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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

PSICOLOGIA DO DINHEIRO

Tenho refletido sobre as relações entre as coisas reais e as simbólicas, nomeadamente, o dinheiro. Nas sociedades humanas, a partir de certa altura, o dinheiro começou a ter uma importância maior do que eu chamo as relações reais. Não consigo situar rigorosamente na História, talvez seja muito diferente a cronologia de civilização para civilização, mas o facto é que hoje em dia existe uma «crença religiosa», uma extensa adoração fetichista do dinheiro, é transversal a culturas, a civilizações e a outras crenças.

Se nós estamos tão dependentes de pensar tudo em termos de um mero meio de troca, isso deve-se ao facto de sermos quase todos reféns (salvo os caçadores-recolectores que sobrevivem em locais remotos). Reféns de uma civilização mundializada, que coloca em primeiro lugar e como suprema «virtude», possuir e adquirir dinheiro.

Não sou especialista de ficção-científica, ao ponto de saber se algum autor terá construído uma história de uma civilização baseada numa organização sem dinheiro, sem que a unidade de troca seja o objeto supremo de adoração e a razão de ser de praticamente tudo. Admito que sim. Pessoalmente, a minha observação atenta da vida animal (e da biologia, em geral), levou-me a privilegiar o balanço energético, ou seja, o rendimento entre a energia despendida sobre a energia adquirida, como um critério de primeiro plano, para a tomada de decisão.

As células, os organismos, as sociedades e os ecossistemas estão todos sujeitos às Leis da Termodinâmica. Os seus constrangimentos são tais, que ninguém escapa: Alguém, ao ignorar ou ao deixar de agir em função desse simples cálculo implícito, realizado pelos seres vivos, esse alguém está a condenar-se a uma perda de eficiência, no mínimo e isso pode ir até à perda da própria vida.

Somente a espécie humana parece mostrar, em certos  casos, completa ignorância desta realidade física fundamental. A maior parte das desgraças, a um nível coletivo ou individual, estão relacionadas diretamente com essa ignorância.

O enorme esquema fraudulento que dá pelo nome impreciso de «Alterações Climáticas», não é mais do que a utilização do domínio da energia em benefício de uma elite. Ela nem o disfarça de forma muito eficaz, quando se desloca em jets privados às conferências «climáticas».

Não pensem que a «elite» do dinheiro seja muito astuta, muito esperta, muito inteligente. Ela apenas tem ao seu serviço alguns especialistas em manipulação, tais como psicólogos, sociólogos, antropólogos, especialistas em publicidade, que lhes fabricam narrativas adequadas para manter os povos debaixo de um domínio mental, condicionados pelo medo, pelas narrativas catastrofistas, pela ocultação de certos factos e pela distorção de outros, resultando daí uma imagem completamente falsa do real.

A bolha imaginária envolve os indivíduos; tudo tem de passar-se dentro desta bolha, em termos sociais, como se isso fosse a realidade. Uma Matrix, na sociedade do século XXI, manipulável por aqueles que detêm o controle das narrativas e dos meios de persuasão. Não pensem que estes são limitados, eles vão desde a guerra e seus horríveis efeitos, às mais diversas manifestações de futilidade, que enchem as televisões e as redes sociais.

O investir esse símbolo - o dinheiro - de virtudes mágicas, permite ocultar a manipulação pelas elites. Elas controlam praticamente tudo o que é importante, na vida das sociedades: processos produtivos, meios de coerção dos Estados, mecanismos de remuneração e de distribuição. Ao fazê-lo, tornam opacos os muitos mecanismos pelos quais são desviados esses tais meios: Essencialmente, os produtos da sociedade no seu conjunto, transformados em meios pessoais de poder.

Essa elite constitui a casta depredadora, por excelência: não tem como critério senão a conservação do poder, ou a sua aumentação. Pode haver depredação ecológica, pode haver esgotamento de recursos naturais, extinção de espécies e de ecossistemas etc. Mas, a responsabilidade é sempre atirada para a «civilização», para a «sociedade», a «natureza humana». No entanto, é simplesmente resultado do processo de apropriação dos bens coletivos, da privatização de tudo o que é de todos, da Natureza à cultura, em proveito de uma pequeníssima minoria.


O dinheiro tornou-se «totem e tabu» desta civilização, erigido em justificação máxima, em explicação e em razão última para tudo. Mas, isto - obviamente - é deliberado; não é espontâneo; é conseguido pelo condicionamento constante de todos nós.
Se quisermos continuar a ser escravizados, podemos manter a nossa dependência patológica a essa visão mecanicista, ridícula, como muito bem caracterizou B. Brecht num poema,* inserido numa das suas peças de teatro:
«não sei o que é um homem, só sei o seu preço»

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(*)CANÇÃO DO MERCADOR

(letra de B. Brecht; trad. 1974)


Há arroz lá no fundo ao pé do rio

Nas províncias altas as gentes precisam de arroz

Se guardamos o arroz em armazém

O arroz irá tornar-se mais caro para eles

E os revendedores terão ainda menos arroz

Então poderei comprar o arroz ainda mais barato

O que é afinal o arroz?

Sei lá, sei lá o que é!

Sei lá quem o sabe!

Não sei o que é um grão de arroz

Só sei o seu preço


O Inverno chega, as pessoas precisam de agasalhos

É preciso comprar algodão

E não o distribuir

Quando chega o frio os agasalhos aumentam de preço

As fiações de algodão

Pagam salários mais altos

Aliás há algodão em excesso

Em boa verdade o que é o algodão?

Algodão, sei lá o que é!

Sei lá quem o sabe!

Não sei o que é o algodão

Só sei o seu preço


Ora o homem precisa de comer

E o homem torna-se mais caro

Para obter alimento são precisos homens

Os cozinheiros tornam a comida mais barata

Mas aqueles que a comem tornam-na mais cara

Aliás há muito poucos homens

O que é então um homem?

O homem, sei lá o que possa ser!

Sei lá quem o sabe!

Não sei o que é um homem

Só sei o seu preço




quinta-feira, 20 de abril de 2023

DMITRY ORLOV - Lúcido diagnóstico de doença terminal dos EUA

 Abaixo, link de artigo de Dmitry Orlov (em francês):

Artigo original, em inglês:

https://cluborlov.wordpress.com/2023/04/10/the-futility-of-american-protest/


COMENTÁRIO

A minha impressão depois de ler o artigo acima, é que as sociedades da Europa Ocidental estão de tal maneira colonizadas mentalmente (e de todas as maneiras) pelos EUA, que têm vindo a adotar - inconscientemente - a visão americana do mundo e da sociedade, que lhes era totalmente estranha. A mentalidade que se desenvolveu e prevalece nos EUA, é tipicamente derivada do protestantismo de raiz calvinista, na sua vertente mais fundamentalista (puritana). Essa mentalidade acaba por se entranhar nos diversos estratos da população, pois esta tem sido incessantemente matraqueada durante séculos, por igrejas, sistemas de educação, instituições públicas, empresas, publicidade e cultura de massas.

Para mim, uma grande diferença de mentalidades entre um americano típico e um europeu típico, é que o primeiro está convencido de que «God is on our side», leia-se: do lado da América e do povo americano. Ora, esta é uma crença religiosa:  Está na essência do calvinismo e também do sionismo, ao fazer distinção entre «eleitos»  (Deus está ao seu lado), e os outros (estão perdidos, são pecadores, são perdedores...). É um sistema religioso (a teologia calvinista), que está na base dessa ideologia do «povo indispensável». É aí que radica a lógica das igrejas protestantes fundamentalistas, serem as mais intransigentes apoiantes de Israel, como se o estado sionista, racista e colonial, instalado na Palestina, fosse a «vanguarda» do Reino de Deus na Terra.

No que toca à relação das pessoas com o dinheiro, aos aspetos psicológicos desta relação, como muito bem sublinhou Orlov: Nos EUA, o dinheiro é o critério de tudo. 

Em países de raiz católica, como são os países latinos do sul da Europa, a relação ao dinheiro e à riqueza é (ou era) diferente da relação que têm  os cidadãos dos EUA:

- Tradicionalmente, na Europa do Sul, o facto de alguém ser rico, é compatível com ser-se pessoa de bem, se tiver adquirido a riqueza por meios lícitos e morais. Mas não é automático; os cidadãos estão atentos aos casos de enriquecimento à custa de processos nada limpos. 

Por contraste, para a moral comum dos EUA, ter-se muito dinheiro significa que a pessoa foi «eleita por Deus», que despejou sobre ela riqueza, enquanto sinal divino de que ela estava salva.

 Na Europa, uma pessoa rica pode SER, OU NÃO SER, considerada virtuosa. Mas, nos EUA a riqueza só pode ser sinónimo de virtude.



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PS 1: Uma sociedade em decomposição é aquilo que se pode ver, mas não é noticiado nos media mainstream do lado de cá do Atlântico:

https://www.armstrongeconomics.com/international-news/north_america/chicago-is-a-blue-warzone/

terça-feira, 28 de março de 2023

EU VIVO NO PARADOXO

 Se dizes que o mundo é feito à nossa medida, não estarás a dizer que tu és feito à medida desse mundo? 

Não estarás a dizer que o mundo que vês com teus olhos, É O MUNDO QUE TUA MENTE aprendeu  a ver?

Se distingues o ser do não ser isso significa, afinal, que és capaz de dar uma lei ou leis dos seres? 

Nunca pensaste que as ideias que se formam no teu cérebro são tributárias das ideias que flutuam por aí?

O que tem a tua pessoa de excecional, de único? Se todos somos únicos, que sentido tem essa expressão?

Somos todos iguais... Sim, se esta construção pretende ser um abreviado de «termos todos os mesmos órgãos, que funcionam de modo muito semelhante em todos os organismos, desempenham as mesmas funções, etc.?»

Não somos iguais nem únicos, somos iguais e únicos. Mas estas afirmações são simultaneamente verdadeiras:  o problema estará na linearidade do discurso, da forma simplista de traduzir realidades complexas em uma sucessão de sons ou de carateres, o que é sempre uma paupérrima tradução do real.

Se o que te preocupa é a verdade, a autenticidade, a coerência... então instaura regras de bom-senso, válidas para ti, no teu quotidiano. Podem parecer rituais superficialmente, mas são diferentes na medida em que um ritual religioso é algo em que nunca se mexe, é sempre o mesmo na forma e no conteúdo. Enquanto uma regra ditada pelo bom-senso, é sempre modificável, na medida em que uma experiência venha apontar uma incoerência em relação ao fim em vista: levar a cabo uma vida equilibrada e feliz.

Contento-me com uma religião da natureza, onde cabem elementos de todas as religiões, onde cabem também elementos de todas as ciências. Assim, traduzo no tempo presente, aquilo que parecia evidente a São Tomás de Aquino e seus contemporâneos.  

Mas, dentro de mim, não existe qualquer certeza, não existe uma «lei» que diga: Faz isto, não faças aquilo, etc. 

Alguém diz-me, «no fundo tu tens algumas certezas, só que as omites a ti próprio» Ao que respondo, «sim, terei algumas certezas das quais eu próprio não tenho consciência, talvez tornadas inconscientes pela própria mente, ou  que não é possível formular devido aos limites da palavra. Em qualquer dos casos, e como todos os homens, terei de estar no tempo presente, na minha vida concreta; não posso estar sempre ou quase, a fazer introspeção. Tenho de admitir o erro, a contradição e a parte obscura na minha mente.»

  Outros dirão: «precisas de certezas, sem elas vais à deriva, ficas paralisado, podes até cometer crimes ou disparates enormes». Para esses, direi: "se a tua lei interna é tributária da lei externa, podes parecer um cidadão exemplar, ou um crente de uma dada religião, ou um cientista integral, etc. Mas, isso tudo são "capas". Se o teu universozinho se desmorona, tu não saberás como te conduzir. Não há bússola, não há credo, não há manual de instruções, nem receita: terás de ser tu próprio, quer gostes ou não. As grandes transformações na vida das sociedades, fazem vir ao de cima o que há de melhor e de pior, em cada um."

De facto, é impossível sair completamente da subjetividade da língua, quando se passa da linguagem matemática, para outro meio. Mesmo o discurso científico mais rigoroso, é um discurso e como tal, sujeito a interpretação. «O que é que o autor quis dizer com esta frase»? É frequente nos depararmos com esta interrogação, enquanto lemos um texto científico, uma comunicação, um tratado, etc.

Sem cair no subjetivismo, podemos nos guiar por uma certa dose de bom senso, de piloto automático, de empirismo. Sempre fazemos isso, quer estejamos conscientes desse facto, ou não. Mas, a vida seria impossível ou tornada tão complicada, que seria um inferno, caso nós estivéssemos sempre colocando dúvidas metodológicas. Isto não implica, de modo nenhum, que não seja necessário colocar estas tais dúvidas metodológicas, num ou noutro momento da nossa busca, da nossa pesquisa.

Porém, «não somos animais racionais, mas racionalizadores» (Robert A. Heinlein): quer dizer que nos julgamos racionais, mas agimos com frequência impulsionados por paixões, por  preconceitos, etc. 

O animal racional, não é sequer desejável. É absurdo, na medida em que se crê igual ou superior a Deus-Natureza. O animal, simplesmente animal, não tem este tipo de confusões. Tais confusões seriam letais para ele, impeditivas da sua sobrevivência e de prosperar o suficiente para deixar descendência (segundo o modelo de evolução darwiniana, ou outro). Os reflexos, as cadeias de ações estereotipadas, etc. são comportamentos tão selecionados e herdados, como as características físicas dos animais. 

Nós - humanos - não somos destituídos de reflexos, mas somos tributários de uma longa aprendizagem, que tem como principal objetivo, não confessado na maior parte dos casos, fazer com que entremos dentro da norma do grupo.

Lamento que as pessoas de hoje não tenham quase nunca um treino em filosofia, não a soma de clichés e de livros de texto, que fazem as vezes de conteúdo dos programas de filosofia, do ensino secundário à universidade. Apenas reforçam preconceitos, de tal maneira, que é mais difícil promover o filosofar em alguém que «tem luzes» (ou seja, que as julga ter!) , do que nalguém que esteja completamente em branco neste domínio. 

Sim, vou ao ponto de ser apologista da ignorância, em vez do atafulhar as mentes jovens com falsos conceitos, falsas certezas, e com visões acríticas e dogmáticas das ciências. É um processo de reprodução do erro, não um processo pedagógico; este último seria algo como encaminhar o aluno a ir - por si só - descobrir os conceitos-chave. 

Primeiro, é preciso perceber o que se deseja; se é a conformidade à norma, ou se é a emancipação, a capacidade de autonomia em todos os domínios, da vida prática aos saberes (incluindo os saberes teóricos, claro). A escola de «massas», do século XIX, XX e XXI é um doutrinamento das «massas».

 Quanto a mim é inútil quase tudo o que «se aprende» em situações de educação formal. Há necessidade de destruir o edifício da educação estatal ou para- estatal, visto que os programas, etc. continuam a ser obrigatoriamente os que o Estado impõe.

A ilusão é contínua, ao se hierarquizar as diversas etapas, do «primário» ao «superior»: uma escala de graduações em que supostamente o aprendiz é cada vez mais apto, até chegar ao topo. Uma perfeita escala hierárquica, conducente a que se veja a vida em sociedade assim mesmo. Há os mais «evoluídos» e os «menos», os que atingiram um grau «mais elevado» que outros, etc.  

A academia e as instituições de ciência (institutos, laboratórios, etc.) estão apenas interessadas em subsistir e prosperar para elas próprias; «sabem» que só o poderão fazer, satisfazendo as exigências do poder, não os «cidadãos em geral», não «os desafios que se colocam ao conhecimento», etc... É preciso distinguir a realidade, dos «floreados» que despejam sobre nós.

O paradoxo é que apenas nós próprios podemos estudar o pensamento de filósofos, sábios, cientistas, prosadores, poetas, etc. usando a nossa curiosidade, buscando quais foram as respostas que eles deram ou esboçaram, etc.. Mas isto tudo, em simultâneo com o desenvolvimento de uma metodologia própria, ancorada na observação do real, não numa tradição, seja ela qual for. Pode-se recorrer a  várias tradições, mas no sentido de extrair delas aquilo que nós consideramos interessante. Isso chama-se apropriação do saber e é completamente diferente do «engolir e regurgitar» que nos impingem como «o saber».


Gosto de contar a história verdadeira de um Jardineiro do Jardim Botânico, da Faculdade de Ciências de Lisboa, que acompanhava as saídas de estudo em Ecologia Vegetal: ele sabia muito mais da identificação das espécies do que os assistentes da faculdade, que acompanhavam os alunos. Era de tal maneira, que eles - assistentes e alunos - iam perguntar-lhe se conseguia identificar uma espécie que  eles tinham dificuldade em identificar. Este jardineiro era modesto, sabia muito, mas não se «armava» por isso. Tinha muito mais prática que qualquer um de nós: sabia distinguir as características das várias espécies de plantas. Fiquei com uma grande lição para toda a vida: vê-lo atuar, em harmonia com os docentes!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

[Göbekli Tepe] PRIMEIRO VIERAM OS TEMPLOS E SÓ DEPOIS AS CIDADES?

PORQUE COMEÇÁMOS COM ATIVIDADES AGRÍCOLAS? 

(Ativar as legendas automáticas em inglês, para melhor compreensão)

«O LABOR DO HISTORIADOR»

15 de Janeiro, 2023

Porque razão os humanos, após milhares de anos de existência nómada de caça e recoleta, decidiram sedentarizar e começaram a cultivar a terra? Esta é talvez uma das mais importantes questões, à qual os arqueólogos têm tentado responder, desde há um século e meio, até hoje. Quanto ao desenvolvimento da agricultura e a Revolução Neolítica, trata-se ainda de outro mistério. 
No Sul-este da Turquia encontra-se um local arqueológico monumental, o famoso e misterioso Göbekli Tepe. Tanto quanto se sabe, o local de Göbekli Tepe, construído após o golpe de frio do Dryas Recente ter acabado, há 11 700 anos, poderá bem dar-nos uma ajuda na resposta às questões. 
O que, por seu turno, origina outra pergunta: O que foi o Dryas Recente e o que é que o causou? Terá sido a drenagem do Lago Agassiz, na América do Norte? Ou a erupção do vulcão de Laacher See, na Alemanha? Ou ainda, teria sido causado por um asteroide ou cometa? 
Esta última teoria, conhecida como «Hipótese do Impacto do Dryas Recente»,  baseia-se na alteração drástica do clima global no fim da Idade Glaciar. Existem muitos detratores e muitos apoiantes desta teoria, desde os mais credenciados cientistas, até opiniões como a de que o impacto varreu uma civilização da Idade Glaciar, defendida por Graham Hancock e por outros na  recente série da Netflix, «Ancient Apocalypse» .

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

UM SONHO



Sonhei que falava com uma águia.

Essa águia tinha vindo para estas terras, não se  sabe muito bem como. O facto é que se libertou dentro do instituto de zoologia, onde um técnico resignado me explicou que ela não queria, de modo nenhum, regressar ao poiso, esvoaçando rente ao teto, nos corredores do instituto. De repente, vi a sua cauda e uma parte do seu corpo, por cima da porta do gabinete onde nos encontrávamos. Não sei o que se passou exatamente, nem por quê, mas o facto é que a águia, decidiu entrar no gabinete e pousar calmamente no rebordo da mesa de observação, ao meu lado. 

Encetou-se então um diálogo entre ela e eu próprio, do qual não me recordo das palavras exatas, supondo que estas fossem pronunciadas. Tenho porém uma ideia clara sobre o que me explicou. 

Ela era proveniente do Sul do Chile, da região Mapuche. Mas, ela não foi capturada; transportou-se por vários meios, creio que numa dimensão de universos paralelos, para o local presente. 

Disse-me, em tom muito simples, que era uma mulher-xamã. Para ela, as propriedades de transformação em águia, o animal totémico, eram muito naturais, não precisava de ingerir nenhuma substância, apenas bastava invocar a Divindade Universal num ritual secreto, invisível, que a propagava a velocidade maior que a luz para qualquer ponto e na forma em que o Espírito Cósmico decidisse. 

Fora Ele que a transportou para junto de mim. Claramente, Ele desejava que eu tomasse conhecimento de algo. Ela, então, transformou-se instantaneamente em mulher indígena, aparentando cinquenta anos, vestida com roupa muito simples, tez de bronze e olho de azeviche, brilhando de simpatia e inteligência.

Não recordo muito bem as palavras exatas do nosso diálogo. Mas posso garantir que foi de grande ternura e compreensão recíproca, como entre irmão e irmã. 

Ela explicou-me que todo o povo Mapuche estava em risco de extinção, mas que não atribuía especial papel à sobrevivência da sua etnia e cultura ancestrais, senão na medida em que nós todos, povos ancestrais, das tribos e religiões do Mundo, estávamos a sofrer o mesmo perigo: O perigo de sermos escravizados e destruídos por entidades diabólicas, que tinham concentrado enorme poder tecnológico, financeiro, político e militar. 

Este grupo de oligarcas  concentrava mais poder, do que os Estados mais poderosos do planeta.  Presidentes e chefes de governo vinham prestar vassalagem e receber instruções dos emissários destes oligarcas. 

Para eles, a Terra e todos os seres  nela vivendo, tinham de ser submetidos ao seu poder. Estavam cientes de que podiam decidir sobre todos os assuntos relevantes, usando uma coorte de submissos cientistas, de ambiciosos economistas e de políticos, que se dedicavam a transformar o Mundo em território onde a «elite» conservasse o poder para sempre, onde não houvesse sequer uma hipótese de rebelião, tendo os povos sido disciplinados e homogeneizados, para desempenhar as tarefas que lhes eram atribuídas por eles. 

Tinham esse projeto e assumiam-no, tão confiantes estavam nele, que o enunciavam de modo muito claro em documentos e pela lógica dos seus atos.  Graças a psicólogos e sociólogos seus lacaios e utilizando o seu controlo dos meios de comunicação de massa, tinham convencido vários povos a lutarem, não pelos seus reais interesses, pela melhoria das suas condições, pelo seu bem-estar e da sua descendência, mas pelos objetivos de destruição, conquista e domínio sobre todos os que estivessem em contradição com os projetos megalomaníacos dos senhores do mundo.  

Porém, os poderosos deste mundo, não tinham o Espírito Universal do seu lado. Este, estava nos corações de membros de cada nação, de cada etnia. A semente de divindade estendia-se também a todo o mundo natural: Animais, Plantas, Elementos minerais. 

Pois o Universo estava bem acima da vaidade e desejo de domínio de alguns homens, por muito ricos e poderosos que fossem. Era o Universo, através dos seus filhos e filhas, em cada povo e cada tribo, que estava a atuar. Por isso mesmo, os planos da elite, com seu culto satânico, acabavam sempre por ser desfeitos, por mais recursos, dinheiro, homens, meios técnicos que investissem para os realizar. 

Era então nosso dever, de mulheres e homens que conservavam a verdadeira Religião Universal, fosse qual fosse sua manifestação concreta, a se juntarem, difundindo a verdade aos que estavam confusos, enganados. 

Mesmo que esta tarefa parecesse sobre-humana, o facto de que mais e mais pessoas saíam do estado de hipnose e congelamento da inteligência e sensibilidade, devia-se afinal, à constante difusão da força espiritual, que não se manifesta com canhões, mísseis ou contas bancárias, mas com Energia Divina, banhando os corações humanos. 

Não havia nenhuma fatalidade da Terra e seus povos caírem na escravidão, derrotados por este grupo reduzido de poderosos oligarcas. Mas, a lição do passado histórico ensinava-nos que, embora de maneira transitória, grande violência e opressão podiam abater-se sobre a humanidade, se esta transigisse consigo própria e não cumprisse o seu papel. 

Foi esta a essência do que contou a águia mapuche ao velho professor que escreve estas crónicas. Ele apenas tentou descrever, com seus meios limitados, o colóquio impressionante e os ensinamentos que recebeu durante o sonho. 

Oxalá que todos os leitores recebam esta mensagem e pensem como se devem comportar para contribuir para a libertação do género humano.

 

sábado, 23 de abril de 2022

Ucrânia/Palestina - dois pesos, duas medidas





 VIOLÊNCIA nunca é justificada contra pessoas pacíficas que estão a celebrar uma cerimónia religiosa. 

Apenas as pessoas que no Ocidente pretendem ser quem define o que é e qual a gravidade duma «violação dos direitos humanos», pode aceitar o que se passa há meio século na Palestina ocupada por Israel, uma guerra de extermínio, um genocídio, contra o povo da Palestina.

E tudo isto, conta com a conivência, aprovação e apoio concreto, sob forma de muitos milhões de dólares, muitas armas e equipamento de guerra, constante violação dos direitos mais elementares contra um povo indefeso. 

Porque é silenciado tudo isto? Porque só interessa, se for para reforçar a posição do «Império Yankee», ou os seus «reinos vassalos», mas não lhes interessa realmente o destino das pessoas concretas.

Tanto os civis ucranianos, como palestinianos, devem ser aliviados e poupados de toda a violência; não há violência contra civis que seja tolerável; não existe guerra - de baixa ou alta intensidade- que não cause (muitas vezes, uma maioria) vítimas civis.

A visão das pessoas é enviesada por uma insidiosa campanha de lavagem ao cérebro, com a assimilação de povos inteiros como sendo «justos» ou «injustos», «amigos» ou «inimigos», etc. 

Este tipo de raciocínio, propalado constantemente pela media e pelos governos, tem um efeito devastador; é um elemento que permite a continuação de atos cobardes e assassinos. 

Torna impossível qualquer solidariedade ou mero respeito pela «civilização ocidental» e por consequência, connosco também, da parte dos povos das nações que foram oprimidas pelo colonialismo, o chamado Terceiro Mundo. 

Já viram aquilo que os dirigentes e os media ao serviço do grande capital estão a fazer, na indiferença total, permitindo a continuação do sofrimento do povo Palestiniano? E que três quartos do mundo veja as manifestações de solidariedade de povos europeus com o povo ucraniano como hipócritas?? 

quinta-feira, 24 de março de 2022

MEDITAÇÕES DE UM SOLITÁRIO [OBRAS DE MANUEL BANET]

Estou certo de que existe esse inconsciente de que a psicanálise fala. Parece-me ser a emanação espontânea das pulsões, que todos experimentamos em nossas vidas. Freud hipertrofiou as pulsões sexuais, talvez devido ao seu próprio psiquismo e ao dos seus pacientes. As pulsões dominantes, porém, relacionam-se com o medo da morte, da perda da integridade física, com a conservação do indivíduo e da sua subsistência. No meio social afluente de Viena do início do século XX, as pessoas não se sentiam particularmente ameaçadas, na sua integridade física e na sua subsistência.

A histeria social desencadeia-se de modo semiautomático quando estão reunidas certas condições: A imaturidade, em indivíduos de ambos os sexos, na idade adulta, que foram condicionados a achar que tudo lhes é devido, sem terem de contribuir, de uma ou outra forma, para a sociedade. A ausência de referentes positivos, no que toca ao comportamento. Os referentes, são somente pessoas que enriqueceram ou que se tornaram muito populares. Junte-se a isto, uma infantilização deliberada e constante da cidadania, conjugada com o falsear do debate na média, através de técnicas de manipulação. Os elementos referidos acima, estão na base de 90% das formas de manipulação social das emoções.

As poucas pessoas que escaparam a essa "lobotomia social", seja qual for seu substrato ideológico, serão incapazes de ter uma influência regeneradora no seio da sociedade: Algumas adotarão um quixotismo que os impele a brigar dentro ou fora dos partidos tradicionais. Estas pessoas estão destinadas ou a serem relegadas para a marginalidade cívica, pelo chamado "assassinato de caráter ", ou - como alternativa - servirão como "idiotas úteis" de partidos.

Estamos a anos-luz dos regimes delineados nas constituições, dos vários países  da Europa, embora tal não pareça: Pode-se ver tal degradação em países fortes ou fracos economicamente, grandes ou pequenos, com população culta ou inculta, homogénea ou plurinacional. Todos estamos perante o mesmo fenómeno, porque a difusão da falsa informação  predomina, porque quem está no controlo os meios de informação não precisa de suprimir fisicamente os seus opositores, como nos regimes totalitários do passado. Basta que as suas vozes estejam sujeitas a blackout. Se isso não chegar, usam  a difamação maciça nas redes sociais. Alternativamente, podem comprar vozes dissidentes, de maneira que aparentem continuar a sê-lo, mas sem causar real prejuízo.

O desfigurar dos sistemas de democracia liberal efetua-se por dentro. Seus sabotadores estão no seu centro. Conscientemente, ou não, fazem o papel de seus piores inimigos. Ao serem corruptos, ou transigirem com a corrupção, ao manterem-se graças ao clientelismo, ao comportarem-se como se fossem "monarcas de Direito Divino", em vez de assumir o papel de mandatários, etc. 

Quando toda a política se degrada em politiquice, as pessoas íntegras, nos diversos quadrantes, afastam-se por si próprias, ou são arredadas. Os medíocres, os arrivistas, os oportunistas, os sociopatas têm então sua oportunidade de ouro, os seus  momentos de glória.

Não se pode saber a forma exata da política no futuro. As classificações como fascismo, comunismo, democracia, nacionalismo, etc. não ajudam grande  coisa. Sei que estamos num momento de viragem. Já o sentira há muito tempo, já o tenho exprimido várias vezes neste blogue. Porém, agora oprime-me pensar que as mais negras distopias são verosímeis.

 Tudo o que há de mais abjeto vem à superfície, nestes tempos. A abjeção resulta do facto de que as pessoas estão completamente destituídas de valores, duma forma ou outra de moral. Devemos antes falar de ética, pois a moral invoca necessariamente conformidade com a sociedade. Ora, muitos - pensemos em Sócrates ou Jesus, e tantos outros no passado - foram considerados contrários à moral do seu tempo, ou à maneira de pensar dominante. 

Perguntareis: Quem és tu para te fazeres difusor de sabedoria, duma visão profética, de soluções para os males que afligem a sociedade? 

É uma pergunta legítima. «Eu sei que não sei» e que estamos, quase todos, num mesmo grau de ignorância. Mas, no meu entender, o estudar os fenómenos do passado, adotando um pluralismo deliberado, ou seja, não nos autolimitando a uma corrente de opinião, seja ela qual for, parece-me o melhor para não cairmos nas ilusões, nos cantos das sereias das ideologias. 

O pior inimigo da nossa clarividência, do rigor do nosso pensar, somos nós próprios: Seria bom que as pessoas se debruçassem sobre o que dizem os mais eminentes intelectuais (que os há, sempre) do campo contrário ao nosso.  

Acredito que os profetas da Bíblia e os outros, foram pessoas clarividentes, que tinham uma inteligência aguda do que se estava a passar nas suas sociedades e conseguiram chamar a atenção do seu povo. 

Diz-se que não há bons profetas no seu próprio país; que os santos e os profetas são sempre de fora: Esta ideia tem por base um certo desprezo das pessoas, por tudo o que lhes seja demasiado familiar, não conseguindo distinguir valor, talento ou génio, em pessoas que estejam próximas. Será porque se desencadeia um mecanismo de inveja, a maior parte das vezes inconsciente e, portanto, mais forte? 

Tudo o que vem do estrangeiro tem um certo fascínio, sobretudo se trouxer consigo a auréola do «sucesso». Isto passa-se a todos os níveis em Portugal, um país muito «aberto» ao exterior, mas muito pouco atento aos valores que brotam no seu seio. Mas, o contrário disto não é ter um comportamento xenófobo. Devia-se adotar uma avaliação crítica de uma produção, seja qual for a sua origem. Não faz sentido, nas letras, nas artes, nas ciências, haver «preferência nacional». Mas, também não faz sentido manterem os valores de um povo, de uma nação, injustamente ignorados, enaltecendo toda a bugiganga e fancaria que venha com o selo do estrangeiro.  


sexta-feira, 25 de junho de 2021

PSICOLOGIA E SOCIOLOGIA DO FUTEBOL

 

O campeonato europeu surge sempre como algo muito especial. Ainda mais especial nas circunstâncias presentes em que é realizado. Não é este o aspeto sobre o qual me irei debruçar neste escrito, mas sobre o fenómeno futebolístico na sua generalidade.

Coloco aqui algumas reflexões. Sei que são muito questionáveis, tingidas de subjetivismo. Porém, a minha intenção é chamar a atenção para o fenómeno do futebol, enquanto fio condutor para estudos de psicologia, sociologia, antropologia e história.

1- As sociedades «ocidentais», ou que se «ocidentalizaram», estão  quase totalmente descristianizadas, pelo menos no que respeita à Europa. A religião é algo exterior, na maioria dos europeus contemporâneos. Quando ainda é uma referência, é apenas uma das identidades que se justapõe a outras, como numa manta de retalhos.

 2- O humanos sempre foram seres essencialmente gregários. A tribo, o clã, a etnia, etc. são unidades ancestrais, cuja perpetuação ultrapassa regimes, ideologias, e até os recortes (muito arbitrários) das fronteiras nacionais.

3- Na ausência de fatores de coesão tradicionais, nomeadamente os ideológicos ou religiosos, que permitam consolidar a pertença dos indivíduos a um grupo (clã, tribo, etnia), a paixão futebolística é a única que permite confederar simbolicamente as massas. Esta paixão, às vezes, atinge uma intensidade tal, que degenera em violência entre bandos com identidades futebolísticas rivais.

4- Não será por acaso, que as elites investem literalmente biliões e mobilizam a parafernália toda da média, para manter o povo entretido. O espetáculo do futebol pode ser superficialmente assimilado ao circo romano  - «panum et circensis» - mas é realmente muito diferente. Graças a ele, as pessoas revestem-se duma identidade tribal mítica. Os gladiadores podiam suscitar entusiasmo nos romanos, mas não havia identificação mitificada, como a que se observa no futebol.

6- O sentimento de pertença, por muito simbólica que esta seja, não deixa de ser forte: As pessoas vivem o futebol dentro e fora dos estádios, na família, no círculo de amigos, na profissão. 

7- Os adeptos dum clube identificam-se com as derrotas e vitórias deste, como se se tratasse de desafios pessoais. Ao assistir a um jogo (presencialmente, ou pela TV) a adrenalina sobe ou desce, seguindo exatamente as diversas fases e peripécias do jogo. Esta vivência é como uma possessão, na medida em que o adepto acredita, ao nível do subconsciente, que um fluido energético transita entre ele e os seus ídolos, e que os une.

8- De todas as alienações que os contemporâneos experimentam, é - provavelmente - a idolatria futebolística que se assemelha mais ao fervor religioso de alguns séculos atrás. O fervor religioso já não existe. A religião dos contemporâneos limita-se a algo exterior, meramente social. 

9- A ritualização da guerra era uma forma das tribos rivais minimizarem o grau de destruição recíproca. O futebol é uma forma ritualizada de agressividade, de libertar os instintos guerreiros mas, também se destina a desviar ou neutralizar a agressividade das massas contra os seus opressores. Dá aos oprimidos uma ilusão de poder. Perpetua as divisões artificiais entre pessoas, em especial nos escalões de baixo da ordem social. Por isso, é acarinhado por dirigentes políticos e financiado por magnates, ao ponto destes se tornarem proprietários de clubes.  

10- O fenómeno do futebol é uma chave para elucidar múltiplos aspetos encobertos das sociedades contemporâneas: Os mecanismos sociológicos e psicológicos envolvidos no culto para-religioso, na adesão identitária ao clube e à nação, no controlo exercido pela oligarquia, são alguns temas que merecem ser estudados.

terça-feira, 30 de março de 2021

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA - PARTE X

 


Se regressar mentalmente a alguns (poucos) anos atrás, reconheço que, se alguém me viesse contar sobre o quotidiano actual na sociedade, eu não acreditaria

Por isso, aconselho-vos a leitura do texto futurístico, de TE Creus, talvez ficcional, talvez antecipatório.

Este intróito leva-me a considerar a realidade da trapaça do COVID de frente: com efeito, nunca é demais repeti-lo, não é por o vírus ser real e por haver mortes reais, que tudo aquilo que os «esclarecidos» dirigentes e seus conselheiros têm dito e defendido é lógico, é científico, é realista, é humano.

Mas, ainda mais grave, é a passividade e conivência de quase toda a esquerda, cobarde, enfeudada ao sistema, comprada - quanto mais não seja - pelas mordomias (as migalhas) que lhe concede a oligarquia, nos diversos países e mesmo a nível mundial. É detestável o papel que estão a fazer , pois muitos se situam na «vanguarda» da «luta pelo desmascarar dos ditos conspiracionistas» , quando, na verdade, estão a colaborar sem vergonha e sem remates de consciência (ambas coisas de que sempre careceram) na morte da liberdade de expressão.

Os Klaus Schwab, os Bill Gates e os George Soros deste mundo podem sorrir, satisfeitos: em pouco tempo, conseguiram neutralizar discretamente os que se vangloriavam de ser os defensores dos trabalhadores, os que estão na primeira linha da defesa dos direitos humanos, etc... É caso mesmo para dizer, não apenas os neutralizaram como os recrutaram (veja-se o caso de BLM «black lives matter», ou de AF «antifa» e muitos outros pelo mundo fora).

Que amigos (e outros) não gostem do que escrevi, paciência! O facto é que denunciei há um ano, (ver aqui, também aqui) o maior golpe jamais realizado, ao nível global: pois essa análise é corroborada agora, por pessoas muito mais informadas e competentes do que eu. É aquilo que tem de ser dito; assim como aquilo que irei dizer a seguir:

Não seria possível tudo o que vemos: os despedimentos em massa, o esmagamento da capacidade reivindicativa dos trabalhadores, o atirar milhões de pessoas para a precariedade, logo para a doença mental, a depressão e o suicídio... nem tão pouco, a continuação das guerras de desgaste, cruéis e punindo as populações civis inocentes, no Iémen, na Síria, no Afeganistão, ou a ameaça muito séria de guerra a quente, com pontos de fricção em várias zonas no globo (essencialmente nas fronteiras da Rússia e da China), com o triunfo nos neo-cons do Estado profundo nas «eleições» americanas, que deram «a vitória» a um caquético fantoche, às ordens dos bilionários. Não seria possível isto tudo, sem uma traição secular de grande parte da esquerda. Na verdade, ela já tinha traído há muito, só que não tinha tido ensejo de revelar o que era, essencialmente.

Nunca mais voltará o mundo de antes, pois estamos em plena 3ª Guerra Mundial, a qual se compõe de complexas batalhas em diversas frentes, que vão das sanções, com efeitos devastadores nas populações civis dos países «inimigos» (vejam as vítimas no Irão ou na Venezuela, são as crianças, os doentes, os pobres, não são os militares de alta patente nem os governantes, que isso seja bem claro), às guerras por procuração e até à vigilância generalizada e militarização da sociedade civil, nos países dominantes.

Mas, nem tudo são trevas. Assiste-se ao acordar de uma consciência mais humana, mais próxima das muitas espiritualidades que nos legaram milhares de anos de História. 

O cristianismo, o budismo, o islamismo e todas as espiritualidades, não têm «culpa» das distorções, da hipocrisia e da falsidade dos que dizem professar tais religiões...

única luz de esperança que vejo agora, provém das pessoas que sinceramente aderem a qualquer religião, seja a que está mais próxima da minha cultura e modo de sentir, seja de outra. 

Muitos não compreendem que haja valores espirituais, pois os «valores» que eles conhecem, traduzem-se apenas em cifrões, em cotações bolsistas, etc.: São os materialistas vulgares e filosóficos... Para eles, a vida é o desfrutar, o prazer, não têm nenhum respeito ou preocupação com a verdadeira amizade, com o verdadeiro amor, com tudo aquilo que é intrinsecamente humano.   

Eles estão - aparentemente  - triunfantes: Os muito ricos enriqueceram ainda mais, desde há um ano. Sobretudo, consolidaram o seu poder. Para isso, jogou a descida dos padrões morais, sobretudo no mundo «rico», a ideologia do consumismo, hedonismo e egoísmo ostensivos. Também a traição dos chamados intelectuais, com especial destaque para os auto-proclamados defensores dos oprimidos, dos explorados, etc...

Claro que uma grande crise também está prenhe de grandes oportunidades; não apenas de destruição. Eu antevejo que as oportunidades não se limitarão à nova configuração do poder económico, mas também haverá uma «varridela» enérgica nas chamadas elites, nos políticos, na própria tecnocracia. 

Convido os leitores a procurar tudo o que não é relatado, filmado ou transmitido pela média corporativa, mas por fora. Aí, por vezes, encontram-se as mais interessantes e originais formas de pensamento e de organização. 

Os fascistas tecnocráticos são muito persistentes, mas existe já uma resistência: pessoas e grupos, considerados marginais hoje, mas que nos trazem a brisa fresca do futuro, não contaminada pela podridão do presente. Nada está definitivamente traçado.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Alan Watts O HOMEM E A NATUREZA

As teorias da Natureza

 http://alanwattspodcast.com/media/119-ManandNature2.mp3


Uma lição clara de como nós, ocidentais, consideramos a Natureza, assim como os Hindus e os Chineses taoístas. 

Sempre muito actual.




sábado, 5 de outubro de 2019

ROTEIRO PARA ESCAPAR DA MATRIX/LABIRINTO [parte III]





Nas espécies animais mais próximas da espécie humana do ponto de vista evolutivo, os grandes símios antropóides, a existência de comunidades estruturadas de modo muito idêntico, de geração em geração, reforça a noção de que existe uma determinação genética nos seus modos de se relacionarem e de se estruturarem em sociedade. 

Nos gorilas, a estrutura social é diferente da sociedade dos chimpanzés, e nestes difere grandemente da dos seus «primos», os bonobos. Porém, a distância genética entre eles não é muito elevada. 
Estão todos muito dependentes do grupo para a criação e integração dos infantes e dos jovens. A sociedade está estruturada de modo hierárquico e familiar nos gorilas, hierárquico e supra-familiar ou de família alargada nos chimpanzés, e não-hierárquico,  sexualmente promíscuo, nos bonobos.

A estruturação dos grupos pré-humanos - ou homininos - pode ser inferida pelos vestígios quer da anatomia, quer de restos arqueológicos, permitindo inferir a estrutura dos bandos, a partir de uma série de parâmetros. 
Mas, só podemos ter a certeza sobre os detalhes dos modos de organização social, na nossa espécie - o Homo sapiens - a qual terá cerca de 300 mil anos, segundo as descobertas mais recentes.
A estrutura familiar foi - em muitos casos-  o único nível de complexidade que muitos humanos das épocas mais remotas conheceram. 
Isto não invalida a existência de agrupamentos supra-familiares, como os clãs ou as tribos, mesmo nas etapas anteriores ao «homem anatomicamente moderno». 
Porém, a estruturação das sociedades em conjuntos maiores é típica das épocas pós-paleolíticas: neolítico, calcolítico, bronze, ferro..
Nas sociedades agrárias e pastoris iniciais, já existia uma hierarquia dos géneros, das idades, do poder e da riqueza. 
As relações eram - no entanto - quase «cara a cara», havia um conhecimento directo dos chefes pelos súbditos e vice-versa. A complexidade crescente e o tamanho dos conjuntos humanos, veio trazer uma distância cada vez maior entre os dominantes e seus subordinados. 
Nas sociedades do paleolítico e do início do neolítico, aquele que se impunha pessoalmente como chefe do bando, do clã ou da tribo, seria quase sempre um homem forte e respeitado pela sua coragem e argúcia. 
Nas sociedades agrárias mais tardias, como no Egipto, a casta de sacerdotes dominava o poder, pondo e dispondo de monarcas divinizados. 
Irrompe, nas sociedades humanas, a partir de há cerca de oito mil anos, a religião organizada e de estado, um elemento decisivo de organização da sociedade. Nesta, o exercício do poder estava integrado na ordem cosmológica havendo, portanto, uma vinculação comum a esse poder, como emanado directamente da ordem divina. 
Só num período muito curto e recente a humanidade não esteve submetida a um poder patriarcal, autoritário, fortemente apoiado na religião. 
O restante, foi o período das sociedades pré-históricas (cerca de 300 mil anos), mais o  longuíssimo período superior a 5 milhões de anos, em que os homininos se foram afastando do ancestral comum a estes e aos grandes símios. 
Claramente, isto mostra-nos que os comportamentos sociais têm uma profunda raiz na nossa história propriamente biológica. 
Também as formas de organização das sociedades humanas, ao longo da História e que antecederam a nossa civilização contemporânea, mantiveram, de alguma forma, relação com este fundo comum da espécie.

Para inúmeras gerações, a questão central da vida não era a liberdade do individuo, mas a subsistência. O conseguir alimento suficiente para si e para os filhos, era a preocupação quase exclusiva de inúmeras gerações de homens e mulheres.  
A questão da submissão ao grupo ou gregarismo nasce dessa situação. 
Nunca foi fácil o ser humano ou hominino sobreviver. Nos primeiros milhões de anos, os homininos tinham de contentar-se com o que os grandes carnívoros deixavam das carcaças das prezas mortas por eles. 
Existem muitas indicações de que a humanidade (e as formas que a antecedem) vivia na carência ou no limiar desta, além de que eram muito mais frequentemente presas do que predadores: não faltam evidências disso, desde marcas de dentes de grandes carnívoros nos ossos fossilizados de homininos, até às composições isotópicas dos dentes, que nos dão uma ideia da composição da sua dieta. 
As estimativas da densidade populacional, correlacionadas com a  abundância ou escassez de alimento, mostram uma humanidade no limiar da fome em vastos períodos históricos. 
Tem de compreender-se então o gregarismo como uma tendência forte, no ramo da evolução animal ao qual pertencemos. Forte, no sentido de ter havido muitas forças no entorno dos indivíduos, que favoreceram este comportamento, que até o reforçaram com dispositivos sociais (as castas, as classes, as ordens...) e com uma super-estrutura ideológica (as crenças, os mitos, as religiões, as ideologias...). 
Mas, as coisas são muito mais complexas, pois em simultâneo, surgem forças que se exercem no sentido contrário. Estou a referir-me à  plasticidade do comportamento humano, que alguns assimilam ao «livre arbítrio» mas que - afinal - se pode resumir à capacidade de auto-determinação do indivíduo, em relação ao grupo no qual está inserido. Esta liberdade face ao grupo, obviamente, tem mais oportunidade de se exprimir e desenvolver numa sociedade onde exista uma certa abundância, ou onde os indivíduos não estejam tão constrangidos, tão dependentes do entorno social, para a sua simples subsistência. 

Os ideólogos do individualismo colocaram as liberdades e garantias individuais como direitos inerentes e inalienáveis de todos os humanos, claramente acima de quaisquer direitos de grupos. 

Os direitos humanos foram assim entendidos como coisa absoluta, independente das sociedades. Nalguns filósofos, foram tidos como independentes da contribuição dos indivíduos para as mesmas sociedades.

Porém, pouco tempo depois, desenvolveram-se regimes totalitários, como o nazismo e o bolchevismo, em que o indivíduo era subordinado ao Estado todo-poderoso.  

As guerras e enormes destruições ocorridas conduziram ao Direito Internacional, aos princípios da ONU, à sua Carta e Convenções, aos organismos supra-nacionais. Infelizmente, todo o edifício está fortemente posto em causa pela própria utilização abusiva dos poderes dominantes, que violam impunemente esta legalidade internacional. 

O gregarismo é um mecanismo biológico e não adianta muito contrariá-lo. Mas, deve-se compreender que a manipulação deste gregarismo, que está na nossa biologia, é um dos ingredientes da propaganda ou das «relações públicas». Esta manipulação está integrada no âmago das nossas sociedades, condicionando de forma inevitável praticamente todas as pessoas. 
Através de mecanismos psicológicos infundem a ilusão nas pessoas de uma liberdade no consumo, na política, na religião, etc. Isto consiste, claro, num processo hábil de neutralizar as salvaguardas racionais e a verdadeira autonomia dos indivíduos, sem que estes tomem consciência disso. 
A questão da propaganda (ou «public relations») na sociedade contemporânea será tratada, em pormenor, noutra parte.   



quarta-feira, 3 de outubro de 2018

SOBRE OS NOSTÁLGICOS DA GUERRA FRIA



A ingenuidade, a inocência dos ignorantes, a ilusão, a miragem dum mundo de celulóide, mais real que o real...
Sim, compreende-se que algumas pessoas tenham saudades da guerra-fria e queiram restabelecer os muros que dividiram ao meio continentes e  povos: Dum lado, os maus, do outro, os bons; dum lado, os dogmas e do outro, as verdades; dum lado, a ideologia perniciosa, do outro, a democracia verdadeira...  Reparem que uns e outros davam a si próprios o papel nobre, elevado, moral... 

Porém, as pessoas que  nasceram por volta de 1989, ou depois disso, apenas podem olhar com estranheza e alheamento o universo dos seus avós, ou bisavós... dos que viveram - desde 1947 - a instalação e continuação da tal «Guerra Fria», que foi tão conveniente para a dominação dos «senhores do mundo». 
Tendo eu nascido em 1954, tenho memórias e não tenho saudades da época que terminou com a queda do Muro de Berlim. 
As ideologias caducas, apesar de reconhecidas como tal, perduraram, porém... muito para além da situação que lhes podia dar alguma razão de ser. 
Hoje em dia, a ideologia identitária, o nacionalismo, as versões fundamentalistas das várias religiões, substituem-se às ideologias simétricas do comunismo e do anti-comunismo, com as quais doutrinaram as gerações que viveram em plena guerra fria.  
Estas ideologias identitárias estão construídas sobre preconceitos, deturpações da história, etc. tal qual como aquelas que substituíram. Por vezes, trata-se até de meras variações das mesmas, sob capa de algo «novo».
As de agora são tão absurdas e perigosas como as suas antecessoras. Aliás, muitas vezes subvertem completamente valores e ensinamentos das religiões ou doutrinas filosóficas que dizem professar. Transformando-se em instrumentos de poder, procuram justificar o domínio de uns (os «eleitos»), sobre os outros. 
Afinal de contas, tais ideologias são construções que incitam e encobrem, ou mesmo participam directamente nos genocídios, nas limpezas étnicas, nas barbáries e crimes contra a humanidade... 

É difícil combater o veneno da intolerância, do fanatismo, do ódio, do desprezo pelo outro, sem dúvida. 
Mas, por isso mesmo, pessoas com responsabilidades nos domínios cívico, político, artístico, académico, etc. deveriam exercer esclarecimento e revelar a fraqueza e falsidade dos pseudo conceitos que estão na sua origem. 
São estas as  pessoas que têm maior audiência e maior papel na formação das jovens gerações. Porém, isto não significa que as outras, as pessoas «comuns», devam basear seu comportamento no delas e transformá-las em «ídolos». Devem pensar por elas próprias, determinar o que devem ou não fazer, sem modelos impostos.

Afinal, talvez o conhecimento do que foi realmente a tal «guerra fria nº1», seja um bom antídoto para que os mais jovens não se deixem manipular pelos nostálgicos da mesma.

sábado, 25 de agosto de 2018

domingo, 29 de abril de 2018

A IMPARÁVEL POTÊNCIA DO AMOR

As pessoas «vulgares» não compreenderão o que eu escrevo; ou, pelo menos, irão tomar como literal o que é metafórico e vice-versa; irão tomar o particular pelo geral, ou o inverso... mas isso é assim, qualquer que seja a época, o substrato cultural. 
Por isso, não me vou importar muito em explicar as coisas. Apenas direi que escrevo como penso, em vários planos diferentes, em simultâneo. Assim, uma pessoa capaz de compreender isso, será um convidado «com pernas suficientemente operacionais», para se deslocar do rés-do-chão para os andares e vice versa, descer até à cave e abrir todos os alçapões da memória, que surjam.

      


A humanidade não precisa de mais bens de consumo. Ela está literalmente a sufocar em bens de consumo. Vejam os mares contaminados por séculos devido a plásticos que se fraccionam mas não desaparecem; vejam os aterros com toda a «porcaria» que é produzida pela «civilização» do consumo, quer nas grandes cidades do «1º Mundo», quer nas do «3º Mundo». 
Em paralelo com os aterros, mais e mais betão vai engolindo solos, muitos deles aráveis, quase todos de grande potencial, como os aluviais, presentes nas beiras dos rios, onde se situam quase todas as cidades.

                   

Entretanto os arsenais aumentam, as pessoas dos países ditos em desenvolvimento são apanhadas em guerras cruéis, destituídas de outra causa, a não ser da ganância dos poderosos... mas revestidas de mil e um pretextos, desde a defesa da nação, da tribo, da cultura, dos direitos humanos, do espaço vital, do acesso aos recursos, etc.

Uma sociedade, nos países ditos desenvolvidos, super informada mas que se «esmera» em olhar para o lado, ou para «acreditar», sem espírito crítico, nas patranhas que a média dominada por interesses poderosos, lhos vende quotidianamente.

As sociedades e as pessoas estão, sem o saberem, cativas nos seus afectos, no seu intelecto e nas suas emoções, através da droga dos «smart phones» e de todo o lixo des-informativo que percorre as redes digitais, ditas sociais (na realidade, o mais anti-sociais que se possa imaginar). 
Mas este alheamento torna as pessoas ao mesmo tempo insensíveis aos males que acontecem longe da sua esfera de «interesses e afectos» e hiper sensíveis a tudo o que lhe acontece a elas, aos seus próximos, ou mesmo a «causas» distantes de milhares de quilómetros, mas que decidem tomar como «suas». Tudo o resto, é-lhes indiferente. 

O acesso universal a toda a espécie de informação apenas desencadeou ou potenciou uma resposta de enfado a tudo aquilo que a pessoa «civilizada» não considera «interessante»,  aquilo que não reforça as suas convicções (leia-se preconceitos). 
O novo e o contraditório são tidos como o «intruso abusivo» inclusive por universitários, por intelectuais. Se há uma convicção deste tempo, é a de que cada um tem o legitimo direito a manter-se dentro de sua «esfera de conforto», de repudiar, ou descartar tudo o que venha desconstruir a sua narrativa pessoal, da sua bem pensante e pós-moderna vacuidade. 

Abaixo, uma foto de uma «calçada de gigantes», fenómeno natural fotografado numa ilha ao sul da Coreia. Tem o valor simbólico, para mim, da Natureza nos proporcionar os meios pelos quais podemos aceder a outro patamar como indivíduos e como civilização. 

               

Contra este estado de espírito, apenas uma religião cósmica, com a profunda consciência do dever para com os nossos semelhantes e para com a Natureza, poderá combater com sucesso. Não poderá usar as armas do «inimigo», a demagogia, o carisma dos líderes, etc. Deverá aceitar que o processo é longo e não terá atalhos possíveis. Será uma obra de paciência, de amor, de confiança no Todo Universal, de Tolerância e de Sabedoria. 
Acredito que esse tempo virá, mas que será provavelmente depois de eu ter morrido. Porém, já vislumbro sinais disso, embora sejam ainda maiores os sinais das desgraças e tragédias que se abatem neste Planeta. Mas isso mesmo, pode ser um sinal de que se alcançou o ponto de viragem. Deus queira que assim seja, oxalá!