quarta-feira, 5 de agosto de 2020

ESTAMOS A VIVER «TEMPOS INTERESSANTES»...

             Praia de Altura - (Algarve/Portugal)

Nesta modorra de Agosto - apesar das frequentes ondas mediáticas covidianas, instigando medo  e inibindo algumas pessoas de fazerem aquilo que lhes faz bem, saírem, apanharem sol, darem uns mergulhos, fazerem festas, etc. - a verdade acaba por vir ao de cima.
Esta verdade traduz-se em dois factos simples: 

Facto nº1. 
A campanha mediática contra a postura da Suécia, traduziu-se num enorme fiasco e desacreditou mais os que a lançaram e a adoptaram, do que a nação escandinava.

Facto nº2. 
O ouro finalmente (e também a prata) sobe para níveis jamais atingidos, também em dólares US (a -ainda- moeda de reserva mundial) o que significa, claramente, que está a haver uma descida espectacular, tanto do dólar como das restantes moedas «fiat» (moedas que se sustentam em, nada mais, do que a palavra do governo respectivo).

A existência de uma campanha permanente para condicionar a população mundial a aceitar passivamente ou até alegremente a vinda de uma «vacina» cujos contornos aparecem como os mais obscuros está a sofrer reveses sérios, embora não seja ainda possível declarar vitória nesta frente. 
Trata-se de uma guerra, como diziam os dirigentes políticos de várias nações, lembram-se? Só que omitiram dizer que se trata de uma guerra contra os seus próprios povos, guerra suja, insidiosa e cobarde, destinada a assentar a «Nova Ordem Mundial», entronizando a oligarquia como «Senhores do Mundo». 

Uma vacina contra o Sars-Cov 2 será sempre algo muito questionável, tecnicamente falando, porque existe uma experiência falhada com outro coronavírus, o Sars-Cov 1, o qual teve a vacina produzida em larga escala, para logo ter de ser deitada fora. Muitos milhões foram gastos em vão. 
Além disso, o laboratório privilegiado por Bill Gates e a Fundação BIll e Melinda Gates, a Moderna, tem verificado que a vacina experimental que tinham idealizado dá resultados decepcionantes. Ainda bem, pois queriam introduzir um pedaço de material genético estranho nas nossas células, para estas se porem a fazer certas proteínas virais, que depois seriam reconhecidas pelo sistema imunitário e fabricados anticorpos contra elas. Mas, os ensaios feitos em animais de laboratório, mostraram que estes morriam quando, após terem sido imunizados pela vacina, eram expostos ao vírus Sars-Cov-2. Como é que tal situação se explica? Pelo facto de haver uma resposta do organismo a este vírus, construindo uma imunidade mais celular (linfócitos T) do que serológica (anticorpos livres, circulando no soro). O efeito é que as células T, contendo anticorpos anti-Covid à sua superfície, vão atacar as células e tecidos infectados, não poupando os próprios órgãos. 

Daí a gravidade da questão da vacina, especialmente quando insuficientemente estudada, em que se fazem correr riscos inúteis à população, em geral, para «protecção» da mesma população. A OMS emitiu um aviso recente, sobre os riscos de vacinas não cabalmente testadas antes de serem adoptadas. 

Quanto ao factor ouro: pode parecer inútil debruçar-nos sobre algo que corresponde em níveis de transacções, a cerca de 0,5 % dos activos financeiros ao nível mundial. Porém, ele funciona como «o canário (dourado) na mina», ou seja, avisa que algo está mesmo a ficar muito grave. Realmente, é o caso pois os governos e bancos centrais do mundo inteiro, para responderem a uma crise financeira em incubação desde há longos anos, mas cujo desencadear foi por eles mesmos provocado, fazem apenas aquilo que sempre fizeram financeiramente: imprimem biliões e triliões…  Com isto, provocam a retoma das bolhas financeiras que têm sido causa e efeito dos problemas financeiros mundiais. É como se um «médico» receitasse «droga» a um «drogado»; iria agravar o seu estado, até ao ponto em que o referido drogado sofreria colapso e morte por «over-dose». É exactamente a imagem que me evoca o comportamento dos bancos centrais dos países ocidentais, encorajado pelos governos respectivos. 
Não admira, eles são dos maiores beneficiários da onda de «dinheiro fácil». Eles pretendem uma desvalorização total das moedas «fiat» por uma boa razão, para eles: é que assim as suas dívidas colossais vão ficar reduzidas na mesma proporção. É a diferença entre quantidade nominal e valor real. Na realidade, se a inflação disparar, as nossas pensões de reforma, os salários e todas as dívidas que os governos têm para com credores diversos, serão «pagas» nominalmente mas, na verdade, serão em «papel» que vale cada vez menos, em termos de poder aquisitivo real. 
É desta realidade que o Mundo se está a aperceber agora, embora um pouco tarde. O mundo da finança -por contraste - sabe disso muito bem, há longo tempo, pelo que tem jogado com essa «fraqueza» embutida no conceito de «divisa fiat». 
Os iludidos da classe média, que são a imensa maioria dos que jogam nos casinos dos mercados financeiros, estão a ser vítimas deste jogo cruel; um «Jogo de Tronos», que seria melhor designar como «Jogos da Fome». 
A própria ONU avisa que o que vem aí pode significar uma descida para a pobreza de 260 milhões, só que não é consequência da epidemia de Covid, como ela afirma, mas em consequência da crise mundial do sistema capitalista, exacerbada pelas medidas drásticas e liquidadoras da economia, decretadas pelos governos. 
Como sabemos, eles nunca confessam os seus erros, a não ser que estejam numa posição desesperada, perante um tribunal e em risco de sentença de morte. As pessoas vão, portanto, sofrer imenso, com a redução da quantidade de riqueza criada, sem saberem porquê. Mas as oligarquias sabem-no bem: é porque o sistema chegou a um ponto de não retorno; ao ponto em que a única solução é deitar abaixo o edifício, para construir um novo. Simplesmente, existem basicamente duas maneiras de o fazer: 

- Pode-se ter - por hipótese - um período de grande agitação social, que desemboque numa revolução. Esta revolução pode deitar abaixo a velha ordem e instaurar uma nova, algo muito positivo para a generalidade dos humanos, mas implicaria que as oligarquias reinantes nos diversos países perdessem o controlo, deixassem de ser as beneficiárias da tal ordem velha.   

- Ou então, pode-se fazer uma «demolição controlada», sendo as construções, as empresas, as matérias primas valiosas (como o ouro, petróleo, metais industriais, etc, etc) mantidas em mãos dos muito ricos. Assim, esta «Nova Ordem Mundial» surgiria como que por encanto. Até poderia ser publicitada em fóruns mundiais, como o de Davos.

A segunda hipótese (demolição controlada) é a que mantém os poderosos e até lhes acrescenta mais poder, mais controlo. Se escolhem este caminho não é, com certeza, por considerações humanitárias, por desejarem a melhoria das condições de vida dos mais de 7 mil milhões de humanos… Não; eles estão a fazer isto porque sabem que a hipótese de uma revolução será inevitável, se não agirem agora, para por em prática esta operação. 

Por outras palavras, é uma operação arriscada, tomada in extremis, com riscos de descambar de variadíssimas maneiras. 
O poder das oligarquias é relativo: também fazem erros de avaliação. Em qualquer etapa do percurso, podem menosprezar ou ignorar a relevância de certas variáveis do sistema. 

O sistema político e económico mundial é um exemplo de sistema caótico, no sentido científico. Um tal sistema não é regido por quaisquer leis da Natureza. 
Num sistema caótico não existe possibilidade de encontrar verdadeiros padrões de comportamento. Não  são previsíveis, ao contrário dos sistemas deterministas. Estamos a falar em relação a todos os níveis, do comportamento dos indivíduos, ao dos grupos, das sociedades e da humanidade.

Estamos vivendo «tempos interessantes», só que a expressão deve ser traduzida para chinês: o ideograma correspondente quer dizer - simultaneamente - tempos inovadores e terríveis.
 
                     Chris Whiteside's Blog: Quote of the day 9th September 2018

YUJA WANG, MISCHA MAISKY, JAMES EHNES: Beethoven Triple Concerto

Beethoven Triple Concerto for Violin, Cello, and Piano in C major Op  56 




segunda-feira, 3 de agosto de 2020

MILHARES PROTESTARAM EM BERLIM CONTRA AS RESTRIÇÕES


Claro que vão dizer que isto é orquestrado por forças extremistas, mas o que transparece, quando se vê este vídeo, é uma amálgama colorida de cidadãos comuns: não são nada do tipo «militante», de extrema direita ou de extrema esquerda! 
É isto que os governos mais temem. Vão multiplicar-se estas acções de rua por todo o espaço da UE, não tarda muito!

Quando a mais forte economia da União Europeia está de rastos, quando é impossível ver-se uma luz ao fundo do túnel... é inevitável que as pessoas se questionem se estas medidas, que deitaram abaixo a economia do mundo desenvolvido, eram mesmo necessárias? 
A resposta é não! E a verdadeira razão está a vir ao de cima: Segundo Anthony P. Muller e muitos outros, isto faz parte da estratégia globalista de Davos (Fórum Económico Mundial) para impor a «revolução tecno-fascista» da Nova Ordem Mundial.  

sábado, 1 de agosto de 2020

Portugal: Colapso Anunciado e Oportunidade de Renovo

The Best European River Cruises for 2019 and 2020 | Jetsetter ...

A partir de agora, a situação económica começa a «apertar» no Ocidente (falo da Europa e América do Norte, principalmente). 
Mas, o Ocidente não é homogéneo do ponto de vista económico e da exposição a situações causadoras de extrema desorganização e do acentuar da pobreza. Existem clivagens muito grandes entre países como, por exemplo, o Norte e o Sul da União Europeia: 
- Com a Alemanha, a Áustria, a Holanda e a Escandinávia, contrastando em desafogo económico e capacidade de suavizar uma situação prolongada de crise, com um Sul, incluindo Grécia, Itália, Espanha e Portugal, todos eles em situação muito mais frágil perante a crise profunda, pois estão muito dependentes do turismo para sobreviverem e não possuem diversificação suficiente para aguentar o embate e o marasmo prolongado no sector, que era o seu principal «ganha-pão».

Mas, também estamos perante a crise interna dos Estados e regimes, visto que a inadequada e autoritária resposta à epidemia de Covid-19 (um problema sanitário real), veio desencadear reflexos de medo e uma contracção da vida nas suas vertentes sociais. 
Isto pode ser conveniente para a oligarquia que governa estes países, no curto prazo. Porém, vão servir-se do mesmo pretexto da pandemia e de mais que duvidosas «segundas e terceiras» ondas, para retomar o controlo de todas as alavancas do poder, sem contestação. O grau de corrupção, na política e nas sociedades em geral, nunca foi tão elevado, com os lançadores de alerta a serem completamente ignorados ou perseguidos e calados. A cidadania, semi-adormecida, está num ponto em que pode ser facilmente manipulada, pelos da maioria governamental, ou pelas oposições.
Mas tudo isto tem, como fenómeno subjacente, o colapso do modelo económico e financeiro que governou o Ocidente.

Este colapso é bem visível nos EUA, país emblemático deste capitalismo. A cidadania nos EUA está completamente fraccionada. Existe um total divórcio em relação a quaisquer valores, que poderiam ser identificadores comuns do povo dos EUA. A coesão existente, é em relação a factores de grupo, nos quais se contam «raça», «religião», «pertença social», «orientação sexual», etc, etc. Não existe futuro para um país assim: irremediavelmente dividido. Ainda é o mais poderoso, em termos militares e ainda detém o privilégio do dólar US ser a maior divisa de reserva ao nível mundial:
- Mas, no plano geo-estratégico está em situação de competição com 2 super-grandes (Rússia e China), que possuem armamento sofisticado e - mesmo - superior em domínios-chave, face a modelos mais antiquados, que equipam as forças armadas dos EUA e seus aliados da NATO. 
- E, no plano monetário, o dólar está sob grande pressão, com uma descida significativa em relação às moedas ocidentais concorrentes, nomeadamente, ao euro. Além disso, o dólar (e todas as divisas) estão constantemente a perder valor, em relação ao ouro e à prata
Isto significa claramente a fuga dos investidores mais lúcidos dos mercados das obrigações e das acções e outros activos financeiros em geral, que se expressam em moedas-papel, ou «fiat». 
Pelo contrário, existe um aumento de procura muito significativo, além dos metais preciosos, no imobiliário em vários países europeus. Tal se deve ao facto de muitas pessoas estarem a converter bens financeiros em bens imobiliários, estes menos sujeitos a volatilidade e, sobretudo, que poderão atravessar esta crise longa, conservando o seu valor, em termos reais, no final.

No meio da «grande reestruturação» («great reset»), na qual nos encontramos, as pessoas dominadas (sem o saberem) por uma media, inteiramente ao serviço dos poderosos, são susceptíveis de fazerem escolhas erradas. Tais erros e ilusões, induzidos pela media mentirosa, ainda irão agravar mais a sua fragilidade, em termos económicos. Muitas das que tinham algum bem-estar económico, irão perder tudo, tal como aconteceu em todas as crises anteriores.  
Mas, a perda de uns, é o ganho de outros. Haverá pessoas e entidades que irão enriquecer, que irão fazer negócios chorudos, capturando bens e negócios por «tuta e meia».
 Estes, estarão em força quando se der a retoma da economia produtiva. Uma vez que o pior da crise tiver passado, que um novo sistema monetário veja a luz do dia, esses capitalistas terão o terreno limpo para seus negócios avançarem nas melhores condições. 
Com efeito, a ausência de concorrência vai permitir situações de controlo ou monopólio do mercado, em sectores de actividade e largas regiões geográficas; isso vai multiplicar as possibilidades de lucro. 
No capitalismo monopolista, que é o do nosso tempo, os que planificam e executam as acções dos grandes grupos financeiros não são uns amadores. Eles próprios, têm formação e contam com apoio de especialistas, em todas as áreas necessárias, que garantem - não apenas os negócios correntes - mas também a prospectiva, a visão estratégica de longo prazo.

Sendo assim, nos tempos mais próximos, depois da onda de falências e de grande contracção da economia, fase que durará, pelo menos, até ao próximo Verão de 2021, vai verificar-se uma grande concentração e reestruturação em todos os sectores-chave:
- concentração da distribuição, estendendo as redes de pequenas lojas mas com «label» de um grande distribuidor. Destruição visível do comércio de proximidade, desaparecimento do pequeno comércio nas zonas habitacionais: a mercearia, a frutaria, a pequena loja de electro-domésticos, a papelaria-tabacaria, etc. 
- concentração da banca, com fusões e aquisições de pequenos bancos por gigantes. Mas também uma diminuição da rede de balcões e/ou a conversão de serviços para 100% on-line, o que fará com que o número de funcionários bancários em contacto directo  com o público diminua ainda mais. 
- A Inteligência Artificial e a robotização vão avançar em todos os domínios, desde a medicina, engenharia, arquitectura, etc.  até às tarefas pouco especializadas, como a colheita de frutas e legumes, até agora assegurada por uma mão-de-obra muito «barata», normalmente imigrante. 

Vai haver uma generalização do desemprego estrutural. Não vai ser possível encaixar nos sectores produtivos, as pessoas agora despedidas, pois haverá muito menos postos de trabalho, além de que a tendência será de substituir humanos pelos robôs, ou por sistemas de IA (Inteligência Artificial). 
Face a esta situação, a opção dos Estados será - provavelmente - de criar um «Rendimento Básico Universal» (RBU), com capacidade de manter as pessoas assistidas no limiar de subsistência, mas ainda assim, sem chegar à indigência. 
O RBU será saudado como «grande progresso social» por alguns desmiolados, mas será a forma prática de manter as pessoas sob controlo, sobretudo jovens, quando não existe possibilidade ou vontade de as canalizar para tarefas produtivas e reprodutíveis.

Porém, existem muitas instâncias em que o trabalho poderá ser aplicado de forma útil e produtiva, com verdadeiro emprego e com verdadeiro salário
Estou a pensar nas enormes tarefas que estão por fazer, nos campos, especialmente no interior deste país, com todo o efeito de arrastamento de indústrias conexas ao renascimento agrícola, baseado em energias renováveis e em conceitos ecológicos. 
Estou a pensar também no apoio domiciliário a muitas pessoas idosas e/ou com deficiência, que não deveriam ser armazenadas em «lares», instituições completamente inadequadas. Veja-se o que aconteceu aquando do surto de Covid-19: pense-se que apenas vimos a ponta do iceberg.  
Na educação, ao contrário da tendência para realizar tudo «on-line», acentuada com a recente epidemia, que confinou as crianças e jovens em casa, tem de se apostar numa diferente e criativa forma de educar. 
Têm de ser criados «centros de educação e excelência tecnológicos» que não sejam os «parentes pobres» do que é, ou era (como há mais de 50 anos!) considerado nobre: as vias que conduzem ao ensino superior. 
Poderia multiplicar exemplos, desde a marinha mercante e portos, à rede ferroviária e a todas as infraestruturas associadas... campos em que haveria trabalhos de estrutura a fazer-se e com grande utilidade para o país.
Porém, este esforço muito necessário é impossível sem a mobilização de energias, de vontades, sem a existência de um projecto nacional. Para que vingue, é preciso realismo, vontade e persistência. São estas as três características morais impossíveis de desenvolver e cultivar no marasmo actual, sonhando uns com utopias caducas, outros com «milagres» de ajudas vindas do exterior, etc. 
Há muitas maneiras de cairmos; para nos levantarmos, só há - basicamente - uma; dobrar as pernas, retesar os músculos, fazer força apoiando-se no chão, exercendo toda a força para cima, o corpo unido no gesto de se erguer, de retomar a vertical. No caso dos povos, é o mesmo! 
Onde está o essencial da questão? 
Na tomada de consciência de que a salvação não virá do exterior, mas de nós próprios, de fazermos o que seja preciso para nos pormos de novo, em pé!  


quinta-feira, 30 de julho de 2020

EM DEFESA DA AGRICULTURA E ECONOMIA PRODUTIVA EM PORTUGAL

Histórias com História: UM PORTUGAL ESQUECIDO...
Uma casa agrícola ao abandono no Alentejo, foto retirada de


Portugal, tal como outros países da UE situados a Sul, teve durante decénios um crescimento da economia baseado num sector muito particular, o turismo. 
Com efeito, o turismo arrasta consigo quase todos os outros sectores que não lhe estão associados estritamente, desde as indústrias alimentares, à construção civil. 
Porém, como tinha repetidamente avisado, o turismo é um sector incerto por natureza, sujeito a factores imponderáveis, como veio agora confirmar-se com a existência de uma crise profunda. Não há muito a fazer nestas circunstâncias, a não ser encarar a situação de desastre com realismo, não tentando iludir a sua gravidade, porém colocando as coisas em termos positivos.

As pessoas não poderão ter emprego num sector em falência; não terão sequer a opção tradicional de emigrar. Como quando existia um período de recessão em Portugal, mas era necessária mão-de-obra no Norte da Europa. 
A crise está a gerar um número de desempregados maior do que nos piores momentos de marasmo económico, no nosso país... Com a agravante de que estão vedadas as saídas que poderiam fornecer emprego, quer noutros sectores urbanos e costeiros, quer para países mais ricos da União Europeia.  
Com efeito, sendo esta crise profunda e sistémica, não existirá sector onde não se verifique uma contracção da actividade e um congelamento do recrutamento de pessoal, ou a existência de muitos despedimentos. Será praticamente certa a existência de muitos mais, quando os actuais «lay-off» se traduzirem em despedimentos, por motivos económicos, ou por insolvência.

É perante um tal pano de fundo, nada brilhante, que a visão estratégica do país deve ter primazia. Os políticos e empresários não podem estar à espera de conseguir manter-se, apenas jogado com o medo e os anseios das pessoas. 
Com efeito, sabemos que nos últimos anos tem faltado um sentido de Estado nas castas dirigentes; não existe visão ampla e audácia. Apenas têm apostado no pequeno golpe, na demagogia, no ilusionismo das promessas eleitorais ou na «mão estendida» dos empresários ao Estado, apesar destes dizerem que o Estado é o seu «inimigo».
Nos tempos presentes, em que predomina essa pequenez, de par com o alheamento da generalidade das pessoas em relação à política (no sentido nobre do termo), torna-se crítico que olhemos para o que já existe, com potencial para nos encaminhar para novo ciclo de desenvolvimento. Não fazer as mudanças estratégicas que se impõem, é condenar este país ao subdesenvolvimento e dependência. 

Pode parecer insólito que eu enfatize o sector da agricultura biológica; porém, tenha-se em consideração o seguinte:

- O solo, o clima, o coberto vegetal e os ecossistemas em geral, são factores essenciais de produção, pois são condicionantes da agricultura possível num dado espaço geográfico. 
- Portugal tem bons solos, muitos deles não valorizados, nem em relação à qualidade, nem à quantidade de produção agrícola. É frequente verem-se áreas, onde existia agricultura, por vezes rica, completamente abandonadas, entregues ao mato ou a eucaliptais.
- Existe uma irregularidade dos níveis de precipitação, porém o aproveitamento inteligente dos recursos hídricos permitiria minorar essa situação. Sobretudo, deverá haver o bom-senso de plantar aquilo que esteja melhor adaptado às condições hídricas da região. 
- A agricultura poderia proporcionar empregos em quantidade. Alguns seriam muito apetecíveis em termos de remuneração, porque altamente qualificados. 
- As zonas rurais já não são «o fim do mundo»: pode-se usufruir, no campo, de muitos confortos a que os citadinos estão habituados.  O facto é que a agricultura hoje está mecanizada e a economia digital opera em contexto rural.
- A existência de solos não contaminados com resíduos de adubos químicos, insecticidas e herbicidas, é uma condição para se poder exercer agricultura biológica. Nos países do Norte, muitos terrenos agrícolas estão há demasiado tempo sujeitos a esse tipo de agricultura industrial. Isso traduz-se por uma impossibilidade prática de se fazer agricultura biológica nesses solos. 
- Esta é uma das razões, entre outras, que leva jovens dos países do Norte (Alemanha, Holanda, Bélgica, Suécia, Grã-Bretanha...) a implantarem, de Norte a Sul de Portugal, unidades agrícolas rentáveis.

Avaliando a situação, creio que se deveria dar também acesso à terra e à possibilidade de viver da agricultura, às jovens gerações portuguesas. Isso passa por instaurar linhas de crédito orientadas para uma agricultura renovável, inteligente, destinada aos mercados de exportação.
Com efeito, um jovem casal (com ou sem filhos), deveria conseguir empréstimos garantidos pelo Estado, ou bonificados, através de um mecanismo de financiamento. Isso seria a verdadeira alternativa à inactividade forçada ou a empregos precários, de utilidade duvidosa nalguns casos, sempre sujeitos a despedimento e desemprego... Sobretudo, sem um futuro decente pela incerteza permanente causadora de muitos males sociais, que todos nós sabemos.

As pessoas deveriam ter acesso a aconselhamento desburocratizado, a custo zero ou a muito baixo custo, para apoio técnico em relação aos seus projectos. Os organismos regionais de agricultura deveriam fazer o levantamento das áreas que, ou estão ao abandono, ou com actividade inadequada (hoje, é possível fazer tais levantamentos com fotografia aérea ou por satélite, a baixo custo). 
A intervenção do Estado deveria ser no sentido de canalizar o esforço financeiro, produtivo, técnico e humano, para re-colonizar zonas do nosso interior, que têm estado ao abandono, nalguns casos, há mais de meio século!

Esta seria a verdadeira política de «Green New Deal» para Portugal, não em detrimento doutros sectores, mas beneficiando do que já existe e tirando máximo partido dos nossos trunfos.
São eles: clima, solo, disponibilidade de mão de obra, capacidade técnica e facilidade de colocação em mercados dos produtos, com elevado valor acrescentado. 

Não é uma utopia. 
Pelo contrário, é uma via alternativa à continuação do marasmo e do complexo em que nos fomos enterrando enquanto Nação *.

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 (*) Ver o meu ensaio «Portugal País Neo-Colonial?».

segunda-feira, 27 de julho de 2020

É SÓ UMA QUESTÃO DE TEMPO...

               SSAR Issuer: European Stability Mechanism | IFR

É só uma questão de tempo, não que eu anseie pela chegada desse tempo, mas ele virá tão fatalmente como 2 + 2 = 4. 
Estou a falar do desenvolvimento da grande crise, supostamente causada pelo coronavírus, mas que - na realidade - deriva inteiramente da incrível dívida que se tem vindo a acumular, ao nível mundial. 
São cerca de 4 quadriliões de dólares  de dívidas no total mundial, de Estados, empresas e indivíduos. Um número com 4, seguido de 15 zeros! 
A possibilidade dessa dívida jamais ser cobrada, está para além da mais fantasiosa imaginação. É absolutamente impagável. 
A oligarquia sabe-o e não é de agora; simplesmente, tem aproveitado a situação da melhor forma (para seus interesses), à custa da saúde da economia mundial.
 Desde que Nixon descolou o dólar do ouro em 1971, a «impressão monetária» tem sido o «instrumento de governação financeira nº1» de todos os governos. 
A história não serve de lição aos políticos, nem - tão pouco - aos economistas ao serviço do sistema: Ambos têm sido beneficiados com as migalhas que caem do banquete da oligarquia. 
Mas o crescimento - durante décadas - da dívida, tanto pública como privada, significa que muitas das empresas e não poucos Estados estão na bancarrota, tecnicamente. 
Chegou-se a um ponto em que o serviço da dívida, que inclui juros cada vez mais pesados, é incomportável para o orçamento de cada Estado. 
A maneira de disfarçar isso é de inflacionar. É fazer com que o dinheiro corresponda a cada menos valor, a muito menos poder de compra.  
A explicação que dão os economistas «mainstream» para a suposta necessidade de inflação seria a de um efeito psicológico sobre os consumidores, que assim teriam a sensação de que a economia está «a crescer» e portanto, seriam mais inclinados a gastar dinheiro. Por outro lado, a inflação vai diminuir a carga de juros e de prestações de capital em dívida, se um empréstimo for a taxa fixa, o que - no longo prazo - confere vantagem ao devedor. 
Simplesmente, a economia não se esquematiza da forma simplista como estes economistas «certificados» a entendem. No cômputo geral, deve-se ter em conta o declínio do poder de compra de salários e pensões, tanto maior, quanto maior for a inflação:
Como - infelizmente - nem aos assalariados, nem aos pensionistas lhes é reconhecido o direito de aumento automático na mesma proporção da inflação, eles vão perdendo capacidade aquisitiva à medida que vai passando o tempo, mesmo num contexto de inflação  dita «baixa». 
Chega-se ao ponto de ruptura quando as sociedades, até então usufruindo de bem-estar generalizado, começam a sofrer o empobrecimento rápido das várias camadas laboriosas. Na mesma ocasião, uma minoria ínfima de especuladores consegue acumular e enriquecer muito mais, sem gerar qualquer coisa real, em termos de bens ou serviços.

Na UE, com o pacote decidido recentemente pelos Estados membros, permitindo que as dívidas (sobretudo as do Sul) sejam garantidas pelo Norte, o euro caminha para um processo inflacionário acelerado, mesmo que os míopes declarem que as constantes injecções de biliões de euros, saídos do nada, não terão efeitos na inflação: 
Não apenas terão efeitos visíveis, como desencadear inflação é justamente um dos objectivos dos governos da UE e do Banco Central Europeu (BCE). 
A destruição do valor dos meios de subsistência - que são os salários e as pensões - é sempre passada sob silêncio, como se a economia fosse independente da população.  
Com efeito, se aumenta a massa monetária em circulação, por exemplo, por um factor de 50%,  é inevitável que os preços disparem, porque a quantidade de bens e serviços transaccionáveis irá manter-se sensivelmente a mesma, mas a quantidade de dinheiro disponível para a adquirir, vai aumentar: Se um quilo de laranjas valia 1 euro antes, agora vai valer 1,5 euros. 
Dizem-me que a enorme crise de produção resultou numa escassez de bens e serviços, havendo uma retracção da economia e logo uma severa deflação; dizem-me também que o aumento da massa monetária não irá implicar inflação mais acentuada, porque terá pela frente o fenómeno contrário. Uma situação deflacionária tem toda a probabilidade de se verificar agora, em relação a determinados bens: equipamentos,  automóveis, imobiliário, bens de «prestígio» e de «luxo», etc. 
Mas, pode muito bem ocorrer - em simultâneo e em paralelo - com uma inflação acrescida, incidindo sobre os bens de consumo corrente, como alimentos, transportes públicos e fornecimento de serviços diversos, desde restauração a cabeleireiros. 
Tudo isto é provável que esteja a acontecer, mas é ocultado pela descarada falsificação dos números oficiais da inflação. Com efeito, uma pessoa sente no quotidiano a generalização do aumento dos preços, mas ela deverá ser quantificada pela estatística. 
Em Portugal, a fraca informação, não atempada e claramente distorcida, para favorecer o governo, faz parte da panóplia que permite manter um nível de salários e pensões próximo, ou ao nível da indigência, em muitos casos.
  O disparar da inflação irá ocorrer, inevitavelmente, quer a nível nacional, com a acumulação de divida pelo Estado e particulares, quer na Comunidade Europeia, com os défices crónicos das balanças de pagamentos  de todos os países do Sul. Tristemente, o único remédio que os dirigentes conhecem (ou estão disponíveis para aplicar), face ao crescimento incipiente, ou à estagnação, é a acumulação de mais dívida. 
Por isso, é apenas uma questão de tempo, até a hiperinflação se desencadear. Não será nada bonito de se ver, pois irá acompanhar-se dum imenso sofrimento social. 
Mas, a oligarquia pretende levar as coisas ao extremo, seguindo a estratégia de «choque e pavor», ou de «problema- reacção - solução». Desta forma, pretende perpetuar-se no poder, fazendo o tal «Great Reset» à sua medida, isto é, na forma que permita conservar o essencial dos seus privilégios.


sexta-feira, 24 de julho de 2020

A ERA DAS GUERRAS HÍBRIDAS E O SEU SIGNIFICADO



Uma potência, os EUA, manteve-se de pé, após o colapso da sua opositora, a URSS, numa guerra «fria» (com muitos episódios «quentes»). Porém, começou também a entrar em colapso, agora. Entrou-se na era da dita « Guerra Híbrida».

Com efeito, os EUA aperceberam-se de que não podiam ganhar uma guerra convencional, mesmo com inimigos muito mais fracos do que eles. 
Como classificar, senão como fiasco, os quase vinte anos de ocupação do Afeganistão, em que os insurrectos Taliban dominam largamente províncias inteiras e estão, há anos, a negociar directamente (contra a vontade dos EUA) com os fantoches do governo «legítimo», instalados e mantidos por Washington? 
E como classificar o fiasco do Iraque, 17 anos depois da mortífera campanha destruidora, não apenas das capacidades militares, como da própria sociedade, do próprio tecido social? - Neste Iraque, a dinâmica vai no sentido de uma rejeição da tutela americana, de uma aproximação ao Irão (o arque-inimigo dos EUA) e de uma impossibilidade real de manutenção, no longo prazo, das numerosas bases militares americanas, mantidas para exercer pressão sobre os vizinhos (Irão, Rússia...) 
As guerras planeadas pelo Pentágono estão desenhadas, não para um triunfo rápido, mas para causar um máximo dano a toda a  sociedade, para fazer daqueles Estados, «Estados falidos». 
- Veja-se o exemplo da Líbia e da quase década de  guerra civil, que está a destroçar os restos dum país, outrora orgulhoso do nível de bem-estar da sua população, na era de Muammar al-Gaddafi... 

As constantes provocações dos EUA contra a República Popular da China, nos Mares do Sul da China, pela sua marinha de guerra, a guerra secreta e psicológica das suas agências de «inteligência» e todo o cortejo de sanções económicas (unilaterais; são, portanto, definidas pela ONU, como actos de guerra), fazem parte da guerra híbrida. Esta, tem sido levada a cabo constantemente por Washington, inaugurada pelo «pivot para a Ásia» de Obama e prosseguida pela administração Trump, embora sob controlo do «Estado Profundo». 
A fraqueza da administração Trump, em relação à política interna dos EUA, impediu que ele levasse a cabo plenamente o seu programa, de centrar a produção dos EUA no seu próprio solo e pondo um termo às guerras e às operações de «manutenção de paz» do Império.
Este  programa entrava em colisão frontal com os interesses da órbita financeira global, da oligarquia que domina, não apenas os mercados, como a política de Washington e das administrações que se vão sucedendo, entre presidentes republicanos ou democratas.

Um Estado em deliquescência, como venho avisando, é muito mais perigoso para a Paz, sobretudo, dado que está numa posição cimeira, como potência militar e como beneficiário dum sistema monetário internacional em crise mas, ainda assim, completamente distorcido para favorecer uma e só uma nação («exorbitante privilégio», como o designou Giscard D'Estaing ).

Qualquer incidente que surja nos mares da China, entre as frotas dos EUA e da R.P.C. será sempre uma ameaça de guerra muito séria. Se a China tivesse um comportamento análogo aos americanos, como o de patrulhar constantemente zonas costeiras do Golfo do México, roçando águas territoriais dos EUA, tal seria visto como intolerável provocação belicosa chinesa, em relação aos EUA.  
Pois, é exactamente o que acontece de forma inversa. Tanto mais,  que os EUA não têm absolutamente nenhuma reivindicação de águas territoriais nessa zona do globo. São, no entanto, causadores de instabilidade permanente, dificultando que a China, o Vietname, as Filipinas, a Indonésia (e outros), encontrem uma resolução negociada, pacífica, das suas divergências em relação à soberania de águas e ilhéus desse Mar.
O perigo que representa o comportamento agressivo dos EUA em relação a seus concorrentes, mostra que deixou de desempenhar o papel de uma «potência tutelar mundial» e que não aspira senão a manter a primazia (a hegemonia) a todo o custo, quaisquer que sejam as consequências, quer para os povos e nações com as quais se confronta, quer em relação à sua própria população.

Com efeito, uma potência mundial que se «respeite a si própria», auto-designada como «nação indispensável», nunca por nunca poderia dar mostras de incapacidade em gerir satisfatoriamente aspectos básicos da vida em comum, desde o combate à epidemia de Covid-19, até à resolução dos problemas profundos de desigualdade e de racismo. 
O mínimo da decência e bom senso, seria, perante as circunstâncias presentes, colocar entre parêntesis as suas ambições imperiais e mostrar uma face mais cooperativa ou, pelo menos, conciliatória com outras nações, para melhor enfrentar problemas mundiais na saúde, entre outros. 
Mas, isto seria não ter em conta o controlo férreo que os neoconservadores (neocons) possuem, em várias esferas do poder de Estado, em especial, na esfera da defesa e das relações internacionais. 
Se houver um agravamento da situação mundial, em especial com um aumento de nível do conflito dos EUA com a China, quem ganha com isso? 
A resposta parece-me que se deve encontrar na guerra interna (dentro do campo capitalista) entre globalistas e nacionalistas. 
Os nacionalistas (nos EUA) querem ver-se livres da herança de intervencionismo, de envolvimento do seu país nos mais diversos cenários internacionais. Querem reconstruir o tecido industrial, destruído pela oligarquia globalista, que exportou a capacidade industrial para países como a China e outros, assim obtendo, no curto prazo, astronómicos lucros derivados da exploração da mão-de-obra desses países, dez vezes (ou mais!) mais barata,  em comparação aos salários da mão-de-obra estadounidense. 
Os globalistas fazem tudo para sabotar a política de Trump, quando esta se orienta na direcção da retirada de cenários de guerra e de ocupação. Eles só ficarão satisfeitos se o expulsarem do poder, pondo lá alguém (Biden) que seja totalmente dócil aos seus propósitos.
Num ou noutro caso, o mundo não tem a ganhar com o triunfo, de uma ou outra facção. 

O único resultado positivo, para o mundo de hoje, seria uma perda efectiva e irreversível da hegemonia dos EUA, das suas classes políticas e empresariais. Sem isso, não é provável que jamais elas aceitem «jogar o jogo», como sendo mais uma nação entre outras; por outras palavras, serem actores num mundo multipolar. 
Não é certo de que tal mundo multipolar seja menos perigoso, nem relativamente mais justo, que o actual. 
Porém, é impossível a manutenção de uma situação de  hegemonia mundial, como desejam os neocons dos EUA. O mundo compreendeu isso; a cidadania americana está a despertar para esta realidade. A oligarquia americana terá de render-se à evidência ou ... será atirada para do caixote de lixo da História.