J'ai longtemps habité sous de vastes portiques
Que les soleils marins teignaient de mille feux
Et que leurs grands piliers, droits et majestueux,
Rendaient pareils, le soir, aux grottes basaltiques.
J'ai longtemps habité sous de vastes portiques
Les houles, en roulant les images des cieux,
Mêlaient d'une façon solennelle et mystique
Les tout-puissants accords de leur riche musique
Aux couleurs du couchant reflété par mes yeux.
C'est là que j'ai vécu dans les voluptés calmes,
Au milieu de l'azur, des vagues, des splendeurs
Et des esclaves nus, tout imprégnés d'odeurs,
Qui me rafraîchissaient le front avec des palmes,
Et dont l'unique soin était d'approfondir
Le secret douloureux qui me faisait languir.
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Análise por Manuel Banet
Baudelaire refere-se a uma vida anterior, em que os seus sentidos estão plenamente satisfeitos e sua alma também, em paz e harmonia com os sentidos.
O poeta afirma que viveu num ambiente de volúpia calma, no meio de esplendores e de escravos nus.
O tom, intencionalmente vago, deixa adivinhar uma época da antiguidade e uma latitude tropical.
Porém, a mais perfeita beleza e a realização dos desejos sensuais eram apenas sofrimento, afinal; ou melhor, uma forma de aprofundar o sofrimento do poeta.
Do ponto de vista formal, o soneto usa a cadência clássica do verso alexandrino. A rima é rica e não afectada. O discurso flui com naturalidade.
Os símbolos, usados em cada estrofe, são evocadores de faustosas mansões, de templos, da beleza primacial da natureza, que se conjuga com uma civilização da antiguidade no seu apogeu.
No último verso, dá-se uma deslocação de sentido; no meio do cenário sumptuoso de prazer sensual, o poeta revela algo, um segredo, que o perturba e anula a sensação de paz dos versos anteriores. A natureza do segredo não é revelada, mas o verso refere-se ao sofrimento que ele provoca.
A música está presente em toda a obra de Baudelaire, principalmente ligada à beleza da forma. Embora o sensualismo dos versos seja óbvio, a transmutação das imagens e impressões através da música implícita apela para um além misterioso.
Léo Ferré pôs em música e interpretou este poema de Baudelaire extraído da célebre recolha «Les Fleurs du Mal», na gravação abaixo, originalmente de 1957, recentemente restaurada.
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