Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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terça-feira, 19 de maio de 2020

TODOS OS IMPÉRIOS TÊM UM FIM

           


Os impérios são governados por homens, por seres imperfeitos, sujeitos a toda uma série de erros de avaliação, alguns dos quais acabam por ser fatais para o destino destas construções de poder.

O primeiro desses erros é a ausência ou a perda de uma referência moral, de uma forma de exercer o poder que não seja a força arbitrária, mas seja compreendida pelos sujeitos como próxima do que consideram «justo». Com efeito, a corrupção, o arbítrio, a legalidade espezinhada, tudo isso se verifica na perda do referencial moral. A partir desse ponto, os grupos (sejam eles etnias, tribos, ou classes) que se  mantinham à sombra do império, apenas procuram uma ocasião para desertar, inclusive para virar casaca e se aliarem com os inimigos mais coerentes desse mesmo império.  

A segunda causa é a ausência de freio nas despesas, quer sejam sumptuárias, quer sejam militares. Neste caso, a parte de capital destinada a ser directa ou indirectamente reinvestida na economia, a parte destinada a «reproduzir capital», irá diminuir. Esta diminuição é principalmente causada pelo Estado, pois os políticos no seu comando julgam que o seu poder e vontade podem tudo («hubris»). Na realidade, estão a subtrair força à economia real, através do agravamento de impostos, que vai afectar a capacidade das empresas e dos particulares a investir de modo produtivo. Por outro lado, vai descurar os investimentos produtivos que ele próprio - Estado - se deveria encarregar de fazer (como investimentos em infraestruturas, na educação, na investigação, etc.).

A terceira causa, tem a ver com a estagnação tecnológica, o convencionalismo, a ausência de inovação verdadeira, em todos os domínios. Esta situação ocorre, muitas vezes, ainda no auge de um poder imperial e vai mantendo-se até ao fim, quando os «escribas» tomaram conta do barca do poder. Hoje, eles são designados por «economistas» e por «académicos». Geralmente, são uma pseudo-elite, um grupo parasitário, que se auto-atribui a «sabedoria» e esmaga, com uma espécie de censura, toda a dissidência. São cultores da norma, inquisidores, guardiões da ortodoxia. Eles vão iterando o discurso defensor do poder, reproduzindo e declinando ad infinitum a ladainha de que «Não Existe Outra Alternativa».  

A quarta causa tem a ver com a passividade política do povo e o seu corolário. A cidadania divorcia-se do poder, este fica cada vez mais entregue a uma oligarquia. Esta, faz a política que tende a perpetuar-la a si própria, e o ciclo vicioso vai-se iterando em círculos sucessivos. A cidadania só irá acordar - em geral - apenas quando a derrocada estiver a dar-se, ou já ocorreu. Ela poderá ter, entretanto, uma atitude de divórcio em relação ao poder, porém mantém-se passiva, até as coisas se tornarem demasiado insuportáveis. Mesmo nesta situação extrema, não terá coragem de derrubar o poder instaurado, senão quando verificar que este já não tem a força com que a ameaçava. Quando a cidadania vir que o poder já é tão frágil, que não concita a fidelidade da polícia e das forças armadas. 

Claro que estes quatro aspectos estão interligados; é deveras impossível de descrevê-los em pormenor separadamente. 
Analisando os impérios passados, verifica-se que padeceram destas fraquezas fatais. Seria bom as pessoas conhecerem - com um certo pormenor - o que aconteceu com os diversos impérios. Temos documentação sobre vários impérios da Antiguidade, como Roma, Cartago, etc. Existe ainda mais abundância de documentação sobre os impérios ultramarinos e coloniais, erguidos e perdidos por portugueses, espanhóis, holandeses, franceses e ingleses, principalmente. Há uma profusão de dados sobre o modo como o império soviético acabou por colapsar, há cerca de 30 anos, etc, etc.

O desejo de manter por longo tempo uma hegemonia mundial é vão. 
Os EUA e seus vassalos da NATO deveriam estar cientes disso. Não existe um mundo estável, se enormes partes do mesmo forem oprimidas e exploradas. Um futuro benéfico e estável para as nações que actualmente se designam pelo termo de «Ocidente» nunca poderá ser construído na guerra, ou na ameaça permanente da mesma. 
O que os seus dirigentes estão a fazer é insensato: é como se estivessem combatendo o fantasma do que chamam «comunismo», tanto em relação à Rússia, como à China. Eles sabem bem que, actualmente, nem uma nem outra destas potências responde a essa definição. São, na realidade, grandes potências que querem ver o seu papel reconhecido nos assuntos internacionais. Além destes, existem outros grandes países, como a Índia ou o Brasil, que também desejam ter um papel no mundo multipolar de amanhã. 
O mundo unipolar, sob hegemonia da potência que triunfou em 1991, da (primeira) Guerra Fria, não poderá durar, nem é desejável que dure. 
A questão de um futuro decente para a Humanidade, passa por os poderosos reconhecerem que é necessário um novo «Ialta» e um novo «Bretton Woods». Claro, com actores e meios diversos dos destas duas conferências, mas com alguma analogia: serão conferências onde as  principais potências militares, populacionais e económicas do Planeta se irão pôr de acordo em criar condições de estabilidade mundial verdadeira.