Porque razão os bancos centrais asiáticos estão a comprar toneladas de ouro? - Não é ouro em si mesmo que lhes importa neste momento, mas é a forma mais expedita de se livrarem de US dollars!!
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quarta-feira, 9 de agosto de 2017

A BRANCURA DO CISNE - AS INDUÇÕES FALSAS

Creio que foi Hume que avançou com o exemplo do Cisne, para ilustração do quão deficiente era a lógica indutiva:

- Todos os Cisnes que conhecemos são aves brancas, portanto o cisne pode ser erigido em símbolo de brancura (e, por extensão, de pureza, etc., visto brancura e pureza estarem associadas na cultura ocidental e noutras).

             


- Porém, quando os Europeus descobriram o continente Americano, verificaram que existiam lá cisnes negros, tão «normais» como os cisnes brancos da Europa. Esta nova raça de cisnes negros, tornava a  expressão proverbial «branco como um cisne» bastante ridícula. Tornava também ridículo o raciocínio indutivo, pois ele toma sistematicamente a parte pelo todo, inferindo que os objectos que não conhecemos são exactamente como os que conhecemos.

Porém, o pensamento contemporâneo é fortemente influenciado pela indução. Basta pensarmos nas estatísticas, nas amostragens que são feitas, na validade ou não de tais estatísticas como «prova» de que determinadas tendências na economia,  na opinião pública, etc. são detectadas e escrutinadas, são avaliadas «objectivamente». 

Talvez a crise das crises, seja afinal, mais profundamente, um colapso da indução como método de raciocínio lógico. Uma incapacidade de avaliar o risco, porque nos colocamos a observar o real com premissas erradas. 
Nassim Taleb retomou a metáfora do «cisne negro» com profunda ironia e sentido de humor, sabendo muito bem que os leitores de Hume identificariam a ligação entre o seu argumento e o enorme espanto da sociedade do século de Hume, ao descobrir, no Novo Mundo, uma raça de cisne negro, da ave símbolo de brancura!

Mas eu pretendo ir além de Hume e de Taleb para ir ao encontro da questão de como nós construímos a nossa realidade. Nós construímo-la ao nos movimentarmos nela. Ela não é um quadro rígido e definido nos quais nós temos de nos encaixar. É antes a nossa própria perceção de nós próprios e do mundo que «constroí» ou «fabrica» o mesmo mundo. Ou seja, teremos que dar razão - até certo ponto - ao filósofo Berkeley, que apontava a impossibilidade de nós conhecermos realmente o real, pois os mecanismos pelos quais alcançamos ou julgamos alcançar a compreensão das coisas e do mundo são apenas os sentidos e o raciocínio. Ora, tanto um como outro, são fruto na nossa disposição (genética) dos órgãos, tecidos e células, assim como das formas particulares que estes tomaram no decurso das nossas vidas. O mundo exterior, a realidade, podem ser postulados como sendo independentes dos meus órgãos dos sentidos e do raciocínio.  Mas, justamente, tal realidade exterior não pode ser conhecida e cognoscível sem recurso aos ditos órgãos, pelo que é legítimo pensar-se que uma parte ou até a totalidade do que vemos, do que experimentamos, é ilusório.

Creio que o mundo e a realidade estão para além da capacidade humana de os compreender extensivamente. Só Deus poderá, por definição, ter essa propriedade. Mas existe a capacidade humana de compreender e de dar conta de «pedaços» do real, pedaços deste mundo, que são alcançáveis, que estão em coerência com outros pedaços, assim como num puzzle. 
O nosso conhecimento do mundo será sempre imperfeito em relação ao Todo (Teorema de Goedel), mas ao nível de sub-sistemas pode efectivamente melhorar, aperfeiçoar-se, como se verifica nos domínios das diversas Ciências físicas e naturais.
Nós somos espíritos encarnados, não somos simplesmente corpos, não somos (somente) uma mecânica subtil, de moléculas, células e tecidos, formando órgãos e organismos. Embora sejamos os «habitantes» de corpos, não somos isso.