Peguei no telemóvel
Marquei aquele número que me disseram
Uma voz maviosa respondeu
Ouvi um longo desfiar de frases
Que me preveniram supostamente
De todas as infrações / penalidades
Eximia-se de qualquer responsabilidade
E eu apenas tinha de dizer "sim"
Por fim, após uma musiquinha
Que se repetiu quinhentas vezes
Veio a voz (real) de alguém
Um homem que se identificou
Mas não percebi seu nome
Da maneira como o pronunciou
Apenas queria saber o meu nome
Completo, meu número da Seg. Social
Número fiscal, data de nascimento
E depois perguntou-me:
"O que deseja?"
Já não sabia se desejava
Falar com alguém assim.
Afinal, tinha sido impulsionado
Por um agudo sentimento
Como se fosse uma vertigem,
Um mal-estar, de impotência
Para continuar a arrastar
Comigo a sombra do passado
E de encarar o presente.
Estava realmente na ponta
Final da luta comigo próprio,
Mas a fatalidade jogava
Tudo para me empurrar
Para dentro dum poço
Sem fundo de meu
Desespero...
Não encontrei palavras
Para lhe responder.
Os pensamentos atravessavam
Meu cérebro como raios
U.V. e nem ouvia já
Aquela voz insistente
Ao meu ouvido
Que me repetia
De maneira polida
"O que desejava ?"
Por fim, disse-lhe:
- Desculpa , não é nada.
E desliguei.
Poesias publicadas em 2024, neste blog: https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/p/opus-vol-iii.html
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