Tenho hesitado, durante muito tempo, a escrever sobre o assunto.
A ideologia difusa que emana de
muitas seitas e gurus «New Age» tem um efeito adormecedor das consciências, uma
regressão para o obscurantismo, uma recusa de uma verdadeira alternativa social,
quer ela passe por sucessivas reformas ou por ruptura revolucionária.
Simplesmente
vista, a ideologia New Age corresponde em tudo à função tradicional de ideologias
«religiosas» para consumo das massas. O indivíduo é adormecido com uma
explicação totalizante que lhe permite ser preguiçoso (intelectualmente) em
relação à pesquisa da verdade, seja no âmbito social, económico, natural…
Assim,
experimenta um falso consolo numa falsa explicação «lógica» que lhe faz aceitar
passivamente «o seu lugar» no Universo. Muitas vezes reveste-se de palavreado
«revolucionário», alternativo, ecologista.
Quando apelam a agir, os objectivos
são apenas de se darem a conhecer nos media. As acções são sempre simbólicas e
inócuas. Os adeptos e participantes não se questionam sobre a racionalidade, a
pertinência e a adequação das acções: apenas se lhes «propõe» … «participar» =
são usados como massa amorfa e manipulada.
As pessoas envolvidas não entendem que estão a ser desviadas de participação em lutas reais, onde poderiam
surgir fenómenos colectivos de apoderamento.
As manifestações simbólicas «New Age», no seu
estilo, assemelham-se aos «happenings», cujas origens remontam aos anos 60-70, mas
deixaram de ter sequer a pujança que estes tiveram nessas décadas.
São coisas inócuas
e o poder gosta muito que elas ocorram: são fáceis de controlar e «demonstram» que
o poder é democrático por tolerar a sua (pseudo) contestação.
No plano teórico, são de
uma pobreza confrangedora e no plano do saber do mundo natural propagam uma série de
idiotices que podem apenas deixar as pessoas muito
baralhadas e incapazes de compreender verdadeiramente os fenómenos:
- por exemplo, falam, a torto e a direito, de «energias», um truque muito banal
mas nada honesto, pois qualquer coisa tem sempre uma determinada energia, porém
o que fazem é dar um nome de «energia» disto ou daquilo, sem outra explicação.
Não explica nada, mas dá ao incauto a ilusão de que existe, que é enunciada uma explicação, quando
na realidade é apenas uma constatação de ignorância, quando não de escroqueria.
Os gurus e sacerdotisas,
curandeiros e videntes, médiuns e espíritas abundam; dizem-te sempre que não querem
vender-te nada, mas vão-te cobrando... e nada pouco; vão sobretudo fazendo o mal,
porque há pessoas desesperadas, que precisam de apoio. São predadores/as, esses
arautos de curas: as únicas pessoas que se curam são as que vendem a tal cura!
Desmascarar esse
folclore é uma necessidade, pois ele tem efeitos muito nefastos nos indivíduos.
Retirar as pessoas à sua influência é um acto de verdadeira caridade e
compaixão.
Do ponto de vista colectivo, proliferam as seitas que desviam as
pessoas boas (muitas estão muito sinceramente envolvidas nestas actividades) de
um verdadeiro protagonismo social, dificultando o apoderamento e elevação de
consciência social de muitos. São um auxiliar precioso do capitalismo
agonizante, quer o façam com plena consciência ou não.