Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
Webpage: NO WAR NO NATO
“Cinquenta ogivas nucleares estariam prontas para mudar da base turca de Incirlik, na Anatólia, para a base USAF de Aviano, em Friuli Venezia Giulia, já que os EUA desconfiam cada vez mais da lealdade à NATO do presidente turco Erdogan”: relata a ANSA citando o que foi declarado pelo general aposentado da Força Aérea dos EUA, Chuck Wald, numa entrevista à Bloomberg, em 16 de Novembro. O facto da ANSA e alguns jornais falarem sobre este assunto, mesmo tarde, ainda é positivo. Isto confirma o que il manifesto documentou há muito tempo. "Parece provável - escrevemos em 22 de Outubro (mas a ANSA ignorou a notícia) - que, entre as opções consideradas em Washington, há a transferência de armas nucleares dos EUA da Turquia para outro país mais confiável. Segundo o Atomic Scientists Bulletin (EUA), a base aérea de Aviano pode ser a melhor opção europeia do ponto de vista político, mas provavelmente não tem espaço suficiente para receber todas as armas nucleares da Incirlik. O espaço poderia, no entanto, ser obtido, dado que já havia começado em Aviano, o trabalho de reestruturação para acolher as bombas nucleares B61-12 ».
Baseado no que foi relatado pela ANSA, o coordenador nacional dos Verdes, Angelo Bonelli, pergunta ao governo se confirma a notícia e traz imediatamente o problema à avaliação do Parlamento, pois que a Itália seria “transformada no maior depósito de armas nucleares da Europa e este silêncio do governo italiano é inaceitável”. Na realidade, não é só o governo que está calado, mas o próprio Parlamento, onde a questão das armas nucleares dos EUA em Itália, é tabu. Levantá-la significaria questionar a relação de sujeição da Itália aos Estados Unidos.
Assim, a Itália continua a ser a base avançada das forças nucleares USA. Segundo as últimas estimativas da Federação de Cientistas Americanos, em cada uma das duas bases italianas e nas da Alemanha, Bélgica e Holanda, actualmente existem 20 bombas B61 para um total de 100 mais 50 em Incirlik, na Turquia. No entanto, ninguém pode verificar quantas são na realidade. Das estimativas resulta que os USA estão a diminuir o seu número, o que está longe de ser tranquilizador. Eles estão a preparar-se para substituí-las pelas novas bombas nucleares B61-12. Diferentemente da B61, lançada verticalmente, a B61-12 segue em direcção ao alvo, guiada por um sistema de satélite e também tem a capacidade de penetrar no subsolo, explodindo em profundidade para destruir os bunkers dos centros de comando. O programa do Pentágono planeia, a partir de 2021, construir 500 bombas B61-12 com um custo de aproximadamente 10 biliões de dólares. Não se sabe quantas B61-12 serão instaladas em Itália, nem em que bases, provavelmente não só em Aviano e Ghedi. Como mostra o mesmo anúncio do projecto, publicado pelo Ministério da Defesa, os novos hangares de Ghedi poderão hospedar 30 caças F-35 com 60 bombas nucleares B61-12, o triplo das actuais B-61 (il manifesto, 28 de Novembro de 2017).
Ao mesmo tempo, os USA estão a preparar-se para instalar mísseis nucleares terrestres (entre 500 e 5.500 km) na Itália e em outros países europeus, semelhantes aos Euromísseis eliminados pelo Tratado INF, assinado em 1987 pelos USA e pela URSS. Acusando a Rússia (sem qualquer prova) de tê-lo violado, os USA retiraram-se do Tratado, começando a construir mísseis da categoria proibida: em 18 de Agosto eles testaram um novo míssil de cruzeiro e, em 12 de Dezembro, um novo míssil balístico, este último capaz de atingir o objectivo em poucos minutos. Ao mesmo tempo, estão a fortalecer o “escudo antimísseis” na Europa. Na sua “resposta assimétrica”, a Rússia começa a instalar mísseis hipersónicos que, capazes de atingir uma velocidade de 33.000 km/h e de manobrar, podem perfurar qualquer “escudo”.
A situação em que nos encontramos é, portanto, muito mais perigosa do que demonstra a notícia já alarmante da provável transferência de bombas nucleares USA de Incirlik para Aviano. Nesta situação, domina o silêncio imposto pela vasta coligação política bipartidária responsável pelo facto da Itália, país não nuclear, albergar e estar preparada para usar armas nucleares, violando o Tratado de Não Proliferação que ratificou. Essa responsabilidade torna-se ainda mais grave, pelo facto da Itália, como membro da NATO, se recusar a aderir ao Tratado sobre a Proibição de armas nucleares (Tratado ONU), votado por uma grande maioria da Assembleia Geral das Nações Unidas.
il manifesto, 30 de Dezembro de 2019
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