Mostrar mensagens com a etiqueta psicologia social. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta psicologia social. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

MITOLOGIAS (cap. X) : CASSANDRA, DA ILÍADA AOS NOSSOS DIAS

Quando falamos de Cassandra, estamos a falar de um mito, independentemente de ter existido, ou não, uma princesa em Troia com tal nome.

 A história contemporânea não reconhece a Ilíada como um escrito histórico, que sobreviveu miraculosamente, primeiro oralmente, depois por escrito, relatando a guerra das cidades-estado do Peloponeso contra Troia. Porém, a constante utilização do longo poema pelas artes, poesia e literatura nos séculos após os supostos acontecimentos,  tem criado a ilusão de que os episódios da obra atribuída a Homero seriam, senão historicamente exatos, pelo menos, verosímeis.

De facto, o que se sabe seguramente pela arqueologia, é que Troia existiu, mas que houve uma sucessão de cidades, umas sobre as outras. Além disso, não houve uma única guerra de Troia, mas sim várias. O relato de Homero (ou atribuído a Homero) poderia ter condensado, numa única narração, o longo período de guerras de  Troia contra exércitos coligados das cidades-Estados gregas.  

Podemos - portanto - considerar que Cassandra, tal como está descrita na Ilíada, releva do mito, mais do que da História mitificada. 

Eu vejo a história de Cassandra (*) como simbólica dos comportamentos das sociedades, em relação às pessoas com maior visão, mais sábias, corajosas, e sabendo que estão a ir contra a corrente mas - ainda assim - dizendo a verdade, custe o que custar,  face aos poderosos e ao povo. 

A obra de Luís de Camões contém uma «atualização» de Cassandra, na figura do «Velho do Restelo». Este desempenha, no poema épico «Os Lusíadas», a mesma função que Cassandra, na Ilíada: Profetizar perigos e desgraças que ocorrerão a Portugal e aos portugueses, em consequência do lançamento das ambiciosas e aventureiras viagens marítimas, a partir dos finais do século XV.  

Uma caraterística comum nas «Cassandras» que se nos deparam ao longo da História, é que seus vaticínios, embora pareçam sensatos quando são lidos após os acontecimentos, foram descartados como  fantasias, sintomas de loucura, palavras vãs, pelos indivíduos que, contemporaneamente, ouviram ou leram tais profecias. 

Figura: Aquando da queda de Troia, Cassandra, que se refugiara no templo de Atena, é  violada e depois feita escrava.

No mito, Cassandra é abençoada com um dom, que consiste na capacidade de ver o futuro e, em simultâneo, é amaldiçoada com a impossibilidade de que suas palavras sejam tomadas a sério por seus concidadãos, incluindo a sua própria família. 

Na nossa época, as «Cassandras» avisaram com detalhe e antecedência e, como na lenda, não foram ouvidas. No âmbito económico, mas com grande repercussão política, a chamada «crise das sub-prime» (2008), levou ao quase desmoronamento do castelo de cartas da economia financeirizada. Esta crise foi prevista - com antecedência - por mais do que um analista dos mercados, incluindo figuras célebres do mundo financeiro.  

Mais recentemente, autores de várias escolas de pensamento económico, têm feito avisos muito enfáticos sobre a iminência de um colapso muito superior, em magnitude, ao de 2008. Os avisos são dirigidos ao poder financeiro nos bancos centrais e ministros da economia e finanças dos governos. Estes preocupantes alarmes têm sido também publicados na media, ao alcance do mais amplo público. 

Estes avisos, como os das outras «Cassandras» da História, estão a ser completamente ignorados, por quase todos: Desde pequenos especuladores, a gestores de Wall Street e doutros centros financeiros, a políticos - tanto no poder, como na oposição. Para mim, esta situação não só ilustra a enorme miopia dos poderes, especialmente após o quase colapso de 2008, como parece ser uma enésima atualização da história de Cassandra da Ilíada.

As multidões costumam ignorar, escarnecer, ou mesmo, violentamente atentar contra pessoas que vêm contrariar preconceitos e medos obsessivos. A fúria das multidões é estimulada por ditadores e demagogos, que assim defletem a ira e a frustração popular para que, perante as consequências de suas decisões aventureiras e fatais, nunca lhes sejam atribuídas responsabilidades, mas ao «bode expiatório». 

As pessoas com lucidez e juízo, nestes tempos conturbados, devem ser discretas. Não se devem expor, pois seriam «arrastadas na lama», ou ostracizadas, no mínimo. Devem preservar-se, pois de nada serve tentar convencer uma multidão fanatizada ou hipnotizda

Estas tentativas vãs apenas irão exacerbar a vontade de vingança das massas enganadas, que julgam que «o mensageiro das desgraças» é o causador das mesmas. O mensageiro é castigado em vez do tirano, que afinal de contas, é o causador das más notícias trazidas pelo primeiro. 

----------------



(*) Citação da «Cassandra» de Friedrich Schiller:

« Por que me encarregaste tu de proclamar as tuas profecias com um pensamento lúcido numa cidade cega? Por que é que me fazes ver aquilo que não poderei desviar do nosso povo? O destino que nos ameaça deve cumprir-se, a infelicidade que eu temo tem de realizar-se, a desgraça que eu antevejo tem de acontecer»...

-------------------------

ARTIGOS ANTERIORES DA SÉRIE MITOLOGIAS:

sábado, 2 de julho de 2022

[MATTIAS MESMET] A PSICOLOGIA DO TOTALITARISMO

 

                                           












O Professor Mattias Desmet é um psicólogo belga, com um mestrado em estatísticas, que ganhou reconhecimento mundial nos finais de 2021, quando apresentou o conceito de «formação de massas» como explicação para o comportamento absurdo e irracional que tínhamos vindo a verificar, em relação à pandemia de COVID e às contramedidas que foram decretadas. 

Ele também nos avisou que a formação de massas pode dar origem ao totalitarismo, que é o assunto do seu novo livro, saído no mês passado de Junho de 2022, "The Psychology of Totalitarianism."


[Em baixo - em tradução minha - uma passagem da referida obra]

“Ao fim e ao cabo o desafio último não será tanto o de mostrar às pessoas que o coronavírus não era tão perigoso como esperávamos, ou como a narrativa do COVID estava equivocada, mas antes que esta ideologia  é problemática; que este transumanismo e esta ideologia tecnocrática são um desastre para a humanidade. Este pensamento mecanicista, esta crença de que o Universo e o Homem são uma espécie de sistema mecanístico, que deveria ser conduzido e manipulado dum modo mecanístico, tecnocrático e transumanista. Este é o desafio último: Mostrar às pessoas que a visão transumanista do humano e do mundo implicam a desumanização radical da nossa sociedade. Portanto, penso que este é o desafio verdadeiro que temos de enfrentar.

Trata-se de mostrar às pessoas o seguinte: 

Vejam, esqueçam por momentos a narrativa do Coronavírus. Aquilo para o que nos dirigimos - se continuarmos no mesmo caminho - é uma sociedade transumanista radical e tecnologicamente controlada, que não deixará qualquer espaço para a vida do ser humano.”

Foi com intenso prazer (pela qualidade da obra) e preocupação (pela seriedade das situações reveladas), em simultâneo, que li esta obra. Estou certo que nenhum dos meus leitores se irá arrepender em também ler esta obra, que eu considero um marco para a reflexão em psicologia social e em política. Acredito que a sua importância vai ser reconhecida cada vez mais, como uma das grandes obras deste século.  

O ensaio de Mesmet está a revelar-se como o grande «best seller» deste início de Verão. 


----------------------

Ler também: 

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2021/12/prof-mattias-mesmet-entrevistado-sobre.html


----------------------------


PS : O que é porno- de medo?

What is Fearporn? Is it really a thing?


quinta-feira, 17 de março de 2022

NÃO HÁ NADA MAIS REVOLUCIONÁRIO QUE A VERDADE


 
O meu pensamento, as minhas palavras neste blog, podem dar a sensação de que tenho  elevado grau de apetência pela política e pela economia, em geral. Nada mais longe da realidade, porém. O meu interesse por ambos assuntos, é norteado por algo, que não tem a ver com o «gosto», mas com a «necessidade». Por outro lado, procuro não interferir, neste campo, com os outros: Não desejo persuadi-los, nem convencê-los, nem tão-pouco opinar sobre suas opções políticas. Que estúpido seria eu, de me colocar como mentor político - ou «anti-político» - dos outros! Dito isto, considero ter razões para acompanhar a política e a economia; essas razões não são difíceis de perceber. Explico-me:

- Se te cai em cima algo imprevisível - algo que não poderias imaginar, ou cuja probabilidade era ínfima - não tenho dúvidas de que tiveste pouca sorte. Mereces a minha simpatia, porque dessa desgraça, pouco ou nada podias antever. 

- Mas, se o que te cai em cima da cabeça é consequência de uma cadeia de acontecimentos previsíveis, rastreáveis? Estavas completamente distraído, estavas indiferente, julgavas que não te podia acontecer nada, que as coisas más só ocorrem aos outros... Não digo que merecesses o mal, mas que foste imprevidente, foste leviano/a, não soubeste prevenir-te. Tanto a tua pessoa, como a tua família ficaram carenciadas da segurança essencial, também no plano material, para que a vida não seja um rol de desgraças. 

É somente - ao fim e ao cabo - a motivação da auto-proteção (e da minha família) que me impele a interessar-me pela política e pela economia. 

Se ninguém é apolítico - e isto é uma verdade insofismável - reduzir tudo à política, é como reduzir a visão do Mundo a «preto e branco». Mesmo que se incluam todos os tons de cinzento, a visão do Mundo fica, ainda assim, drasticamente diminuída. Algo essencial - as cores - não é captado. 

Nas minhas finanças pessoais, sigo alguns princípios. Se não se deve fazer do «amor ao dinheiro» o objetivo central da vida - pois isso equivaleria a nos tornarmos escravos do dinheiro - também devemos perceber que é razoável gerir nosso património com prudência, da forma adequada para maximizar a segurança de nós próprios e de nossa família e de minimizar a probabilidade de cairmos numa situação penosa, como ficar em dívida, na dependência em relação aos outros, sejam estes particulares, instituições, ou o Estado. Não jogar nunca no «casino»!

Tenho uma atitude geral semelhante em relação à saúde. Prevenção é melhor que remédio. Isto significa que evito fragilizar o meu ser biológico por comportamentos inadequados. Eu sei que o meu corpo é bastante frágil. Não vou torná-lo ainda mais frágil. Proponho - não imponho - o mesmo padrão de prevenção aos outros, à família, em particular. Não sou dos que tem uma relação narcísica ao corpo, mas também não sou dos que vêem o corpo só como «coisa onde a alma habita». Não; o meu ser é corpo e espírito, unidos. Quando morrer separam-se. 

Se nós todos temos medo de morrer, se isso está ancorado profundamente no nosso inconsciente, por que razão há tantas pessoas que agem de modo suicidário? Neste texto, não irei desenvolver a questão. Basta-me dizer que não podemos viver plenamente, sem amar os outros (amor e altruísmo são a mesma coisa, no meu vocabulário) e que para amarmos os outros, temos de nos amar a nós próprios. Basta pensar nas enormes angústias, que dá aos familiares e amigos, aquele que não cuida da sua vida, que a destroí, que esbanja e dissipa tudo, que está sempre metido em complicações. Essa pessoa, não apenas é infeliz, mas está a impossibilitar, ou dificultar, que outras sejam felizes. A responsabilidade por nós próprios, pelo modo como conduzimos a nossa vida, é uma questão de ética, além de ser uma atitude natural e inteligente.

Se eu desejasse o poder, saberia como me insinuar em determinados círculos, como representar meu papel para ser aceite pelos outros, para ter uma carreira política. Para mim, teria sido muito fácil, se eu tivesse desejado isso. Mas, qualquer coisa me impeliu a não entrar em jogos de poder: Compreendi que tal não era para mim. Não por falta de compreensão, ou falta de capacidade em representar no teatro político. O espetáculo tinha algo de repelente, não via nele qualquer elevação. Com efeito, subir a escada para, do alto desta, mandar nos outros, subjugá-los, iludi-los? Para negar pelas ações, as minhas promessas e declarações de fé? Isso pareceu-me algo tão abjeto, apenas sociopatas conseguiriam desempenhar-se bem nesse papel. Pois via que aqueles outros, motivados por sentimentos nobres, eram instrumentalizados pelos cínicos, pelos sociopatas

O sistema político real é homólogo à versão mais simplista, distorcida, ideologizada do darwinismo social. Pelo contrário, o darwinismo de Darwin, dá muita ênfase à cooperação dentro da mesma espécie. Por exemplo, na mesma espécie há uma competição mitigada, ou seja, existem mecanismos pelos quais o vencedor fica inibido de liquidar o vencido, o que tem um coeficiente positivo de sobrevivência para o grupo e para a população. Não culpemos Darwin, nem os cientistas honestos, da monstruosidade que construíram os apologistas do «neo-liberalismo», ou capitalismo desabrido e impiedoso, escondendo-se por detrás do nome do prestigiado cientista!

Eu tenho uma paixão - que dura a vida inteira - pela biologia, em particular, pelos mecanismos da evolução biológica, mas isso não significa que vá transpor as realidades de um plano, para outro. Vejo, com preocupação, que a biologização do discurso, é uma atualização da deturpação e travestimento do pensamento de Darwin. Isso ocorreu desde os finais do século XIX, até hoje.  Quando veem à baila expressões, como «seleção natural», ou «está no seu ADN», estas não têm qualquer valor genuíno. São expressões de ignorantes, que tentam convencer outros ignorantes. Usam termos sem critério, nem adequação. Os cientistas verdadeiros não são compreendidos nesta sociedade; não são sequer escutados, no meio da algazarra mediática que nos cerca, como na crise do COVID.

A política é sempre totalitária, na sua essência. Isto significa que os políticos se apropriam da totalidade dos domínios da vida: Apropriam-se dos vários ramos da ciência; de tudo o que é produtivo, na sociedade; das nossas mentes, das nossas vontades. O meu repúdio da política tem a ver com isso. Não é devido a indiferença em relação ao que se passa na sociedade; não se pode confundir com egoísmo disfarçado. 

Revolta-me que o povo, em geral, seja despojado do direito natural de «gerir a polis», o significado etimológico de política. Como é que os políticos fazem isto? Eu tento compreender como é que as pessoas se tornam «servas voluntárias», como é que aceitam ser remetidas a uma situação de irresponsabilidade, de infantilização. Compreender estes fenómenos, é do domínio da psicologia social. Mas, de facto, todos deveríamos nos debruçar sobre o assunto. Acredito que as pessoas que me lêem, se preocupam com isso. 

Parafraseando Orwell:

« Não há nada mais revolucionário que a verdade.»

                                                        «Alegoria da Verdade» por Edouard Debat-Ponsan. 

                  Ele ofereceu este quadro a Emile Zola, em apoio ao seu combate em defesa de Dreyfus.

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

GEORGE GAMON: vai haver censura generalizada?


Tenho acompanhado os vídeos de George Gamon. Embora muitas coisas me separem dele, gosto de ver como ele aborda os assuntos de economia. Ele é realmente um «rebelde», se por esta expressão designamos alguém que está em total desacordo com os ditames da política, com as falácias da media corporativa e que afirma as suas convicções, sem prestar vassalagem, seja a quem for. 
Não comungo com a sua visão de um capitalismo idealizado, mas também não vejo (podem existir e eu não os conhecer) críticos anticapitalistas, capazes de por o dedo na ferida, de mostrarem realmente o que se está a passar nos mercados, nas esferas do globalismo ou na economia do dia-a-dia. 
Neste vídeo, ele lamenta o estado de enorme incivismo que se pode observar na sociedade. Não é apenas característica da sociedade dos EUA, de hoje: este incivismo tornou-se a consequência inevitável, não da pandemia, mas das medidas governamentais de confinamento e outras, que têm levado a tantas disfunções sociais e psíquicas. 
As pessoas, fora do contacto com outros humanos, apertadas em suas «gaiolas», rapidamente desenvolvem uma grande dose de frustração. Não importa que lhes forneçam meios de subsistência e até algum divertimento. A essência dos humanos passa pelo relacionamento recíproco.
Queria aproveitar este vídeo para alertar mais uma vez para a necessidade de reforçarmos as nossas ligações na família, com os amigos, com os colegas, com os vizinhos. Estamos ainda a tempo de remediar, de restabelecer uma saudável convivência, um equilíbrio dentro de nós próprios e com os outros. 
Sem esta viragem, todas as soluções que se queira imaginar, na política, na economia, etc., ficarão carentes de sentido, mesmo que em abstrato sejam «bem pensadas». O tecido social é como um tecido do nosso corpo. Cada célula individual contribui para a coerência do todo. Não somos unidades intercambiáveis, nem somos robots. A nossa felicidade depende totalmente dos outros. Não há maneira de sermos felizes se mergulhados num ambiente de infelicidade. 

É bem conhecido que a alegria, o riso, são contagiosos. Porquê?
- Porque temos isso dentro de nós, de nos sentirmos atraídos pelo que nos dá prazer. Quando reagimos a qualquer situação rindo ou sorrindo (espontaneamente) estamos a dar «uma injeção» de hormonas do prazer em centros do nosso cérebro. Quando a hilariedade e o bom humor se espalham num grupo de pessoas, é como se estivessem todas sob o efeito desta «injeção». 

A melhor arma que temos, é sermos mais humanos, mais carinhosos, uns para com os outros. Mais solidários no sentido verdadeiro, mais disponíveis para partilhar, para celebrar os bons momentos. Não precisamos de nos confrontar permanentemente às coisas más, que nos vêm de fora. Fazê-lo não é sensato, nem produtivo. 
Estarmos atentos ao que se passa, não é estarmos hipnotizados por aquilo que os senhores deste mundo querem. Se fizermos isso, estamos a cair no jogo deles. Se nos virarmos uns para os outros, em convívio saudável, confraternização, em amizade sincera... nenhuma força tirânica nos poderá vencer!

 

domingo, 5 de dezembro de 2021

PROF. MATTIAS MESMET SOBRE A PSICOLOGIA DO TOTALITARISMO

                                           Saturno devorando um dos seus filhos (Goya)

Mattias Desmet é entrevistado por Chris Martenson. Marteson, tem sido um dos raros que tenta, regularmente, nestes dois últimos anos, dar aos auditores um ponto de vista científico, não enviesado por ideologias, sobre a pandemia covidiana.
O seu convidado, Mattias Desmet é professor de Psicologia Clínica na Universidade de Ghent (Bélgica); um investigador dos fenómenos de psicologia de massa, com muito trabalho de campo e teórico publicado. Os leitores deste blog poderão consultar (aqui e aqui) outra intervenção sua e a opinião muito positiva do Prof. Robert Malone. Penso que, em conjunto com a presente entrevista, permitirão ajuizar da pertinência e originalidade de sua análise. Nesta conversa com Chris Marteson, explica em detalhe como chegou ao diagnóstico da «formação de massas», antes também chamada «psicose coletiva ou de massas».
Tal estado corresponde e resulta, no conjunto da sociedade, duma narrativa que se impõe de forma totalitária, embora isso não transpareça ao princípio, sobretudo porque as pessoas ficam sideradas, com a massiva perceção dum perigo mortal e difuso, impossível de avaliar e de realmente prevenir, algo que inspira terror. Assistimos então ao acordar de todas as fobias, medos atávicos e descargas de sentimentos reprimidos, aversivos e antagonistas.
Mas o melhor é ouvir diretamente da boca do Prof. Mesmet sua análise, em termos de psicologia coletiva e da gravidade do momento que estamos a passar enquanto civilização.


----------------------------------------------------------------------------


PS1: À medida que o tempo passa vão-se acumulando provas de que não só a intenção é controlar a população através do «passe vacinal», como, ainda pior, é uma bio-arma de longa duração destinada a reduzir drasticamente a população. Leia o último artigo de Mike Whitney

PS2: Veja o 2º Simpósio de «Doctors For Covid Ethics» 

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

[Mattias Desmet] CONDICIONAMENTO DE MASSAS E HIPNOSE

 O condicionamento de massas é um fenómeno social complexo, que se aparenta com a hipnose, mas não é exatamente a mesma coisa. O vídeo abaixo tem grande mérito, porque nos esclarece quais as condições que favorecem o aparecimento deste fenómeno coletivo. Quais são os pressupostos que permitem o aparecimento do fenómeno do condicionamento de massas (aqui, no vídeo abaixo, designado por  «formação de massas»)? - Esta e muitas outras questões são esclarecidas neste profundo diálogo de Aubrey Marcus com Mattias Desmet*, incidindo sobre os tempos de hoje, à luz da história dos totalitarismos.

[*Mattias Desmet é professor de psicologia clínica na Universidade de Ghent (Bélgica); também possui um grau de mestrado em estatística.]


00:00- Introdução 1:22- Estatísticas que não dão certo 3:30- Dinâmica Psicológica 9:50- Condicionamento de Massas (Mass formation) 17:45- Algo muito específico pode ocorrer nestas condições 25:10- O condicionamento de massas no séc. XIX 31:55- Mentecídio 37:27- A experiência de Asch 41:35- Perigos da nossa paisagem presente 47:42- Precisa de média de massas para o condicionamento das massas 53:53- Uma Terceira Via 58:49- Mecanismo do totalitarismo 1:05:10- A importância de estruturas paralelas 1:19:13- Consequências de erguer a voz?

sábado, 5 de outubro de 2019

ROTEIRO PARA ESCAPAR DA MATRIX/LABIRINTO [p. IV]

                            

Na parte III desta série, propunha que nos debruçássemos sobre a questão da propaganda ou das relações públicas (PR = public relations), em conexão com o gregarismo, que foi o fio condutor daquela parte (III). 
Agora, na parte IV, é tempo de aprofundar o que afinal liga esse mecanismo largamente endógeno, o «gregarismo», com algo que é - para todos os efeitos  - uma construção das sociedades.
A teoria da propaganda ou das «relações públicas» foi fundada e desenvolvida por Edward Bernays, um sobrinho de Sigmund Freud, mas depois dele um grande número de especialistas - psicólogos, sociólogos, etc. - foram acrescentando e refinando os conceitos. Se esta teoria foi inovadora no seu tempo (primeiras décadas do século vinte), ela não é mais do que a versão banal dos achados de Freud sobre o inconsciente, sobre as pulsões, enfim sobre a psicologia das profundezas, e a sua aplicação ao homem e mulher comuns, ao cidadão que cruzamos no quotidiano, com o objectivo de induzir um comportamento, que pode ser de consumir algo, mas também pode ter a ver com a escolha política ou outra. 
Noutro escrito detalhei bastante este aspecto, pelo que evitarei aqui repetir-me: o leitor poderá reportar-se ao artigo aqui, deste blog.

O que me interessa agora detalhar é o aspecto de manipulação destas técnicas, que fazem com que as pessoas adoptem, em aparência, atitudes e mesmo valores que pensam ser próprios, resultantes de sua escolha quando, na verdade, são induzidas e são resultantes de um condicionamento discreto. 

Qual a relação que isto tem com a manipulação? 
Penso que isto tem tudo a ver, pois «manipulação» deve ser o termo apropriado para indução de certos comportamentos ou ideias, sem que haja consciência disso. 
Logicamente, os métodos claramente autoritários, repressivos, estão excluídos da minha definição, embora, políticos e outros possam recorrer a eles, forçando as populações a adoptar um determinado padrão de comportamento. 
Neste caso, o das ditaduras, existe uma secreta, mas real, consciência por parte de muitos indivíduos dominados, de que tais comportamentos estão a ser forçados sobre eles, mesmo que eles não possam exprimi-lo. 
Mas, a propaganda ou o «public relations» consiste em algo muito diferente, pois as pessoas são levadas à ilusão de que escolhem fazer isto ou aquilo, que a sua escolha da máquina de lavar roupa é inteiramente racional ou é inteiramente baseada numa avaliação que elas próprias fazem das suas características, como produto... este exemplo anterior é um bocado simplista, mas isso é intencional; mesmo nas questões mais subtis, afinal de contas, a propaganda infiltra-se fazendo as pessoas acreditar que estão a raciocinar por elas próprias, por exemplo, se lhes dão sempre um determinado conjunto de notícias e estas pintam a realidade de determinada maneira, só uma minoria consegue compreender um escrito ou discurso que nega o discurso habitual e desmascara os parâmetros «normais» dessas notícias. Desta minoria, um número ainda menor estará em condições de aderir a esta outra forma de encarar as coisas - as realidades da política, sociológicas ou económicas, por exemplo. 
Igualmente, a chamada Educação tem muito mais de doutrinação, de amestrar, do que de educação, no sentido humanista de fornecer instrumentos de autonomia, de raciocínio crítico, de capacidade de ver o mundo social e natural pelos seus próprios olhos. 
Mas, por que razão isso resulta? Porque razão resulta a publicidade? Por que razão resultam as propagandas políticas e ideológicas? ... ou qualquer outra forma de incutir modos de pensar alheios ao indivíduo?

A resposta a esta interrogação tem necessariamente de passar por vários aspectos.
- Em primeiro lugar, passa pelo mecanismo da auto-ilusão: o eleitor, o adepto deste ou daquele, gosta de ouvir as suas «próprias» ideias, nos discursos, notícias, aquilo que reforça a sua convicção, a sua visão do mundo, a sua escolha pessoal em todos os campos. Assim, terá tendência a aplaudir e a mobilizar-se por candidatos que apelem para esses mesmos valores ou ideias, que os reforcem, que os coloquem de maneira forte, enérgica, ao nível do discurso. 
Terão mais votos, os candidatos que tiverem maior facilidade em produzir o discurso que agrada ao eleitor, não os que tenham realmente coisas importantes e originais a dizer, ou que tenham verdadeiras soluções para os problemas, admitindo que esses candidatos existam.

A «escolha» tende a ser inteiramente emotiva, baseada na impressão que tal ou tal candidato causa, junto do eleitor, não havendo relação quase nenhuma com o conteúdo concreto do discurso. 
Se analisar os discursos eleitorais em várias décadas verá que os conteúdos se tornam cada vez mais banais, mais insípidos de ideias, mais abrangentes, de forma a agradar a «gregos e troianos», com o tempo. Notará também que esta tendência se verifica em todos os partidos e correntes políticas que concorrem aos actos eleitorais.  
Podia-se também verificar um processo análogo com o fetichismo da mercadoria: por exemplo o consumo de luxo, de prestígio, teria a virtude mágica de colocar o consumidor entre a «elite» dos «muito ricos» e «superiores», visto que assinalaria um «status» de excepção do mesmo consumidor. Ou, que daria (restituiria) ao consumidor a juventude, ou charme ou sex-appeal, etc...
O mecanismo da auto-ilusão é muito forte e podem muitas pessoas auto-convencer-se das coisas mais extravagantes, desde a sua aparência física (naturalmente, a beleza é vista pelos próprios olhos...), aos seus dotes intelectuais ou morais. 
Outro aspecto importante, é o que se prende com a pressão grupal ou - dito de outro modo - com a pressão de conformidade ao grupo, que é o aspecto mais saliente do gregarismo.
Nos adolescentes, em particular, são muito marcadas as tendências para se conformarem com uma norma, não escrita... para serem aceites dentro do grupo, da faixa etária. Esta forma de coação social pode ser benigna, no melhor dos casos, resumindo-se ao uso de determinada indumentária, de certas expressões na linguagem, de gostar de determinadas músicas, etc. 
Mas, também pode ter aspectos muito menos anódinos, que passam pela criminalidade dos grupos, ou gangs, pela sistemática utilização do interdito, do socialmente condenado, do vandalismo, do uso de drogas, da utilização de motas e motociclos, de forma perigosa (para os próprios e os outros), etc. Tudo isto, para afirmarem, ou serem aceites, ou manterem, uma dada posição (hierárquica) dentro do grupo...

A tendência para o gregarismo é muito forte. Os psicólogos e sociólogos, ao serviço do sistema, sabem manipular os sentimentos das «massas» no sentido delas adoptarem este ou aquele padrão de comportamento. 
Ninguém, ou quase, sente-se confortável, se excluído do convívio com os seus semelhantes. O medo da exclusão, de ser apontado a dedo, inibe muitas pessoas de tomar certas atitudes, de fazer as coisas de acordo com sua consciência, por causa desse receio. É portanto uma força de coação social e psicológica muito importante. 
O esforço para uma pessoa se libertar de tal complexo, não é algo que se observe correntemente. A conformidade, para não dizer o conformismo, é a norma. 
As pessoas são induzidas a conformar-se com a norma, «adaptando-se», quer na escola, quer na empresa, a essa norma, mesmo a mais absurda ou contra-produtiva. Os críticos são vistos, no melhor dos casos, como uns «chatos», no pior... como «perigosos» e «subversivos».

 Assim, a sociedade tem mais tendência a reforçar comportamentos gregários, o «ficar dentro do rebanho», do que encorajar a inovação, a criatividade, a procura de novas formas de abordar as questões. 
O conservatismo das sociedades permitiu que - nas eras remotas, em que a vida, de geração em geração, era perfeitamente semelhante - houvesse um máximo de estabilidade. 
Mas agora, nas sociedades sacudidas pelo caos, onde nem nos podemos inteirar, quanto menos adaptar, aos efeitos das inúmeras mudanças simultâneas, de tantos desafios e perigos, tanto a um nível individual como colectivo, a educação conformista, autoritária e repressiva, surge como anacronismo, como um factor de regressão. 
Não admira portanto que, enquanto instituição, esteja em crise profunda e que não haja muita gente, dentro do sistema, capaz de tomar um recuo e perceber quais as causas profundas das disfunções. Este fenómeno ocorre de forma mais ou menos intensa, ou dramática, consoante os países, mas está patente em todas as sociedades.

Diria que a educação é a questão nº1, mas não o digo no sentido de preconizar a «enésima reforma do  ensino». 
Acho que é hoje a questão pior tratada, de todas as questões, nos discursos políticos ou pseudo-filosóficos, que se possam ouvir ou ler. 
Nos dias de hoje, a crise da educação é  «varrida para debaixo do tapete»,  é um claro caso de «denegação». 
Como este problema é particularmente importante, a meu ver, merece que nos debrucemos sobre ele no próximo escrito (parte V), pois está no cerne de problemas sociais e das repercussões nos indivíduos contemporâneos. 

domingo, 6 de agosto de 2017

PENSAMENTO CRÍTICO



É realmente paradoxal verificar-se que, na época em que se dá uma explosão das tecnologias de informação, as pessoas sejam tão pouco e sobretudo tão mal informadas. 

O que passa por informação e por cultura é, quase sempre, ao nível dos mexericos, das frases feitas, dos slogans; não tem nada que ver com o trabalho interior da pessoa que reflecte, que assimila verdadeiramente, ou seja, faz suas as palavras e ensinamentos dos grandes mestres. 
Aliás, as pessoas só estarão aptas a exercer um papel verdadeiramente crítico, de leitores críticos, das obras dos seus contemporâneos, quando realizam o tal «trabalho interior».

Em qualquer domínio, somos confrontados essencialmente com o mesmo fenómeno. Descrevo abaixo alguns exemplos:

- Na música pop, sucedem-se vertiginosamente «celebridades», fabricadas por máquinas mediáticas, como meros produtos lançados no mercado à custa de campanhas publicitárias. 
Estas mesmas «celebridades», que ocupam agora as primeiras páginas dos jornais, ou os primeiros planos das notícias televisivas, dentro de meses ou, no máximo um ou dois anos, estarão relegadas para um lugar perfeitamente secundário, quando não completamente esquecidas. 

-  A política tornou-se uma espécie de corrida para a fama, para a popularidade. Todos os partidos e agrupamentos políticos, por esse vasto mundo, embarcaram nessa maneira de fazer política.
A dimensão de «pedagogia cívica» desapareceu completamente. Ela pode ser invocada ao nível do discurso, mas a prática é exactamente o contrário disso: chame-se endoutrinamento, propaganda, «public relations», o facto é que os partidos políticos se transformaram em gigantescas máquinas de caçar votos e dinheiro.  
O dinheiro e o poder são as duas faces da mesma realidade. Os estados-maiores que estabelecem as linha-mestras das campanhas eleitorais constroem o discurso que mais agrade ao eleitorado. Esta construção e difusão beneficia das contribuições pecuniárias, nada desinteressadas, de pessoas e de empresas interessadas em influir nos eleitos. 

- Ao nível da transmissão, os saberes académicos, sobretudo em áreas sensíveis para o exercício do poder político/económico, como economia, sociologia, e outras ciências sociais e humanas, mas também nas ciências «duras» (física, química, biologia, etc...), estão fossilizados. Só se ensinam teorias «consensuais», não havendo realmente espaço de difusão do conhecimento de outras formas de teorizar, de construir um discurso científico. 
Quaisquer tendências críticas são postas à margem pelos que ocupam lugares de poder dentro da academia. 
Este exercício do poder, nas esferas do conhecimento, tem como corolário que a grande maioria das pessoas que frequentam estudos e se diplomam têm um pensamento perfeitamente estereotipado, convencional, nada propício a «rasgos de génio». São pessoas que meramente repoduzem o que assimilaram: as formas de pensar, de estar na vida, de encarar os problemas sociais, totalmente convencionais. 

Poderia dar outros exemplos, mas penso que estes acima já são suficientes para o leitor ajuízar e procurar por si próprio, observando à sua roda. 
É certo que existem múltiplos casos, que ilustram como as coisas funcionam verdadeiramente nesta sociedade. 

Face a esta situação generalizada, a minha resposta tem sido a de construir pequenos ilhéus de  pensamento crítico, de diálogo e intercâmbio sem fronteiras. 
Claro que estes espaços reais e/ou virtuais são obra colectiva. Logicamente, não estou isolado a realizar esta tarefa. Não pretendo liderar aqueles que comigo têm participado, ao longo dos anos, nesta construção. 
Porém, parece-me importante chamar a atenção para um aspecto da questão, às vezes descurado: tenho visto que muitas pessoas, ao pretender agir no âmbito social, falham porque não têm um propósito claro, bem estabelecido, bem amadurecido. 
No meu caso pessoal, o meu combate essencial, em vários domínios de intervenção social, política (e, mesmo, no domínio da teoria) tem sido o de abrir espaços de discussão livre, de diálogo desinibido, de construção colectiva de um saber crítico, aplicável no quotidiano das pessoas. 
Desde há décadas que tenho este propósito, embora talvez não o tenha confessado nunca, tão explicitamente. 
Seja este ou outro qualquer, o que me parece importante é que as pessoas tenham um propósito claro naquilo que fazem. Podem não o explicitar para o exterior, mas devem fazê-lo para si próprias.