Uma acção implica necessariamente uma reacção. É uma lei
geral da física. Também se aplica, como não podia deixar de ser, nos assuntos
humanos. Vem isto a propósito do que o «Ocidente» tem feito nos últimos anos em
terras do Médio Oriente e Norte de África.
O imperialismo dos EUA,
com os seus apêndices Britânico e Francês, antigas potências imperiais dominantes
no vasto mundo não europeu, devastou os países árabes, usando uma táctica de
desestabilização que designou propagandisticamente de «Primavera Árabe». Hoje
sabe-se, para além de toda a dúvida, que a política do Departamento de Estado,
sob a chefia de Hillary Clinton, é responsável: as operações «Primavera árabe» foram planeadas
e executadas friamente, usando - como sempre- os anseios legítimos de
populações empobrecidas e descontentes com os ditadores domésticos, para
propulsionar a subida ao poder de facções favoráveis aos poderes «ocidentais»,
tais como a Irmandade Muçulmana, uma sociedade semi-secreta que não tem nada de
progressista ou anti-imperialista, mas que soube avançar com a sua agenda
desestabilizadora para destronar os regimes «laicos» ou seja em que a lei
corânica não é considerada lei geral: nomeadamente, o Egipto, a Líbia e a
Síria. O efeito foi desastroso, conduziu a morticínios dos quais os maiores
responsáveis são justamente os que se arvoram em juízes dos outros, o poder nos
EUA e nos países da EU…
A destruição, a guerra civil, a guerra religiosa, que o
chamado Ocidente semeou, está agora a colher «fruto», sob forma de ataques
terroristas, de afluxo de refugiados não desejados, temidos por grande parte da
população, sob forma de crescimento da extrema-direita, dos movimentos
xenófobos, racistas. Tudo isto, no meio de uma crise económica profunda, que os
poderes do dinheiro nunca tiveram coragem de reparar. As bolhas especulativas
causadoras do abalo de 2008 estão constantemente a ser re-insufladas na
esperança vã de reacenderem uma economia definhando numa espiral deflacionária.
As pessoas de «bons sentimentos» mas fraco juízo crítico,
manipuladas, pensam que é seu dever mostrar-se muito humanas face a uma onda de
refugiados, quando – na verdade – graças a uma média completamente manipulada
pelos Soros e companhia, estão a vender-lhes uma aceitação das políticas
imperiais acriticamente, uma submissão de súbditos do império, aos ditames
dessa «elite» plutocrática que domina o poder na EU.
Estas pessoas, na melhor hipótese são míopes, na pior, são
coniventes dos desígnios dos poderes. A realidade pode situar-se algures entre
os dois. Pois o lógico, face aos dados objectivos de que dispomos em
abundância, não era tomar uma posição hipócrita de equidistância: Quando existe
um agressor e um agredido, como tem sido o caso com a destruição da Líbia, com
a guerra suja contra o regime e o povo da Síria, como a guerra de genocídio
contra o povo do Iémen, alguém que se coloca numa posição de «neutralidade» está
apenas a dar espaço de manobra a um dos lados, ao lado agressor. Vemos que,
quer do ponto de vista ético, quer numa perspectiva realista para acabar com
essas guerras fomentadas pelo Império, só há uma atitude a tomar: as pessoas
com reais e profundas preocupações humanitárias nos países europeus deveriam
energicamente lutar contra as políticas imperialistas dos poderes, aderir a
campanhas pelo desarmamento, contra vendas de armas a ditaduras sanguinárias e genocidárias,
como a Arábia Saudita, exigirem que os seus governos se desvinculem das
campanhas orquestradas pelos EUA, que arrastam os países europeus, através da
NATO, para um confronto.
Na realidade, o que me
entristece e enfurece mais - nisto tudo - é constatar a impotência fabricada.
- Com é que procedem?
As falsas campanhas humanitárias, de ONG’s subsidiadas pela Fundação George
Soros, pelo Departamento de Estado dos EUA, etc., em vez de se atacarem à raiz
dos males, «choram» sobre os seus efeitos, sem nunca porem o dedo na ferida.
É assim que os poderosos continuam a ditar as políticas dos
países da EU, conseguindo arregimentar a opinião pública: uma parte, «sentimental»,
julga lutar por causas elevadas ao fazer campanha pelo acolhimento dos
refugiados, mas - na verdade- está a ser manipulada, a ser usada
desavergonhadamente. Outra parte da opinião pública, «xenófoba», só vê perigos
na imigração maciça, mas não sabe identificar a causa verdadeira dessas
catástrofes, que são precisamente os seus governos e suas políticas criminosas.
No meio disto, algumas personalidades, algumas organizações
cívicas e políticas têm tido um papel nada positivo, pelo facto de se colocarem
numa falsa equidistância, numa política do «nem, nem». Não vêm que estão a
permitir que se perpetue a política de agressão a certos Estados, que – obviamente-
são também de agressão aos respectivos povos.
Uma esquerda verdadeiramente internacionalista deveria ter
forte motivação para lutar contra as políticas criminosas dos Estados e
governos da UE, quer em relação à Ucrânia, quer à Síria, ou em relação a outros
teatros de guerra ou de tensão.
Estou convencido que esta fraqueza tem a ver com o abandono da
concepção classista, internacionalista. Em vez disso, temos uma política
«mole», «de causas fracturantes» e um retraimento das lutas sociais, de classe.
O «humanitarismo» despojado de quaisquer análises sobre a luta de classes e a
luta anti-imperialista é apenas um encobrimento, um branqueamento.
Se todos os povos são nossos irmãos, se não existem guerras
humanitárias, se todas as guerras são actos bárbaros e os responsáveis estão ao
comando nas cadeiras do poder nos nossos países, então a tibieza e timidez na
luta contra a guerra revela cobardia e comprometimento com os nossos piores
inimigos.
Esse triste cortejo de hipocrisias, tão cheias de sentimentos
humanitários, dá-me náuseas, dá-me vontade de vomitar.
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