A… Passa*
Amor, duas palavras tem
que ser.
Uma para dizer:
“querer”
e a outra
para responder:
“Não”
Novo dia, nova luz
Ora s’alumia, naquela hora,
Senhora, deusa de Luz.
Des-i-lu-sões ... estão meus
Pensamentos cheios,
Porque é que
os devaneios
Têm freios nos pneus
Meus?
-Santo
Deus,
vá deles saber
as razões!
Se lá achara, aquela que foi
Na hora bela musa – soi.
Ó Sol, sozinho do meu
ninho em vinho se
foi?
Se lá achara, nela já lhe dois
Aquela dor grande vela
Mastro e caravela,
Queira vê-la
Queira vê-la
Se quereis...
Sóis!
Equação do vento
na lira:
Ler um tento,
Não se delira,
mas se tento
fazer a ira
da vontade cozer
os versos de frade
é por amor à verdade,
à verde idade
A ver (saudade)
O Largo da Trindade.
De Lisboa, só vem
Coisa boa...
Nos bailes de Sant’António
O seu demónio
paira à toa:
Os versos entoa
vertidos
em pira,
expira,
hélice
d’Alice...
Krakatoa!
Java, porém,
É mais além...
Trovejava
o Nepal
em sânscrito
inscrito
no rito.
Ir ou mito,
o que tem?
Que cantem!
Que digam, felizes:
Doidas perdizes
Deu-me um pagão!
...mas não se pagam
senão com pagem
na voragem
de um sermão.
Ser irmão do Sol,
nascente ou posto
de luz que na cruz
quebra o rosto:
- Do vinho, o mosto.
- Do pinho, o gosto.
Aposto:
Um quarto de padrinho!
-
“Quieto, quietinho!”
diz o encosto.
-
“Aqui estou, sozinho!”
responde o bem-disposto
autor do presente
verbo demente:
“Se mente
a semente,
não tente
o potente
agente
do dente...
a gente
qu’ aguente!
Já sente
o pente
rente
ao rosto.
Sem cinta que sinta
a santa assenta
a venta na manta.
“Milagre!”
Diz o padre
Diz o padre
mas que madre
se há de, no sabre,
dorir, dourada?
Dormir ou nada...
Nevada, se surgir
Cevada ceifada
a fada de Fado.
Ó malfadado
verso embrulhado,
em chita ensarilhado!
-Não, Conchita,
o telhado
continua aferrolhado
pelo mau olhado
da conta.
Ia nu, a ferros,
Ao lado de uma tonta...
Ó Liberdade!
Ó Verdade!
Ó Beldade!
Ó Verdade!
Ó Beldade!
Mata-me depressa
morro-me com pressa
de voltar à puberdade.
Ideia louca
Louvada “Deia”
gentil me destes
a prazeres agrestes
e, com Orestes,
estás sempre prestes,
a despir as vestes...
Vem, não restes
no céu e aos terrestres
dá novos mestres!
Fiel labéu
De cão: “Afia-dente”
O que sente
um vidente?
É ponto assente
Que mente
... e no poente
mui contente,
o Sol ardente
diz:
-
“O sal que rebente
no cristal
Tal como
quis!”
Que isto se diga, não importa...
(o que importa é o que vai por dentro)
-
Não voltei à porta do Cristo
nisto não
arrisco o meu petisco!
San Francisco
deita o isco
ao marisco deita
e não deita mal!
Vá ver o quintal
Do Quim
E – que tal ‘ –
- Que sim, que sim,
diz o pasquim
Astral...
Por fim, sem mal
vos dei o talismã
da mamã,
não vim de cal,
não!
de...
Portugal
Por Túgal,
Para vento
Tentúgal
atento,
solúvel,
pregá-lo-
ei em Vigo
....Se
vi,
digo,
... Se não,
deixá-lo!
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* EXTRAÍDO DE «TRANSFIGURAÇÕES», RECOLHA INÉDITA DE POEMAS (1985-1986)