Vem esta crónica ilustrada com a foto acima, a propósito dos «gatos gordos» que enchem as notícias, que até me deixam uma lágrima ao canto do olho, quando penso nos seus imensos sacrifícios pela comunidade.
O caso mais «tocante» é o número de hoje do «O Público», que não esconde a sua intrínseca submissão, subserviência, ao falecido patrão. Claro que eu posso lamentar a morte de alguém e ser respeitoso para com os seus familiares e amigos. Mas fazer um ditirâmbico elogio fúnebre do personagem, apenas porque este era dono do jornal, mostra até que ponto a imprensa (toda ela!) está nas mãos de uns poucos «gatos gordos» os quais, dominando a imprensa, têm também o domínio das nossas mentes (numa larga medida) e portanto, têm os políticos na mão (e até «à mão»).
Aliás, os políticos todos, desde o «mais alto magistrado da Nação» até ao insignificante e anónimo deputado, têm de fazer um solene elogio fúnebre do personagem, como se todos nós fôssemos devedores da sua augusta obra, de construção dum império da grande distribuição...
Eu creio que as pessoas medianamente cultas sabem todas o mal que os hipermercados e grandes centros comerciais fizeram ao país, ao liquidarem o pequeno comércio de vizinhança.
Se não foram os causadores diretos da crise económica que assola este país - há tanto tempo - pelo menos, contribuíram para ela, tornando os cidadãos consumidores e produtores, reféns - a todos os níveis - do seu monopólio da distribuição.
Não me parece difícil de dizer umas frases bonitas quando se possui biliões, não é certamente difícil ter uns escribas sempre prontos a transcrever e propagar aos quatro ventos mediáticos a mais insignificante reflexão, quando se é dono de grande fortuna.
O poder corrompe e quando se atinge uma fortuna de uma determinada ordem de grandeza, como a dos Amorins, Belmiros, etc. é-se corruptor «por natureza». Exerce-se diretamente o poder, embora se tenha à mão uns fantoches disfarçados de políticos, de jornalistas, de «pensadores», para dar lustro e «autoridade» à sua procura insaciável de mais... mais dinheiro, mais poder, mais influência.
Ao fim e ao cabo, esta edição do «O Público», à altura do gabarito intelectual e moral da sua redação, tem a sua utilidade, pois serve para ilustrar a total e assumida relação incestuosa do poder financeiro com o poder da média corporativa...e de ambos com o poder político institucional.
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