Guillaume Dufay (c. 1397-1474) foi uma figura crucial no forjar das técnicas da polifonia. As obras de Dufay e dos outros mestres franco-flamengos estabeleceram o «idioma-base» de todo o Renascimento, nos séculos XV, XVI e XVII.
Um procedimento muito usual na época, era basear uma peça comprida e com várias secções, num «Cantus Firmus», ou seja, numa linha melódica que servia de base, sustentando as outras vozes.
O Cantus Firmus podia estar presente na voz do tenor, ou do baixo. As suas notas forneciam uma base harmónica à estrutura polifónica.
A melodia do Cantus Firmus podia ser extraída do cantochão (canto gregoriano). Mas, com muita frequência, também eram usadas canções profanas, como é o caso de «Si la face ay pale». Em ambos os casos, desempenhavam um papel unificador de todas as partes da missa.
[Pode-se ter acesso às partituras contendo a Missa «Se la face ay pale» e outras peças musicais atribuídas a Guillaume Dufay, na «Opera Omnia» compilada por Alejandro Enrique Planchart. A missa em análise, encontra-se no pdf seguinte: https://www.diamm.ac.uk/documents/184/04_Du_Fay_Missa_Se_la_face_ay_pale.pdf ]
(Abaixo, a letra da canção, em francês arcaico, com as expressões em francês moderno, ao lado)
Se la face ay pale
I
Se la face ay pale (si j'ai le visage pâle)
La cause est daymez (d'aimer)
C'est la principale
Et tant m'est amer (et il m'est tant amer
Amer qu'en la mer d'aimer qu'en la mer
Me voudroye voir; je voudrais me voir)
Or scet bien de voir (c'est bien de voir )
La Belle a qui suis (la belle à qui j'appartiens)
Que nul bien avoir (je ne peux avoir
Sans elle ne puis aucun bien sans elle)
II
Ce pesante malle ((comme) cette pesante malle
De dueil a porter, de deuil à porter)
Ceste amour est male (cet amour est difficile
Pour moy de porter; pour moi à porter)
Car son deporter (car son bon plaisir
Ne veult devouloir veut qu'on n'obéisse
Fors qu'a son vouloir qu'à sa volonté
Obeisse, et puis et puisque telle
Qu'elle a tel vouloir, est sa volonté,
Sans elle ne puis sans elle je ne peux)
III
C'est la plus reale (royale)
Qu'on puist regarder, (que l'on puisse)
De s'amour leiale (de son amour loyal)
Ne me puis guarder, (je ne peux me garder)
Fol suis de agarder (je suis fou d'attendre
Ne faire devoir ni ne mérite
D'amour recevoir de recevoir d'amour
Fors d'elle, je cuis ; seulement d'elle, je crois
Se ne veil douloir (si je ne veux pas souffrir,
Sans elle ne puis. sans elle je ne peux)
- Os 'Warner classics' fornecem-nos uma gravação pelo 'Early Music Consort', de Londres. No vídeo abaixo, pode-se ouvir a obra profana composta por Dufay. Primeiro, o motete «Se la face ay pale» em versão vocal; em seguida, a versão para órgão, que se encontra no Buxheimer Orgelbuch(1):
Kyrie Gloria Credo Sanctus Agnus Dei
Uma refrescante versão em dueto de flauta e alaúde: https://www.youtube.com/watch?v=ORm-ZFczzwQ
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