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sexta-feira, 23 de maio de 2025

ESCOLHAS POÉTICAS: O Mundo [OBRAS DE MANUEL BANET]


O mundo está fora de mim, no sentido trivial

Mas também se pode dizer que ele penetra

Em todos os poros da minha pele,

Pelo ar que respiro, pela comida que ingiro

Pela água e pelo vinho,

Pelas letras, os sons e os cheiros

Ele penetra por todos os canais

Dos sentidos.

Eu não recuso este fluxo constante

De sensações. 


Porém, ficar cativo,

É outra coisa; estar cativo das coisas materiais

Ou até das ideias, das que se originam 

Nas agitações fúteis, sempre procurando

O novo; como se, perante a novidade,

Devêssemos baixar a cabeça, curvar a espinha!


Se quiseres argumentar que eu «estou fora do mundo»

Tens razão, num certo sentido:

No sentido antigo e caído em desuso

da palavra «mundo»... 

Como «mundano» ou «mundanidade»...


Se não sou deste mundo, estou contente

Estou mais aconchegado no mundo 

Da infância, das recordações

Dos momentos felizes, da pesquisa

Científica e intelectual,

Do prazer de conversar com iguais...


Sim, não é com naturalidade, nem com desembaraço

Que «falo» através de telefones móveis, ou de teclados

Digitando palavras, como agora...


Sou realmente antiquado e não tenho complexos! 

Sou capaz de compreender os mais jovens,

Mas duvido que a recíproca seja verdadeira.


Estou fora do mundo e ele está fora de mim.

Sim, do mundo fútil, coisificado e destruidor

Do que há de mais humano na humanidade,

Estou fora!


Por muito que vos custe, pensai de outro modo;

Já será um princípio de emancipação. 

Não pretendo que pensem como eu; 

Mas pensem!

Com alma, espírito e todo o ser, 

Libertos da prisão doirada da tecnologia

Que ambiciona encerrar nossas mentes.

 





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