Dizia-me, há anos, um amigo e companheiro: «quem se mete na política, é como se aceitasse mergulhar num barril de merda».
Pois, é verdade que algumas pessoas se têm metido na política com a melhor das intenções e têm mergulhado "na merda" com a convicção de estarem imunes à contaminação que este ato implica. A política é feita por homens, não por anjos ou figuras etéreas, e ainda menos por ideias.
A maioria das pessoas deixa-se arrastar por ideias que as entusiasmam, muitas vezes, na adolescência. Isto abona a favor dos seus instintos humanos, quererem ajudar a «curar os males» do mundo. Mas os males são tantos, que a única forma de servir com inteligência uma causa, seja ela qual for, é com agudo sentido crítico e auto-crítico. Além disso, é preciso constantemente monitorizar a política que está a ser realmente realizada (muitas vezes por detrás das cortinas) onde se tomam decisões, cujos efeitos todos nós vemos: A «evolução» da economia mundial, de crise em crise; a «evolução» da geo-política, de guerra em guerra; a descida da humanidade para novos horrores às mãos dos poderosos.
Surge então a pergunta inevitável: «Que fazer?»
Ao contrário de Lenine e do bolchevismo, não preconizo estratégia(s) para "conduzir" os oprimidos à revolução.
Tal revolução, se acontecer de forma violenta, será um banho de sangue seguido da ascenção ao poder dum ditador ou dum novo bando. Estou convencido que as revoluções políticas não mudam o substrato profundo do poder. Elas apenas substituem uma fração da classe dominante por outra fracção, no governo do Estado.
Constato que na história da Humanidade só existiram duas Revoluções realmente transformadoras na base, ou seja, nos modos e nas relações de produção:
- A Revolução Agrária, começada há mais de dez mil anos e com continuação, como se pode verificar, até aos dias de hoje;
- A Revolução Industrial com, pelo menos, três centenas de anos e que também se prolonga até hoje.
Ambas têm muitas etapas, condicionadas por inúmeras transformações tecnológicas, por mudanças na chefia do poder político, etc. Porém, a relação dos humanos aos meios de substistância é -basicamente- a mesma:
No caso da Revolução Agrária, com a agricultura e a pastorícia, trata-se do domínio duma parte da Ecosfera pelos humanos. Esta modificação radical engendrou as primeiras civilizações. Estas, por sua vez, foram alargando o seu espaço e culminaram num certo ponto: Quando a capacidade de extraír riqueza e de manter o controlo sobre os territórios e as gentes atingia um máximo, começava então o declínio lento ou rápido, seguido pelo colapso e o caos.
Com os impérios e regimes resultantes da Revolução Industrial passa-se algo de muito semelhante, embora tendo em conta que ela foi «transmutada» em revolução tecnológica digital, recentemente. Nesta, a digitalização, a robotização, as redes de informação, etc. têm papel muito relevante; porém, a base material continua a ser a fábrica, onde se produzem as componentes físicas (= o hardware) nesta etapa da Revolução Industrial.
Considero que esta perspectiva da história humana se baseia em fatores reais e não em ideologias, religiões, sistemas de crenças ou teorias científicas na moda.
Esta perspectiva não é, de forma alguma confundível com o Materialismo Histórico*, nem sequer com uma versão atualizada desta teoria marxista da História. A nossa visão do mundo é incompatível com os dogmas marxianos.
O mito da «capacidade profética» do marxismo, é somente a expressão do cientismo dos Séculos 19 e 20. Enquanto narrativa mitológica, funciona como religião, embora se apresente como ideologia ateia:
- Os ideólogos pretendem operar a transformação da sociedade ao nível do discurso ("No princípio era o Verbo"), das motivações psicológicas e da representação do mundo fabricada pelas vanguardas, as pseudo-elites, quer estejam no poder ou na oposição.
Muitas pessoas bem intencionadas estão emotivamente ao lado dos deserdados da Terra, os três quartos da humanidade que sobrevive com o mínimo vital, ou abaixo desse mínimo.
Mas, para que estas pessoas - cheias de idealismo e bem intencionadas- tenham um papel positivo, têm de mudar profundamente o seu sistema de pensamento (conservando os seus valores éticos).
Têm, honestamente, de examinar as críticas doutras pessoas, em especial, as de correntes anti-capitalistas e anti-autoritárias, das que não sejam do mesmo partido, ou corrente, ou que sejam apartidárias.
Isto seria o primeiro passo.
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* Ver artigo deste blog: «Materialismo histórico» é uma ideologia inventada por Marx e por Engels, sobretudo para justificar a sua teoria política, de que a sociedade, fatalmente, iria transformar-se em socialista e, depois, em comunista.
A incapacidade de compreender o que se está a passar, felizmente, não abrange todos os sectores da esquerda marxista. Veja:
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