EPIGRAMAS*
1.
Agrilhoado aos tendões do desespero
Canto raivoso o cativeiro
Do corpo cansado prisioneiro
Impaciente a morte espero
2.
Meço o Mundo pelos passos
Que marcam o tempo gasto
Anos-luz de sonhos que arrasto
Na quarta dimensão dos espaços
3.
Sem falar diz-me tudo nos lábios
Como a bruma beija no mar
O pescador de olhos sábios
Que sabe no céu a rota tomar
4.
Com o olhar revela segredos
Como a fonte vertendo na noite
Suaves lágrimas de rochedos
5.
Semeias pelas janelas da cidade
Cantos leves como o vento
6.
Segredos à flor dos lábios
Olhos cerrados no azul
Abismo em campo aberto
7.
Tudo se diz no silêncio
É impossível fechar os ouvidos ao silêncio
É impossível calar o silêncio
8.
Palavras para quê?
Não ouves o grilo cantando a sua serenata?
O fogo a crepitar na lareira?
As estrelas difundem uma harmonia límpida;
São lágrimas?
9.
Sinto o sangue a latejar na cabeça
Abre-se-me o corpo em flor
Descubro uma chaga no lugar do coração
10.
Em ti redescobri o objecto há muito tempo perdido
Há tanto tempo...
Sabor a sal, a algas marinhas, a moluscos
Dentro de conchas nac’radas...
11.
Há em mim
“Um-não-sei-quê”
Que se esvai
Um cisne preto
Deslizando sobre o lago
Numa manhã outonal
12.
Da fé pela minha estrela
Mui cedo me desenganei
Agora só me desvela
A saudade de quem amei
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