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sexta-feira, 9 de setembro de 2022

CRÓNICA (nº7) DA III GUERRA MUNDIAL - A EMERGÊNCIA DE UM NOVO PADRÃO MONETÁRIO

                                                              
                                                       Bolsa do Ouro em Xangai


Antes de mais nada, devo especificar que o meu papel, a minha função, é sobretudo de refletir sobre o que se passa à minha volta e no mundo. Não é de fazer propaganda ou de «fazer claque» por um dos lados, enaltecendo as virtudes de uns e denunciando os podres de outros.
Como testemunho interessado (pois vivo neste mundo, não num mundo imaginário) verifico que realmente estamos numa confrontação global de longa duração.
Sendo que este confronto é por razões bastante fundas, não se resolve portanto, senão por uma nova arquitetura global. Ou seja, que «Novo Mundo», que nova «Ordem Mundial» está aí às portas do futuro?
Este novo mundo não nos cai dos céus, resulta da ação dos homens, não apenas de chefes de estado e governo, como também dos povos e de uma multiplicidade de fatores imponderáveis, que estão sempre a brotar no quotidiano. Temos prova disso quando «grandes cataclismos» anunciados, afinal, são «nothing-burgers» e o reverso, coisas triviais que se avolumam, fazem bola de neve e transformam completamente o cenário.
Hoje, irei falar da guerra mais difícil de perceber para o comum dos mortais, a que tem a ver com a ordem financeira e monetária global. O assunto não será esotérico, em si mesmo. Não, antes é simples de se compreender, na essência.
Mas, somos impedidos de prestar atenção pela nossa mente dominada pelas notícias a cada instante, pela media que satura todos os nossos canais com lixo informativo e nos impede de tomar recuo e pensar por um lado, por outro, a des-educação em que se transformou o ensino, a todos os níveis, causando a cada vez mais visível catástrofe dos «analfabetos funcionais»: Refiro pessoas que sabem ler e escrever, que podem manipular com à-vontade o computador ou smartphone e são, no entanto, profundamente ignorantes do mundo em que vivem. A nível universitário, esta nova patologia é ainda mais conspícua, em combinação com uma autossuficiência, uma afirmação enfática de banalidades ou slogans, apresentados como «verdades eternas».
Na ordem mundial saída da II Guerra Mundial - o acordo de Bretton Woods, que reuniu as nações vencedoras (incluindo a URSS) para arquitetar uma nova ordem financeira mundial - foi muito evidente o peso e influência dos EUA. Não apenas na criação do FMI e Banco Mundial, com regras que colocam (ainda hoje) estas instituições como instrumentos dóceis do imperialismo americano, como na própria existência de uma moeda especial, o dólar dos EUA, entronizado no papel de reserva mundial, ou seja, daquela que os bancos centrais de todos os países teriam de possuir e, portanto, que teria o papel de intermediário nas transações financeiras e comerciais internacionais, não apenas de Estado para Estado, mas em transações entre bancos, para pagamentos de bens industriais, agrícolas, etc.
Esta arquitetura foi possível porque Keynes, representante do Reino Unido à conferência, não teve apoio suficiente em torno do seu projeto de «bancor», divisa que não pertenceria a um banco central nacional, pois seria um cabaz de algumas das moedas mais representativas.
Este bancor, se tivesse sido adotado, poderia desempenhar um papel estabilizador das relações monetárias internacionais, visto que a oscilação duma moeda fazendo parte do bancor, não seria suficiente para desequilibrar o conjunto, sendo certo que, quando uma divisa diminui, é sempre em relação a outra(s), que aumenta(m) (veja-se o que está a acontecer à relação dólar-euro neste momento).
No concreto, Bretton Woods assumiu que a divisa dólar (a moeda de reserva mundial) era remível por ouro a 35 dólares a onça, sendo que este valor vigorava somente nas trocas entre bancos centrais, não era um valor correlacionado diretamente com o comércio de ouro.
Assim, os países tinham a possibilidade de trocar (ao nível dos bancos centrais) seu excedente de dólares, em ouro. Mas, quando houve a guerra do Vietname, os EUA começaram ter grandes aumentos de despesas, aumentos dos défices orçamentais e muitos (entre eles, os britânicos e os franceses) decidiram começar a trocar as notas de dólar por onças de ouro, fazendo descer significativamente as reservas de ouro em Fort Knox.
Nixon, em 1971 decidiu «provisoriamente» desindexar o dólar do ouro, tendo - a partir daí - a cotação do ouro subido de 35 dólares /onça, para mais de 800 dólares / onça. Hoje (09/09/2022), situa-se em 1720 dólares /onça. Para os EUA, era vital conseguirem manter o dólar como a divisa de reserva mundial, o que lhes conferia o «exorbitante privilégio» (Giscard d'Estaing) de ter défices crónicos, no orçamento e na balança de pagamentos, sem ter severas consequências com isso, enquanto quaisquer outros países mergulhariam em crise grave.
Foi Kissinger que negociou com o então rei Saud da Arábia Saudita, o chamado acordo dos petrodólares, em 1973, pelo qual os EUA dariam proteção militar sem limites e apoio ao Reino saudita, em troca deste apenas aceitar dólares como pagamento do seu petróleo.
Como a Arábia saudita era o maior produtor de petróleo nessa altura e como tinha o controlo da OPEP, não foi difícil a norma de pagamento do petróleo só em dólares, se estender a todos os outros exportadores, incluindo países que não faziam parte da OPEP (como a URSS, por exemplo). Começou assim o reinado do petrodólar, que está agora no seu fim.
Com efeito, a Rússia e a China primeiro, mas depois também a Índia, o Irão e outros países estão de acordo e já começaram a fazer troca direta, o diferencial do comércio bilateral sendo saldado com ouro, evitando assim envolver dólares nas trocas comerciais, ou então usando as divisas nacionais respetivas nas trocas bilaterais (rublos/yuan; rupias/rublos; etc...) com o mesmo fim.
Os países da Ásia supracitados sempre consideraram que o ouro era dinheiro. Foram sobretudo os bancos centrais asiáticos que adquiriram imenso ouro, mormente quando vendido a preço de saldo (por ordem do PM britânico Gordon Brown, mas também outros países ocidentais) nas primeiras duas décadas do século XXI. Igualmente, o ouro é considerado como reserva de valor, desde tempos imemoriais, pelas pessoas em toda a Ásia, incluindo as mais modestas.
Não admira portanto que a Rússia, em pagamento dos seus combustíveis, comprados por países «não-amigos», institua a regra de que serão pagos em rublos ou em ouro. Está perfeitamente em linha com a situação de rutura final com um Ocidente cheio de arrogância e agressividade, que provocou a Rússia ao ponto desta ser obrigada desencadear uma guerra preventiva.
O aspeto caricato disto, é que os sauditas têm comprado petróleo russo (com desconto), que depois revendem ao preço de mercado aos ocidentais. O acordo dos petrodólares foi completamente virado de «cabeça para baixo»: Pois, agora, não se trata de quem venda o petróleo, ter de aceitar dólares. Agora, quem quiser petróleo, terá de se contentar com o que lhe é oferecido a um certo preço, determinado pelo vendedor!
É inevitável, com ou sem guerra da Ucrânia, que os países produtores de bens e matérias primas, que  têm produzido para os ocidentais tudo ou quase tudo o que faz o conforto das suas vidas, queiram ver-se livres da ditadura do dólar.
O SWIFT e o dólar foram transformados em arma de guerra económica, contra o Irão e uma série de outros regimes (Venezuela, Coreia do Norte, etc.). Não apenas estas sanções são ilegais, como os americanos rasgaram o princípio da territorialidade das leis, com as sanções e ameaças de sanções contra bancos ocidentais (suíços, franceses) que infringissem os embargos decretados por Washington, não por quaisquer decisões das Nações Unidas. Estes bancos tiveram de pagar pesadas multas, sob ameaça de serem impedidos de ter sucursais e de fazer negócio, de qualquer espécie, nos EUA.
O pretexto das sanções contra o Irão, foi também o que «justificou» a prisão arbitrária da vice-presidente da Huawei no Canadá, quando esta regressava duma conferência internacional na América Latina. Isto foi considerado uma afronta nacional na China.
O comportamento dos EUA em relação a todos os que não estejam completamente submissos é duma brutalidade incrível. O que fizeram ao Iraque e à Líbia, permite-nos dizer que eles são os «bullies», que usam a força bruta para intimidar e fazer valer as «leis» que eles próprios decretam, mas que não possuem validade nenhuma nos outros países, face à lei internacional.
As construções de plataformas de negociação, de trocas comerciais, de defesa e de assistência mútua têm-se multiplicado, do Mar Báltico, ao Mar da China. Os países asiáticos têm estabelecido acordos de cooperação, que incluem as Novas Rotas da Seda, uma rede de transportes fluviais, ferroviários, rodoviários, assim como portos e aeroportos. Criaram e desenvolvem bancos, destinados a financiar os grandes projetos nos seus países e nos países do Terceiro Mundo. Têm a Organização de Cooperação de Xangai, para combater o terrorismo e para encontrar soluções negociadas em diferendos. Os BRICS são uma alternativa com voz própria, ao G7 e aos atlantistas que costumavam falar em nome «da comunidade internacional», que eram eles somente, afinal de contas.
Chegou agora o momento, face ao extremismo das sanções da parte dos países da NATO, da Rússia fazer aquilo que tinha - com certeza - planeado há muito. Estou a falar da criação de uma plataforma para negociar o ouro, em Moscovo, com os seus padrões e fazendo concorrência à londrina LBMA.
O objetivo será, com certeza, fazer o que é necessário, para sanear o referido mercado. Vai impossibilitar a especulação com contratos de futuros, responsável pela manutenção da cotação do ouro, muito abaixo do que seria normal, face à queda dos ativos financeiros, a cada crise do capitalismo. Com efeito, se o público começasse a ver que o ouro é realmente um refúgio eficaz em termos de conservação de valor, ao contrário do dólar e de quaisquer outras «divisas fiat», então haveria uma corrida para adquirir ouro e a confiança no dólar-rei desfazia-se por completo. O mesmo, em relação aos ativos financeiros denominados em dólares.
Uma moeda de reserva internacional com a sustentação do ouro e de matérias primas, como metais estratégicos, petróleo e gás, é o que os parceiros Euro-asiáticos estão AGORA a negociar.
Não se enganem; se isto não é reportado no Ocidente, isto significa que É IMPORTANTE. O que é importante tem sido ocultado do público, na esperança - absurda e fútil - de que seus efeitos sejam menos severos, do que efetivamente são. É «tapar o sol com uma peneira»!

Em complemento: Leia o artigo, muito bem escrito e cheio de dados factuais, de Mcleod:

 https://www.goldmoney.com/research/an-asian-bretton-woods


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https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_13.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_0396436697.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_24.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/04/cronica-da-terceira-guerra-mundial-um.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/04/cronica-da-iiimundial-guerra-biologica.html


sábado, 21 de outubro de 2017

HUBRIS E ARROGÂNCIA, É O QUE RESTA AO IMPÉRIO

               

No seguimento das questões levantadas pela iniciativa da China de estabelecer contratos futuros de compra de petróleo em Yuan, o qual é convertível em ouro no Shangai Gold Exchange, há muitos analistas que descrevem isso como um ataque direto ao dólar. O dólar seria destronado do seu papel como moeda de reserva, visto que os países produtores de petróleo (principalmente, os pertencentes à OPEP) deixam de aceitar em exclusivo esta divisa. Antes, qualquer país comprador tinha de possuir dólares para adquirir esta estratégica matéria-prima. É assim que funciona há 43 anos o sistema do petrodólar, resultante das negociações entre Kissinger e a monarquia saudita. 

Porém, tal visão é muito estreita, visto que os chineses detêm um excesso de dólares (acima de um trilião) como resultado do seu comércio, altamente deficitário para os EUA. 
Provocar  a descida acentuada do dólar, sendo esta a mais importante divisa de reserva no banco central e nos bancos comerciais chineses, parece uma forma de auto-sabotagem, mais do que medida estratégica, no contexto do sistema monetário e financeiro mundial.

Além disso, o facto do dólar continuar a ser a moeda de reserva mundial, deve-se a seus detentores, estatais ou privados, assim o quererem. Enquanto assim quiserem, não importa em que divisas seja transaccionado o petróleo (ou outra matéria-prima), o dólar continuará a estar na posição de moeda de reserva mundial. 

O perigo maior para o sistema do petrodólar, vem apenas e somente da enorme arrogância e hubris do império americano. Este tem usado e abusado da situação de privilégio de ser detentor da moeda reserva mundial para impor sanções, para dificultar o comércio e sabotar países. 
O sistema de Bretton Woods só poderia ser aceitável por todos os actores ao nível mundial, se os EUA fossem capazes de refrear a tentação de usarem a sua posição especialíssima, como arma contra todos os que se rebelam e contestam a sua hegemonia.

Com efeito, nenhum país está a salvo destas medidas de guerra económica, que são o decretar unilateral de sanções, como veio recentemente provar a imposição de sanções contra a Rússia e forçando os seus aliados (vassalos) da NATO a seguirem o mesmo caminho, mesmo com enorme prejuízo para eles próprios. 

Mas a Rússia e a China são potências demasiado grandes para ficarem «debaixo da pata» de Washington. Naturalmente, têm encetado o caminho de se autonomizarem do sistema dólar, assim como do controlo do sistema «Swift», das transferências de divisas e de transações internacionais. Já criaram e funcionam com o seu sistema próprio, equivalente ao sistema Swift.

Paralelamente, a China e a Rússia vão comprando tanto ouro quanto podem, pois sabem que este sistema monetário está no fim do seu «prazo de validade». No sistema actual, as divisas são meramente símbolos, manipulados pelos bancos centrais e comerciais, sem nenhuma ligação sólida à economia real, são divisas «fiat». 
Assim, os EUA têm tido o exorbitante privilégio de obter, a troco de «pedaços de papel» ou de dígitos eletrónicos, importações de bens e serviços, sem os quais a economia dos EUA iria certamente para o colapso, visto que já deixou há muito de ter base industrial suficiente para se auto-sustentar e exportar. 
Por outras palavras, mais nenhum país no mundo tem a capacidade de se manter sucessivas décadas (!) em défice comercial. Os EUA conseguem este prodígio, porque «exportam» a sua divisa e o mundo inteiro, por enquanto, aceita  o dólar como pagamento.

O facto do Yuan estar a dar passos para seu reconhecimento, enquanto moeda de reserva não é de agora, basta pensar-se na longa batalha para que o FMI incluísse a divisa chinesa no cabaz de divisas, o SDR (cabaz composto por determinadas percentagens de dólares, libras, yens, euros e - agora - de yuans).
Os países ou agentes privados ficarão contentes em serem detentores de yuan, pois agora têm a possibilidade concreta de trocar estes yuan por ouro. 

O ouro, vale a pena recordá-lo, embora tenha sido «desmonetizado», continua a ser um metal monetário e um símbolo de riqueza e de poder, como foi durante milénios. 
De outro modo, seria absurdo e incompreensível que todos os bancos centrais possuam importantes quantidades deste metal; se fosse apenas uma matéria-prima entre outras, não haveria razão objetiva para tais instituições - exclusivamente financeiras -continuarem a deter e adquirir mais ouro. 
Nos finais da IIª Guerra Mundial, o regime de Hitler estava já claramente derrotado: ainda assim, conseguia fazer importações a troco de ouro, pois já não conseguia que os parceiros comerciais aceitassem o marco alemão.

Quando houver bastante comércio internacional em várias outras divisas, diminuindo bastante a fatia de cerca de 60% actual em dólares, as nações e as empresas já não verão como essencial possuírem esta moeda em reserva. 
É nessa altura que o dólar será abandonado como reserva «oficiosa», pois toda a gente sabe que o dólar - desde 1971 - já não está garantido por nada de sólido. Antes, mantinha a sua convertibilidade em ouro, o que resultava do acordo de Bretton Woods
O desaparecimento do estatuto do dólar, enquanto divisa de reserva, não será súbito, nem total: basta ver o exemplo histórico da libra.

Vários analistas de mercados financeiros vêem sinais claros de que o ouro voltará a desempenhar um papel de relevo no sistema monetário internacional. Com efeito, este tem uma vantagem inegável sobre qualquer divisa emitida por um banco central: é que não pode ser fabricado a preceito ou conforme as conveniências de uma super-potência, além de seu valor ser o mesmo em todo o mundo e aceite, independente do local onde foi minerado ou refinado. 

quinta-feira, 20 de maio de 2021

[Chris Hedges] IMPÉRIO DOS EUA, A UMA DÉCADA, DUAS NO MÁXIMO, DO COLAPSO

O império americano está acabado... o jornalista americano Chris Hedges, no seu livro de 2018, «America The Farewell Tour» e nesta entrevista a uma estação de rádio canadiana, prevê que numa década, no máximo, em duas, a América deixará de ser o superpoder dominante no mundo.


COMENTÁRIO

Pessoalmente, acho que Chris Hedges dá demasiado tempo para o colapso ocorrer. O que é curioso, pois ele faz um diagnóstico correto da deliquescência da sociedade americana, dos valores morais nos quais se fundamenta e dos outros aspetos que são fundamentais para o bem-estar duma sociedade (sistemas de saúde, educativo, etc...). 
Ora, a força dos EUA - desde os anos 1940 - era dupla: a hegemonia militar, por um lado, e por outro, a hegemonia sobre o sistema económico e financeiro mundial.
- No campo das armas mais sofisticadas, a Rússia e a China estão na dianteira: por este motivo, é impossível, em termos práticos, os EUA tomarem a iniciativa da guerra contra estes poderes. 
Quanto às guerras à escala regional, desde há muito tempo, os EUA não ganharam uma única guerra: a guerra do Vietname foi uma derrota humilhante; a guerra do Afeganistão apenas consolidou a rejeição dos EUA na Ásia Central e mostrou que os EUA (e aliados da NATO) são incapazes de subjugar um país, mesmo o mais pobre do mundo. 
Quanto ao Iraque, foi um desastre total. Além de ser uma mancha, com todos os crimes pelas forças americanas e britânicas, fez com que o Irão tivesse influência no Iraque, como jamais teve. 

- Quanto ao controlo do mundo económico e financeiro: Tenha-se em conta que os EUA deram o primeiro passo, com o renegar dos compromissos de Bretton Woods, em 1971. 
Desde então, a perda de influência do dólar tem ido de par com o aumento da fatia de investimento internacional e de comércio, da China. Nos últimos trinta anos, o tecido produtivo dos EUA foi literalmente esvaziado da sua base industrial (à exceção das indústrias de guerra), pelo que a sua fraqueza é patente nos mais diversos aspetos. 
Por exemplo, a ruptura recente (causada pela crise do COVID) dos circuitos de abastecimento, tem afetado profundamente a produção e o consumo na América. Outro exemplo, é a resposta caótica e ineficaz à pandemia de COVID, o que demonstra a incapacidade estrutural do poder nos EUA, em fazer algo de positivo para as massas desapossadas. Somente os muito privilegiados usufruem de cuidados de saúde decentes... 
Podia continuar a citar exemplos* de decadência, que mostram que o fim não está por décadas, mas por anos ... Podem pensar que isto é «tomar os desejos por realidades» da minha parte, mas não é. Fico muito preocupado, não pelo colapso do império americano em si, mas pela fuga para a frente dos líderes, que veem o controlo da situação escapar-lhes totalmente e que podem precipitar um confronto bélico global, com o risco de guerra nuclear. 

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*Veja os parâmetros macro económicos mais importantes na tabela abaixo:
              Retirado de https://goldswitzerland.com/everything-is-on-fire/

After the Gold window was closed in 1971, US federal and total debt as well as money supply has gone Exponentially Parabolic and the dollar, the world’s reserve currency has lost 98%.

US Federal Debt up 74X
Total US debt up “only” 49X
M2 Money Supply up 29X>

Debt to GDP 1971: 37% – 2021: 127%


terça-feira, 4 de junho de 2019

CRISE DO SISTEMA FINANCEIRO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Todos sabemos que o dinheiro, seja ele em que divisa for, vai perdendo valor com o tempo. Por valor, pode-se entender a capacidade aquisitiva. Assim, se um dólar US de 1913  valer 100, um dólar US de hoje vale apenas 4: houve uma desvalorização de 96%. Isto, em relação à moeda mais poderosa, em princípio, visto que tem sido a moeda mundial de reserva e a moeda preferida no comércio, durante o período que vai desde o fim da 2ª Guerra Mundial (os acordos de Bretton Woods), até ao presente.
Sabemos também que os bancos centrais, todos eles, sejam do ocidente ou oriente, sejam de países pobres ou ricos, imprimem (ou o equivalente digital disso...), tanto quanto achem que a economia dos seus respectivos países precisa. Mas, esta abundância de divisas, apenas tem como efeito, aumentar a inflação, que vai retirar poder de compra aos salários e pensões, assim como vai desvalorizar as poupanças em dinheiro, quer estejam no banco, quer «debaixo do colchão». 
Uma coisa que poucas pessoas sabem, é que os bancos comerciais são os principais criadores de dinheiro, nas diversas economias. Quando o banco empresta - por exemplo, para adquirir uma casa ou um carro - vai criar a soma correspondente a partir de nada: vai creditá-la na conta do cliente, que - a partir desse momento - tem a dívida e terá de pagar juros sobre ela... pelo menos, era assim no passado! Agora, os bancos estão a dar (literalmente) empréstimos a juro negativo, ou seja, estão a pagar para o cliente aceitar ficar devedor de uma soma! 
Por exemplo, isso passa-se com o banco dinamarquês Nordea que propõe empréstimos a MENOS 0.12% de juro, ou seja, o banco paga para o cliente ficar devedor. Se isto lhe parece uma coisa sem sentido, não será a única pessoa que assim pensa! 
               O estímulo ao gasto atinge um paroxismo nas sociedades ocidentais, todas elas, não apenas na Dinamarca... Pelo contrário, a poupança é fortemente desencorajada, pois os juros pagos pelos depósitos a prazo, são demasiado baixos, tendo como efeito que as pessoas sentem que mais vale «gastar agora», do que esperar dois anos, para obter um juro da ordem de 1%, ou menos. 
A loucura é tal que as empresas das mais deficitárias e que  não conseguem equilibrar os seus balanços, têm subidas espectaculares na bolsa de valores de Nova Iorque: Tesla, Netflix, Uber...
Os governos europeus, mesmo os que estão insolventes, conseguem obter empréstimos a taxas ridiculamente baixas, taxas claramente inferiores à inflação. E isso não ocorre apenas com nações europeias, pois a Argentina, por exemplo, consegue obter empréstimo a 100 anos (!) pagando quase nada. Sabemos que a Argentina entrou em bancarrota duas vezes, apenas nos últimos 30 anos!
Nada disto parece fazer sentido.
Porém, o sistema da dívida pressupõe que existem duas espécies de dinheiro:
A - O que é efectivamente fornecido por  entidades bancárias (sejam elas bancos centrais ou bancos comerciais) que têm a possibilidade de criar dinheiro a partir de nada.
B - O que resulta de actividades económicas, das remuneração de trabalho, de lucros das empresas, das transacções comerciais, de imobiliário, etc. 
Muito do dinheiro gerado pelo processo B está destinado a pagar (com juros, maiores ou menores) às entidades emprestadoras, as quais são normalmente bancos comerciais, ou entidades autorizadas a emitir empréstimos.
Ora, a existência do depósito fraccionário, que todos os bancos têm autorização para realizar, significa que as instituições bancárias têm o direito de fazer uma «alavancagem» de 1 para 10 (ou maior), com os nossos depósitos. Isto quer dizer que um banco tem o direito de fazer um total de empréstimos aos clientes dum valor X, desde que estejam depositados no banco 1/10 de X. Note-se que é do nosso dinheiro que se trata; aqui, não se trata do dinheiro do banco, que este possui como capital próprio. A operação que os bancos (todos) fazem, consiste em emprestar aquilo que NÃO TÊM: seria considerada crime passível de prisão, caso fosse feita por um particular.
Por outro lado, desde a época pós 2008, com o chamado «Quantitative Easing», os bancos obtiveram dinheiro gratuito disfarçado, fornecido pelos bancos centrais respectivos. Os pacotes de obrigações hipotecárias e outros papéis - sem valor  - de dívidas incobráveis, foram dados como aval, pelos bancos comerciais, aos bancos centrais. Ficaram estes com as dívidas, pelo seu valor nominal, não pelo seu valor de mercado, visto que este seria de zero. Estes activos têm contabilização positiva no balanço dos bancos comerciais; é assim que se apresentam com «solvência» e «solidez»! 
Os bancos são estimulados a emprestar este dinheiro «emprestado» a juro zero, mas que não precisam sequer, na prática, de devolver aos seus bancos centrais respectivos! Se não devolverem o empréstimo, o banco central apropria-se dos tais papeis sem valor, dados em garantia! 
Os bancos centrais, mesmo nominalmente independentes do Estado, acabam por repercutir as suas perdas nas contas dos Estados respectivos. 
Contabilisticamente, «está tudo certo», porém é tudo uma fraude total, com a conivência das direcções dos bancos centrais, dos governos e de todas as «entidades supervisoras ou controladoras» do mercado, que existam.
Sendo as coisas realmente assim, como as pessoas minimamente informadas sobre as políticas monetárias e financeiras o sabem, o resultado é que os clientes dos bancos estão a pagar com «dinheiro a sério», o seu dinheiro que resulta de actividade económica propriamente dita, empréstimos contraídos junto de entidades que criaram «dinheiro de fantasia», ou seja, houve uma criação monetária sem qualquer esteio, sem realidade económica tangível, «tendo ido extrair o dinheiro do éter...».

              

Fica assim explicado o mecanismo pelo qual se caiu nesta situação de juros negativos ou juros de facto negativos, porque abaixo da taxa de inflação. Os bancos comerciais pedem de volta dinheiro que resulta do trabalho, tendo emprestado dinheiro contabilístico. Por outras palavras, pedem de volta dinheiro verdadeiro, tendo emprestado dinheiro fictício. Para isso, têm conivência plena dos governos e bancos centrais. 
Todos os bancos comerciais fazem, portanto, operações muito lucrativas e sem risco (para eles). 
Pelo contrário, praticamente todo o risco recai sobre o público, devedor aos bancos de créditos para aquisição de casa, de carro, para estudos, para consumo e sobre a sociedade em geral, que irá sofrer as consequências do colapso do sistema financeiro.
Mas a gula de capital não acaba aqui, pois vamos assistir à aceleração da inflação, sempre minimizada pelas estatísticas oficiais. As pessoas serão pressionadas a gastar mais, a endividarem-se mais, a desfazerem-se de suas parcas poupanças, porque o dinheiro vai perdendo valor, à medida que o tempo passa. 
Uma das indicações mais seguras disso, é a inversão das taxas de juro das obrigações do Tesouro dos EUA (por exemplo, obrigações a 10 anos, com juros inferiores para termo a 5, ou a 2 anos). Isto já ocorre agora e seu significado é o de que o próprio mercado está convencido de que uma crise está perto. 
Eu prefiro precaver-me duma tempestade, ou dum tsunami, antes que estejam em cima de mim. De nada servirá esperar até ao último minuto, pois já será demasiado tarde.
Não digam que não vos avisei: a única maneira de salvar o valor  dos activos financeiros, incluindo o dinheiro líquido, é retirar AGORA o máximo dinheiro possível dos bancos e de investimentos financeiros (acções, obrigações, fundos...) e aplicá-lo em bens como comida, água, sistemas de geração de electricidade... e outros bens de primeira necessidade. 
Pode-se armazenar alimentos, que podem ficar  comestíveis durante bastante tempo, se devidamente condicionados. Medicamentos, produtos de higiene e muitos outros bens ditos «consumíveis», podem ser mantidos por períodos longos (dentro do seu prazo de validade). Pode-se fazer uma gestão desses stocks, consumindo aqueles próximo do termo da sua validade, e adquirindo novas unidades para substituir as consumidas. 
Para enfrentar a fase de hiperinflação, convém ter moedas de ouro e de prata; podem ser extremamente úteis. 
Podemos ver que, nas situações de hiperinflação, como a Venezuela, as pessoas tomaram medidas para salvaguardar seu poder de compra: muitas delas compraram dólares no mercado negro. 
Porém, neste caso, se houver uma crise sistémica, não existirá divisa em papel que resista. Umas mais cedo, outras mais tarde, todas elas irão perder o seu valor, numa espiral hiperinflacionária global, até atingirem o seu valor intrínseco, de bocados de papel, ou seja, zero.



PS1 - Uma entrevista que ilustra claramente a situação:

PS2 - Paul Craig Roberts explica em pormenor por que razão a percepção que se tem da economia está falseada, intencionalmente: 








quinta-feira, 5 de abril de 2018

AS CONTRA-SANÇÕES CHINESAS ÀS AMERICANAS «SÃO A DOER»!

                               

Impressiona a futilidade de impor tarifas punitivas contra a China, numa escalada sem precedentes de guerra comercial dos EUA contra a economia que a fornece de muito o que eles precisam.
A retaliação da China não se fez esperar: subiram as suas taxas alfandegárias para 25%, em produtos  muito críticos para a economia dos EUA: soja, automóveis e produtos químicos. 
O impacto directo destas tarifas sobre estes sectores será grande, sem dúvida nenhuma. Mas o impacto indirecto, ou seja, sobre os mercados bolsistas dos EUA, não é de menosprezar. O efeito sobre os negócios, sobre as empresas e, em última instância, sobre os cidadãos, pela subida mais acentuada da inflação, vai fazer com que os EUA sejam os perdedores desta guerra comercial. 
Para cúmulo, o Yuan tem vindo a aumentar paulatinamente desde a desvalorização em Agosto de 2015 que, na altura, causou um mini-crash bolsista. Num contexto de agravamento de guerra aberta comercial, não se pode ter a mínima dúvida de que a China vai desvalorizar agressivamente o Yuan.

Num contexto geopolítico, não se pode esquecer que a China possui hoje vários parceiros estratégicos, como a Rússia e o Irão,  além de que países ocidentais, como a Alemanha, anseiam melhorar o seu comércio com o gigante asiático. 
Os seus vizinhos asiáticos, alinhados com os EUA no passado (incluindo o Japão e a Coreia do Sul) têm aprofundado laços de amizade e comércio com a China, fazendo ouvidos moucos aos apelos americanos para reforçar o «cerco»: por exemplo, a Coreia do Sul tem a China como primeiro parceiro comercial, 70% do comércio externo é com a China.

Face a tanto desplante e agressividade dos EUA, podemos adoptar dois pontos de vista: 
- ou se trata de uma manobra desesperada para juntar a si o «campo ocidental», mas sem a força e capacidade de pressão que tiveram no passado, 
- ou então, trata-se de conseguir uma transição para o mundo multi-polar, em que os EUA se obrigam a si próprios a viver com as suas capacidades produtivas, visto que as tarifas são uma medida proteccionista, permitindo que as indústrias se desenvolvam internamente ao abrigo dos concorrentes internacionais, permitindo que a capacidade industrial perdida seja restaurada. 

Em todo o caso, o «século americano», iniciado com Bretton Woods em 1944 nos finais da Segunda Guerra Mundial está, senão encerrado, no seu último capítulo.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O PARADOXO DO DÓLAR VERSUS VALORAÇÕES BOLSISTAS

 



A FED (Reserva Federal Americana, o banco central dos EUA) tem criado dólares desde Março deste ano, como nunca antes, embora antes fosse já profícua em tal actividade. Esta criação monetária, vai acabar por minar a capacidade do dólar permanecer como moeda de reserva mundial. 

Quando os detentores de dólares exteriores aos EUA - o que inclui os bancos centrais de todos os países do mundo, gostem ou não do governo dos EUA - ficarem convictos de que este já perdeu demasiado valor, que não compensa deter dólares, pois existe cada vez maior desconfiança em relação a esta divisa... então, será o fim da sua hegemonia, quer como valor de reserva, quer no comércio mundial. 

Ora, este momento aproxima-se a grande velocidade, pois existe uma consciência clara de que a FED está apostada em produzir moeda, mesmo com o risco de destruir o seu valor, para «salvar» a economia dos EUA.  

É aqui que reside o paradoxo. 
A FED equaciona - erradamente - a propulsão dos valores bolsistas para alturas estratosféricas, à saúde da economia americana, no seu todo. 
Em resultado da impressão monetária, o dólar vai descendo em termos relativos face a outras moedas, mas também vai perdendo credibilidade no público em geral e nos investidores. Verifica-se já a tendência dele deixar de ser refúgio preferido («safe haven») em tempos de crise.
 
A classe dos multimilionários e bilionários (os 0.01%), está constantemente a ganhar com a situação, visto que os activos bolsistas são parte substancial da sua riqueza total. Note-se que são eles os donos das empresas cotadas em bolsa, ou accionistas de relevo das mesmas. A tabela acima é bem elucidativa sobre o maná que receberam os muito ricos, desde o início da crise «do Covid».
  
Porém, ser-se rico em dólares hoje, pode significar perder-se tudo amanhã, se esta moeda sofrer uma crise hiper-inflacionária. Apostar que isso não ocorrerá jamais, ou que não ocorrerá em vida dos investidores actuais, é uma aposta muito arriscada.

Como referi num artigo publicado recentemente, se grandes países (como a China e a Rússia) decidirem indexar suas moedas respectivas ao ouro, com a garantia do ouro - que possuem em quantidade - isto será o toque de finados do dólar, enquanto moeda de reserva mundial. 

As pessoas e instituições irão optar por algo que possua a sólida garantia do ouro, de preferência a uma moeda sem qualquer esteio sólido, de um país com economia terciarizada e com défice crónico. Não poderão confiar num país assim, ainda por cima, com uma moeda constantemente inflacionada por emissões do banco central, não correspondentes a verdadeira riqueza. 

O «exorbitante privilégio», de que já falava Valéry Giscard D'Estaign, significa que os EUA, pelo facto do dólar ter sido designado «moeda de reserva mundial» nos acordos de Bretton Woods de 1944, está constantemente a ter défices orçamentais e comerciais, sem sofrer qualquer penalização, pois «exporta» a inflação gerada pelo seu próprio banco central. 
Com esses dólares produzidos a partir de nada, compra todo o género de produtos, desde matérias-primas a produtos transformados, que custaram muito a produzir, nos países que os exportam para os EUA. 
Estes produtores, em troca, recebem dólares, que apenas valem enquanto o mundo estiver convencido do seu valor. A partir do momento em que o esquema for claro para muitos, o risco de se possuir dólares será considerável. 

Porque, nessa altura, os dólares, que circulam pelo mundo fora, irão regressar aos EUA, onde produzirão uma hiperinflação e - mesmo - a falência do próprio Estado, visto que o Tesouro não poderá colocar sua dívida, senão a juros tão elevados, que serão impossíveis de suportar pelo Orçamento Federal. Então, será o colapso.

São as consequências deste paradoxo que a classe dos super-ricos quer evitar a todo o custo... mas, através de truques de magia, como o «Great Reset» e o seu cortejo de ideias mal cozinhadas, dos patrões de Davos...

Mas, a realidade é sempre mais forte: 
Se não acreditamos no «movimento perpétuo», nem na «quadratura do círculo», porque havemos de crer que, pelo facto das divisas se tornarem exclusivamente digitais, se resolverão os problemas da economia real, ou seja, a produção e a  justiça da repartição?

terça-feira, 9 de junho de 2020

GRANDE «RESET» ANUNCIADO PELO FMI


                                         https://www.youtube.com/watch?v=H-ZeCCjrUL0

Charles Sannat (Insolentiae.TV), na sua rubrica semanal, esclarece as questões monetárias, assim como a posição - agora oficial - do FMI sobre o que é preciso fazer para «limpar» o sistema monetário (falado em francês).

Comentário de MB: 
Na realidade, o discurso de Natalina Georgieva, actual presidente do FMI, é mais uma peça de propaganda do que um programa. 
É preciso ler, nas entrelinhas, o que significam para o FMI, as «palavras de ordem» de um novo sistema monetário, que permita uma economia mundial mais «verde», mais «inteligente», com maior «equidade». 
Penso que anúncios como este se destinam a preparar o terreno e a fazer pressão sobre os governos, para discutirem as reformas dentro de determinadas linhas.

A «demolição controlada» da economia mundial, sob pretexto de Coronavírus, foi a saída encontrada pelos globalistas para um colapso que  estava em marcha, de qualquer maneira
O sistema mundial entrou em colapso em 2008, mas foi mantido artificialmente, com uma aparência de vida, durante estes 12 anos que seguiram. 
O que havia de valioso dentro do sistema, foi então esvaziado,  sistematicamente, pelos que ditam as políticas aos Estados e às instituições internacionais: houve uma maciça transferência de riqueza do domínio público para o domínio privado. 
- Os grandes bancos e instituições financeiras despejaram as perdas (activos arriscados, tóxicos, os derivados...) nos bancos centrais. Chamaram a estas operações «quantitive easing» e «estímulo da economia»... Assim, as perdas das especulações e má gestão são assumidas - em última análise - pelos Estados. 
- O «bail out», ou resgate dos bancos falidos - um pouco por todo o lado - fez-se à custa de dinheiro público, subtraído ao erário público, aos orçamentos dos Estados. 
- Nestas últimas duas décadas, a desvalorização das diversas moedas causou inflação - disfarçada por uma estatística falsificada dos índices - e foi destruindo o valor real dos salários, pensões, etc. ... mas, de tal maneira que o público -em geral- não se apercebe e não compreende o mecanismo. 
- No mesmo intervalo de tempo, as grandes fortunas foram aumentando sua riqueza patrimonial. Foram despejando os activos bolsistas e financeiros, transformando-os em activos não financeiros, evitando assim a erosão da sua riqueza.
- O golpe, em Março de 2020 (o início, numa grande parte do Mundo, dos confinamentos / prisões domiciliárias, falências provocadas das economias) correspondeu ao capítulo final da transferência maciça de riqueza: «socialismo para os ricos e capitalismo para a plebe».
Penso que a grande finança dos países ocidentais irá tentar negociar, com a China e a Rússia, um novo compromisso, ou seja, um novo sistema monetário mundial. Um novo «Bretton Woods» será negociado entre as grandes potências, tendo os restantes países como figurantes.  

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

PADRÃO OURO: RELÍQUIA DO PASSADO OU NECESSIDADE LÓGICA?

Que relação tem a introdução do lobo no Yellowstone National Park com o sistema monetário internacional e o ouro?
A resposta está no vídeo abaixo.


- No momento em que o preço do ouro está a subir e já ultrapassou os máximos históricos numa série de divisas (recordes de preços em Yen, Dólar australiano, Libra britânica, Euro, etc...),

- No momento em que várias grandes potências (russos e chineses...) compram todo o ouro que podem e, em simultâneo, se desfazem dos «treasuries» (obrigações do tesouro dos EUA) que têm em reserva nos seus bancos centrais, 

É tempo de tomar atenção ao que significou o ouro como estabilizador fundamental do sistema monetário e das boas razões para se considerar um regresso ao padrão ouro como uma boa coisa.

Este vídeo explica, para além de qualquer dúvida, a história da moeda, das divisas e porque razão as divisas «fiat» - sem a garantia de convertibilidade no ouro - se tornaram, primeiro, predominantes no início do século XX e, depois da falência de Bretton Woods em 1971, exclusivas no sistema monetário mundial. 

Os maiores inimigos do sistema padrão-ouro são os financeiros e os políticos e, com Grant Williams, podemos compreender perfeitamente porquê.

Compreende-se muito melhor, também, por que razão o actual sistema, com o dólar a servir de moeda de reserva, está condenado e terá, mais cedo ou mais tarde, de ser substituído: «o reset».  

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

4 FRAGILIDADES DO IMPÉRIO [parte I]

O poderio imperial americano, que se afirmou a partir da implosão da URSS e do sistema socialista mundial, como poder unipolar dispensador de benesses aos seus aliados/vassalos e guerreando os que considera inimigos, reais ou potenciais, assentou sobre quatro pilares, que são:
1/ sistema monetário
2/ recursos energéticos
3/ poderio militar
4/ média corporativa ou de massas


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PARTE I.



SISTEMA MONETÁRIO

O sistema monetário internacional ainda está baseado no dólar enquanto moeda de reserva e enquanto divisa mais frequente nas transações internacionais (financeiras e comerciais).
Porém, com a ascensão dos BRICS, aumenta a capacidade deste grupo (em breve, com 11 membros) com seus aliados, de comerciar entre si e fazerem acordos de longo prazo (nomeadamente energéticos) usando suas respetivas moedas nacionais, não recorrendo ao dólar.
Afirmei, há algum tempo, que o fim do petrodólar assinalaria o fim do Império americano. Verifico que a minha previsão se está a cumprir.
Quando Nixon (em 15 de Agosto de 19171) decretou unilateralmente o fim da convertibilidade dos dólares em ouro, de facto, traiu o acordo de Bretton Woods. Neste, a conversão dólar/ouro era central. Como resultado dessa medida, a instabilidade apoderou-se dos mercados financeiros, arriscando a quebra do sistema capitalista mundial.
Em 1973, o Rei da Arábia Saudita e Henry Kissinger acordaram um pacto, segundo o qual todo o petróleo comprado a este país seria pago em dólares, exclusivamente. Em contrapartida, os EUA garantiam a segurança do Reino Saudita com fornecimento de armamento, espionagem-informações, diplomacia e intervenção direta, se necessário. Nessa altura, a Arábia Saudita era o principal produtor mundial de petróleo e a OPEP, o cartel petrolífero que os sauditas dominavam. Rapidamente todos os países exportadores de petróleo, grande parte, monarquias do Golfo Pérsico, alinharam-se com a Arábia Saudita, apenas aceitando dólares em pagamento do seu petróleo.
Como ficaram com um excedente enorme de petrodólares em resultado das exportações para todo o mundo, acumularam «Treasuries», ou seja, obrigações do Tesouro americano, financiando assim a dívida dos Estados Unidos. Todos os países que comprassem petróleo tinham de possuir dólares em reserva, ou comprá-los no mercado internacional de divisas.
A partir deste ponto, os EUA passaram a ter défices crónicos, quer no orçamento de Estado, quer nas transações internacionais. Os «défices gémeos», tiveram como consequência que o governo dos EUA podia, sem arriscar um colapso, atribuir somas colossais às despesas militares e às guerras em que estava envolvido, assim como aos programas sociais nos EUA, como meio de neutralizar a agitação social.
Qualquer outro país que levasse a cabo tal política económica e financeira, entraria depressa em insolvência, ou seja, na bancarrota. Mas, os EUA possuíam a moeda de reserva mundial e podiam imprimir todos os dólares que precisavam, sem qualquer correspondência em aumento de produtividade. Depois, esses dólares serviam para pagar as matérias-primas e os produtos industriais importados;  eram absorvidos no mercado mundial. Todos os países, amigos ou hostis, tinham que ter reservas em dólares e comerciar em dólares. De uma forma direta ou indireta, estavam a nutrir o sistema do petrodólar.
O declínio do valor do dólar não é muito visível, superficialmente. Isto, deve-se ao facto de que os mercados de divisas e financeiros preferem adquirir dólares, como «moeda-refúgio», quando o sistema está em crise. Assim, as outras divisas vão descer e os dólares vão subir, na corrida para adquirir dólares e ativos denominados em dólares.
Porém, nos últimos tempos, as quantidades de dólares produzidas têm excedido tudo o que anteriormente tinha sido feito. O resultado, é que a capacidade aquisitiva do dólar (e das outras divisas) diminui  aceleradamente. Isto traduz-se por níveis muito mais elevados de inflação, em relação aos cerca de 2% de inflação, nas duas primeiras décadas do século XXI.
A partir de 2020, houve uma aceleração do «quantitative easing», ou seja, da produção de dólares sem contrapartida na economia real. Por outro lado, intensificou-se a utilização de moedas nacionais em detrimento do dólar, sobretudo, nas trocas e nos acordos de longo prazo entre países dos BRICS.
Nos EUA, a inflação vai ser cada vez maior e isto vai afetar a economia. Está já a acontecer, apesar da FED ter revertido o programa de impressão monetária e faça «quantitative tightening», ou seja,  sobe as taxas de juros, o que aumenta o custo do crédito.
Como os EUA já não possuem produção industrial própria, que lhes permita satisfazer as necessidades internas e atingir o equilíbrio nas contas externas, o único instrumento de que a FED dispõe é irrisório e, mesmo, contraproducente: Aumentar ou reduzir o dinheiro em circulação não vai realmente aumentar ou reduzir o consumo e, muito menos, a produção interna de bens.
Os bens materiais - matérias primas, produtos industriais, alimentos - vão continuar a ser importados do resto do Mundo para os EUA, mas com preços mais elevados, agravando a inflação e arrastando a subida acentuada dos juros, como já se está verificando. As «elites», no Departamento do Tesouro ou na FED, que manipulam as taxas de juro, são incapazes de mudar esta realidade.



RECURSOS ENERGÉTICOS


Nas últimas duas décadas, os EUA começaram a produzir, em grande quantidade, petróleo e gás de xisto, através de fracking. Assim, o seu aprovisionamento em petróleo «convencional», sobretudo, o do Texas que estava já em declínio, foi complementado pelo aumento notável do petróleo produzido «de forma não-convencional». O nível de produção total de petróleo nos EUA acabou por ser semelhante, ou até um pouco maior, ao da Arábia Saudita. Mas isto tem custos muito pesados no ambiente e compromete o futuro. O tempo de vida produtiva dum furo, em zona de xisto, ronda os dois anos. Assim, têm de constantemente fazer novos furos, para manterem o nível de produção. Muitas áreas ficarão totalmente estéreis depois de esgotadas as reservas de petróleo e gás de xisto. A obtenção de petróleo a partir de areias betuminosas, em Alberta (Canadá) e o seu transporte por pipeline para os EUA, também não será solução duradoura e respeitadora do ambiente.
Quanto ao sector das energias renováveis, nota-se que existe muito atraso técnico nos EUA em relação a estas tecnologias. Talvez a única exceção seja a indústria dos automóveis movidos a eletricidade, «EV». Mesmo neste caso, parece que a China está a tomar a dianteira; há indicações disso, tais como as  fábricas e a importância dos investimentos da Tesla na China. Por outro lado, há marcas de automóveis «EV» chinesas nos mercados asiáticos, e que podem conquistar fatias de mercados da Europa e dos EUA.
A rede elétrica nos EUA está decadente e os investimentos em infraestruturas tardam. As empresas privadas de energia elétrica ficam á espera que o Estado ponha a rede em condições, para elas depois operarem com menos custos. Muitas vezes são noticiados «apagões» (falhas gerais de energia elétrica), em cidades e regiões dos EUA. São devidos ao estado vetusto dos sistemas transportadores de energia elétrica e à sobrecarga destes. Não vejo que haja vontade política para solucionar o problema. Nos EUA, há um défice enorme de intervenção estatal, para satisfazer as necessidades coletivas.
Uma fragilidade de que se fala muito pouco, é do enriquecimento de urânio para as centrais nucleares americanas; este enriquecimento faz-se ... na Rússia! Não se compreende como é que eles irão operar as suas centrais nucleares se a Rússia, em retorsão dos roubos (de ouro, de contas bancárias...) e sanções brutais a que tem sido sujeita, decidir parar o fornecimento do urânio enriquecido.
Um outro sintoma claro da fragilidade dos EUA no setor energético é o facto de quererem retomar o «business as usual» com a Venezuela de Maduro. Isto, depois de terem feito tudo para o derrubar. Apesar da elevada produção global e de serem exportadores, os EUA têm défice  de petróleos «pesados» (do tipo dos petróleos venezuelanos), enquanto têm excedentes de petróleos «leves», resultantes da exploração do xisto.
O aprovisionamento da frota dos EUA no Mediterrâneo em apoio a Israel, neste momento experimenta dificuldades logísticas, de que se fala pouco. Os porta-aviões e os vários navios da marinha de guerra têm de ser abastecidos em  combustível nos portos de Itália do mar Adriático, tendo de fazer um constante vai-e-vem entre as costas de Israel e as do Adriático.
Também o roubo do petróleo sírio desde há vários anos, é outro caso sintomático. Os americanos instalaram-se em território sírio, com o pretexto de apoiar guerrilhas curdas que eles enquadram, subsidiam e treinam. O roubo do petróleo sírio foi inicialmente beneficiar pessoalmente o filho de Erdogan, presidente da Turquia. Agora, fala-se menos disso, mas continua a ser contrabandeado e vendido a baixo preço. Além de ir para a guerrilha curda e para Al-Quaeda, o dinheiro obtido com esse contrabando serve para a manutenção de cerca de dois mil soldados americanos estacionados em bases ilegais, na Síria. Há vários antecedentes, em relação ao comportamento predatório do poder imperial dos EUA: Quando ataca uma nação e a ocupa, costuma pôr os recursos petrolíferos a render, para custear as operações de ocupação militar. Veja-se o caso do Iraque, assim como o da Líbia.