SOBRE O «ESPIONAGE ACT» DOS EUA.
Compreendo a preocupação de Julian Assange em tornar claro, mesmo não havendo hipótese de convencer o poder político dos EUA (com estatuto de observador, apenas, no Conselho da Europa), de que há algo muito errado na legislação, em que o exercício de direitos (de expressão, de informação, de opinião), sejam criminalizados como se fossem atos de espionagem.
Porém, creio que estes países do Ocidente coletivo, aos quais Assange vai endereçar sua mensagem, já abandonaram - há algum tempo - os princípios do Direito, da Justiça, dos Direitos Humanos, etc.
Como dizia Orwell: «É uma questão de simples decência», as pessoas com princípios estão há muito de sobreaviso contra a canalha engravatada que tomou conta de postos-chave dos aparelhos de Estado.
Estes sistemas jurídicos foram herdados das transformações, ocorridas ao longo de dois séculos, em países da Europa e doutros continentes. Estes países adotaram princípios semelhantes para suas constituições e sistemas jurídicos (América do Norte, e em muitos países da América Latina, da Ásia, de África e da Oceânia).
Com a decadência do capitalismo, prenunciando o seu colapso mais ou menos completo, ruiu um dos pilares que sustentava a imagem das «democracias» no espírito do público.
Claro que tais «democracias» nunca o foram de verdade. É preciso lembrar a terrível e cruel dominação sobre povos de origem não-europeia - ao longo de centenas de anos - vítimas do colonialismo, uma das formas mais bárbaras de dominação. De seguida, sofreram muitos decénios de neocolonialismo. Os países recém-independentes eram vergados com exploração das populações e saque de recursos. Se deixavam de obedecer aos novos senhores, sofriam bombardeamentos e guerras brutais levadas a cabo pelas forças armadas das tais «democracias».
Se fizermos um apanhado de tudo isto, incluindo os crimes dos exércitos imperiais dos EUA e seus vassalos da OTAN, que Julian Assange deu a conhecer ao Mundo, chegamos à conclusão de que o que eles temem mais, a seguir à resistência armada das guerrilhas (que eles - os genocidas! - chamam de «terrorismo»), é que os seus atos no «Terceiro Mundo» se saibam; que seus crimes sejam conhecidos e relatados com rigor jornalístico, para as audiências dos seus países.
Além de cometer crimes hediondos, sem qualquer peso nas consciências, eles não suportam que tais crimes sejam denunciados e expostos às opiniões públicas. Eles precisam da mentira, fabricam-na, com auxílio de centrais de intoxicação das opiniões públicas, das «média mainstream».
Eles sabem o que fazem: Dizem-se respeitadores das leis, mas desrespeitam-nas ao designar um whistleblower, um jornalista de investigação, ou um político dissidente, como «terrorista», «traidor», ou «espião».
Quem se deve sentar no banco dos réus, em julgamento, não são os que denunciam os crimes; mas os criminosos que os cometem. Estes deveriam ser julgados e condenados.