[Do livro «Exercícios Espirituais, 1985, Ed. MIC (Estoril)]
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS
1-Encontrar o ponto de equilíbrio entre um rosto e
uma paisagem. Depois, fechar os olhos e desenhar esse conjunto, até ao detalhe.
Recomeçar tantas vezes quantas as necessárias para que a imagem real se
sobreponha à imagem mental.
2-Fechar os olhos em posição horizontal, relaxada.
Sentir a pressão de um dedo em diversas zonas do corpo, sem fazer um único
gesto. Quando se atinge um estado em que a sensação imaginada parece física, recomeçar
mas – desta vez - usando o dedo para confirmar o realismo das sensações
corporais.
3-Em condições de completa relaxação física,
deixar os pensamentos fluir livres pela mente. Captar um desses pensamentos,
concretizá-lo sob forma de uma frase, modulando em seguida a sua expressão do
modo mais variado possível, dando diversos matizes à mesma ideia; por fim,
relembrar todas as formulações encontradas e transcrevê-las. O mesmo se pode
fazer com uma frase musical.
4-Ler as horas, os minutos e os segundos num
relógio (silencioso). Imaginar que se está a visualizar a progressão do tempo
sem olhar o relógio. Após ter decorrido um tempo avaliado em X (10 minutos, por
exemplo), ler de novo as horas e comparar o intervalo de tempo decorrido com a
estimativa mental.
5-Com as pálpebras cerradas, mas sem contração,
mover os glóbulos oculares circularmente, de harmonia com o ritmo respiratório.
6-Em posição horizontal, descontraída, olhos
fechados, sentir o peso das diversas partes do corpo até todo ele parecer muito
pesado.
7-Num estado de total vazio interior, imaginar uma
esfera branca, lisa, sobre um fundo branco; não existem sombras nítidas visto
que a esfera não se encontra em frente de nenhum plano sólido. Imaginar a
diminuição da esfera até ao limite de visibilidade, ou seja, até à sua
transformação em ponto.
8-Após audição atenta de uma obra musical, tentar
ouvi-la mentalmente do princípio ao fim.
9-Refazer pela imaginação um trajeto habitual, por
exemplo, entre casa e o trabalho, supondo que se utiliza o meio de locomoção do
costume e de molde que as imagens surjam na sequência idêntica às do percurso
real.
[Extraído do livro «Exercícios Espirituais», 1985,Ed. MIC (Estoril)]
SENTENÇAS
1-Descalça as botas antes de trepares aos
telhados.
2-A névoa envolve as encostas da montanha; no
entanto, o seu cume resplandece sob o Sol.
3-Não tires à mulher a sua ilusão; todo o amor que
lhe possas dar será em vão, se teimares em abrir-lhe os olhos.
4-A poesia nasce, cresce e morre; os poetas passam
– suas vidas valem pelo que produziram.
5-Uma árvore expande os seus troncos na medida
necessária para optimizar a captação de luz pela folhagem, não despendendo
porém demasiada energia para extrair a água e os nutrientes do solo e levá-los
desde as raízes até às folhas.
6-Nas coisas da natureza, o Tempo não é linear,
mas complexo; embora o tempo não esteja inscrito nos organismos, estes são
relógios cuja batida está regulada por factores internos, esses sim, complexos.
Não se pode confundir o relógio com o tempo – o instrumento de medição com a coisa
medida – no entanto, assim como pode parecer-nos que as horas voam, ou que,
pelo contrário, que o tempo custa a passar, também se pode admitir que os
diversos relógios naturais estejam regulados de modo diferente, de tal maneira
que, num caso, uma hora valha um século (bactérias) ou que, noutro caso, um
século valha uma hora (processos à escala geológica).
7-No amor,
o idealismo consiste em amar a essência,
o materialismo em amar a volúpia,
o cepticismo em não amar,
o dialecticismo em amar a transição do momento de volúpia em
momento de essência e vice-versa.