Dmitri Orlov é um dos meus autores preferidos, pela acuidade das suas análises e pelo seu sentido do humor. Ele nasceu na Rússia soviética e emigrou para os EUA com os pais, em criança. É um cidadão dos EUA, porém muito crítico do «establishment» do seu país.
As suas raízes russas permitiram-lhe fazer uma avaliação objectiva do desmoronar do regime soviético, seguida por uma década de saque pelas multinacionais e pelos novos oligarcas e, por fim, o «golpe de rins» protagonizado pela ascensão de Vladimir Putin à presidência e ao retomar do controlo sobre a economia e as riquezas do país.
A profundidade da análise sociológica e política de Orlov foi aplicada também aos EUA e ao «Ocidente», tendo ele chegado à conclusão de que - perante a catástrofe - os ocidentais estarão muito pior preparados, material e psicologicamente, que os russos da década de 90.
Nesta peça humorística, Dmitri Orlov explica o absurdo de uma máquina de guerra, a NATO, que não tem objecto verdadeiro contra o qual se confrontar. Se não existe em face um bloco desejoso e capaz de confrontá-la, a sua «razão de ser» não é mais que se auto-perpetuar e acabará por se auto-destruir, por devorar os recursos escassos das suas economias.
O argumento parece puxado ao absurdo, mas não é, na verdade. Sabemos que um motivo poderoso da derrocada da URSS foi, na década anterior à sua dissolução, além do Afeganistão, o demasiado grande esforço soviético para tentar acompanhar os progressos tecnológicos da «Guerra das Estrelas» lançada por Reagan. A URSS, em consequência, começou a ter múltiplos problemas, devido ao investimento demasiado escasso noutros sectores da economia.
Hoje em dia, o contraste com o império soviético em decadência não poderia ser maior, estando a Rússia capaz de enfrentar as sanções, uma forma de guerra económica, com tranquilidade. Mais, estas vêm proporcionando-lhe o impulso benéfico para potenciar sectores até então estagnados, nomeadamente a agricultura e para aumentar a sua independência dos circuitos financeiros ocidentais, diversificando para fora do dólar como moeda de reserva. Ao mesmo tempo, estabeleceu uma superioridade tecnológica no armamento face à NATO, demonstrada na sua intervenção na Síria.
Muitos países do Médio Oriente tornaram-se clientes do armamento sofisticado russo, por exemplo os mísseis SS-300, encomendados pela Arábia Saudita e pela Turquia...
Acredito que as contradições internas entre aliados da NATO, como sejam os interesses industriais alemães, franceses e outros irão acabar esta absurda «Guerra Fria bis» com a Rússia. Nos EUA, a «sede do Império», a política de Trump tem sido de retirada para dentro de fronteiras, tanto no aspecto militar, retirada dos cenários onde estivaram envolvidos nas duas décadas do presente século, como no aspecto económico, com a denúncia ou afundamento dos tratados globalistas (TPP, TTIP, NAFTA), e uma ameaça de saída da OMC...
É bem possível que a conjugação destas dinâmicas leve ao fim da NATO.
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