From Comment section in https://www.moonofalabama.org/2024/03/deterrence-by-savagery.html#more

A selvajaria é uma jogada perdedora. Ao jogá-la os EUA e Ocidente estão a destruir toda a sua legitimidade e influência ideológica, normativa e institucional. Eles não podem sequer vencer militarmente o Hamas, Ansarallah e o Hezbollah, pois estes sobrevivem e lançam suas estratégias de supressão do inimigo e de luta de guerrilha. O objetivos de Israel não se concretizaram e os EUA estão mais isolados e extremistas, do que jamais estiveram. Isto não será esquecido; existem alternativas agora ao seu domínio.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS - 17

[*Do livro «Exercícos Espirituais, 1985, Ed. MIC (Estoril)]

 CANÇÃO DA ROSA SÚBITA



Meu amor não precisa de nome
Não se diz nem vende com palavras
Se alevanta com os vendavais
De noite se vai deitar nos trigais
              Meu amor não precisa de nome

Meu amor escreve-se como «fruta»
Como breve chuva, logo enxuta
Ou lenço regaço, reverb’rado
Em muralha de de linho lavrado
               Meu amor escreve-se como fruta

Meu amor não é uma ideia
Não discute «razões de mercado»
É fluxo e refluxo na barca
Iceberg, vulcão ou pendão ou farpa
              Meu amor não é uma ideia

Meu amor a todos abre os braços
Num sorriso de asa partida
E, se visto a pele dos sapos,
Desfralda, rindo, os seus farrapos
             Meu amor a todos abre os braços

Meu amor não tem mestre nem amo
Representa, em farsa ou em drama,
Nos canteiros da praça pública
A dádiva da Rosa Súbita
            Meu amor não tem mestre nem amo











terça-feira, 6 de junho de 2017

EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS - 16

[*Extraído do livro «Exercícios Espirituais», 1985, Ed. MIC (Estoril)]


               IMO TORNADO IMÓVEL…





Imo tornado imóvel
Veleiro medindo Mito
Tudo duvido domina
Retorno assumido
Nos une e mor negamos
E cal sem brecha
Se mente não rasteja
Baldados rigores
Sentam cachos ardidos
Negreiros…






segunda-feira, 5 de junho de 2017

EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS - 15

[*Extraído do livro «Exercícios Espirituais», 1985, Ed. MIC (Estoril)]


                        NUVENS


  

Relevo de corpos outonais
Nomeados pelo reflexo oblíquo
Do olhar múltiplo 
Perplexo
Forma de Guitarras
Criação das nuvens
Vagueando tão altas
No Zodíaco
Distantes espectros
Suspensos no fumo
Separados de meu crânio
Denso
Esfaqueado na certeza
De sonhar
Pan-lúdico
Assim
Nesta
Feminina
Matriz.


domingo, 4 de junho de 2017

EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS - 14

[*extraído do livro «Exercícios Espirituais, 1985, Ed. MIC (Estoril)]

À SOMBRA DOS LOUROS ACADÉMICOS


  

Mastigai, senhores!      
Mastigai esse frondoso arbusto
Ramalhudo, roçagante, polposo
Agridoce, viçoso, emoliente
Esse arbusto tão da vossa estima
Ofertado às vossas bocas
Ruminantes!
E depois de terem bem digerido
O divinal repasto, dormi
Dormi, dormi…
Ao acordarem, terão o prazer
De operar o milagre
Da transmutação
Das heráldicas folhas
Em perfumadas bostas!




         

sábado, 3 de junho de 2017

EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS - 13

[Extraído do livro «Exercícos Espirituais, 1985, Ed. MIC (Estoril)]

LÁBIO A LÁBIO

  

Todos nós vivemos na solidão
Todos nós precisamos de Deus
Todos nós precisamos de amor
Mas, sabendo amar para além
Da clausura de nós próprios
Até pelas mãos dos proxenetas
Nos podemos redimir.

A troco de quê me confinam
Aquém do paraíso dos loucos,
Do asilo psiquiátrico?
Mísero pão, sabor a cinza
Mísero coito, frenesim postiço
Mísero espírito, chalaça de mau gosto
Mísero saber, arroto de escárnio…

Ah, viver o sonho de apenas ser
Testemunho das coisas belas
- Atravessar o fogo para ver
As chamas por dentro
Ah, não temer a tortura,
a privação, a dor, o orgulho,
Por apenas vegetar numa cela
Lendo, sonhando, dormindo
Sem calendário, sem dever
Que não seja o de reproduzir
O ritual quotidiano com se…
O Mundo dependesse do seu gesto

Vamos entrar na zona em que o sonho
Sobe à superfície, como pequena bolha
De gás metano num pântano tranquilo

…    …   …

«Estou dentro do sonho…
Há cavalos que nunca trotam,  só
Galopam, são selvagens!!»
Nas gruas e nos guindastes se vê
(Quem no-la diria?) a canção de gesta
Do meu rio, antes sonhado que
                                                        vivido
                       antes lavrado que
                                                       fendido
Canção, canção, sempiterna ronda
Do berço à cova
Não te faltam sequer as lágrimas
Para ajeitares o verso
Ao choradinho das violas…
Não lamento ter encalhado aqui
Por vezes, o silêncio vale um verso
Mas se te queres aventurar
Por serras bravias,
Pensa duas vezes antes de compores
O farnel: não valerá uma bolota,
Um livro de orações?

- Pró resto, ficam as vetustas amarras
Dos Hilotas e dos Guaranis
O que, bem vistas as coisas, não destoa
No ciclo de lendas dos Bosquímanos

E depois, que querem?!
De «tempestades iracundas» já está
O vento farto. E gastas as
Covas onde se poderiam  esconder
As nossas carpideiras!

Nas falhas de … memória está a salvação
Ó delicioso vazio, amnésia benfazeja…

-Porquê, porquê, digam-me se souberem,
Porque razão é mais fácil esquecer
O prazer do que a dor?
… Um dia, vi uma velha ser
Atropelada e seu crânio romper-se
Como uma casca de noz
Nas pedras da calçada
Os restos de miolos…
Os olhos exorbitados…
Vi, juro, esta cena e porque
A inventaria se me irrita
Confessar que ainda me causa arrepios?!


Exibimos para exorcizar:
Não sabemos afastar o medo

Dos lobos, senão imitando-lhes
O uivar.
Nos contos de fadas há tanta
ou mais sabedoria
Que nos tratados de Freud, Lacan
                   & companhia!

A forma dura, se dura;
Não se deforma e perdura
Nos sinetes dos diáconos
Podes ler na moldura
A frase «Soli Deo Gloriam»
Com a qual assinam
Cheios de candura
Decretos de investidura
Onde se legitima a tortura
Quando esgotadas as formas
Paternais de brandura.

Sonho sabido de cor, mas sempre novo;
Depois do Cosmos, o Átomo
Depois do Átomo, o Cosmos
O pulsar galáctico
A vibração molecular
Sonhar sem rede, se jamais
Me perdi, não o devo a qualquer
Virtude, mas apenas à necessidade
De reproduzir na íntegra…
A Génese…
(Bom, inda não cheguei ao fim)

A solidão é necessária,
Como necessária é a virtude
De amar para além dos muros
Que enclausuram nossos Deuses.





sexta-feira, 2 de junho de 2017

EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS - 12

[Do livro «Exercícios Espirituais, 1985, Ed. MIC (Estoril)]

EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS

1-      Encontrar o ponto de equilíbrio entre um rosto e uma paisagem. Depois, fechar os olhos e desenhar esse conjunto, até ao detalhe. Recomeçar tantas vezes quantas as necessárias para que a imagem real se sobreponha à imagem mental.

2-      Fechar os olhos em posição horizontal, relaxada. Sentir a pressão de um dedo em diversas zonas do corpo, sem fazer um único gesto. Quando se atinge um estado em que a sensação imaginada parece física, recomeçar mas – desta vez - usando o dedo para confirmar o realismo das sensações corporais.

3-      Em condições de completa relaxação física, deixar os pensamentos fluir livres pela mente. Captar um desses pensamentos, concretizá-lo sob forma de uma frase, modulando em seguida a sua expressão do modo mais variado possível, dando diversos matizes à mesma ideia; por fim, relembrar todas as formulações encontradas e transcrevê-las. O mesmo se pode fazer com uma frase musical.

4-      Ler as horas, os minutos e os segundos num relógio (silencioso). Imaginar que se está a visualizar a progressão do tempo sem olhar o relógio. Após ter decorrido um tempo avaliado em X (10 minutos, por exemplo), ler de novo as horas e comparar o intervalo de tempo decorrido com a estimativa mental.

5-      Com as pálpebras cerradas, mas sem contração, mover os glóbulos oculares circularmente, de harmonia com o ritmo respiratório.

6-      Em posição horizontal, descontraída, olhos fechados, sentir o peso das diversas partes do corpo até todo ele parecer muito pesado.

7-      Num estado de total vazio interior, imaginar uma esfera branca, lisa, sobre um fundo branco; não existem sombras nítidas visto que a esfera não se encontra em frente de nenhum plano sólido. Imaginar a diminuição da esfera até ao limite de visibilidade, ou seja, até à sua transformação em ponto.

8-      Após audição atenta de uma obra musical, tentar ouvi-la mentalmente do princípio ao fim.

9-      Refazer pela imaginação um trajeto habitual, por exemplo, entre casa e o trabalho, supondo que se utiliza o meio de locomoção do costume e de molde que as imagens surjam na sequência idêntica às do percurso real.







quinta-feira, 1 de junho de 2017

EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS - 11

[Extraído do livro «Exercícios Espirituais», 1985,Ed. MIC (Estoril)]

SENTENÇAS


1-      Descalça as botas antes de trepares aos telhados.


2-      A névoa envolve as encostas da montanha; no entanto, o seu cume resplandece sob o Sol.


3-      Não tires à mulher a sua ilusão; todo o amor que lhe possas dar será em vão, se teimares em abrir-lhe os olhos.


4-      A poesia nasce, cresce e morre; os poetas passam – suas vidas valem pelo que produziram.

5-      Uma árvore expande os seus troncos na medida necessária para optimizar a captação de luz pela folhagem, não despendendo porém demasiada energia para extrair a água e os nutrientes do solo e levá-los desde as raízes até às folhas.


6-      Nas coisas da natureza, o Tempo não é linear, mas complexo; embora o tempo não esteja inscrito nos organismos, estes são relógios cuja batida está regulada por factores internos, esses sim, complexos. Não se pode confundir o relógio com o tempo – o instrumento de medição com a coisa medida – no entanto, assim como pode parecer-nos que as horas voam, ou que, pelo contrário, que o tempo custa a passar, também se pode admitir que os diversos relógios naturais estejam regulados de modo diferente, de tal maneira que, num caso, uma hora valha um século (bactérias) ou que, noutro caso, um século valha uma hora (processos à escala geológica).

7-      No amor,
o idealismo consiste em amar a essência,
o materialismo em amar a volúpia,
o cepticismo em não amar,
o dialecticismo em amar a transição do momento de volúpia em momento de essência e vice-versa.