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terça-feira, 7 de novembro de 2017

SAÚDE PÚBLICA DE CANTINAS ESCOLARES EM RISCO, NAS MÃOS DE EMPRESAS

Comunicado da FERLAP, associação de pais e encarregados de educação de alunos dos ensinos básico e secundário: 


MEU COMENTÁRIO:

O escândalo da má qualidade e mesmo do risco para a saúde das crianças portuguesas, em especial, nas cantinas escolares entregues à voracidade de empresas de prestação de serviços, no geral, muito pouco qualificadas para os ditos cujos, muitas apenas tendo obtido os contratos graças a conivências inconfessáveis com o poder autárquico e/ou com manda-chuva que pontificam em certos estabelecimentos, não poderá ser nunca resolvido, a não ser que se ponham em prática os princípios que informam ainda (legalmente) os serviços públicos e a escola pública, em particular.
Estes princípios são incompatíveis com o lucro, com a rentabilidade dos negócios acima das pessoas e portanto, a entrega de cantinas escolares a privados é necessariamente um péssimo negócio para o Estado, mas sobretudo para os utentes, os alunos principalmente.

Quando exerci o cargo de professor na Esc. Sec. de S. João do Estoril, pude constatar (e antes, também, na Esc. Sec. D. João de Castro em Lisboa e noutras escolas públicas) como era importante para a qualidade das refeições, que estas fossem elaboradas e servidas por pessoal auxiliar da própria escola. Sendo pessoal permanente, não precário, portanto vitalmente interessado em que o serviço tivesse qualidade, mesmo quando (já) não tinham seus filhos ou netos a frequentar a mesma. 
Muito menos interessados estarão funcionários de uma qualquer empresa de «catering», colocados ora num sítio ora noutro, estando o seu lugar dependente dum patrão e não dos utentes ou da direcção da escola em causa, pelo menos directamente. 
Além disso, é evidente que um serviço com preços bastante controlados, para dar lucro, terá de reduzir a qualidade da matéria-prima utilizada. 
Igualmente, quanto mais baixa a formação de seus funcionários, menos terão os patrões dessas empresas que pagar em salários, segundo contrato de trabalho do sector.

A lógica educativa e a da saúde pública não se compadecem com  a lógica empresarial.

As pessoas deviam abrir os olhos e perceber - de uma vez por todas - que a auto-gestão das cantinas escolares (e das outras também) não apenas é possível, como é também o único processo seguro, decente e sustentável. 
Isso implica que a gestão destas cantinas seja devolvida às escolas, as quais deverão considerar imperativamente todos os seus aspectos como sendo pedagogicamente relevantes, desde a escolha das matérias-primas e da confecção das refeições, até a como atender às necessidades especiais, etc.