Estamos perante um Mundo quebrado, fragmentado. Numa sociedade fragmentada, onde ninguém se interessa por ninguém. É muito ESTRANHO o que se está a passar, tendo em conta que nós, humanos, somos animais sociais.
Creio que este estado de «autismo social» não foi alcançado de uma vez, mas progressivamente, de tal maneira que isso nos parece «natural». Com efeito, há mil e uma desculpas para não interagir pessoalmente com outras pessoas.
A razão de fundo, é que nós nos transformámos, a pouco e pouco, em monstros: monstros de egoísmo, que só nos interessamos por alguém que reforça, de um modo ou do outro, a nossa «performance», nem que seja, apenas, simbolicamente.
Um mundo assim, é «perfeito terreno de caça» para os psicopatas e sociopatas, pessoas que não têm nenhum afeto, que são realmente destituídos de empatia humana. Estas pessoas apenas simulam; interessam-se, apenas como cálculo. Seja como for, elas costumam desaparecer, assim que veem que a preza não interessa, ou que ela está demasiado consciente do jogo que o predador tem jogado.
Eu penso que as pessoas estão fechadas dentro do seu egoísmo; pensam que, se outros são egoístas ou indiferentes para com elas, elas «têm de pagar da mesma moeda». Só que esta abordagem é demasiado mesquinha e vai necessariamente conduzir a uma (abusiva) generalização.
A nossa natureza de humanos não está nas performances que fazemos; nas carreiras que temos; nos currículos que exibimos; nos bens materiais que acumulamos... Enfim, a grande doença da nossa época é a falta de amor; mas de um amor-dádiva, não de um amor posse, dum amor baseado no «toma lá, dá cá».
Não há dúvida que precisamos de reciprocidade nas relações com os outros, mas pela positiva; se alguém «falha» em relação a nós (ou julgamos, pois pode até nem ser verdade), devemos perdoar e relativizar, devemos contextualizar, o que implica quase sempre que não devemos (consciente ou inconscientemente) nos autoabsolver do que correu mal na nossa relação.
Pelo contrário, se estamos envolvidos num relacionamento humano a um nível mais profundo (amizade ou amor), então devemos ter a preocupação de cuidar desse elo que nos liga com a outra pessoa. Temos de estar vigilantes para perceber o que aborrece o outro e o que lhe dá prazer. Temos de saber mostrar que estamos atentos e nos interessarmos genuinamente por essa pessoa. É difícil, porque as pessoas estão muito metidas numa teia de relações interesseiras e não compreendem que o nosso ímpeto não seja determinado por «interesses», mas por afetos positivos.
A maior parte das pessoas não é genuína. Mesmo que elas estejam convencidas de que seu amor/amizade por nós é genuíno, podem estar a enganar-se a si próprias.
O isolamento que as relações por via «digital» (como esta) provocam, é muito maior porque as pessoas «não têm tempo», só leem e dão atenção a algo muito concreto, que lhes traz (ou julgam que lhes traz) vantagem material.
O relacionamento direto, em situação não-hierárquica, deveria fazer parte de terapia social de grupo, para reequipar as pessoas nas suas referências de vida em sociedade.
É como se quase todas as pessoas estivessem de tal maneira «destreinadas» do funcionamento em sociedade, que se isolam, ou têm comportamentos ambíguos, inadequados, agressivos.
Mas, na verdade, eu não creio muito na implementação imediata de tal abordagem, sem que haja uma transformação social profunda.
Infelizmente, a possível transformação que antevejo para o futuro imediato - com o agravamento duma crise económica, cultural e civilizacional, para a qual francamente não estamos preparados - é uma transformação regressiva do ponto de vista social e dos valores humanistas.
Estou plenamente ciente de que esta reflexão não agradará a muitos, pois eu não caio nos estereótipos usuais. Também não aponto a «solução», o que os vendedores de banha da cobra disfarçados de terapeutas, costumam fazer.
Mas, proponho que as pessoas aumentem o seu grau de consciência, aprofundem o conhecimento das causas do seu mal-estar, para chegarem a um diagnóstico e que façam algo para mudança das suas condições.
Podem ser condições externas e materiais, mas podem também ser psicológicas e espirituais.
Em todo o caso, as pessoas têm de «tomar-se a si próprias pela mão e serem seu próprio auxílio».
Se encontram, no caminho, alguém de confiança para as ajudar, ótimo. Mas, não devem nunca esquecer que o trabalho essencial é o da própria pessoa... mesmo, quando beneficiam duma ajuda terapêutica.
O que podemos fazer em relação às jovens gerações?
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=z5jCguVnZDI