A classe média europeia, da Europa ocidental sobretudo, habituou-se a viver num certo desafogo, a gastar uma fração dos seus rendimentos em consumo não essencial, ou sumptuário, etc. Ora, no contexto atual e com perspetiva de se perpetuar por longos anos, entra-se numa fase de contração, de recessão e estagnação, mas com inflação elevada, embora, talvez nunca se chegue a deslizar para o patamar da hiperinflação. Mas como se chegou a este ponto?
Antes de mais, há uma coincidência bastante rara de escassez na oferta e dum excesso de liquidez. Ou seja, a crise despoletada em Setembro de 2019 (portanto erroneamente atribuída ao «COVID») e os episódios subsequentes, em 2020/2o21 incluindo os lockdowns ou confinamentos, induziram em todo o Mundo, mas sobretudo nos países produtores e exportadores, como a China, uma escassez, quer dos bens acabados, quer de componentes (como os microchips): Isto foi-se repercutir nas cadeias de abastecimento de todo o Ocidente.
Quanto ao excesso de liquidez, ele resulta da política de impressão monetária, cujos protagonistas são governos e bancos centrais ocidentais. Seria fastidioso retraçar para os leitores os episódios chamados de QE (Quantitive Easing), designação eufemística para aquilo que é, de facto, impressão monetária. Limito-me a dizer - aqui - que a diluição do valor das unidades monetárias foi o causador principal do despoletar da inflação. Foi esta tal política deliberada de criação monetária pelos bancos centrais ocidentais, a que tem sido seguida desde a crise de 2008.
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia e as sanções (guerra económica) impostas à Rússia pelo Ocidente, tiveram um efeito muito menos grave na economia russa, do que os poderes ocidentais esperavam. Mas, tiveram um efeito «boomerang» gravíssimo, sobretudo na economia dos países da U.E. Estes, que já estavam a recuperar dos dois anos de lockdown e de restrições de toda a ordem, com pretexto do COVID, viram-se (devido às decisões intempestivas dos seus governos) numa situação catastrófica. Desde a restrição severa de energia, de adubos, ao trigo de importação, a Europa ocidental está mergulhada num ciclo de escassez, numa espiral de subida de preços, de quebra de cadeias de abastecimento que afetam, não só consumos correntes da população, mas a própria capacidade produtiva das empresas. As roturas nas cadeias de abastecimento são apenas um aspeto da questão, pois existe em simultâneo, um brutal aumento de preços de matérias-primas industriais e agrícolas. Está-se, portanto, num ponto de extrema vulnerabilidade, em variadas vertentes da economia da Europa ocidental. Infelizmente, a perspetiva de que a guerra se venha a resolver e que se volte ao «normal», é completamente irrealista, no curto prazo. Vamos ter um cenário de prolongada guerra económica.
Ao CONTRÁRIO da Rússia e da China, que tomaram diversas medidas de precaução ANTES do rebentamento desta crise, a Europa da NATO comportou-se, durante este tempo todo, como se tivesse «o mundo a seus pés», como se fosse o centro de um vasto império colonial, abastecido em toda a espécie de produtos de que precisasse.
Nada foi feito, apesar de ter sido ela a tomar a iniciativa da onda de sanções que já estavam planeadas, mesmo antes da invasão da Ucrânia, a um dos seus parceiros comerciais mais importantes, a Rússia, tanto do ponto de vista da energia (carvão, petróleo, e gás natural), como dos cereais (1/4 das exportações de cereais mundiais são russas) e das matérias-primas estratégicas, de que a Rússia é grande exportadora mundial.
Coloco duas hipóteses para explicação desta política, aparentemente suicidária:
- ou os governantes são completamente estúpidos e incompetentes,
- ou então, este processo é intencional. Neste caso, teríamos uma tentativa de causar o caos, para poder melhor impor a Nova Ordem Mundial, com menor resistência social, face a um cenário de catástrofe.
Seria o VELHO PROCESSO DE «PROBLEMA-CHOQUE-SOLUÇÃO»: O problema, neste caso, é como levar cabo o «Great Reset». Haverá uma solução «necessária», a que convém às «elites». E, graças ao efeito de choque, ao colapso das economias e do caos decorrente, os potenciais opositores não estarão em condições de fazer uma resistência eficaz. Note-se que, neste cenário, é conveniente para as elites que o público acredite tratar-se da conjunção de fatores infelizes, completamente imprevisíveis e alheios à vontade dos dirigentes.
No contexto da dívida astronómica, que ocorre dum e outro lado do Atlântico (nos EUA e na UE) há duas soluções teóricas possíveis:
- Ou os governos põem um freio às despesas orçamentais crescentes e um freio à impressão monetária. Isso significa austeridade e colapso da bolsa. Esta hipótese, sendo impopular, é quase certo que os governos irão evitá-la.
A outra possibilidade, é ir imprimindo mais e mais divisas, aparentemente saldando as contas do Estado, mas socavando o valor das divisas, pelo que a inflação é despoletada e acelerada, até as divisas ficarem como papel sem valor, como no Zimbabué ou na Venezuela. Infelizmente, é quase certo que os governos vão optar por isso. Esta opção implica um empobrecimento geral. A economia entrará em colapso.
https://www.youtube.com/watch?v=lF9goyLY7NE
ResponderEliminarGeorge Galloway entrevista um prof. sueco que faz parte de uma organização pela paz, sobre o efeito boomerang das sanções ocidentais contra a Rússia (6000 sanções, no presente!)
https://usawatchdog.com/the-west-needs-wwiii-martin-armstrong/
ResponderEliminarMartin Armstrong explica por que razão o «Ocidente» precisa de uma IIIª Guerra Mundial.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarAs pessoas estão completamente adormecidas, ou «drogadas» com propaganda, pois não vêm o que este autor apresenta, que está visível nos dois lados do Atlântico.
ResponderEliminarhttps://www.zerohedge.com/geopolitical/fight-russia-europes-regimes-risk-impoverishment-recession
Leia a análise de Alasdair Mcleod, que explica porque razão o sistema monetário ocidental se vai afundar num oceano de hiperinflação:
ResponderEliminarhttps://www.goldmoney.com/research/goldmoney-insights/value-destruction
https://www.youtube.com/watch?v=HtBs4RNzV88 um economista russo, Tolstoy, lamenta que a Europa se deixe vassalizar pelos anglo-americanos e que a sua classe média seja dizimada.
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