quinta-feira, 18 de janeiro de 2024
HABANERA por Emmanuel Chabrier (piano: Jorge Federico Osorio)
terça-feira, 16 de janeiro de 2024
HUMANIDADE E O PARADOXO DA SUA EVOLUÇÃO
segunda-feira, 15 de janeiro de 2024
MITOLOGIAS (XII) - PIGMALIÃO E A ESTÁTUA VIVA
De todos os mitos e contos fantásticos de Ovídio, nas suas célebres «Metamorfoses», esta história é das mais conhecidas.
Pigmalião apaixona-se pela estátua que ele próprio esculpira e suplica a Vénus que lhe proporcione uma esposa tão bela como a estátua. Vénus, vendo o ardor sincero de Pigmalião, satisfaz o seu pedido; transforma a estátua em jovem mulher. Pigmalião, primeiro duvida do sortilégio, mas acaba por ceder à evidência: ele experimenta o toque da pele humana flexível e quente, já não se trata do marfim de que era feita a estátua.
O pintor Girodet (1767 - 1824) é autor dum célebre quadro que representa o momento em que Pigmalião se apercebe de que a sua estátua, afinal, se tinha transformado numa bela jovem.
Vale a pena nos determos um pouco nesta imagem, não que eu considere ser duma qualidade estética excecional, mas antes porque nos dá uma ideia de como o Século XIX interpretava o mito de Pigmalião. De facto, esta representação pretende ser fiel à narrativa de Ovídio. A figura da jovem Galatea (quer dizer que tem a pele leitosa) apresenta-se numa pose semelhante à da célebre estátua de Vénus de Medici.
No texto de Ovídio - ver texto latino com transcrição em francês - Pigmalião está desgostoso pela «desvergonha» das mulheres, que faziam comércio do sexo, como era costume nesse tempo, em particular na ilha de Chipre, a ilha de Afrodite, cujos templos principais eram consagrados à Deusa do Amor. A narrativa atribui a esse desgosto a motivação de esculpir uma jovem virgem que tivesse a beleza e a pureza pela qual ele suspirava.
Podemos compreender que o mito está para a realidade, como um manto de rico tecido está recobrindo uma realidade muito menos luzidia. Com efeito, a existência de escravas sexuais era um facto, sendo esse comércio realizado pelos próprios templos dedicados a Vénus. Não era considerado um negócio ilícito. Na sociedade intensamente patriarcal do mundo Greco-romano, a mulher era considerada inferior pela sua própria natureza. A mulher era um objeto do qual o homem usufruía, de várias maneiras. A sexualidade era muito pouco inibida, no que toca aos homens. Havia também uma prática comum de sexo com efebos, adolescentes do sexo masculino, alguns com inclinações para tal, mas a grande maioria vendendo o corpo. As prostitutas «sagradas» praticavam sexo a troco de remuneração, a qual revertia - em parte - para os cofres dos templos dedicados à Deusa do Amor.
O Pigmalião da lenda é um «rei» escultor, algo bastante inverosímil. Mas, o apaixonar-se pela beleza de uma estátua ocorre, por vezes. Trata-se de uma forma especial de fixação obsessiva e de desvio sexual. O pedido de Pigmalião à Deusa do Amor, seria veiculado através da sacerdotisa do templo, a qual terá visto como possível e oportuno «ceder», a troco de dádiva generosa, uma jovem virgem, instruída para satisfazer a obsessão doentia de Pigmalião. No texto de Ovídio há referência ao casamento entre Galatea e Pigmalião e ao nascimento da filha do casal, Paphos, o nome adotado por uma cidade de Chipre.
A peça de Bernard Shaw , escrita nos alvores do século XX, no seguimento doutras obras que tentavam atualizar o mito de Pigmalião, é bastante interessante na medida em que transpõe a história para um ambiente contemporâneo ( princípio do séc. XX) e tenta fazer com que tudo seja mais ou menos verosímil. Não há «estátua de marfim que se transforma em linda donzela», mas uma jovem da classe baixa, que vende flores na rua. Pigmalião é um professor de linguística, que faz a aposta de transformar a jovem mulher, falando exclusivamente o dialeto das classes populares, o «cockney», numa dama com o discurso e as maneiras de uma aristocrata, que ninguém imaginaria tivesse uma origem tão humilde. Se hoje, a peça de teatro não é frequentemente representada, o filme de George Cuckor «My Fair Lady», continua ser conhecido de muitos.
Não esqueçamos que Bernard Shaw foi membro destacado da Fabian Society, que preconizava a mudança para o socialismo através de reformas e contribuiu para a formação do Partido Trabalhista no Reino Unido.
Poderia parecer que nos afastamos muito do mito de Pigmalião. Mas, afinal Bernard Shaw, este génio contemporâneo, veio colocar a história no seu devido pé: A natureza do homem, ou a sua doutrinação sobre o papel masculino nas relações com o feminino, tem levado aquele a querer impor um certo padrão de comportamento e inclusive em relação ao sexo e ao casamento, como se a mulher, enquanto noiva, esposa, ou amante, não tivesse vontade própria, não fosse mais do que uma estátua de virgem, que é preciso ativar com o toque erótico, que «dê vida» a essa boneca. Assim, seria a «boneca de carne e osso», o ideal duma forma entranhada de machismo, tanto mais difundida, que se situa ao nível do inconsciente ou do subconsciente.
De facto, a mulher deveria educar-se e educar o homem, para que essa forma de encarar as relações entre os sexos deixe de existir. Os homens assim fazem sofrer as mulheres com o seu desprezo pelo objeto do seu desejo erótico e por vezes mesmo, com violência. Pelo contrário, o homem companheiro, que partilha os prazeres e as dificuldades da vida, é aquilo que as mulheres naturalmente procuram. Elas têm a capacidade de transformar os «Pigmaliões» contemporânos, de lhes dar maturidade, de os despirem de preconceitos incutidos pelo meio. Note-se que se trata de uma tarefa longa, às vezes penosa e ingrata, ao nível individual das mulheres; mas esta tarefa devia ser endossada pela sociedade no seu todo, através da educação emancipadora dos jovens, o que não quer dizer - de modo nenhum - «licenciosidade» ou «relaxamento moral», antes o contrário.
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SÉRIE MITOLOGIAS:
MITOLOGIAS (XI): HISTÓRIA NATURAL DO UNICÓRNIO
sábado, 13 de janeiro de 2024
HAVERÁ ESPAÇO PARA O AMOR???
O ódio desencadeia o ódio. Verifica-se uma espiral de violência e de irracionalidade que estamos todos testemunhando, neste momento exato. A História sempre foi acompanhada por um rasto sanguinolento, mas agora está absolutamente diante dos olhos de todos. Quem se conforta com pseudo justificações como "do outro lado, fazem igual ou pior", não pode ter a nossa indulgência porque os pecados de uns não podem absolver os dos outros. Agora, como outrora, os violentos querem fazer com que a humanidade de certos povos seja desprezada pelos outros, através de toda a espécie de narrativas de ódio, como um bombardeaeemento psicológico que oculta os bombardeamentos cobardes de bombas, despejadas a todo o momento sobre civis indefesos.
A civilização judaico - cristã morreu, não tem hipótese de dar nada de relevante para a humanidade presente e futura. Os seus representantes e apologistas máximos, não apenas trucidam aqueles que deviam proteger, como recobrem os seus crimes duma capa de mentiras e reforçam os preconceitos racistas.
É difícil descer-se mais baixo. Durante muitos anos, os políticos dirigentes dos países ocidentais revestiram-se de discursos sobre os direitos humanos e os princípios morais elevados. A sua prática, muitas vezes, contradizia os seus dizeres. Mas, agora, a contradição tornou-se tão óbvia, que muitas pessoas, mesmo as que partilham os valores fundamentais do «Ocidente», estão escandalizadas. Não existe qualquer desculpa, deixaram completamente cair a máscara. De nada serve tentarem afivelar de novo a máscara de civilizados . Os crimes de massa, que perpetraram ou apoiaram oficialmente, não são suscetíveis de perdão.
Agora mesmo lançam mais uma guerra de agressão (contra o Iémen e simultaneamente contra o Irão), fazendo a vontade ao governo sionista. Este, tem controlo efetivo sobre a política americana e esta - por sua vez - comanda os governos e forças armadas dos países da OTAN. Vários países europeus estão assim - voluntariamente ou não - feitos coniventes dos crimes de Estado de Israel e com a participação e cobertura americana.
Não tenho ilusões sobre a cobardia e corrupção das classes no poder da Europa: escolhem seguir os cavernícolas neocons dos EUA, em vez de defenderem os interesses básicos, existenciais, dos seus próprios povos.
Não resta nada da civilização ocidental, que se baseava sobre os valores do humanismo. Estes foram destruídos, com tudo o que se tem passado, nomeadamente, desde a infame guerra contra a Jugoslávia (um enorme crime de guerra da OTAN) seguido por guerras neocoloniais no Afeganistão, no Iraque, na Líbia e na Síria. A invasão da Rússia à Ucrânia foi um erro daquela, mas Americanos e outros países da OTAN (Alemanha, França, Reino Unido...) têm responsabilidades, por inviabilizar conversações diplomáticas em Dezembro de 2021. Pior ainda, obrigaram o regime de Kiev a renegar acordos que estavam prestes a serem assinados em Abril de 2022, causa próxima deste infeliz país ser sacrificado no «altar» de vergar a Rússia. O plano para os neocons obterem finalmente o «grande prémio»: a derrota e o desmembrar da Rússia.
E o cúmulo foi a aprovação entusiástica do ataque criminoso pelos israelitas do povo indefeso de Gaza. Com isto, ficou definitivamente enterrada a orgulhosa «civilização ocidental». Pode continuar a ter vitórias, mas serão vitórias de Pirro, ou seja, das que trazem ainda pior que uma derrota. Com efeito, todo o resto do mundo, e é a maioria, olha com horror as práticas bárbaras dos governos e exércitos «ocidentais» e percebe perfeitamente que eles não têm qualquer consideração por nações que se coloquem num caminho de independência, de desenvolvimento autónomo.
Espero que muitos de vós saibam repudiar a deriva criminosa dos vossos governos. Só nessa medida, poderá haver um sentido de compaixão quando se abaterem sobre as nossas sociedades as profundas misérias em que nos meteram as élites corruptas que nos desgovernam.
PS1: como os meus leitores habituais já sabem, eu tenho descrito a situação geopolítica como de guerra mundial, a qual se estende por todo o espectro, desde as guerras locais por procuração, às sanções económicas e ao reconfigurar dos sistemas monetários. No texto acima, quis enfatizar a insanidade das políticas levadas a cabo pelos dirigentes ocidentais e os seus desastrosos resultados, no contexto da guerra mundial em curso.
sexta-feira, 12 de janeiro de 2024
OPUS. VOL. III 2. SUSSURRANDO
Ao teu ouvido
Amor
Estas palavras
Ofereço
São ínfimo som
Só tu ouves
Mais ninguém
Não partilho segredos
Dos nossos enredos
Sacode os medos
Ouve a melodia
Da canção nossa
A letra sabemos
De cor, la la la
di di ri di
Em exclusivo
Até ao fim
Só nós sabemos
Essa letra e guardamos
Seu significado
Tu e eu
Até que o Mundo acabe
(Murtal, 12 de Janeiro 2024)
terça-feira, 9 de janeiro de 2024
OPUS. VOL. III 1. PARA QUE CONSTE
Hoje, tempo de recordação. Hoje, tempo de ouvir os sons que me consolam na solidão. Hoje, só permito que beleza enforme o meu olhar. Para que conste, não estou a escrever senão pelo prazer de um improviso. Pelo prazer de levantar voo no dorso dum ganso de um conto de infância.
domingo, 31 de dezembro de 2023
DESPEDIDA
Despedida, ou antes, até logo.
Esta vida é um tempo de passagem, de trânsito. Não estou a contar-vos nada de novo. Mas, se nós acreditamos realmente que assim é, quais são as consequências na nossa postura, face às coisas boas e más desta vida? Como nos posicionamos, enquanto indivíduos, para nos fortalecermos, usufruindo do que há de positivo neste mundo? Não esperem por receitas, da minha parte ...
Eu sou como vós: Não tenho senão um conjunto de sentimentos, de ideais e de conceitos, com que esgrimir quer no longo prazo, quer no quotidiano. Porém, não devemos menosprezar o nosso próprio potencial de sermos mestres de nós próprios. Isso inclui um olhar crítico em relação ao que nos cerca (relações pessoais, sociedade, mundo), mas igualmente, um olhar auto crítico avaliando sem indulgência o que temos falhado, embora valorizando, ao seu justo valor, tudo o que conseguimos realizar porque nos esforçámos e persistimos.
Vou colocar em hibernação este blog. Se, mais tarde, o vou acordar de novo ou não, não posso sequer dizer, porque não tomei qualquer decisão. Pode ser que o deixe ficar como está, como testemunho de uma fase da minha vida, uma amostra das coisas que me preocuparam e alegraram nessa fase. Mas, pode ser que o retome, insistindo sobretudo nas componentes ensaística ou poética, e menos nos comentários de atualidade política, geopolítica e económica .
Como não decidi nada, apenas me posso despedir de Vós, leitores/as, com o desejo sincero de vos encontrar ou reencontrar no mundo "real", ou seja, "físico" e não apenas em trocas internáuticas.
Muito bom Ano de 2024, para Vocês, onde quer que estejam! Que este ano seja positivo para a Paz mundial e pessoal! Que seja favorável para a realização dos vossos projetos!