NOTÍCIA DE MANUEL BAPTISTA PARA OBSERVATÓRIO DA GUERRA E MILITARISMO
Síntese baseada nas notícias seguintes:
Há meses que se desenrola uma revolta popular, protagonizada sobretudo por jovens, a propósito da tentativa de fazer passar uma lei, pela Assembleia Legislativa local, que permitiria a extradição de criminosos em fuga presentes no território de Hong-Kong para o território em que o crime foi cometido.
Esta iniciativa legislativa partiu da governadora de Hong-Kong Carry Lam, a qual tomou como pretexto o caso de um criminoso comum, acusado de homicídio em Taiwan, que se refugiara em Hong-Kong. Segundo a legislação corrente, o poder judicial de Hong-Kong não tem autoridade para julgar o caso. Daí, a proposta de lei de extradição. Note-se que as autoridades de Taiwan vieram afirmar que a hipotética extradição do criminoso para Taiwan nem sequer se poderia concretizar, visto não existir reconhecimento do governo de Taiwan por parte das autoridades de Hong-Kong e vice-versa.
Os manifestantes viram na manobra o desejo das autoridades de Hong-Kong em tornar possível a extradição para a China continental de criminosos, mas também de dissidentes políticos do regime da República Popular da China, que se tenham refugiado em Hong-Kong.
Recordemos que o território beneficia de estatuto especial ao nível Legislativo e de Governo, com instituições estabelecidas antes da passagem deste território para soberania chinesa em 1997. Este estatuto só estará caducado em 2049, quando ocorrer o completar do período de transição, ou devolução, de Hong-Kong à China.
No início, o movimento massivo conseguiu que o governo de Hong-Kong suspendesse o processo legislativo em curso para aprovação da polémica lei. Porém, os protestos continuaram porque eles pensam que o poder político apenas quer recuar um passo, mas mantendo em «banho Maria» a referida legislação sobre extradição. Além disso, os manifestantes consideram que o governo de Hong-Kong é uma marionete de Pequim.
No Domingo passado, os manifestantes invadiram o aeroporto de Hong-Kong, causando uma interrupção dos voos, que se repercutiu até Segunda-Feira (12 de Agosto). O motivo desta invasão foi protestar contra a lesão grave no rosto e num olho, de uma manifestante, por um polícia de choque que usou bala de borracha a uma pequena distância. A irmã da vítima diz que ela não fez nada, apenas se inclinou para olhar, numa paragem de autocarro.
O poder político em Hong-Kong tem estado paralisado face à onda de protestos, por vezes muito violentos, usando tácticas de guerrilha urbana, com cocktails molotov, além de pedras e outros objectos lançados por manifestantes com cara tapada, que se deslocam rapidamente e investem de surpresa contra símbolos do poder, incluindo comissariados de polícia.
O South China Morning Post, que se publica em Hong-Kong, um dos mais prestigiados quotidianos de língua inglesa da região, tem dado um pormenorizado relato dos acontecimentos. Num editorial, a redacção considera que o governo de Hong-Kong tem de compreender que precisa de tomar decisões políticas, que a acção policial, por si só, não será capaz de resolver o problema.
Provavelmente, existem influências dos EUA e países ocidentais insuflando estes protestos, mas o facto é que a problemática que os desencadeou e a forma desastrada como a crise tem sido gerida pelo poder político de Hong-Kong são aspectos absolutamente locais e não importados.
Pequim está em apuros porque está sob pressão económica, devido à guerra comercial com os EUA, tendo sido forçado diminuir o valor do Yuan para defender as exportações.
Manuel Baptista
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