Santa Sofia de
Istambul (século IX) apresenta-se sentada num trono, com um «menino» que é uma
imagem de adulto em ponto pequeno.
Os estudos de anatomia de Dürer e de Leonardo da Vinci,
para apenas citar dois grandes mestres, eram de excecional qualidade e suas
observações continuam a ser estudadas, no que toca à representação do corpo
humano, por estudantes de artes plásticas.
Por muito originais que fossem, eles não eram os únicos
que se dedicavam a estudar as proporções do corpo humano. Eram típicos da época
(finais do Séc. xv, início de Séc. xvi), em que houve um grande movimento de
interesse pela realidade e pelo rigor na representação do corpo humano.
O realismo surge na pintura ocidental, inicialmente pela
emulação em reproduzir as obras clássicas - gregas e romanas - o cânon
correspondente. Mas depois, emancipa-se dessa
filiação clássica….
O francês Georges de La Tour é cerca de um século
posterior a Dürer e Da Vinci - ele tem uma preocupação muito grande de
representar a verdade dos corpos, de forma anatomicamente correta.
Não só o bebé tem - de facto- as características
anatómicas dum recém-nascido (enfaixado, como era hábito na sua época), como a
mãe que o segura, pode ser simplesmente uma
camponesa, mesmo que façamos a leitura da Virgem Maria com o Menino Jesus.
Mas o maneirismo e o início do barroco, sobretudo na
península Ibérica, elegem a deformação ou alteração das proporções como forma
de exacerbar um efeito.
Este alongamento é
mais patente em El Greco (em finais de séc. XVI e no início do Séc. XVII).
Porém, é também muito frequente na mesma época, nos grandes espaços de palácios e igrejas: estes
espaços possuem grandes frescos, visíveis duma determinada perspetiva, em geral
de baixo para cima, como é o caso dos tetos e paredes altas. Nestes casos, a
forma tem em conta o efeito de perspetiva, mas também o acentua por vezes, para
dar um efeito em «trompe l’oeuil».
O maneirismo e o barroco (final do séc. XVI e primeira
metade do século XVII) foram exatamente os períodos em que se procurou uma
expressividade nos corpos, não apenas nas suas posturas, como também na
alteração das suas proporções. Estas representações eram vistas como verdade mística,
moral e subjetiva, acima das proporções puras ou clássicas da anatomia.
Pela segunda metade do século XVIII, este modo de
representação exacerbado vai corresponder ao estilo rococó.
O classismo, que se lhe seguiu, corresponde a uma reação
de retorno ao cânon clássico, no último quarto do século XVIII, o qual se
prolonga até ao século XIX, com o gosto napoleónico pelos modelos do Império Romano.
Só no início do século XX, com o cubismo, o expressionismo,
o modernismo e várias estéticas em concorrência, nas diversas vanguardas que se
sucedem, tomam os artistas grandes liberdades em relação às proporções do corpo
humano e em relação às leis da perspetiva.
Essa mudança radical na representação é muito influenciada pela «descoberta» e admiração da arte dita primitiva (arte dos povos de África, América e Oceânia, principalmente).
Essa mudança radical na representação é muito influenciada pela «descoberta» e admiração da arte dita primitiva (arte dos povos de África, América e Oceânia, principalmente).