sábado, 8 de abril de 2017

O JOGO DO PODER É SEMPRE «OBSCURO»


Quando ouvi, manhã cedo de sexta-feira, dia 07 de Abril de 2017, as notícias do ataque americano com mísseis contra a base aérea síria, fiquei muito chocado e realmente custou-me muito compreender o que se estava a passar. O facto de haver um «pretexto» para tal ataque era demasiado cru, uma falsa bandeira demasiado evidente (ver aqui  e aqui). 
Por outro lado, isto mostrava que esta reviravolta na política externa da maior superpotência militar do planeta fora cuidadosamente planeada, não fora uma resposta intempestiva, não fora um acto «estúpido», pelo menos dentro da lógica do jogo de superpotência que tem sido o dos EUA.
A dificuldade em compreendermos o que motiva uma aparente reviravolta na conduta de um assunto tão importante na política externa americana não devia nos surpreender: o jogo do poder é sempre «obscuro».

Mas, «como gato escondido com rabo de fora», existem pistas que permitem aceder à lógica interna dos que realmente decidem, ou seja, do «Estado profundo», composto por uma série de conselheiros, de peritos quer oficiais, quer informais, que acabam por moldar de forma decisiva a política em Washington.
Nomeadamente, estes são adeptos da velha teoria geoestratégica de MacKinder estudada,  aplicada e actualizada por muitos dos estrategas, nomeadamente por Henry Kissinger .
Neste contexto, deu-se a junção concreta do «Estado profundo», dominado  pelos neocons, com o complexo militar-securitário (englobando Pentágono, CIA, NSA e outras agências, assim como a indústria de armamento, a única que não foi desmontada e exportada para fora dos EUA). 
Os neo-conservatives ou neocons  constituem um grupo responsável por grande parte do que se vem passando desde as presidências de Clinton, W. Bush,  Obama e, agora, Trump. 
Este grupo, contendo ex-esquerdistas decepcionados com a revolução e pessoas que sempre foram duma direita ultra conservadora e imperial, considera que o facto de os EUA terem «ganho» a Guerra Fria, ficando como única verdadeira superpotência, lhes dá «historicamente»  o direito e mesmo o dever moral de manter essa hegemonia (dita «benevolente») e de esmagar qualquer poder que tentasse resistir e sobretudo crescer, ao ponto de se tornar concorrente potencial ao primeiro lugar.
Tinha eu infelizmente razão ao afirmar, na sequência da vitória de Trump a 8 de Nov. de 2016, que este era apenas outra facção dentro da oligarquia que comanda nos EUA. Note-se que este ponto de vista é partilhado por Chomsky, como se pode claramente ver nesta entrevista de Chomky a «Democracy Now».

Sendo assim, pode-se compreender que os EUA vão provavelmente vogar entre uma política de apaziguamento para com a Rep. Popular da China, tentando desactivar «o fusível da bomba nuclear» da Coreia do Norte, ao mesmo tempo que vão fazendo uma chamada contenção activa contra a Rússia.  O objectivo será separar os dois gigantes continentais. Estes, em situação de rivalidade serão incapazes de colocar em risco a hegemonia americana. 
Penso que poderá ter sido este, o conselho estratégico dado por Kissinger (e outros) ao presidente e sua equipa, recém-chegados à Casa Branca. 
Kissinger aplicou esta mesma estratégia como responsável directo da diplomacia na aproximação espectacular com a China «comunista» de Mao, nos anos 70, contribuindo para o azedar cada vez maior de relações entre os gigantes «comunistas» da URSS e da China.
Mas, atualmente, se observarmos as relações entre Rússia e China, veremos que não existe contencioso entre eles, contrariamente aos anos 70 do século passado, em que havia - de modo endógeno - uma série de fatores de conflito. 
Nos anos 60 a URSS passava pela fase do degelo pós-estalinista, enquanto a direcção chinesa glorificava Estaline e encetava o culto da personalidade do Presidente Mao, acusando de revisionismo os dirigentes soviéticos. 
Foi nessa altura eliminada grande parte da velha-guarda do partido comunista chinês,  durante a Revolução cultural. 
No presente, tanto a Rússia como a China, são governadas pragmaticamente. Ambos os governos possuem a visão de que os seus interesses geoestratégicos convergem necessariamente. Além disso, têm toda a vantagem em cooperar, são naturalmente complementares em muitos aspectos das suas economias.

Segundo o projecto dado a conhecer em 1999, intitulado PNAC (manifesto dos neocons, consultável aqui ), o século XXI vindouro, seria o da América. Este projecto recebeu, sem dúvida, grandes impulsos para a sua concretização. Não recuaram perante nada para o fazer avançar, desde a guerra do Kosovo, até ao «inside job» do 11 de Setembro de 2001 e consequente estado de guerra permanente instaurado. 
A cascata de intervenções dos EUA e aliados, os focos de guerra por eles acendidos ou atiçados, são situações que se eternizam, com destruição profunda das sociedades. Qualquer destas situações foi planeada, foi desejada: 2001 Afeganistão, 2003 Iraque, 2007 Líbia, 2011 Síria, 2014 Ucrânia…
O estado de guerra permanente é uma loucura que está arrastando americanos e seus súbditos da NATO, ao mesmo tempo que causa um rasto de sofrimento e destruição inextinguível na memória dos povos-vítimas.  

Por outro lado, existe a Organização de Cooperação de Xangai, que não é uma organização do tipo da NATO, não é um pacto militar, mas uma estrutura flexível destinada a «combater o terrorismo». Ela vem desempenhando um papel de aproximação e harmonização dos exércitos de vários países da Eurásia e dos sistemas tecnológicos respectivos. Os BRICS, o Banco Asiático para o Desenvolvimento, as novas Rotas da Seda, são vários aspectos dessa cooperação fora da hegemonia EUA/Europa ocidental, que se tem traduzido em áreas de cooperação bilateral diversas, com projectos de infra-estruturas, de comércio, de transporte de matérias primas, de oleodutos e gasodutos.


Assiste-se portanto à tentativa desesperada do «híper poder» americano em manter a sua hegemonia sobre um Mundo que não pode ser senão multipolar. 

A razão, o bom senso e o realismo deveriam levar todos os governos dos países mais poderosos a aceitarem o mundo tal como ele é, não de acordo com os sonhos de poder, revestidos de ideologias talhadas a preceito.  

sexta-feira, 7 de abril de 2017

ABRIL. ACORDAI !!!

Extraordinário poema de José Gomes Ferreira, musicado por Fernando Lopes Graça, foi um dos grandes trechos de apelo da resistência ao fascismo que durou 48 anos neste Portugal. 

Mas o cântico coral em geral, é um dos maiores exercícios de cidadania, de autodisciplina, de solidariedade, de altruísmo. 





Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz

Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações

Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!

Música: Fernando Lopes Graça
Poema: José Gomes Ferreira
Interpretação: Coro de Câmara Lisboa Cantat.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

VALOR DO DÓLAR AO LONGO DUM SÉCULO


RETIRADO DE ZERO HEDGE: 



Um video que explica realmente o que é o dólar e porque é que não há nenhum esclarecimento ao cidadão sobre isso:


                                           

terça-feira, 4 de abril de 2017

HIPOCRISIA E IRRESPONSABILIDADE DA CASTA MILITARISTA OCIDENTAL

entrevistado - senador Richard Black -  não podia ser mais claro. 
Extraordinária peça de lucidez e coragem, desmontando o «Estado Profundo» e a natureza criminal do regime de Obama.






segunda-feira, 3 de abril de 2017

CANÇÃO DERRADEIRA (Obras de MANUEL BANET)

Um longo poema que escrevi, há mais de 25 anos, num retiro, frente ao mar.


CANÇÃO DERRADEIRA



I


Tensão geratriz de movimento, azul – sentir de oceano encrespado
Nota voraz em perseguição da dúvida, laço de espuma da memória,
Ocaso sem brilho de trompas ensanguentadas, esquecimento fortuito,
Tango de passo trocado
Fôlegos infindáveis de vendavais nocturnos; castiçais de alabastro lascado
Corrida desenfreada de espectros teimosamente presentes
Vaga sensação de vertigem no refluxo de um olhar
Nova descida ao silêncio do corpo
Gotejar de suor em taças de porcelana; figuração amarga
Do sem - sentido martelado na caixa craniana
Esbracejar do vento em troncos mortos, calcinados
Ecos de codornizes nos mecanismos desengonçados de robôs
Feitos palhaços. Multiplicidade de histórias em torno de uma sombra
Projectada.
Paciente coleccionar de secretos oráculos; distância feita de deriva
Em relação à quotidiana necessidade
Invencível arpão de um saber sub – liminar
Súbita vocalização de estrofes numa língua jamais ouvida
Continuidade da evidência nas asas de uma borboleta tardia
Necessária aplicação de máscaras sorridentes, delimitando vazios
De subterrâneos pestilentos
Vacuidade de cadeiras no teatro dos murmúrios; tratados de
Necromancia a boiar em lagos de chumbo
Ressurreição de colchas acetinadas sobre falésias desérticas
Rugir de vozes em grutas escavadas pelo oceano
Movimentos incertos nos tendões da claridade



II

Mais fácil seria sentir o Universo
Que um grão de areia de encontro à janela
Mas os vidros espessos da miopia
Embotaram a nossa capacidade de sentir
Porém, mil janelas tem o nosso ser
Quando a outros se associa

Diz-me tu, presa dos teus próprios afazeres
Não sentes no respirar que a vida principia?
Encontrar nos gestos simples prazer tamanho
Que mais não se deseje da vida
Eis um princípio que não desdenho
Para nele minh’ alma encontrar guarida


III

Eras tu que meu ser procurava
Eras tu, agora me dói a certeza
Tua frágil e tranquila nobreza
Tua ternura que tudo transmutava

Bem pode o presente se apagar
Pois se o destino nos afastou
Que me importa onde estou
Só a saudade me vem magoar

Se igual sentir também te obriga
A secretos suspiros -por vezes- guardar
Que eu sofra e assim prossiga

Mas se em ti nada se quedou
Da paixão que nos fez ambos vibrar
Venha a morte, a ela me dou




IV

Nos teus braços conheci a paixão
Um tormento violento e puro
O nosso amor alumiou o escuro
E na noite se fez imenso clarão

Não podes compreender estas palavras
Elas são grito de alma ferida
Que muito chora e não olvida
Os grilhões que no meu peito lavras

A causa deste cativeiro duro
É termos tomado como seguro
Um querer que não nos larga

Foram juras solenes, ilusão perdida
Que me deixou na despedida
Um sabor a doçura amarga



V

Vá-se lá confiar na ventura do amor
Para logo ruir tudo como castelo
N’areia erguido e vir o mar arrastá-lo
Porém, nos amantes grande é o destemor

Vá-se lá construir muralhas de carinho
E logo, sem apelo nem agravo
Se romper ao meio tão doce favo
Como vendaval em pano de linho

Estas certezas que na mente gravo
Se as espalho com a flor do pinho
Riem-se os amantes de mansinho

Ouvir tantas vezes dos outros tal desagravo
Não nos alumia em nada o caminho
Pois o amor dá mais tontura que o vinho




VI

Foi o mundo que apartou
Nossas vidas sem remédio
Não foi cansaço, nem tédio
Não foi o nosso amor que secou

Mas contra tal iniquidade
Bem podemos nós clamar
Mais terrível que o mar
É a fera necessidade

Sofremos desta sociedade
Estranhos rumos nos fazem tomar
Mas não podem nossa alma domar

Não me resigno por vaidade
Não me canso de te chamar
Só desejo de novo te amar




VII

Chora cigarra chora, não retenhas tua voz
Que o desgosto que não chora mais fere
Bem pudeste cantar no Verão; não espere
Ver-te calar o coração, o teu algoz

De todos o mais sentido é teu planger
Não temas os que riem da tua desdita
Não sabem a música que a lonjura dita
Só quem como tu sofreu pode saber

Chora cigarra chora, a canção bendita
Quem ignora teu pranto não acredita
Nas profundas razões do teu sofrer



VIII

Devagar me abraçaste
Teu corpo de encontro ao meu
Como quem dá tudo o que é seu
Minha para sempre te declaraste

Mas passou Primavera e Verão
Vieram os ventos de Outono
Varrendo os instantes de abandono
Puseram a descoberto a ilusão

Ébrio estava, mais pobre fiquei
Tudo cinzento e desolação
Foi quanto restou do que me dei

Tão depressa não perdoarei
Aos ventos loucos a destruição
Deste amor, em silêncio chorarei


IX



Cabelos tão negros, luzidios
Enquadrando um rosto trigueiro
Olhares secretos, fugidios
Fagulhas ateando braseiro

Andar de perfeita harmonia
Gestos não estudados e graciosos
Um falar suave, qual melodia
Secreta dos ventos caprichosos

A meu lado dia e noite estava
Dentro de mim morava esse amor;
Sua ausência, meu peito escava
Sua lembrança aviva mais a dor



X

Sonhei que a meu lado estavas
Num idílico bosque em que os animais
Vinham comer à nossa mão e os acariciavas
E lhes falavas de amor, e nunca era demais
Depois, carinhosamente te enlaçavas
A mim, recitando secretos rituais
E alegres jogos comigo inventavas
Renovando sempre os prazeres sensuais

Porém um dia trouxeste-me frutos tais
Como maçãs, mas não eram, suspeitavas
Que eles nos tornariam seres mortais
Mas a morte, o que era? Perguntavas...

Foi então que acordei nas trevas
Angustiado para te dizer que valia mais
Ficar no bosque do que – almas escravas –
Arrastarmos a certeza de nossos finais

E ao acordar quem é que julgais
Que à minha beira se encontrava?
Era um anjo: sonhamos viver neste cais
Depois, rompe-se a amarra que nos entrava
E vogamos no oceano
Da serenidade numa jornada
Que por ser infinita
Nos faz despertar imortais
Livres na contemplação
Do Universo, a distância é nada
Como nada serão
Nossos sofrimentos actuais.


XI

De tudo longe vou vivendo

Olhar vago, gestos ausentes

Só do passado me socorrendo

Para calar meus males presentes

Viesse nesta sombra raiar novo dia

Convidando-me a prazeres e sorrisos

Ainda assim saudoso me quedaria

Na penumbra de contornos indecisos

Pois se triste é a lembrança

De perfeita ventura perdida

Pior seria uma falsa esperança

De renascer para nova vida

E de julgar que na mudança

Se obtém a cura pretendida



XII

Eras tu que meu ser procurava

Eras tu, agora me dói a certeza

Que a lembrança mais escava

Neste peito destroçado pela tristeza

Que me importa agora a formosura

Se vivo apenas deste sofrimento

Sabendo que deste mal não tenho cura

Desta paixão não há esquecimento

Prefiro guardar memória do passado

Que abrasou nossos corpos e almas

Por muito que amor me tem magoado

E por este destino ter conhecido

Já não desejo mais do que as calmas

Eternas, ao pé de ti adormecido


domingo, 2 de abril de 2017

SERIAMENTE, O REINO DO DÓLAR ESTÁ A CHEGAR AO FIM





Quando Nixon decretou unilateralmente que o dólar deixava de ser convertível em ouro (a cotação fixa da onça de ouro era de 35 dólares), fez ruir o sistema de Bretton Woods, em que as diversas nações tinham as suas divisas indexadas ao dólar, porque este era convertível em ouro e, portanto, todas as divisas indirectamente também estavam ligadas ao padrão-ouro.
O sistema de câmbios flutuantes, que se seguiu, foi factor de variação especulativa das diversas moedas, inclusive do dólar, acrescentando incerteza a algo – a economia- que, por natureza,  já era incerto.
Mas o dólar continuou a reinar, como moeda de reserva, devido ao acordo firmado entre Kissinger e o rei Saudita, em como os preços e pagamentos de «crude» saudita seriam feitos exclusivamente em dólares, sendo garantido – em contrapartida- um apoio incondicional ao regime, o qual, lembremos era o mais obscurantista e despótico dentro dos países árabes. Todos os potentados produtores de petróleo tinham, na prática, que seguir o acordo EUA-Saudita,  moldando até hoje a política de todas as nações exportadoras de petróleo, com a excepção da URSS/Rússia. 
Os que tentaram sair desse exclusivismo do dólar, pagaram com sua vida (Saddam Hussein, Muamar Khadafi) e seus países foram devastados, suas populações massacradas, a guerra civil fustigando o que restava deles. Menos sucesso tiveram com a Síria e o Irão, embora os EUA tenham tentado; não desistiram ainda de desestabilizar e suprimir estes regimes.
O estado do mundo não podia ser mais caótico do que hoje em dia, com um império ferido de morte, mas ainda suficientemente poderoso para desencadear guerras mortíferas ou  para desestabilizar as fronteiras de seus adversários (Ucrânia, sujeita um golpe fascista em Fev. de 2014 e Sul da China, palco de provocações da US Navy junto a territórios insulares contestados pelos filipinos e pelos vietnamitas).
Neste contexto, concretizou-se a aceleração de um noivado entre os gigantes  Rússia e China, em que ambos tinham interesse estratégico, complementaridade económica e fronteiras comuns vastíssimas.
Agora, temos conhecimento de que os respectivos Estados irão transaccionar sem o recurso ao dólar, usando «trade note», ou seja, notas comerciais convertíveis em ouro. Por exemplo, um carregamento de petróleo e um carregamento de bens electrónicos são trocados: a diferença entre os dois será saldada em Yuan, sendo que se usará uma nota de crédito comercial convertível em ouro. Assim, o Estado Russo, por exemplo, poderá cambiar em ouro uma certa quantia de «trade note» no Mercado de Ouro de Xangai. 
A partir deste momento, o dólar deixa de entrar na equação. Os russos e chineses argumentam com as vantagens de evitar as flutuações de câmbios, o que é verdade, se pensarmos que o rublo tem sido sujeito a ataques especulativos e tem enfraquecido notoriamente face ao dólar. 
Mas além deste aspecto, existe o facto de os EUA se arrojarem o papel de árbitros e juízes em quaisquer transacções efectuadas usando a sua moeda. Usando sofismas, o sistema judiciário americano penalizou com biliões bancos de países terceiros que tinham – em perfeita legalidade – negociado com o Irão, não nos EUA, mas dentro das fronteiras e jurisdições dos seus próprios países. Ou seja, os EUA impunham as sanções ao Irão, que eles próprios decretaram, como pretexto para vergar à sua vontade política outras entidades (bancos…) de países terceiros, sob ameaça de multa ou de deixar de poder efectuar qualquer actividade nos EUA. 
Na perspectiva dos russos, esta fuga a transaccionar em dólares, tornou-se portanto um desígnio estratégico, não por vontade deliberada de afundamento do dólar como moeda comercial ou de reserva, mas como meio de escapar ao regime de sanções, cada vez mais abrangente e que os americanos continuam a impor aos seus parceiros europeus, usando todas a chantagens possíveis.
Sem este regime de pressão constante, desde a guerra a quente, até às sanções e pressões de chantagem/boicote, os EUA não teriam conseguido manter até hoje a hegemonia do dólar, quer como moeda de reserva, quer como principal divisa das trocas comerciais.
Porém, o reino do dólar está a chegar ao fim: a Arábia Saudita está a aumentar o intercâmbio comercial e de grandes obras com a China, que é – actualmente - o seu principal cliente comprador de petróleo. Não tarda muito que o Reino saudita aceite as notas comerciais denominadas em Yuan e convertíveis em ouro, tanto mais que eles foram espoliados pelos americanos do ouro que estava à custódia de bancos suíços, UBS e Credit Suisse, nomeadamente, os tais que foram sujeitos a multas pesadas.
O dólar não tem nada a garanti-lo, a não ser a força bruta, militar, do maior império que consegue ter a maioria dos gastos mundiais em defesa, com armamento e com as mais de 800 bases militares espalhadas pelo mundo. 

O Império não tem tido sucesso militar/político nos últimos tempos: 
- Tem sido um longo fiasco, o seu envolvimento contra os taliban no Afeganistão, há 16 anos sob tutela da NATO, porém sem qualquer solução política. 
- No Iraque, o governo deste país inclina-se cada vez mais para o lado do Irão. 
- No Iémen, a guerra suja por procuração  - levada a cabo pela força aérea saudita contra o povo, mas com apoio dos EUA - tem sido um fracasso. 
- Não se pode falar de vitória em relação à Líbia, em que a coligação «ocidental» destruiu um país, mas onde não existe solução política devido à interferência constante dos «ocidentais». 
- O envolvimento dos EUA, Sauditas, Quatar, Turquia e outros, na criação e propulsão do «Estado Islâmico», que desestabilizou o Iraque e a Síria, está agora mais que evidente para todo o mundo. 

Nada do que se tem passado nos últimos dois decénios, no Médio Oriente, significa uma vitória material ou, sequer, moral dos EUA e seus súbditos.

Como não têm infraestruturas em bom estado, indústrias transformadoras, nem algo de realmente interessante para exportar além de filmes de Hollywood e armamento, terão necessariamente de chegar a um ponto de ruptura, pois não poderão continuar sempre a emitir dívida e inundar os mercados financeiros com essa dívida, como se ela valesse qualquer coisa. 
Os chineses e outros dizem, com razão, que os americanos lhes compram equipamentos, matérias-primas, toda a gama de produtos industriais, pagando com uma moeda de «Jogo Monopoly».

Não há dúvida que existem certos factos demasiado pesados para serem omitidos.
Vai tornar-se mais e mais óbvio que os EUA estão completamente falidos, que a sua dívida é impagável e que os juros da mesma não podem senão subir, causando a falência de algo tão importante como o seu sistema de pensões. O conhecimento da falência de vários fundos de pensões, de sistemas de fornecimento de água, do péssimo e inoperante sistema de saúde mais caro do mundo, são hoje tão evidentes, que nem os mais ardentes defensores do sistema o contestam, limitam-se a omitir os factos. Mas os que têm preocupação em chegar a um retrato verdadeiro da situação, apenas têm de «juntar os pontos entre si».
Este império é um edifício que parece sumptuoso e poderoso à distância, mas que está cheio de rachas e de pequenas avarias, que se vão tornando mais graves, porque a reparação não é possível ou mesmo que fosse possível, implicaria reduzir privilégios dos «0.1%».

Na realidade, não existe vantagem em países pequenos se encolherem à sombra ameaçadora do «Tio Sam» ou de outra super-potência. Terão futuro, somente se tomarem seus destinos nas suas mãos, emancipando-se duma tutela que apenas significa submissão.
Não significa isto mudar-se de «dono», ou seja passarmos a depender de Chineses e/ou Russos, por exemplo. 
Mas antes, que é possível um pequeno país singrar no Mundo globalizado, sem demasiadas dependências, equilibrando as influências, tratando de obter acordos mutuamente vantajosos com todos (estratégia «win, win»), preservando a sua independência nacional. Esta significa ter autonomia para decidir internamente todos os assuntos que dizem respeito ao nosso povo, tendo força suficiente para resistir a parcerias que implicassem uma vassalagem.