O que os bem informados não se apercebem, é que, em contraste com a «Guerra Fria Nº1», os poderes usam os avanços da tecnologia e da I.A. para fabricar uma falsa realidade, uma informação «cientificamente» manipulada. Isso, é uma situação inteiramente nova.
-
Estou numa barca, ela desliza pela água, com a brisa que a transporta. Em cada
margem há floresta, caprichosas formas de árvores de todos os tamanhos, tons e
formas…
A
minha memória, saturada da beleza deste sol poente vai ao encontro de uma
estrela que luz no céu, tão alva e tão singela, apenas visível por alguém que
eu amo profundamente:
- Essa mulher está no interior do canto de uma ave, existe neste
rincão de selva escondido. Está e chora a sua solidão, pois seu amante está
sempre ausente. Porém, deteta-lhe o rasto nos fragores da maresia, nos cânticos
das aves e no restolhar das folhas nas árvores. Quando ela ergue o olhar para a
estrela, a sua alma fusiona com a do seu amor.
-
A espera transmuta-se em encontro … recebi a carícia suave da amada, o peito
estremece-me com a brisa fresca do ar matinal.
A doçura deste Largo do concerto para dois violinos é um veículo de transporte mágico para o
meu passado. Estou a vogar para o sítio onde os meus anos floresceram. Estou
embalado e enlevado pela beleza que se abre, desabrocha, no seio desta música…
tal e qual quando a ouvi pela primeira vez. É como se abrisse os olhos à visão
do espírito. Deus está em cada partícula e em cada vibração do som, como está
no meu coração, quando o abro a esta música.
Obrigado, Bach! Agora estou a
pensar em ti, em ti, em ti… estou, eu mesmo, a aproximar-me do teu coração…
estou dentro dele como quem está escondido numa gruta, muito calma, muito secreta.
Sou eu, o mensageiro dos sonhos, que venho dar-te um abraço longo, como tu
abraças o gato, este felino que gosta de se espreguiçar… assim…
Serei felino ou serei homem,
não importa.
Estou aqui nesta música, como
veículo de teu encontro com o Universo.
Assim, podes dizer-me o que
quiseres, na resposta a esta mensagem. Certamente, será ouvida a tua voz…
certamente, ela receberá acolhimento e resposta. De minha lavra ou de alguém,
de alguma entidade espácio-temporal. Não é necessário especificar mais, nós
sabemos… que
…A ciência é boa por essência,
somente a preguiça e falta de cuidado dos humanos insiste em distorcer e ver outro maravilhoso onde está a maior de
todas as maravilhas: a realidade do universo, a nossa existência
e a nossa inteligência de humanos em perceber e comungar com este TODO.
Capto o instante, num olhar
reflexo de nuvem, nos olhos da Deusa que nos acorda dentro do sonho e nos
conduz ao país em que a realidade e nosso verdadeiro Eu se unificam.
Mas o mistério está muito para
lá do instante, pois perdura nos meus ouvidos e não estou a ouvir apenas a
música de Mozart, mas a música do chilrear de todas as aves da alvorada. Neste país sem fronteiras, o
meu entendimento maravilhado satisfaz-se com o simples enunciado dum gesto. Perdura o instante que sempre
existiu, desde todo o tempo que existe humanidade. O coração reaprende a bater o
ritmo, em perfeita sincronia com o suave tanger de uma harpa.
Ofegante corria
como um louco, até ao portal da casa. Teve de parar, a respiração faltava-lhe.
Foi nesse preciso momento que a porta da datcha se abriu e apareceu Nadja, resplandecente
na glória os seus dezassete anos. Vestia uma camisa de cores variadas, saia
castanha e tinha o cabelo mal apanhado num carrapito, caíam-lhe madeixas pelos
ombros. Seu cabelo loiro acobreado enquadrava um rosto muito oval, com lábios
desenhando um sorriso discreto, a maior parte do tempo, quando escutava aquele
estroina: Inclinava ligeiramente a cabeça, como que para melhor adivinhar o que
ia sair dessa cabeça oca e seus olhos cintilavam ou tornavam-se nevoentos,
consoante o seu estado de alma. Como se toda a expressão do rosto se
concentrasse nos olhos.
Não havia nada
de especial naquele relacionamento. Ou melhor, tudo era especial. O jovem e a
jovem tinham um pacto não dito de total entrega espiritual e total castidade
corporal. Como é isso possível em jovens saudáveis e sem preconceitos?
Impossível de explicar. O facto é que ambos se sentiam muito à vontade nessa
situação de «não namoro» e nada poderia mudar a disposição dos dois, por mais
que as famílias respetivas e os amigos achassem que as coisas não iriam
permanecer nesse pé.
Este Verão seria
o último, mas eles não suspeitavam de nada. Abraçaram-se e olharam-se nos
olhos. Depois, com um sorriso muito terno, Victor poisou um beijo na fronte de
Nadja.
Esta
desprendeu-se logo do seu abraço, tomou-lhe a mão e arrastou-o numa corrida
através do salão, atravessando a porta sempre aberta da cozinha e mostrou-lhe …
- «Olha! Sua ninhada de oito gatinhos»…
A gata siamesa estava deitada na alcofa e
lambia a cabeça e dorso de um dos gatinhos, numa toilete interminável de
mãe-gata.
…...
[não sei como foi a seguir…
nada! Apenas me lembro de ter acordado deste sonho com uma opressão no peito,
como se algo de terrível tivesse ocorrido. Não sei o quê…]
Restava somente um, de toda
aquela casa, outrora ilustre. Tinha forçosamente que fazer a «guarda do castelo»,
não havia mais ninguém, todos tinham morrido ou fugido. O tempo era de
incertezas; roubava-se, aprisionava-se, mutilava-se, matava-se … a gente boa
estava fugida. Os bandidos reinavam. Impunham a sua barbárie. Tinham prazer em
submeter e humilhar.
Não te irei esconder que
passei as horas mais angustiadas de minha vida, nessa época terrível.
Mas o meu medo foi-se
transformando em força. Fui aprendendo a dominá-lo. Fazia pequenas sortidas
para me abastecer por perto, onde houvesse alimento. Trocava comida por tudo o
que pudesse despertar a cobiça dos comerciantes. Já não circulava dinheiro:
apenas se trocavam objetos ou serviços.
Era um tempo muito duro de
escassez generalizada, exceto para alguns. Estes tinham tudo, em resultado do
saque e da extorsão permanente. O obscurantismo de há mil anos voltara e
instalara-se. O medo fazia o resto. Tinha de me manter sempre vigilante, dia e
noite; era uma autêntica tortura. Só podia dormitar uns minutos por dia, sempre
com a arma ao alcance da mão. Agitavam-se vultos durante a noite, mesmo por
debaixo das janelas.
Eu ouvia os sons que os homens
desesperados faziam, a meio da noite, quando entravam furtivamente no jardim.
Eram pobres diabos, exaustos, que apenas bebiam um pouco de água de uma fonte e
dormiam umas poucas horas sobre a terra debaixo de um arbusto. De início, tive
medo deles, depois compreendi que eu lhes metia respeito a eles também, pois as
luzes do interior, filtradas através das gelosias fechadas eram indício seguro
de que havia habitantes dentro.
A verdade é que a presença
noturna dos fugitivos era protetora contra verdadeiros ladrões e assaltantes.
Somente tinha de me manter vigilante para que não fosse surpreendido por um
bando organizado de malfeitores armados.
Esta situação manteve-se
durante algumas semanas. Depois, apesar da catástrofe, a vida foi retomando os
seus direitos. Conseguia ver isso pelo ar menos contraído das pessoas, o seu
olhar nem sempre era de medo ou inquietação, às vezes esboçavam um
sorriso.
Os animais selvagens também se
acolhiam ao jardim. Escolhiam sempre as horas de maior calmaria. Onde estivesse
um melro, um ouriço-cacheiro, uma serpente… era terreno (provisoriamente)
seguro. Eles escolhiam locais pacíficos como refúgio.
Por vezes avistava-se um
falcão peregrino, poisado sobre um poste de iluminação, de onde observava o
entorno.
Os gatos selvagens gostavam de
vir furtivamente beber água no tanque das traseiras. Marcavam o território enterrando,
em determinados pontos do jardim, seus excrementos. Ao fazerem isso, estavam a
dar-me uma ajuda, pois os ratos cheiravam à distância a presença dos felinos e
não se aventuravam pelos canteiros da minha horta improvisada.
O
mais difícil era manter o equilíbrio perante a situação de incerteza
permanente, que obrigava a estar sempre alerta. Mas aprendi a afugentar o medo
e a olhar para uma situação aparentemente desesperada com uma certa serenidade.
As visões que perpassavam pela minha mente, os
sonhos acordados dessa época, eram - evidentemente - projeções da minha mente
perturbada, mas não insana.
Deixou repousar em
cima do peito o livro que estava a ler; fechou os olhos. Sentia um agradável
torpor, embalado pela música de J. S. Bach
Neste estado, as
imagens que lhe apareciam diante do espírito e sobretudo os sentimentos no seu
peito, o transportavam para o êxtase:
Uma luz difusa
fazia rebrilhar miríades de partículas de poeira doirada. Uma pulsação rítmica
movimentava o tronco do sonhador, era o movimento do cavalo dócil, que se
transmitia ao cavaleiro. Um jovem, no meio de uma orquestra de músicos
empoados; estava entoando uma pura melodia jamais ouvida antes.
(Tudo era
estranho, justamente por tudo lhe parecer familiar. Até o gato do vizinho se
imiscuíra no sonho, com os seus movimentos circunspectos, cautelosos…)
Sobretudo, a
estranheza era devida à impossibilidade de decidir onde se encontrava: se no
seio da música de Bach, se no conforto do seu estúdio ou se no universo dos
sonhos… Talvez estivesse nesses três universos em simultâneo. Era a alegria metafísica
que o invadia, que o impulsionava a subir aquela escada de luminoso cristal que
se erguia pelos céus em arcada, num majestoso arco-íris. O livro que tinha
estado a ler, porém, não estava relacionado com tal visão. Embora não se saiba
o conteúdo exato do mesmo, sabe-se que era de bioquímica. Com efeito, no campo
dos sonhos onde evoluía, bailavam várias espirais caprichosas de proteínas,
enroladas em torno de eixos invisíveis, em tons de vermelho, roxo, castanho e
azul-escuro. Deslocavam-se, rodavam e pulsavam ao ritmo da música. Por vezes,
aproximavam-se umas das outras, ou se afastavam como galáxias no Universo.
[Depois, mergulhou num torpor
profundo e sua visão esfumou-se rapidamente.]