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quarta-feira, 22 de agosto de 2018

PARA QUANDO O FIM DO DÓLAR COMO MOEDA DE RESERVA?

Já há algum tempo que tinha aventado esta hipótese e mesmo afirmado ser inútil, ao fim e ao cabo, uma moeda de reserva (ver aqui). No entanto, estes processos são «tectónicos», ou seja, no mundo de hoje, estendem-se por dezenas de anos. 
Um caso muito típico disso, é o do ministro alemão que apela à criação de um sistema europeu em alternativa ao sistema SWIFT, de pagamentos internacionais. Este sistema, embora sediado na Bélgica, é controlado nos EUA. Todas as pessoas bem informadas sabiam disso, evidentemente, desde a sua criação. Mas, o facto do ministro alemão exprimir isso, mostra como as sanções irracionais e prejudiciais contra a Rússia e agora também contra o Irão, impostas pelo Império têm um efeito negativo, não apenas nos referidos países, como também nos aliados (na realidade súbditos) europeus. Os EUA queriam afirmar, com essas sanções, a sua posição de potência hegemónica; afinal, o que conseguiram foi afastar os seus melhores aliados na Europa.
Do lado do grupo dos «sancionados», a reacção foi criar um sistema financeiro alternativo. A Rússia e a China possuem sistemas equivalentes ao SWIFT, mas sob controlo dos seus bancos centrais respectivos. A contrapartida para a NATO é um sistema de defesa e segurança, a Organização de Cooperação de Xangai, que agrupa também as ex-repúblicas soviéticas da Ásia e à qual o Irão está em processo de adesão. A Turquia fez um pedido formal, na última cimeira da organização, facto que se pode correlacionar com a guerra económica decretada por Washington. A Rússia, a China e mais de sessenta nações constituem os parceiros de um banco internacional de desenvolvimento, o equivalente do Banco Mundial, que tem financiado múltiplos projectos, principalmente em África, atraindo assim um número crescente de nações deste continente a fazerem parte de um mundo onde as trocas são feitas fora do dólar. 
A forma preferida de reserva dos dólares, detidos ao nível dos bancos centrais, tem sido as obrigações do Tesouro dos EUA, a dez anos. Estas têm sido vertidas no mercado, em grande quantidade nos últimos tempos, pela Rússia e pela Turquia. Também o foram, há algum tempo atrás, pelo Japão. Ora, a cotação destas obrigações não se alterou de modo significativo, o que implica terem sido absorvidas por entidades misteriosas, como o Luxemburgo ou as Ilhas Caimão, sem dúvida por ordem do governo dos EUA, visto que a Reserva Federal (o banco central dos EUA) não terá sido um comprador maciço destas «treasuries», nestes últimos tempos. Os EUA não poderão indefinidamente usar estratagemas para aguentar a cotação das «treasuries» e portanto do dólar. Chegará um momento, quando houver um volume significativo de trocas usando o Yuan (não esquecer o recente lançamento do petro-yuan, um contrato de futuros para compra de petróleo usando a moeda chinesa), em que muitos países não verão vantagem nenhuma em possuir em reserva dólares, visto que as suas trocas comerciais e seus pagamentos serão maioritariamente fora do mundo dominado pelo dólar.
Caminha-se assim, a passos largos, para um mundo formado por dois grupos de Estados, num sistema internacional bipolar. Um mundo estará dentro da esfera de controlo angloamericano, com o dólar a reinar como dono e senhor de todas as transacções comerciais que se efectuem no seu interior. Outro, será o mundo dominado pela nova potência dominante mundial - a China - tendo como parceiros e aliados, a Rússia e praticamente toda a Ásia central e oriental. Mesmo o Paquistão, mesmo o Japão, estão a orientar-se em direcção aos BRICS e a participar activamente em projectos importantes da Nova Rota da Seda. Porque têm simpatia pelos Estados fundadores dos BRICS? Porque têm afinidades com o regime herdeiro de Mao? Porque eles próprios mudaram radicalmente seu governo? Não, não e não! Simplesmente, sabem ver de onde o vento sopra e não querem ficar para trás.
As «luminárias» que se exibem nos media neste país e, infelizmente, também no chamado «mundo ocidental», nunca põem as questões pertinentes, nunca explicam o contexto em que as coisas ocorrem. Também o seu «império» é de curta duração: Ao fazerem um «blackout» de todas as notícias que contradizem a narrativa simplista de Washington, Londres, Bruxelas... ao sonegarem dados importantes sobre os BRICS e questões associadas, estão a descredibilizar-se junto duma parte do público, a parte que não renunciou a pensar pela sua própria cabeça.
Temos de recorrer à RT e ao Asian Times e outros meios informativos, ditos «alternativos», pois a media «mainstream» tornou-se repositório da pior propaganda, não havendo praticamente nenhuma verdade nas «notícias» por eles cozinhadas...



https://www.zerohedge.com/news/2018-08-21/germany-calls-global-payment-system-independent-us

http://thesaker.is/so-what-will-the-sanctioned-supergroup-do/


quarta-feira, 8 de agosto de 2018

A POLÍTICA DE SANÇÕES, UM SINTOMA CLARO DA PERDA DE INFLUÊNCIA

                           Resultado de imagem para iran sanctions 2018


Quando é preciso exercer pressão, ameaçar, fazer guerra económica, isso significa que a liderança de um país não tem mais capacidade de provocar a adesão dos aliados e o respeito dos adversários.
As sanções unilaterais que Washington tem promovido como forma de impor a sua vontade, embora as apresente com o pretexto falacioso de que o faz para «punir» actos supostamente contra os direitos humanos das populações, são a maior evidência da decadência dos EUA e da complexa rede de dependências económicas, políticas, institucionais e militares que se tem auto-designado por «Ocidente». 
Os impérios são mortais, como a História o tem mostrado repetidamente. 

Está-se num ponto de transição em relação a todo um conjunto de parâmetros...

- Moeda de reserva: O dólar foi - desde Bretton Woods em 1944 - erigido em moeda de reserva, tendo mantido a sua paridade ao ouro (35 dólares por uma onça de ouro) até Nixon despegar o dólar desse compromisso, em 1971. A partir deste momento, todo o sistema monetário internacional entrou numa espiral de inflação e instabilidade. A conservação artificial dos diversos países no sistema dólar foi obtida graças ao acordo com a Arábia Saudita, conseguido por Kissinger em 1973, segundo o qual os EUA iriam sempre defender o regime saudita, enquanto este exigisse que seu petróleo fosse pago em dólares. Sendo a Arábia Saudita, nessa data (1973), o mais importante país exportador de petróleo da OPEP, todos os outros fizeram o mesmo; só aceitaram dólares em pagamento do seu petróleo.
O petrodólar está a perder a proeminência, pois vários países exportadores estão explicitamente a estabelecer contratos em que o petróleo (ou o gás) já não é pago em dólares: caso da Rússia, especialmente, com seus gigantescos contratos com a China. Mas também é o caso do Irão, da Venezuela, de Angola e mesmo do Catar. 
Não tarda muito que a própria Arábia Saudita aceite os yuan em pagamento de petróleo. A China é o maior comprador do petróleo saudita e instituiu recentemente um sistema «petro-yuan», em que as notas de crédito emitidas em yuan podem ser convertidas em ouro, no mercado de Xangai. A Rússia e o Irão, utilizando o referido petro-yuan, têm aumentado suas compras de ouro ou de produtos chineses. 

- Armamento: A superioridade dos sistemas de mísseis russos é tal que, a Turquia e a Arábia Saudita, aliados tradicionais dos EUA, preferiram adquirir SS-300, aos equivalentes americanos.
 Por outro lado, a Rússia com um orçamento militar muito menor que o dos EUA, consegue modernizar e tornar operacionais todos os ramos das suas forças armadas, depois destes terem sofrido, durante a década de 90. 
A colaboração entre a China e a Rússia vai potenciar os sistemas de defesa de ambos. Por exemplo, a detecção precoce e resposta adequada a um ataque surpresa, na China, beneficia dum melhor desempenho, em relação a quaisquer outras potências,  devido à sua rede instalada de supercomputadores.
Além disso, os armamentos russos mostraram sua eficácia recentemente, na guerra na Síria. A superioridade de tais armas impressionou de tal maneira generais dos EUA e da NATO, que estes aconselharam maior prudência ao presidente.

-A perda de aliados: Em pouco tempo, vários países «emergentes» começaram a descolar da vassalagem em relação aos EUA e a fazerem acordos de cooperação militar (as Filipinas com a China, por exemplo), de investimento em infraestruturas, etc. É o caso dos mais de  60 países envolvidos na «Belt and Road Iniciative». É ainda o caso de numerosos países africanos, que têm feito acordos mutuamente  vantajosos, podendo ficar com portos, caminhos de ferro, etc. a troco de suas matérias-primas...
Mas o mais grave ainda, é a discordância que pode chegar a uma completa desautorização pelos parceiros da NATO. Nomeadamente, apesar da admoestação e ameaças de Trump, os alemães prosseguem com o projecto «Nord Stream 2», em parceria com a Rússia, negando-se a aceitar quaisquer sanções. Além deles, muitas outras vozes europeias vêm clamando pelo fim das sanções contra este país.

- Recuo da globalização: Embora explicitamente desejada pelo actual ocupante da Casa Branca, a retirada de vários acordos  em instâncias da globalização, traduz-se por perda de influência. São os casos da retirada, ou desistência, dos acordos TPP e TTIP, assim como as exigências de renegociação do NAFTA, a  possibilidade de saída da OMC ou de organismos especializados da ONU... tudo isto contraria o poderio dum Império que se vê na liderança do Mundo globalizado. 

                          Resultado de imagem para iran sanctions 2018

- A retirada dos EUA do acordo multi-partido com o Irão trouxe ao de cima uma contradição flagrante entre a vontade do poder dominante e dos seus aliados/vassalos europeus. Estes, além do aprovisionamento em petróleo e gás, estão muito empenhados em estabelecer contratos de todo o tipo, desde obras públicas à aeronáutica, com o Irão.

- A utilização da arma das sanções é apenas eficaz se os países se vergarem, se submeterem. Pois, se não se sentirem intimidados, a ameaça surge apenas como forma brutal de pressão, como injustiça feita em primeiro lugar aos povos, não aos líderes dos países sancionados. 
Quando as sanções são unilaterais, quando são decididas ilegalmente e à revelia da ONU, apenas têm um efeito de intimidação, mas não chegam a ser eficazes, logo à partida. 
De certeza que os EUA sabem isso, visto que experimentaram esta situação com suas sanções contra Cuba, que perduraram cerca de 50 anos! No final, tiveram de as levantar; tinham-se tornado um anacronismo grotesco.

Sendo esta política internacional o equivalente do proverbial «pau», sem a «cenoura» para amenizar,  amigos e inimigos concluem que é melhor reforçar laços com outros, diversificar as parcerias: ficar exclusivamente na órbita de Washington, só traz limitações e não resulta em vantagens de qualquer espécie. 
Longe vão os dias em que os EUA eram vistos - por alguns - como sinónimo de segurança e desenvolvimento!

quarta-feira, 6 de junho de 2018

ESTRATÉGIA DA CHINA PARA A TRANSIÇÃO

                             

Muito se tem escrito em Portugal sobre a China, sobre os investimentos chineses em infraestruturas um pouco por todo o lado, a sua insaciável fome de matérias-primas, em particular de petróleo. Mas poucas vezes nos é explicado o papel das plataformas de negociação do ouro e do yuan, como forma de adquirir um cada vez maior pedaço do comércio internacional e de assegurar que o abastecimento do «Império do Meio» não será dramaticamente afectado pela crise que está «levedando» nos mercados internacionais, da finança ainda dependentes do dólar. 
A importância do ouro, nesta estratégia, não pode ser deixada de lado, sob pena de não se compreender rigorosamente nada do grande jogo do «Império do Meio». O artigo seguinte é muito esclarecedor: 

Belt & (Yellow Brick) Road: China Is Absolutely Dominating The Global Gold Trade

A China não pretende que a sua moeda se torne o substituto do dólar como moeda de reserva; pretende que o valor do seu excedente em dólares (mais de 1,2 milhares de milhões de dólares em obrigações do Tesouro dos EUA) não seja completamente evaporado pela política hiperinflacionária dos bancos centrais e governos ocidentais. 
Tem lançado a iniciativa «Belt and Road» ou «Nova Rota da Seda» para firmar e consolidar as bases de parcerias com os mais diversos países, em trocas comerciais mutuamente vantajosas, sem quaisquer compromissos que não sejam os decorrentes do que é acordado entre as partes. Os numerosos países que aderem a esta plataforma poderão contar com instrumentos de crédito muito eficientes - os contratos de petróleo em yuan são apenas um exemplo - que permitirão a esses países dispensar o dólar como moeda de reserva. A nota de crédito de Yuan remível em ouro, por outro lado, será um instrumento de crédito que oferece mais estabilidade e garantias de pagamento do que as notas de crédito em dólares até agora utilizadas correntemente no comercio em grosso, como no pagamento das mercadorias de um navio num porto.
Para se ver menos susceptível perante uma eventual queda do dólar, a China tem usado os dólares para muitas das obras de infraestrutura (portos, caminhos de ferro, estradas, etc.), em especial, nos países que participam na «Belt & Road Initiative». Para se ver livre do seu excedente de dólares, estabeleceu recentemente um contrato com Angola, em como receberia petróleo angolano em pagamento de um empréstimo em dólares que Angola precisava e que a China se apressou a conceder-lhe.    
Se a China estivesse interessada em sabotar o dólar que é, junto com o poderio militar, a forma concreta que os EUA têm de dominar o mundo, poderia fazê-lo, desfazendo-se de suas enormes reservas em «treasuries» (as obrigações do tesouro dos EUA). Porém, isso seria suicidário para ela própria, pois os EUA e o Ocidente, que está na «esfera de influência do dólar», no seu conjunto, são os seus maiores parceiros comerciais. Por outro lado, através desta política de gastar nas infraestruturas o seu excedente em dólares, dirigida a países recém independentes do jugo colonial, terá uma aceitação muito maior e poderá sem forçar nada concluir, futuramente, trocas comerciais em yuan, não em dólares. 
A partir do momento em que uma maior fatia do petróleo e doutras matérias primas forem transaccionadas noutras divisas, que não o dólar, a dominação deste (e da potência que o emite, os EUA) ficará muito limitada. 

É muito provável que o sistema monetário internacional evolua de maneira relativamente pacífica,  como aconteceu com a substituição da Libra esterlina, moeda de reserva durante mais de um século e que foi progressivamente perdendo peso a favor do dólar.