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quarta-feira, 21 de maio de 2025

PARADOXOS DA GUERRA ECONÓMICA CONTEMPORÂNEA

 

                                                         Foto: Vista de Xangai

Na realidade, são um feixe de contradições que vêm pôr de rastos construções ideológicas, que passaram por ciência económica «bona fide», no passado recente e continuam presentes, quer no discurso político oficial, quer na media mainstream, ou ainda na academia.

A contradição maior é a China, país governado por uma direção comunista, experimentar um desenvolvimento capitalista vigoroso.  Hoje, é inegável a rapidez com que passou a estar no primeiro lugar em domínios de ponta, onde a excelência e a inovação vão de par com uma estrutura industrial em permanente renovação. 

Nestes domínios da «high-tech», os EUA e países ocidentais em geral, já não estão em primeira linha numa série de indústrias, tanto em termos de qualidade, como na cobertura ao nível mundial. 

Um exemplo importante é a rede 5G da telefonia móvel. Esta é dominada pela Huawei, empresa privada chinesa, que - apesar de todo o boicote levado a cabo há anos pelos EUA- está numa posição mundial dianteira. 

Lembram-se do lamentável episódio da vice-presidente da Huawei ter sido presa no aeroporto de Vancouver, quando em trânsito para a China, vinda dum congresso na América Latina? E do tempo que levou libertarem-na, embora inocente de qualquer crime e retida contra todas as normas do direito internacional?

A China de hoje não sofre de atraso em termos tecnológicos, em relação ao Ocidente, antes pelo contrário. Ela tem sido capaz de ultrapassar as dificuldades colocadas  pelos ocidentais à sua importação de componentes estratégicas, sujeitas a sanções pelo Ocidente. A indústria dos «chips» tem avançado depressa na China, embora esta não consiga ainda igualar certos tipos de chips de gama mais alta, fabricados em Taiwan. Pode-se dizer -porém - que não está em situação crítica, neste aspecto. 

Um «teste» que comprova isso, ocorreu recentemente, com os aviões de combate da força aérea do Paquistão de fabrico chinês, que superaram em combate os da força aérea indiana, de fabrico francês (Rafale). Obviamente, os aviões de caça possuem múltiplos sistemas eletrónicos, dos radares de deteção, aos sistemas de assistência  à pilotagem e ao combate. Estes sistemas utilizam os «chips» mais sofisticados. Penso que  a qualidade dos sistemas electrónicos incorporados se reflectiu nas capacidades de combate desses aviões.

A China tem uma economia integrada, mas não demasiado verticalizada, assim conciliando a capacidade em concentrar recursos humanos, financeiros e materiais, em áreas consideradas prioritárias, ao mesmo tempo que - ao nível local, de município ou de província - tem dado livre curso a experiências audaciosas, colocando a iniciativa privada em concorrência. Esta é estimulada, sendo a excelência recompensada. Veja-se o que diz a economista Prof.ª Keyu Jin sobre os pólos de excelência das «Silicon Valleys» chinesas. 

Neste país não há pobreza nas grandes cidades; a população está corretamente vestida; não tem carências alimentares, nem deficiências na saúde. 

Pode-se argumentar como se queira, mas a pobreza é o factor de exclusão maior: Automaticamente, exclui os pobres da participação ativa na vida social e cívica. Além disso, a pobreza tende a perpetuar-se de geração em geração. 

É no Ocidente que a pobreza progride. Aí, verifica-se a subida dos índices mais preocupantes, como o da taxa de mortalidade de bébés e infantes, o desemprego em massa dos jovens, o alcoolismo, o consumo de drogas e os suicídios... e tudo isto, enquanto a sociedade do consumo desenfreado continua a segregar a miragem da opulência. Esta miragem faz as pessoas mais pobres do Sul global imigrarem para os países «afortunados», onde  irão encontrar, em vez dum «paraíso», o inferno da exploração!

Porém, é na China que ocorre o  mais dinâmico desenvolvimento capitalista, numa combinação de capitalismo de Estado e de capitalismo privado.  

A República Popular da China declara-se socialista, mas não exclui nem marginaliza o capitalismo privado, enquanto modo de produção. 

Se, de facto, este modelo de socialismo tem tanto sucesso, ele não deveria assustar as pessoas dos países da Europa e América. Deveriam ver quais as vantagens que pode trazer, embora não para lhe copiar mecanicamente as soluções. Estas, podem ser adequadas para a China, mas não para outras paragens. Muitos países do Sul Global estão já a beneficiar da cooperação com a China.

Paradoxalmente, enquanto continua a pregar a «liberdade de concorrência», a «livre iniciativa», etc, o Ocidente mantém uma guerra de retaguarda com o resto do mundo. Claramente, esta destina-se a conservar os privilégios da oligarquia, a qual não tem interesse em desenvolver seus países, no sentido autêntico de emancipação das pessoas, sua maior autonomia, suas melhores condições de vida e uma melhor educação e informação.

Ao fazer esta escolha - pela oligarquia - a casta política europeia está cada vez mais dissociada das necessidades reais da cidadania. Prova clara desta dissociação, é sua opção pelo confronto bélico com a Rússia, indo ao ponto de mostrar-se mais inflexível que os EUA. Esta escolha, acabará por levar a Europa para um plano subalterno, não só no tecido tecno-científico-industrial, mas também ao nível civilizacional

Múltiplos casos históricos de países, mostram que a perda de dinamismo (em particular, no setor produtivo) está na origem da decadência e se não for revertida, desemboca em dependência neo-colonial.    



 

2 comentários:

  1. O sucesso da indústria automóvel chinesa e a perda de mercados do chamado Mundo Ocidental, são muito significativos. Por isso, estes factos são omitidos nos discursos dos «defensores» ideológicos do ocidente.
    https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2025/01/automoveis-ev-como-e-que-os-ocidentais.html

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  2. Mike Whitney mostra como os grupos económicos nos EUA investem os seus lucros e como os grupos chineses o fazem. Muito informativo!
    https://www.unz.com/mwhitney/heres-why-china-is-beating-the-pants-off-the-us/

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