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domingo, 11 de agosto de 2024

ORIGEM DA VIDA E DESÍGNIO INTELIGENTE

 



Comentário: Dentro das formulações evolucionistas, são dados exemplos como o da convergência entre os olhos dos cefalópodes e os dos vertebrados, que chegaram ambos por vias distintas e independentes a uma sofisticação elevada dos seus respetivos órgãos da visão. Os «finalistas» dizem que não fazem sentido em si mesmas as pequenas modificações que terão ocorrido em estruturas como os olhos destas duas ordens de seres vivos: Só fazem sentido em função  de um plano geral pré-estabelecido.
Os evolucionistas «darwinistas» fazem notar que pequenas modificações podem ter um significado em termos da aptidão (fitness) dos indivíduos; que uma zona fotossensível, inicialmente apenas capaz de distinguir entre luz e escuridão, pode ter beneficiado de aperfeiçoamentos como a existência de uma lente, ou de um sistema muscular permitindo orientar a visão. 
Os biólogos moleculares põem em destaque as propriedades catalíticas e autocatalíticas das estruturas secundárias formadas em vários tipos de ARNs. Por outro lado, as zonas de dupla cadeia - presentes em ARN mensageiros e de transferência - podem servir como zonas de codificação, visto serem mais estáveis que as de cadeia simples. 
Estou de acordo que a reconstituição das etapas da evolução pré-biótica não podem ser simuladas. Porque as condições iniciais do meio no qual estas moléculas evoluíram são praticamente desconhecidas; podemos fazer conjeturas sobre essas condições, apenas. 
Mas, isso não significa que o «texto» significativo de um gene tivesse de ser construído de uma vez, como por efeito «mágico». Além disso, as considerações sobre sistemas contendo mensagens com sentido e sua produção deliberada por entidade inteligente, não passam duma abordagem (nem sequer analógica) «mítica», do processo. 
Um dos autores entrevistados (Stephen Meyer) põe em causa que se exclua a hipótese do «desígnio inteligente» de forma apriorística. Mas, na verdade, o tal desígnio inteligente teria um modo de proceder bem retorcido: Ele, tendo a noção do que pretendia obter, entreteve-se, durante biliões de anos, a fabricar formas abortadas, becos sem saída, cujos frutos não chegaram até nós, quer sob forma de seres vivos, ou dos seus descendentes. 
Creio que o «desígnio inteligente» não explica nada, embora possa satisfazer o intelecto de certas pessoas. 
O outro entrevistado (James Tour) aponta a impossibilidade de se reconstituir um ser vivo a partir dos seus componentes químicos: Mesmo que se dispusesse de todos os componentes isolados em frascos, na sua forma pura. Ora, os componentes da vida não coalescem a partir de peças isoladas como «um puzzle» ou «uma construção de Lego», mas constroem-se a si próprios. 
Os cientistas entrevistados possuem um extenso conhecimento das pesquisas experimentais levadas a cabo no século passado, para aclarar as etapas pré-bióticas.  Estou de acordo com eles, quando dizem que os processos foram pouco adequados para modelizar as tais etapas. Mas acho que, mesmo assim, valeu a pena realizar tais experimentos. 
Vejo essa utilidade - por analogia - com a síntese química da ureia por Liebig, no séc. XIX: Essa descoberta invalidou a tese da irredutibilidade do orgânico ao químico, segundo o paradigma vitalista então muito em voga. 
Note-se que as experiências em meados do século passado, de Miller, Urey, e outros, vieram mostrar que não é impossível serem geradas moléculas simples como os aminoácidos (blocos constituintes das proteínas) em condições abióticas parecidas com o que se pensava ter existido na Terra primitiva. Além disso, não provaram coisa nenhuma.
As críticas dos dois cientistas às metodologias predominantes nos estudos sobre abiogénese  é -mesmo assim - muito interessante, na medida em que contradizem os consensos preguiçosos da (má) vulgarização científica, incluindo no ensino secundário e universitário. 
Só isso, já é um grande mérito desta conversa!

PS1: Conferência por Jack Szostak. Enumera alguns avanços em química pré-biótica de ARNs :