segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

[OBRAS DE MANUEL BANET] ESTÂNCIAS



Hoje, como outro dia qualquer 

Podia ser Primavera
Marulhar de seixos rolados
N' areia firme da baixa-mar
Na espuma de dias
Coleantes sem fim...

Assumo como passos na areia

Este destino
Imanente ilusão e
Real se misturam

Aqui estou;

Posso descrever, pintar,
Ou fotografar a paisagem
Mas, como fazê-lo 
Com a paisagem interior?
Esta beleza que me mata
E me embala
Tenho fome de azul

O dentro está fora e fora o dentro

Sábio? Louco? - Eu sei lá
Gosto de pedras castanhas
Com laivos de roxo
Erodidas conchas encastoadas
Junto ao cristal

Podia ser noutro tempo

Podia, eterno instante
Ave cruzando o horizonte
A espuma e a rocha
A falésia intemporal

Naquele dia vi

Vi  sempre com devoção
Recordarei
Sempre e sempre voltarei
Ao recôndito lugar 
Do teu templo
Aqui neste preciso lugar 
Da minha escrita

Um dia sonhei a minha morte

E fiquei tranquilo
Guardo imagens dela
sem igual no coração
e nos olhos quando se fecham

Meu pobre intelecto!

Sempre descrente
Sempre a duvidar 
Da natural divindade
Da Natureza
Até sempre, doutor! 
Apenas lhe desejo coisas boas,
Bom caminho, boa viagem!

Gosto de estar aqui 

Não lamento aqui ficar
Aqui, além, noutro lugar,
Em ti mesmo estou 
Estarei em ti somente 
Tu... que sabes 

Um simples calhau

Mais que todas as palavras
Deu eco à rocha
No calor do raio solar
Que me afaga o rosto
Neste instante preciso

Tudo é eterno

O tempo não existe
O mundo é vibração-onda
Eleva-se esvai-se
A onda sempre
Não se cansa e segue sempre
O sopro da respiração

Mar primordial 

Te adoro e venero
Te dou e me dou
Mudo de encanto

 S. Pedro do Estoril, 28-01-2018






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