A euforia apoderou-se da bolsa de Frankfurt, quando a economia alemã atravessa o segundo ano de recessão. Os investidores estão a jogar no momento político da (re) eleição de Trump. As taxas de juro das obrigações soberanas dos principais países ocidentais irão aumentar, desencadeando nova vaga de inflação. Estas euforias especulativas são sinal típico, antecendo grandes crises, como a de 1929, a do ano 2000 (bolha das dotcom) ou a de 2008 (bolha do crédito hipotecário).

quarta-feira, 11 de abril de 2018

[OBRAS DE MANUEL BANET] 2 CANÇÕES *


*Estas duas canções pertencem a uma recolha chamada «Tenção», de poemas escritos entre 1973 e 1978, aproximadamente. 


E QUE RESTA DO PASSADO...


Mote:

                    E que resta do passado,
                    Senão um sulco no olhar?

Glosa:

Já vivi, indiferente,
Nem de todo satisfeito,
Nem e todo descontente,
Só um pouco contrafeito.

É por igual que aceito
Este amplexo ardente
Da morte que tão fremente
Toma meu corpo desfeito

Já meu olhar não distingue
Se é do Sol no poente,
Esta luz que se extingue,
Se é da alma doente.

As tuas mãos que com jeito
Lavam as manchas de sangue
Não evitarão que vingue
A fera que roí meu peito.

Já sobre a espádua,
Não pelo muito pelejar,
Mas pela vida árdua,
Desejo por fim repousar.

Nada me pode já salvar
Pois se estou à míngua
De calor nesta frágua,
Deixa a morte me levar!

“E que resta do passado...”
Já se esvai como água,
Como pranto sussurrado
Em secreta mágoa...

- Que mais resta do lampejar
Após ter-se apagado
No horizonte rasgado,
“Senão um sulco no olhar?”




DAI-ME O MOTE

Mote:
Ó voz, dai-me o mote
Que a glosa, a farei eu
“Nesta solidão de breu
Acendei o archote!”

Glosas:

Quando – minha Mãe – à luz
Me destes, não sabias
Que a teu filho trazias
A dor humana na cruz

Quando – meu Amor – beijei
Teu peito, ignoravas
O homem a quem te davas
- Amor, tudo esbanjei!

Obstinado quis saber
O sabor amargoso
Do vinho e do gozo
Falso de quem o beber

Não temo o chicote,
Assumo o que é meu:
“Nesta solidão de breu
Acendei o archote!”



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