PÁGINAS SOBRE MÚSICA

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

ALGORITMO PARA A COMPLEXIDADE

Nassim Taleb já avançou um pedaço com as suas visões relativas às complexidades de um mundo onde não existe um determinismo, o mesmo é dizer, caótico. Porém, estamos muito longe de completar esta visão, mesmo se há homens, como Jim Rickards, a utilizarem métodos de análise derivados das teorias da complexidade.

Na sociedade globalizada, as relações não são simplesmente «horizontais» ou «verticais», mas ocorrem em vários planos simultaneamente.
Os sistemas de poder, desde a economia, às relações internacionais, atingem uma complexidade impossível de ser dominada por um ser humano, obviamente, mas mesmo por uma poderosa organização, dotada de meios de vigilância quase infinitos, como é o caso da NSA. Veja-se a este propósito o que diz o whistleblower Binney a Sarah Westhall, neste vídeo.

O dilema do local versus global, é um falso dilema, pois os dois termos são inseparáveis: nunca haverá um «global» que não seja composto de múltiplos «locais»  e nunca o que é da esfera «local» se confina estritamente a esse espaço, pois o ultrapassa no seu intercâmbio com o entorno.

Então, sem pretender ser original, que não é meu objectivo afinal, mas indo buscar à sabedoria acumulada por incontáveis gerações, sei que podemos sair de toda a teia de falsos dilemas, podemos deixar de ficar «esmagados» pela imensidão de variáveis que influem na nossa vida e do nosso entorno, desde o próximo até à longínqua galáxia…

Eis o «algoritmo» para se saber viver e «navegar» num mundo de complexidade inextricável:
 Devemos focalizar a nossa atenção, desenvolver o nosso talento em tudo o que está ao alcance; o resto, sendo real e por nós reconhecido como tal, está para lá da nossa capacidade de intervenção e compreensão aprofundada. 
A prudência ordena que não nos vamos imiscuir a tentar modificar o que está para além do domínio de competência que nos é próprio. 
Note-se que tal domínio pode ser muito vasto para certas pessoas ou muito restrito para outras. 
Por isso, também é essencial cumprir o preceito socrático «conhece-te a ti próprio».

Este algoritmo aplica-se na vida económica, por exemplo, não deve multiplicar os investimentos por «n» objectos, para além daquilo que será capaz de abarcar (imaginemos alguém que tivesse de gerir «n» propriedades, urbanas, rurais, comerciais e industriais, dispersas por todo o país… claro que não poderia ser bem sucedido, se estivesse essencialmente sozinho nessa tarefa).

Mas também se aplica a um domínio filosófico, como a discussão em torno da existência ou não de divindade. 
O alcance do espírito humano não é superior a um certo limite. 
Sendo claro que não poderá abarcar todo o universo, na sua extensão espaço-tempo, logicamente, a questão da existência ou não de Deus, do ponto de vista filosófico é uma questão sem solução. 
As pessoas fariam melhor em se debruçar sobre questões pertinentes humanamente e que, embora sem solução agora, se espera acabarão por encontrar solução, futuramente. Este questionar é o típico da ciência destes últimos três séculos que, como sabemos, teve imenso sucesso, mesmo que também tenha trazido problemas.

O leitor poderá pensar que este algoritmo, afinal, não é mais do que a aplicação do bom senso. 
Sim, mas o tal bom senso, dele todos dizem possui-lo, mas -afinal- está muito mal distribuído. 
A tal ponto que, para não confundir com uma falsa sabedoria, convencida e ignorante, prefiro inverter os termos e falar antes de «Senso Bom*».

[*titulo de colectânea inédita de ensaios filosóficos que escrevi nos anos de 1989 e 1990]


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