Pierre Charles Comte *(1823-1895) - Auto-retrato
Se consultarmos a página da Wikipédia que lhe é dedicada, verificamos que foi um artista muito bem inserido na cultura e nos gostos do século XIX. Em particular, várias obras referentes a episódios da história são realmente notáveis.
Gosto, em particular, de duas:
- A coroação de Inês de Castro (presente no Museé de Beaux-Arts de Lyon), quadro a óleo de cerca de 1849, mostra uma cena esplendorosa, no paço real, com toda a pompa e a múmia de Inês. Um nobre ajoelhado, beija a mão cadavérica, como gesto de submissão ao poder de D. Pedro I.
O contraste do luxo palaciano com a imagem da morta não poderia ser mais surpreendente e faz tremer com o horror da cena.
A história de Inês e Pedro é um episódio da história de Portugal sobejamente conhecido, descrito por poetas e prosadores, até mesmo usado como tema para ópera.
O outro quadro, relaciona-se com a história de Inglaterra, o Processo de Jeanne Gray (Lady Jane): Lady Jane, rainha de Inglaterra por 9 dias, foi vítima das intrigas que levaram ao seu encerramento na torre de Londres e ao seu julgamento, tendo a rainha Mary feito executar Lady Jane, por uma suposta conjura, destinada a derrubá-la do trono.
Esta tela tenta descrever uma cena do processo, como se lá estivéssemos: De pé, Lady Jane, dá a mão a beijar a um cortesão. Este, terá sido encarregue pela rainha Mary de endereçar ao tribunal a acusação de conjura, mas ele sabe perfeitamente que esta é forjada. Isso explica o facto de se ajoelhar diante de tanta nobreza e inocência da jovem Jane Gray. É assim que interpreto a cena, dado que tanto juízes, como eclesiásticos, estão numa postura de expectativa surpreendida.
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*Autoretrato, guardado na família Gandon-Banet.