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sexta-feira, 7 de julho de 2023
O IMPÉRIO DAS LUZES - RENÉ MAGRITTE
terça-feira, 16 de novembro de 2021
VELASQUEZ E O JOGO DE ESPELHOS
Se o século XVII teve alguns génios em pintura, Velasquez é certamente um deles. Tentarei explicar porquê.
A arte, nos reinos europeus, no período que vai do Renascimento até meados do século XVII, é toda ela figurativa e simbólica. O cânon era dado pela civilização greco-romana, considerada o pináculo inultrapassável de elevação estética.
A própria estética estava imbrincada com o sentido moral, visto como muito mais elevado que o saber técnico. Este, o saber técnico, seria elemento fundamental para alcançar a maestria, mas não o único pois, necessariamente, a elevação moral tinha de perpassar nas obras. Elas tinham de ter uma componente exemplar.
As grandes obras tinham de ser modelos, não apenas estéticos, como de conduta. O tema duma obra como «Las Meninas» era imediatamente compreendido pelos contemporâneos. Retratava a família real e a corte, em torno da infanta, a única descendente sobrevivente.
O génio do pintor está no arranjo da cena: Aparentemente, capta um momento do seu trabalho, enquanto pintava o retrato do casal real. O espelho no fundo reflete a imagem desfocada, mas perfeitamente identificável, do rei e da rainha, que estariam no plano donde nós observamos o quadro.
A chave deste quadro está encerrada na cena, ela própria.
Poucas pessoas se perguntam porque razão este quadro foi intitulado «Las Meninas», ou seja, as aias da princesa. Não seria mais apropriado designá-lo como «A infanta visitando Velasquez, enquanto pintava o casal real»? - Sim e não.
O nome «Las Meninas» é apropriado, porque elas estão realmente no primeiro plano e descrevem uma espécie de anel protetor em torno da infanta. Elas próprias estão rodeadas pelas figuras do anão e da anã, com o cão, o mastim pachorrento e, mais atrás, dois vultos; uma mulher, com hábito de religiosa e um homem.
No umbral da porta aberta, uma silhueta de homem austero, criado ou nobre, junto ao espelho refletindo o casal real.
Tudo está arranjado para dar a impressão de espontâneo, mas encerra um significado e simbolismo discretos. A própria ambiguidade dos planos em que está construída a obra, a sensação espacial que daí se desprende, traz complexidade, tanto na leitura da ótica física da cena, como de sua ótica simbólica, do «recado implícito» que transmite. Nem uma, nem outra são simples: A obra está estruturada com grande maestria técnica, mas não é o exercício de virtuosismo gratuito que muitos descrevem.
A tela transporta uma imagem fulcral, a de Velasquez que, ao se auto retratar, quis demonstrar algo. Ele, que estava ao serviço do monarca Filipe IV, implicitamente colocava-se ao serviço da herdeira do trono e fazia-o como alguém orgulhoso de servir.
Não é por acaso que ostenta no gibão a Cruz de Cavaleiro da Ordem de Santiago: Está a dizer que seu trabalho é o de um Cavaleiro, não de mero prático, de artesão afortunado, premiado pelo seu rei. Com sua presença, está a afirmar seu dever e compromisso de servir a infanta, tal como as duas «Meninas» o fazem, mas de outro modo.
Este quadro fez correr «rios de tinta» e fará correr muitos mais, estou convencido. Afinal, esta obra realiza, de um modo que Velasquez nunca sonhou, a perpetuação da memória do tempo em que a Espanha era governada pela monarquia dos Habsburgo.
Impressiona-me pensar que posso ver as figuras do rei, da rainha, da infanta, dos nobres, etc. na sua «palpável humanidade». Mas, ao mesmo tempo, penso como eram figuras tão poderosas. Detinham uma fortuna quase impossível de avaliar, dominavam metade do planeta, com seus povos e nações. Não é estranho que sua aparência no quotidiano chegue até nós, como se estivéssemos no palácio real?
Velasquez era um génio. Como todos os génios, transcendeu as circunstâncias históricas de sua época. Por isso hoje, também, suas obras podem iluminar (no sentido de educar) as pessoas.
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Nota: Possuem interessante informação, estes dois vídeos sobre o quadro.
terça-feira, 29 de dezembro de 2020
PIERRE-CHARLES COMTE (1823- 1895) UM MESTRE POUCO CONHECIDO
Pierre Charles Comte *(1823-1895) - Auto-retrato
Se consultarmos a página da Wikipédia que lhe é dedicada, verificamos que foi um artista muito bem inserido na cultura e nos gostos do século XIX. Em particular, várias obras referentes a episódios da história são realmente notáveis.
Gosto, em particular, de duas:
- A coroação de Inês de Castro (presente no Museé de Beaux-Arts de Lyon), quadro a óleo de cerca de 1849, mostra uma cena esplendorosa, no paço real, com toda a pompa e a múmia de Inês. Um nobre ajoelhado, beija a mão cadavérica, como gesto de submissão ao poder de D. Pedro I.
O contraste do luxo palaciano com a imagem da morta não poderia ser mais surpreendente e faz tremer com o horror da cena.
A história de Inês e Pedro é um episódio da história de Portugal sobejamente conhecido, descrito por poetas e prosadores, até mesmo usado como tema para ópera.
O outro quadro, relaciona-se com a história de Inglaterra, o Processo de Jeanne Gray (Lady Jane): Lady Jane, rainha de Inglaterra por 9 dias, foi vítima das intrigas que levaram ao seu encerramento na torre de Londres e ao seu julgamento, tendo a rainha Mary feito executar Lady Jane, por uma suposta conjura, destinada a derrubá-la do trono.
Esta tela tenta descrever uma cena do processo, como se lá estivéssemos: De pé, Lady Jane, dá a mão a beijar a um cortesão. Este, terá sido encarregue pela rainha Mary de endereçar ao tribunal a acusação de conjura, mas ele sabe perfeitamente que esta é forjada. Isso explica o facto de se ajoelhar diante de tanta nobreza e inocência da jovem Jane Gray. É assim que interpreto a cena, dado que tanto juízes, como eclesiásticos, estão numa postura de expectativa surpreendida.
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*Autoretrato, guardado na família Gandon-Banet.
terça-feira, 27 de outubro de 2020
«O COLOSSO» de Francisco de Goya
«O Colosso» de Francisco de Goya
terça-feira, 21 de julho de 2020
sexta-feira, 21 de dezembro de 2018
GREUZE: RETRATO DE JOVEM MULHER E OUTRAS OBRAS
quarta-feira, 24 de outubro de 2018
sábado, 3 de fevereiro de 2018
ALICE JORGE: UMA MULHER OLHANDO A MULHER
«A mulher que nos mostrava as mulheres, desvendando o seu mais simples e sofrido quotidiano ou, depois, o seu corpo na naturalidade de uma nudez sem artifícios e embelezamentos, a professora que experimenta o risco de riscar, o borrão ou o acaso, para além da figuração, numa aula prática de proveito e exemplo, a pintora de retratos nos limites da singeleza e da ingenuidade, a paisagista da indistinção, a experimentadora de signos gráficos fortemente comunicativos, a ilustradora que cede aos poderes da imaginação»
UMA MULHER OLHA OUTRA MULHER
- 1963 – Pintura. Galeria do Diário de Notícias, Lisboa.
- 1968 – Gravura. Cooperativa Gravura, Lisboa.
- 1971 – Gravura, desenho, pintura. Galeria S. Francisco, Lisboa.
- 1972 – Pintura. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
- 1977 – Pintura e aguarela. Junta de Turismo da Costa do Sol.
- 1978 – Pintura e desenho. SNBA, Lisboa.
- 1980 – Pintura e aguarela. Galeria Tempo, Lisboa.
- 1980 – Pintura e aguarela. Galeria Alvarez , Porto.
- 1982 – Pintura, aguarela e desenho. Galeria Ana Isabel, Lisboa.
- 1985 – Pintura. Galeria do Diário de Notícias, Lisboa.
- 1986 – Aguarela e desenho. Galeria Bertrand, Lisboa e Porto.
- 1991 – Pintura e aguarela. Galeria Teatro Romano, Lisboa.
- 1991 – Pintura e aguarela. Casa-Museu Romântico, Porto.
- 1992 – Obra gravada. Bienal de Gravura da Amadora.
- 2013 – Alice Jorge – Traços, Ecos e Revelações. Museu do Neo-Realismo, Vila Franca de Xira
domingo, 21 de janeiro de 2018
ROSTOS DE CRIANÇAS Obras de Édouard H. Gandon e de Verónica O. Baptista
Mas, de facto, a presença humana que se desprende de tais quadros é palpável. Quando contemplados, eles contemplam de volta o observador.
O restauro disfarçou o rasgão, mas alterou as subtis tonalidades da pele do rosto retratado. Presente no espaço familiar, o retrato deste menino de seis anos tem desempenhado um papel silencioso: o olhar da criança, perante o indivíduo adulto.
A Joana, tem o olhar fixado no longe; o olhar duma criança crescida, intensa, que procura o saber e a sabedoria.
O Eduardo, olha intensa e directamente para o observador, sorrindo. Seu olhar vai directamente ao encontro do nosso.
segunda-feira, 27 de novembro de 2017
EDOUARD HONORÉ GANDON, PINTOR LUSO-FRANCÊS DO SÉCULO XX
Os quadros reproduzidos abaixo são uma pequena amostra da sua arte. Foram pintados por volta de 1960, pertencem portanto à fase mais tardia da sua produção.
Tal como outras obras, pode apreciá-las no citado blog, onde coloquei uma breve biografia «In Memoriam E. H. Gandon».
Mãe, Georgette Banet M. Baptista
Tio-avô, Edouard Honoré Gandon
Penso que vale a pena explorar o museu virtual que é o meu site do pintor Edouard Honoré Gandon.
Ele foi notável na fidelidade ao seu próprio estilo, à sua própria maneira de pintar.
Manteve-se completamente alheio às diversas vanguardas do século XX.
A sua obra, mal conhecida e pouco divulgada, é porém a de um observador sensível da natureza e dos homens.