É por demais conhecida a história (ou lenda?) de que Beethoven terá inicialmente dedicado a obra ao imperador dos franceses, Napoleão Bonaparte. Quando Beethoven se apercebeu de quem era na verdade Napoleão, liquidador da liberdade dos povos, o compositor riscou o nome do imperador na página de dedicatória e inscreveu a frase: «em comemoração de um grande homem» deixando no vago quem era esse «grande homem» ...
É esta a história que contam, não sei se foi assim ou não.
O próprio nome «Imperador» foi dado por Cramer - o editor inglês das obras de Beethoven - não pelo próprio compositor. É, não obstante tudo o que se conta, uma das grandes obras do romantismo nascente, tal como a Eroica (3ª Sinfonia de Beethoven).
Eu consigo abstrair os elementos circunstanciais - tanto do Concerto o «Imperador», como da Sinfonia «Eroica» - porque não são simples obras de circunstância.
Ambas as obras são atravessadas pelo sopro de uma inspiração generosa e liberal do homem que, além de génio musical, era coerente: Ele nunca renunciou às suas convicções liberais, como o demonstra a 9ª Sinfonia, escrita perto do fim da sua vida, sobre poema de Schiller.
Curiosamente, Beethoven compôs uma obra de circunstância, essa bastante medíocre. Uma sinfonia foi encomendada a Beethoven para comemorar Wellington, o vencedor na batalha de Vitória (1813, Espanha) e, mais tarde, retomada para comemorar a batalha definitiva de Waterloo (em 1815). Provavelmente, ele não se empenhou muito na sua feitura. A obra está quase esquecida: nunca se ouve em salas de concerto. Quanto a gravações em disco, apenas se pode encontrar a «sinfonia esquecida» em colecções integrais da obra de Beethoven.
Beethoven está muito acima dos imperadores e ditadores de sua época e de todas as épocas... a sua música sublime resiste ao tempo e pode ser apreciada pelas sucessivas gerações.
Mitsuko Ushida e a orquestra de Saito Kinen sob a direcção de Seiji Ozawa, são perfeitas na interpretação do 5º Concerto.