Mostrar mensagens com a etiqueta psicologia social. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta psicologia social. Mostrar todas as mensagens

domingo, 6 de agosto de 2017

PENSAMENTO CRÍTICO



É realmente paradoxal verificar-se que, na época em que se dá uma explosão das tecnologias de informação, as pessoas sejam tão pouco e sobretudo tão mal informadas. 

O que passa por informação e por cultura é, quase sempre, ao nível dos mexericos, das frases feitas, dos slogans; não tem nada que ver com o trabalho interior da pessoa que reflecte, que assimila verdadeiramente, ou seja, faz suas as palavras e ensinamentos dos grandes mestres. 
Aliás, as pessoas só estarão aptas a exercer um papel verdadeiramente crítico, de leitores críticos, das obras dos seus contemporâneos, quando realizam o tal «trabalho interior».

Em qualquer domínio, somos confrontados essencialmente com o mesmo fenómeno. Descrevo abaixo alguns exemplos:

- Na música pop, sucedem-se vertiginosamente «celebridades», fabricadas por máquinas mediáticas, como meros produtos lançados no mercado à custa de campanhas publicitárias. 
Estas mesmas «celebridades», que ocupam agora as primeiras páginas dos jornais, ou os primeiros planos das notícias televisivas, dentro de meses ou, no máximo um ou dois anos, estarão relegadas para um lugar perfeitamente secundário, quando não completamente esquecidas. 

-  A política tornou-se uma espécie de corrida para a fama, para a popularidade. Todos os partidos e agrupamentos políticos, por esse vasto mundo, embarcaram nessa maneira de fazer política.
A dimensão de «pedagogia cívica» desapareceu completamente. Ela pode ser invocada ao nível do discurso, mas a prática é exactamente o contrário disso: chame-se endoutrinamento, propaganda, «public relations», o facto é que os partidos políticos se transformaram em gigantescas máquinas de caçar votos e dinheiro.  
O dinheiro e o poder são as duas faces da mesma realidade. Os estados-maiores que estabelecem as linha-mestras das campanhas eleitorais constroem o discurso que mais agrade ao eleitorado. Esta construção e difusão beneficia das contribuições pecuniárias, nada desinteressadas, de pessoas e de empresas interessadas em influir nos eleitos. 

- Ao nível da transmissão, os saberes académicos, sobretudo em áreas sensíveis para o exercício do poder político/económico, como economia, sociologia, e outras ciências sociais e humanas, mas também nas ciências «duras» (física, química, biologia, etc...), estão fossilizados. Só se ensinam teorias «consensuais», não havendo realmente espaço de difusão do conhecimento de outras formas de teorizar, de construir um discurso científico. 
Quaisquer tendências críticas são postas à margem pelos que ocupam lugares de poder dentro da academia. 
Este exercício do poder, nas esferas do conhecimento, tem como corolário que a grande maioria das pessoas que frequentam estudos e se diplomam têm um pensamento perfeitamente estereotipado, convencional, nada propício a «rasgos de génio». São pessoas que meramente repoduzem o que assimilaram: as formas de pensar, de estar na vida, de encarar os problemas sociais, totalmente convencionais. 

Poderia dar outros exemplos, mas penso que estes acima já são suficientes para o leitor ajuízar e procurar por si próprio, observando à sua roda. 
É certo que existem múltiplos casos, que ilustram como as coisas funcionam verdadeiramente nesta sociedade. 

Face a esta situação generalizada, a minha resposta tem sido a de construir pequenos ilhéus de  pensamento crítico, de diálogo e intercâmbio sem fronteiras. 
Claro que estes espaços reais e/ou virtuais são obra colectiva. Logicamente, não estou isolado a realizar esta tarefa. Não pretendo liderar aqueles que comigo têm participado, ao longo dos anos, nesta construção. 
Porém, parece-me importante chamar a atenção para um aspecto da questão, às vezes descurado: tenho visto que muitas pessoas, ao pretender agir no âmbito social, falham porque não têm um propósito claro, bem estabelecido, bem amadurecido. 
No meu caso pessoal, o meu combate essencial, em vários domínios de intervenção social, política (e, mesmo, no domínio da teoria) tem sido o de abrir espaços de discussão livre, de diálogo desinibido, de construção colectiva de um saber crítico, aplicável no quotidiano das pessoas. 
Desde há décadas que tenho este propósito, embora talvez não o tenha confessado nunca, tão explicitamente. 
Seja este ou outro qualquer, o que me parece importante é que as pessoas tenham um propósito claro naquilo que fazem. Podem não o explicitar para o exterior, mas devem fazê-lo para si próprias. 


segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

INQUIETUDE

Seja-me permitido, num blogue pessoal, dar vazão aos meus sentimentos pessoais, subjetivos. 

Sinto inquietude pelo que vejo à minha volta.
Sinto um certo grau de angústia pela observação de comportamentos estranhos, segundo a minha maneira de ver as coisas. 

Tento compreender porque pessoas amigas, infelizmente demasiadas, estão sempre a postar no facebook coisas totalmente pessoais e irrelevantes mas como se outros devêssem estar ao corrente... 
O efeito é insólito, assemelha-se ao célebre « espiar pelo buraco da fechadura» só que ao contrário: aqui, quem convida a ver «através do buraco» é o próprio observado... estranho! 
Outros, fazem questão de fotografar ou filmar as poses e brincadeiras dos seus animais de companhia. Assim, pensam eles, serão assimilados às «coisas fôfinhas» que vemos nessas fotos, nesses vídeos? 
Outros ainda, esmeram-se a repoduzir pratos de suculenta cozinha feitos em casa ou comidos no restaurante... para fazer inveja???
 Enfim, a grande maioria usa a Internet para cultivar o seu ego, o seu narcisismo...sem qualquer disfarce, sequer. 

O narcisismo sem disfarce, egolâtrico, é provavelmente o traço que eu menos aprecio e mais me afasta quando o vejo em alguém. Serei um bicho esquisito? Provavelmente, sim... 

Gostava de contactar com pessoas que têm curiosidade e vontade de aprender todos os aspetos da vida humana, da natureza, do universo. Será assim tão difícil encontrar indivíduos que sejam genuinamente interessados? 

A revolução da Internet, veio banalisar o acesso aos saberes, mas não fez com que as pessoas se tornassem mais desejosas de obter esses saberes. 
Pelo contrário, as pessoas fecharam-se dentro dos seus mundos virtuais ou dos seus pseudo-relacionamentos sociais, que não trazem - aparentemente- mais do que um reforço do seu narcisismo. 

O narcisismo é típico de pessoas com  estrutura pouco sólida, mas não é vulgar - pelo menos não se manifesta abertamente - naqueles que têm forte personalidade. 

As pessoas boas estão «contaminadas» pela visão ingénua de notícias chocantes, nacionais ou internacionais, que lhes fazem «pintar» o mundo com certas cores, exatamente as cores que convém aos corporatistas e globalistas! 

Neste momento em que o mundo está à beira da catástrofe, ou seja, que se dirige a passos largos para uma IIIª guerra mundial, é muito difícil debater com alguém, mesmo pessoas com uma certa formação de base, que se julgam informadas: na verdade, estão adormecidas ou iludidas, porque estão (estamos todos) sujeitas a doses maciças de propaganda disfarçada de informação.

As pessoas não ficaram melhores, nem mais informadas, pelo facto de possuírem virtualmente um acesso ilimitado a toda a espécie de «informação». 
A propaganda constante, fez com que grande parte das pessoas se retraísse, deixasse de tomar qualquer parte ativa na cidadania, na sociedade: ficam-se por círculos mais ou menos herméticos, sobretudo muito confortáveis, pois aí, cada pessoa só encontra reforço positivo, não encontra pessoas com uma visão contrastante do real; mesmo que esses círculos não sejam seitas, têm um pouco a sua postura, as chamadas «capelinhas».

 Não consigo ter a frieza de alguns, que dizem: «pois têm aquilo que merecem!» -  O que vem aí, ou já está aí, é uma espécie de autoritarismo ou fascismo «soft». 

Muita gente vê esse monstro cada vez mais perto e depara-se com uma indiferença, denegação e/ou cobardia de seus concidadãos. De certeza essas, pelo menos, não o «merecem». Também os povos dos países do Terceiro Mundo, na sua imensidão, não têm responsabilidade na corrida aos armamentos, na deriva para uma guerra cada vez menos fria e para a escolha ou passiva aceitação de líderes demagógicos, agressivos, corruptos.

Mas quem tem um mínimo de formação, quem vive nos países ricos e goza de um certo grau de liberdade de opinião (ainda)... não terá obrigação de acordar e de alertar sobre o que se está a passar? 

Parece que sou eu que estou louco e que todos os outros são equilibrados. A ver vamos, como reagirão eles nas circunstâncias do colapso de um mundo que davam como «certo e seguro».