O que os bem informados não se apercebem, é que, em contraste com a «Guerra Fria Nº1», os poderes usam os avanços da tecnologia e da I.A. para fabricar uma falsa realidade, uma informação «cientificamente» manipulada. Isso, é uma situação inteiramente nova.

sábado, 21 de maio de 2016

[NO PAÍS DOS SONHOS] Bachanias Nº5, Heitor Villa-Lobos

- Estou numa barca, ela desliza pela água, com a brisa que a transporta. Em cada margem há floresta, caprichosas formas de árvores de todos os tamanhos, tons e formas…
A minha memória, saturada da beleza deste sol poente vai ao encontro de uma estrela que luz no céu, tão alva e tão singela, apenas visível por alguém que eu amo profundamente:
- Essa mulher está no interior do canto de uma ave, existe neste rincão de selva escondido. Está e chora a sua solidão, pois seu amante está sempre ausente. Porém, deteta-lhe o rasto nos fragores da maresia, nos cânticos das aves e no restolhar das folhas nas árvores. Quando ela ergue o olhar para a estrela, a sua alma fusiona com a do seu amor.
- A espera transmuta-se em encontro … recebi a carícia suave da amada, o peito estremece-me com a brisa fresca do ar matinal.





quinta-feira, 19 de maio de 2016

[NO PAÍS DOS SONHOS] Largo do Concerto para Dois Violinos de J. S. Bach



Obrigado, Bach! 

A doçura deste Largo do concerto para dois violinos é um veículo de transporte mágico para o meu passado. Estou a vogar para o sítio onde os meus anos floresceram. Estou embalado e enlevado pela beleza que se abre, desabrocha, no seio desta música… tal e qual quando a ouvi pela primeira vez. É como se abrisse os olhos à visão do espírito. Deus está em cada partícula e em cada vibração do som, como está no meu coração, quando o abro a esta música.
Obrigado, Bach! Agora estou a pensar em ti, em ti, em ti… estou, eu mesmo, a aproximar-me do teu coração… estou dentro dele como quem está escondido numa gruta, muito calma, muito secreta. Sou eu, o mensageiro dos sonhos, que venho dar-te um abraço longo, como tu abraças o gato, este felino que gosta de se espreguiçar… assim…
Serei felino ou serei homem, não importa.
Estou aqui nesta música, como veículo de teu encontro com o Universo.
Assim, podes dizer-me o que quiseres, na resposta a esta mensagem. Certamente, será ouvida a tua voz… certamente, ela receberá acolhimento e resposta. De minha lavra ou de alguém, de alguma entidade espácio-temporal. Não é necessário especificar mais, nós sabemos… que

…A ciência é boa por essência, somente a preguiça e falta de cuidado dos humanos insiste em distorcer e ver outro maravilhoso onde está a maior de todas as maravilhas: a realidade do universo, a nossa existência e a nossa inteligência de humanos em perceber e comungar com este TODO.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

[NO PAÍS DOS SONHOS] MOZART Andantino p/ flauta e harpa K299

Sonhado, ouvindo flauta


 




Capto o instante, num olhar reflexo de nuvem, nos olhos da Deusa que nos acorda dentro do sonho e nos conduz ao país em que a realidade e nosso verdadeiro Eu se unificam.


Mas o mistério está muito para lá do instante, pois perdura nos meus ouvidos e não estou a ouvir apenas a música de Mozart, mas a música do chilrear de todas as aves da alvorada.

Neste país sem fronteiras, o meu entendimento maravilhado satisfaz-se com o simples enunciado dum gesto.
Perdura o instante que sempre existiu, desde todo o tempo que existe humanidade.

O coração reaprende a bater o ritmo, em perfeita sincronia com o suave tanger de uma harpa. 





[NO PAÍS DOS SONHOS] Concerto para Piano Nº3 , Prokofiev

Ofegante corria como um louco, até ao portal da casa. Teve de parar, a respiração faltava-lhe. Foi nesse preciso momento que a porta da datcha se abriu e apareceu Nadja, resplandecente na glória os seus dezassete anos. Vestia uma camisa de cores variadas, saia castanha e tinha o cabelo mal apanhado num carrapito, caíam-lhe madeixas pelos ombros. Seu cabelo loiro acobreado enquadrava um rosto muito oval, com lábios desenhando um sorriso discreto, a maior parte do tempo, quando escutava aquele estroina: Inclinava ligeiramente a cabeça, como que para melhor adivinhar o que ia sair dessa cabeça oca e seus olhos cintilavam ou tornavam-se nevoentos, consoante o seu estado de alma. Como se toda a expressão do rosto se concentrasse nos olhos.
Não havia nada de especial naquele relacionamento. Ou melhor, tudo era especial. O jovem e a jovem tinham um pacto não dito de total entrega espiritual e total castidade corporal. Como é isso possível em jovens saudáveis e sem preconceitos? Impossível de explicar. O facto é que ambos se sentiam muito à vontade nessa situação de «não namoro» e nada poderia mudar a disposição dos dois, por mais que as famílias respetivas e os amigos achassem que as coisas não iriam permanecer nesse pé.
Este Verão seria o último, mas eles não suspeitavam de nada. Abraçaram-se e olharam-se nos olhos. Depois, com um sorriso muito terno, Victor poisou um beijo na fronte de Nadja.
Esta desprendeu-se logo do seu abraço, tomou-lhe a mão e arrastou-o numa corrida através do salão, atravessando a porta sempre aberta da cozinha e mostrou-lhe …
 - «Olha! Sua ninhada de oito gatinhos»…
 A gata siamesa estava deitada na alcofa e lambia a cabeça e dorso de um dos gatinhos, numa toilete interminável de mãe-gata.
…...
[não sei como foi a seguir… nada! Apenas me lembro de ter acordado deste sonho com uma opressão no peito, como se algo de terrível tivesse ocorrido. Não sei o quê…]



terça-feira, 17 de maio de 2016

[NO PAÍS DOS SONHOS] «Lachrimosa» excerto do Requiem de Mozart






- Quando chegar o momento em que a Alma do Universo me vier acolher no seu seio, medo não terei.


- Não sei como, nem quando será essa passagem, mas sei que nada me assustará, pois irei para junto dos entes meus queridos.

[NO PAÍS DOS SONHOS] Ballade Nº1, Sol menor, Frédéric Chopin




Restava somente um, de toda aquela casa, outrora ilustre. Tinha forçosamente que fazer a «guarda do castelo», não havia mais ninguém, todos tinham morrido ou fugido. O tempo era de incertezas; roubava-se, aprisionava-se, mutilava-se, matava-se … a gente boa estava fugida. Os bandidos reinavam. Impunham a sua barbárie. Tinham prazer em submeter e humilhar.
Não te irei esconder que passei as horas mais angustiadas de minha vida, nessa época terrível.
Mas o meu medo foi-se transformando em força. Fui aprendendo a dominá-lo. Fazia pequenas sortidas para me abastecer por perto, onde houvesse alimento. Trocava comida por tudo o que pudesse despertar a cobiça dos comerciantes. Já não circulava dinheiro: apenas se trocavam objetos ou serviços.
Era um tempo muito duro de escassez generalizada, exceto para alguns. Estes tinham tudo, em resultado do saque e da extorsão permanente. O obscurantismo de há mil anos voltara e instalara-se. O medo fazia o resto. Tinha de me manter sempre vigilante, dia e noite; era uma autêntica tortura. Só podia dormitar uns minutos por dia, sempre com a arma ao alcance da mão. Agitavam-se vultos durante a noite, mesmo por debaixo das janelas.
Eu ouvia os sons que os homens desesperados faziam, a meio da noite, quando entravam furtivamente no jardim. Eram pobres diabos, exaustos, que apenas bebiam um pouco de água de uma fonte e dormiam umas poucas horas sobre a terra debaixo de um arbusto. De início, tive medo deles, depois compreendi que eu lhes metia respeito a eles também, pois as luzes do interior, filtradas através das gelosias fechadas eram indício seguro de que havia habitantes dentro.
A verdade é que a presença noturna dos fugitivos era protetora contra verdadeiros ladrões e assaltantes. Somente tinha de me manter vigilante para que não fosse surpreendido por um bando organizado de malfeitores armados.
Esta situação manteve-se durante algumas semanas. Depois, apesar da catástrofe, a vida foi retomando os seus direitos. Conseguia ver isso pelo ar menos contraído das pessoas, o seu olhar nem sempre era de medo ou inquietação, às vezes esboçavam um sorriso. 
Os animais selvagens também se acolhiam ao jardim. Escolhiam sempre as horas de maior calmaria. Onde estivesse um melro, um ouriço-cacheiro, uma serpente… era terreno (provisoriamente) seguro. Eles escolhiam locais pacíficos como refúgio.
Por vezes avistava-se um falcão peregrino, poisado sobre um poste de iluminação, de onde observava o entorno.
Os gatos selvagens gostavam de vir furtivamente beber água no tanque das traseiras. Marcavam o território enterrando, em determinados pontos do jardim, seus excrementos. Ao fazerem isso, estavam a dar-me uma ajuda, pois os ratos cheiravam à distância a presença dos felinos e não se aventuravam pelos canteiros da minha horta improvisada.
O mais difícil era manter o equilíbrio perante a situação de incerteza permanente, que obrigava a estar sempre alerta. Mas aprendi a afugentar o medo e a olhar para uma situação aparentemente desesperada com uma certa serenidade.
 As visões que perpassavam pela minha mente, os sonhos acordados dessa época, eram - evidentemente - projeções da minha mente perturbada, mas não insana.






segunda-feira, 16 de maio de 2016

[NO PAÍS DOS SONHOS] Magnificat BWV 243 J.S.Bach


Deixou repousar em cima do peito o livro que estava a ler; fechou os olhos. Sentia um agradável torpor, embalado pela música de J. S. Bach




Neste estado, as imagens que lhe apareciam diante do espírito e sobretudo os sentimentos no seu peito, o transportavam para o êxtase:
Uma luz difusa fazia rebrilhar miríades de partículas de poeira doirada. Uma pulsação rítmica movimentava o tronco do sonhador, era o movimento do cavalo dócil, que se transmitia ao cavaleiro. Um jovem, no meio de uma orquestra de músicos empoados; estava entoando uma pura melodia jamais ouvida antes.
(Tudo era estranho, justamente por tudo lhe parecer familiar. Até o gato do vizinho se imiscuíra no sonho, com os seus movimentos circunspectos, cautelosos…)
Sobretudo, a estranheza era devida à impossibilidade de decidir onde se encontrava: se no seio da música de Bach, se no conforto do seu estúdio ou se no universo dos sonhos… Talvez estivesse nesses três universos em simultâneo. Era a alegria metafísica que o invadia, que o impulsionava a subir aquela escada de luminoso cristal que se erguia pelos céus em arcada, num majestoso arco-íris. O livro que tinha estado a ler, porém, não estava relacionado com tal visão. Embora não se saiba o conteúdo exato do mesmo, sabe-se que era de bioquímica. Com efeito, no campo dos sonhos onde evoluía, bailavam várias espirais caprichosas de proteínas, enroladas em torno de eixos invisíveis, em tons de vermelho, roxo, castanho e azul-escuro. Deslocavam-se, rodavam e pulsavam ao ritmo da música. Por vezes, aproximavam-se umas das outras, ou se afastavam como galáxias no Universo.

[Depois, mergulhou num torpor profundo e sua visão esfumou-se rapidamente.]