A realidade «judaica do Antigo Testamento» do povo judeu de Israel atual é tão fictícia como a dos germânicos serem «arianos» e terem sido declarados como «a raça superior» pelo regime de hitleriano. Na verdade, são os palestinianos muito mais próximos geneticamente do povo judeu de há dois mil anos,. Isso não lhes confere um estatuto especial, mas apenas mostra o grotesco e a monstruosidade de basear uma política em dados étnicos ou «rácicos». Toda a política baseada em elementos raciais é uma clara negação dos Direitos Humanos, inscritos na Carta da ONU e em inúmeros documentos oficiais de todos os países (incluindo Israel).

quarta-feira, 22 de março de 2017

DOZE EPIGRAMAS -1977

EPIGRAMAS*

1.

Agrilhoado aos tendões do desespero
Canto raivoso o cativeiro
Do corpo cansado prisioneiro
Impaciente a morte espero



2.

Meço o Mundo pelos passos
Que marcam o tempo gasto
Anos-luz de sonhos que arrasto
Na quarta dimensão dos espaços



3.

Sem falar diz-me tudo nos lábios
Como a bruma beija no mar
O pescador de olhos sábios
Que sabe no céu a rota tomar



4.

Com o olhar revela segredos
Como a fonte vertendo na noite
Suaves lágrimas de rochedos



5.

Semeias pelas janelas da cidade
Cantos leves como o vento



6.

Segredos à flor dos lábios
Olhos cerrados no azul
Abismo em campo aberto



7.

Tudo se diz no silêncio
É impossível fechar os ouvidos ao silêncio
É impossível calar o silêncio



8.

Palavras para quê?
Não ouves o grilo cantando a sua serenata?
O fogo a crepitar na lareira?
As estrelas difundem uma harmonia límpida;
São lágrimas?



9.

Sinto o sangue a latejar na cabeça
Abre-se-me o corpo em flor
Descubro uma chaga no lugar do coração



10.

Em ti redescobri o objecto há muito tempo perdido
Há tanto tempo...
Sabor a sal, a algas marinhas, a moluscos
Dentro de conchas nac’radas...



11.

Há em mim
“Um-não-sei-quê”
Que se esvai
Um cisne preto
Deslizando sobre o lago
Numa manhã outonal





12.

Da fé pela minha estrela
Mui cedo me desenganei
Agora só me desvela
A saudade de quem amei




--------------
(*) Esta recolha de Epigramas pertence ao livro de poemas inédito, «Anónimo Eu». Neste, recolhem-se alguns poemas escritos em 1977 e nos dois anos anteriores.  
Estes epigramas não têm relação entre si, como se pode ver imediatamente pela pluralidade temática. Porém, liga-os a inspiração estética comum quer à poesia haiku, quer à quadra popular.

Sem comentários: