Fazer poesia com as mãos
Moldar estátuas de fumo branco
Entoar as horas pelos valados
De noite escalar as dunas
De dia ouvir zumbidos no lugar
Assim irei rente ao rio
Canoa sem mastro e sem remos
Serei aquela ave de falcoaria
Ou aquela raposa assustada
Clandestina senha do juncal
Mais não saberei que meus dias
Minhas errantes caminhadas
Aquelas visões de poente
E me extinguirei sem dor
Sem assumir dívida ou herança
Apenas assoprado como vento
Da alma entregue ao universo
(Murtal, Parede, 23 de Janeiro, 2019)
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