segunda-feira, 21 de outubro de 2024

OBRAS PARA ÓRGÃO DE BUXTEHUDE (Segundas-f. musicais nº 22)

 Hamburgo é a cidade da Europa mais rica em órgãos históricos: Vários deles foram construídos pelo organeiro Arp Schnitger. Noutra cidade da Liga Hanseática, Lübeck, exerceu grande parte da sua vida profissional o Mestre do órgão barroco nórdico. Chamava-se Buxtehude e foi organista da Igreja protestante de Stª Maria de Lübeck

O jovem J.S. Bach tinha tal admiração pelo Mestre de Lübeck, que pediu dispensa às autoridades eclesiásticas da paróquia de Arnstadt, na qual exercia o cargo de organista, para fazer a viagem (provavelmente a pé) e aprender com o Mestre incontestado da escola de órgão do Norte da Europa. 


                                          Buxtehude tocando viola da gamba

Dieterich (ou Didrick) Buxtehude é um compositor germano-dinamarquês, nascido na cidade (hoje sueca), de Helsingborg. Seu legado é muito importante, incontornável, na História da Música europeia. De facto, ele impulsionou a literatura de órgão para um nível de qualidade, que não existira antes. Isso mesmo foi reconhecido pelo seu contemporâneo, o músico e crítico musical Johann Matheson, que cunhou o termo Stylus Fantasticus, para descrever as composições livres, típicas do barroco, toccatas ou prelúdios com grande variedade temática, recorrendo a efeitos espetaculares e jogando com os contrastes entre secções.

Na Península Ibérica do Séc. XVII, desenvolveu-se um tipo específico de toccata, designado por «Batalha» (o seu modelo foi a famosa "Batalha de Marignan" de C. Janequin). Estas peças ibéricas, tal como as Toccatas e Prelúdios nórdicos, preenchiam as mesmas funções: Destinavam-se às entradas ou às saídas das Missas. Por sua vez, tanto as Escolas Nórdica, como Ibérica, tinham conhecimento dos prelúdios, toccatas e outras peças não estritamente polifónicas, das escolas de órgão francesa e da Itália (do Norte)

Tal como as paisagens das Escolas de Pintura do Norte da Europa, nos séc. XVII-XVIII, as composições de Buxtehude, de Vincent Lubeck, de Nikolaus Bruhns ou de Jan Pieterszoon Sweelinck, irradiam uma luminosidade matizada pela interioridade. 

Buxtehude e Johann Sebastian Bach estiveram em relação com uma corrente da Reforma luterana designada por pietismoÉ importante compreender o caracter espiritual na base das composições destes mestres: Elas destinavam-se a ser apoios para as preces dos cristãos.

Deixo aqui algumas obras para órgão que, na minha opinião subjetiva, traduzem a essência da música de Dietrich Buxtehude. Há muito mais obras do Mestre de Lübeck que merecem audição atenta: Porém, o meu intuito ao redigir este artigo, foi somente o de estimular a curiosidade do leitor.


Passacaglia em Ré menor, por Helmut Walcha:


Prelúdio e fuga Fá# menor, por Bernard Foccroulle:


Prelúdio e fuga BuxWV 148, por René Saorgin:








NOTA: Além da música para órgão, da qual existem várias integrais (de Ton Koopmann, por exemplo), Buxtehude compôs muitas cantatas e peças para conjuntos instrumentais de câmara. 
Um conjunto de peças vocais e instrumentais é designada por Abendmusik. Estas peças eram executadas nos concertos espirituais, organizados por Buxtehude com a colaboração de discípulos e de músicos da cidade.

PS: As suites  de D. Buxtehude para instrumentos de tecla e corda (cravo ou clavicórdio), são notáveis pela sua qualidade: Suite em Mi menor BuxWV 236





1 comentário:

Manuel Baptista disse...

Suite em Mi menor, interpretada por Wim Wenders no clavicórdio. Uma das melhores composições para tecla e cordas de Mestre Buxtehude:
https://www.youtube.com/watch?v=GfOM1FyuApY