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segunda-feira, 18 de março de 2024

OPUS. VOL. III 7. VIVER É SOFRER

Sabe-se que viver é sofrer
Mas a maior parte das pessoas
Está tão ocupada com a simples sobrevivência
Que não tem possibilidade de filosofar

A vida é sofrimento, sente-se de vários modos:
Com o corpo e com a mente
Em várias circunstâncias
A ausência de sofrimento é assimilado
Ao bem-estar, ao prazer

Mas tal não é assim;
Seria antes o sofrimento
A reinar sobre nós
Como tortura sobre o corpo
E o espírito. 
De vez em quando,
Os sofrimentos materiais e morais
São menos intensos, não desaparecem
Mas podem ser esquecidos
Por instantes.
É nessas ocasiões que nos iludimos
E acreditamos que somos «felizes».

Além disto, quero dizer-vos
Que a ideia de que existem afortunados
Que não sofrem, ou sofrem pouco,
Porque são ricos, poderosos, inteligentes ...
É falsa. Não existe correlação entre o poder
E evitar o sofrimento.

Quem aguenta o sofrimento
e não fica tão traumatizado
Como os outros, tem maior resistência
Ou resiliência, a capacidade de enfrentar
As coisas duras da vida.

Não procuro sofrer. O sofrimento
Não me trouxe paz, trouxe-me
Um início de sabedoria
A vontade de evitar sofrimentos
Inúteis, em mim e nos outros.

Sei que soa a demasiado pouco
Mas, este evitar ou menorizar
Da dor e do sofrimento
É ensinamento de séculos e séculos
Da filosofia e da educação moral





quinta-feira, 20 de abril de 2023

DMITRY ORLOV - Lúcido diagnóstico de doença terminal dos EUA

 Abaixo, link de artigo de Dmitry Orlov (em francês):

Artigo original, em inglês:

https://cluborlov.wordpress.com/2023/04/10/the-futility-of-american-protest/


COMENTÁRIO

A minha impressão depois de ler o artigo acima, é que as sociedades da Europa Ocidental estão de tal maneira colonizadas mentalmente (e de todas as maneiras) pelos EUA, que têm vindo a adotar - inconscientemente - a visão americana do mundo e da sociedade, que lhes era totalmente estranha. A mentalidade que se desenvolveu e prevalece nos EUA, é tipicamente derivada do protestantismo de raiz calvinista, na sua vertente mais fundamentalista (puritana). Essa mentalidade acaba por se entranhar nos diversos estratos da população, pois esta tem sido incessantemente matraqueada durante séculos, por igrejas, sistemas de educação, instituições públicas, empresas, publicidade e cultura de massas.

Para mim, uma grande diferença de mentalidades entre um americano típico e um europeu típico, é que o primeiro está convencido de que «God is on our side», leia-se: do lado da América e do povo americano. Ora, esta é uma crença religiosa:  Está na essência do calvinismo e também do sionismo, ao fazer distinção entre «eleitos»  (Deus está ao seu lado), e os outros (estão perdidos, são pecadores, são perdedores...). É um sistema religioso (a teologia calvinista), que está na base dessa ideologia do «povo indispensável». É aí que radica a lógica das igrejas protestantes fundamentalistas, serem as mais intransigentes apoiantes de Israel, como se o estado sionista, racista e colonial, instalado na Palestina, fosse a «vanguarda» do Reino de Deus na Terra.

No que toca à relação das pessoas com o dinheiro, aos aspetos psicológicos desta relação, como muito bem sublinhou Orlov: Nos EUA, o dinheiro é o critério de tudo. 

Em países de raiz católica, como são os países latinos do sul da Europa, a relação ao dinheiro e à riqueza é (ou era) diferente da relação que têm  os cidadãos dos EUA:

- Tradicionalmente, na Europa do Sul, o facto de alguém ser rico, é compatível com ser-se pessoa de bem, se tiver adquirido a riqueza por meios lícitos e morais. Mas não é automático; os cidadãos estão atentos aos casos de enriquecimento à custa de processos nada limpos. 

Por contraste, para a moral comum dos EUA, ter-se muito dinheiro significa que a pessoa foi «eleita por Deus», que despejou sobre ela riqueza, enquanto sinal divino de que ela estava salva.

 Na Europa, uma pessoa rica pode SER, OU NÃO SER, considerada virtuosa. Mas, nos EUA a riqueza só pode ser sinónimo de virtude.



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PS 1: Uma sociedade em decomposição é aquilo que se pode ver, mas não é noticiado nos media mainstream do lado de cá do Atlântico:

https://www.armstrongeconomics.com/international-news/north_america/chicago-is-a-blue-warzone/

domingo, 16 de abril de 2023

CASO ASSANGE: AUTORIDADE MORAL DOS EUA ESTÁ MORTA E ENTERRADA



               https://caitlinjohnstone.com/2023/04/16/us-moral-authority-is-dead-and-buried/

Excerto do artigo de Caitlin Johnstone

« A questão não é que a perseguição movida a Assange faz os EUA parecerem mal, mas antes que a perseguição prova que os EUA são o mal.

E, claro, não precisávamos da perseguição a Assange para chegarmos por nós próprios a esta conclusão. Os EUA são o único governo na Terra que gastou o século 21 a matar pessoas aos milhões em guerras pelo domínio geoestratégico, que tem condenado populações à fome em consequência das sanções e bloqueios, em todo o mundo. A única potência que envolve o Planeta com centenas de bases militares, com o objetivo de domínio global e tem estado a aumentar constantemente o risco de catástrofe nuclear com a escalada das suas agendas, orientadas para manter sua hegemonia unipolar. O caso de Assange, apenas faz com que a completa ausência de moral do governo dos EUA sobressaia muito mais claramente.»

Leia o artigo completo AQUI:

 

terça-feira, 14 de junho de 2022

Madrid 29 de Junho: CIMEIRA DA NATO E IMPERIALISMO

                                    

A NATO vai realizar o seu "show mediático" em Madrid no final do mês de Junho de 2022. Esta cimeira - ao contrário do que os estrategas político-militares atlantistas previam - não será a ocasião para proclamar o «triunfo das forças do Bem, sobre as forças do Mal».
Será antes um cerimonial para mostrar a «legítima» inquietação da NATO perante a subida em potência do eixo Euroasiático: China, Rússia, mas também Índia, Síria, Cazaquistão, Irão e muitas outros, formando um tecido de alianças, pactos, tratados e rotas comerciais, vitais para essas nações intervenientes, mas sem aliança militar formal.
A história do Ocidente é fértil em tentativas de conquista dos territórios hoje disputados entre eslavos de Moscovo e de Kiev, de histórias de cruentas guerras que se concluíram em derrotas para os exércitos ocidentais. Isto, parece não inquietar os contemporâneos que conduziram ao abismo, à crise económica, política e moral esta Europa Ocidental, submissa ao Império Ianque. Os orgulhosos donos dos países em causa servem-se das máquinas de propaganda, da «media mainstream» que controlam, para darem a ilusão às populações de que a NATO está a apoiar eficazmente e permitir a vitória do exército ucraniano. Não irei aqui repetir o que tenho escrito - desde Janeiro de 2022 - sobre o assunto.
Quero somente relembrar o que sucede frequentemente às tentativas de expansão dos impérios, para além das suas zonas de influência tradicionais: No passado, todos eles se depararam com grandes dificuldades logísticas, que levaram a um abastecimento moroso e periclitante da(s) frente(s) de batalha, um esforço económico incomportável, quer do país central da aliança imperialista, quer de potências subordinadas, ao ponto de causar graves catástrofes económicas e sociais, em países previamente estáveis. Outra consequência, é a insubordinação de potências médias dentro da aliança, que sentem desprezados os seus interesses legítimos, posta em cheque a sua estratégia de desenvolvimento e arcando com uma excessiva contribuição para o «esforço de guerra». É neste quadro, que chegam à conclusão de que não se justifica manterem solidariedade com a potência dominante. Por seu lado, esta potência hegemónica manifesta desconfiança, tem intentos pouco claros e total ausência de respeito pela soberania dos seus «aliados». O que descrevo acima, não só pode ser ilustrado com situações de séculos passados: Verifica-se agora, com a aliança atlântica ou NATO, nos últimos anos e com especial acuidade, nos últimos meses.
Sinceramente, não irei chorar pela derrota do Ocidente, como não farei uma apologia dos aliados China-Rússia, em plena ascensão. Apenas quero destacar a desinformação que envolve o cenário: O coro de luminárias que enxameia as redações e as colunas de opinião do «mainstream», não vê o que, porém, é claramente visível: Ou tem cegueira ou miopia. Pelos vistos, a cegueira de quem não quer ver. As primeiras baixas, diz-se, quando rebenta uma guerra, são a objetividade e a neutralidade das análises. Eu penso que se passou a um novo patamar, com esta guerra russo-ucraniana. A media corporativa, não merece sequer «os bytes, os raios hertzianos, ou o papel onde está impressa». Oxalá que a cidadania acorde e veja: que seja a Berezina da coorte mediática.
Por contraste, Scott Ritter, um militar americano com experiência, escreve um esclarecedor artigo sobre o híper- expansionismo da NATO e a húbris dos seus líderes. Ele vê com objetividade como a NATO tem levado ao descalabro os países europeus: Veja AQUI.


sábado, 17 de agosto de 2019

A AUSÊNCIA DE EMPATIA E O DOMÍNIO DE UMA CASTA

Talvez seja pretensioso e enfático naquilo que escrevo. Porém, as frases - despidas de sua retórica - têm um significado preciso. Não tenho um talento de comunicador que me permita agarrar o leitor e fazê-lo aceitar de bom grado as minhas teses. Não tenho esse talento e tenho a obsessão pela verdade. Sei que isto é coisa fora de moda, mas - para cúmulo - eu também não dou «um traque» pelas modas!

Mas aquilo que é fundamental hoje compreendermos é que as pessoas estão agrupadas em organizações piramidais, hierárquicas, colaborando na sua manutenção e permanência. Crêem que não existe outra forma de organizar o trabalho e - em geral - todas as actividades humanas. Incluem isso nos seus sistemas de valores e de crenças, que lhes é incutido desde a mais tenra infância, sem questionarem. 
Porém, seria fundamental as pessoas «saírem da casca». Para compreenderem o que fazem com elas, o que fazem delas. Não creio que este saber, em si mesmo, modifique a sociedade; porém, sem esse primeiro passo de tomada de consciência, será fútil qualquer tentativa de mudar profundamente a sociedade. Quando falo em mudança, é de mudança real: não em mais sofisticadas, ou mais disfarçadas, formas de escravidão!

Aquilo que as pessoas não compreendem é que os que dirigem os destinos de milhões de pessoas foram seleccionados por uma espécie de «selecção darwiniana perversa». Isto é, uma selecção darwiniana que não faz prevalecer os mais fortes, os mais sábios, os mais inteligentes, mas antes os mais perversos, os sem quaisquer sentimentos de empatia pelos seus semelhantes, os capazes - portanto - de tomar decisões totalmente erradas moralmente, com o sorriso nos lábios, sabendo perfeitamente que conduzirão o justo ao cadafalso, as famílias à miséria mais abjecta, os soldados a uma morte inglória no campo de batalha, etc... 
Porque, para estes monstros psicológicos que são os «grandes homens» (e «grandes mulheres»), as dores e sofrimentos dos outros não lhes importam nada: tudo o que lhes interessa, é a sua própria glória; é o tão desejado domínio sobre os outros, sobre um povo, uma nação, um reino, um império... 

As pessoas vulgares podem ter muitos defeitos: podem ter cobiça, serem mesquinhas, avaras, egoístas, etc. mas, num grau ou noutro, possuem capacidade de empatia humana. 
Algo dentro delas sofre com a visão do sofrimento alheio, sobretudo, se for alguém que conhecem, que estimam, que amam... evidentemente. Mas também sentem empatia por alguém que não conhecem, com quem nunca falaram, que sofre e elas apercebem-se desse sofrimento. Compreendem que essa pessoa sofre, imaginam esse sofrimento nelas próprias. A compaixão é esse sentimento nobre, perante o sofrimento, qualquer tipo de sofrimento. Isso é, porventura, muito humano e mesmo, mais ainda, pois os animais manifestam-no de forma inequívoca. 
Note-se que a empatia e a capacidade de compaixão não anulam - noutras circunstâncias - a ferocidade, a crueldade, face a inimigos. Mas as pessoas destituídas de compaixão, de empatia, psicopatas ou sociopatas, têm prazer em ver sofrer, seja quem for, sobretudo se isso os ajuda a alcançar o que desejam. Onde as pessoas «normais» recuariam, onde se absteriam de determinada acção, os psicopatas avançam. Isso, muitas vezes, é confundido com coragem, determinação, ou sentido de liderança.  

Portanto, a questão primeira e fundamental é a seguinte: um sistema que premeia os psicopatas e sociopatas, onde estes têm todas das hipóteses de alcançar o topo da pirâmide social, é um sistema - ele próprio - que estará segregando normas perversas, sociopáticas. Os que estão no topo, naturalmente, estarão interessados em manter o seu poder sobre a sociedade. Temos então o «darwinismo perverso» de que falei acima.
A segunda questão e correlativa, é que as pessoas restantes guardaram suas capacidades de empatia, de compaixão, de amar... embora este amor possa ser limitado a poucos entes. 
Estas pessoas, a imensa maioria, são completamente diferentes dos psicopatas, do ponto de vista biológico profundo: têm circuitos cerebrais que permitem a manutenção da espécie enquanto tal, não somente na reprodução (o amor nas parelhas, nos parentes, etc.) como também são capazes de realizar actos que não sejam vantajosos somente para elas próprias. Existem formas de solidariedade genuínas, onde não há qualquer esperança de retribuição do gesto solidário. 
As pessoas solidárias, numa qualquer sociedade, são aquelas que permitem a coesão do tecido social. São elas que dão o bom exemplo e «obrigam» as pessoas menos solidárias a adoptarem uma moral exterior solidária. O efeito geral é benéfico para a sociedade. 
A moral predominante no neo-liberalismo, porém, consiste no exacto contrário: é destrutiva, pois institui um «não valor», o egoísmo ou egocentrismo, enquanto forma, não apenas legítima, mas única e «sensata» de comportamento. A inversão chega ao ponto de uma pessoa naturalmente levada as comportamentos solidários, ser tida por débil, fraca, até mesmo «estúpida».
Mas, pelo contrário, uma sociedade será tanto mais sólida e seus membros terão um maior grau de auto-confiança e de confiança nas instituições, quanto maior for o grau de solidariedade não coerciva que exista. Quanto maior o grau de empatia, quanto mais cultivada a compaixão e quanto mais as pessoas se insiram harmoniosamente no colectivo, mais a sociedade no seu todo beneficiará. 
Para haver mudança do comportamento social, é necessário que seja compreendido todo o mal que tem sido feito pela ideologia neo-liberal, o que eu chamo «darwinismo pervertido», que tem feito as vezes de ideologia silenciosa dominante. É preciso que se compreenda como foi instaurada e mantida uma determinada ordem hierárquica, onde os mais velhacos, os sem escrúpulos, os mais destituídos de sentimentos altruístas, são quem vence a competição social e obtém os lugares cimeiros, não apenas com as associadas benesses materiais mas, igualmente, com o poder. 
Obviamente, irão exercer esse poder sobre todos os outros, de forma a extrair o máximo deles, e de forma a que esse poder se perpetue. Esta perpetuação implica que eles tenham de segregar uma «moral ao contrário», em que ser amável, solidário, cooperativo, etc... é fraqueza; onde o contrário disto, é ser «forte», é ter «espírito de liderança»!

Hoje em dia, no vasto Mundo, constato isso:
As sociedades mais estáveis, mais felizes e as mais produtivas (embora a produtividade não seja o mais importante!), são aquelas onde os comportamentos sociais são moldados mais pela empatia, ajuda, solidariedade e sentido cooperativo... 
Os países possuídos pela «não civilização» do consumo, são aqueles onde a escala de valores tradicionais deu lugar ao consumismo/materialismo completo e total, mesmo que, na superfície, as populações continuem a aderir às suas religiões. 
Pelo contrário, os países que souberam integrar a modernidade, sem descurar seus próprios valores e a sabedoria ancestral, são mais felizes, mais pacíficos, mais auto-confiantes.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

AS OVELHAS E O LOBO

                    Image result for loup et les moutons


Evidentemente, a foto acima é uma montagem. Pela simples razão de que nenhum lobo conseguiria passar despercebido no meio das ovelhas ou ser confundido com o cão-pastor do rebanho.
Mas, se isto é assim no mundo animal, por que razão os humanos - tão mais inteligentes que ovelhas e carneiros -  deixam que «lobos» (alcateias inteiras deles!) se infiltrem no meio de pessoas inocentes, trabalhadoras, ordeiras e pacíficas? 
- Esses «lobos», conseguem facilmente semear a discórdia entre irmãos e irmãs, 
- apropriam-se do fruto do trabalho, a tão preciosa lã, a troco de um pouco de palha, ou mesmo de nada! 
-Não contentes em tosquiá-los, acabam por enviá-los ao matadouro!
Vem esta introdução em jeito de fábula ou de parábola, para comentar a enorme estranheza que causa verificar que um número considerável de cidadãos se deixam iludir (comprar?) pelas sereias do poder fascista totalitário globalista que domina as instituições internacionais (ONU, OMC, FMI, etc.) e cujo o verdadeiro esteio do poder está nas corporações capitalistas multinacionais: 
- os bancos ditos «sistémicos» (uns cinco dos EUA, um pequeno número no espaço europeu...), 
- as grandes firmas de tecnologia (Apple, Facebook, Google, Amazon...), 
- os produtores de hardware e software
- os construtores de máquinas de guerra, os Raytheon, Lockhead Martin, Bombardier, etc. 
Existem outras empresas, com um valor de negócio comparativamente mais baixo que as acima, que desempenham porém um papel crítico no empurrar dos governos para a guerra ou para subversão do poder de governos estrangeiros. Estou a pensar nas empresas de mercenários, por exemplo, a «Academi» que antes se chamava «Blackwater» e muitas outras, que conseguem obter contratos para fazer aquilo que politicamente é inconveniente fazer por exércitos de Estados, sujeitos estes a códigos de conduta e sob observação da cidadania e da media.

Assim, para mim, é perfeitamente claro que existem «lobos» no meio dos cordeiros, existem pessoas e organizações que têm vantagens materiais e de carreira em desencadear e alimentar conflitos armados, guerras entre Estados, ou guerras civis, alimentadas por guerrilhas, que se vão abastecer de armas nos mesmos fornecedores...


O meu espanto não reside na constatação acima, porém: fico espantado pela mistura de ignorância e de auto-sugestão, de uma boa parte dos meus concidadãos, irmãos e irmãs, que têm tudo a ganhar em abrir os olhos, quanto mais não seja para não caírem no logro em que estes lobbies militares e afins costumam  encerrar a população. 

Muitos são aqueles que se consideram «sábios» por ignorar as grandes questões do nosso tempo, a ameaça que pesa sobre todos e cada um. Deixámos , durante demasiado tempo, que os instrumentos de poder ficassem nas mãos de criminosos, de sociopatas e de psicopatas.
Face a isto, há pessoas que, conscientemente, se coloquem numa postura de boicote de toda a «civilização» destrutiva, que está a levar o Planeta e o Homem ao nível de extinção. 
Mas, esses são muito raros e não podemos dá-los como exemplo a seguir: nem toda a gente tem estrutura para isso ou considera aceitável, em nome da sua «pureza», abandonar outros (familiares idosos, ou crianças) à sua sorte. 

O que preconizo como atitude geral, tenho eu próprio que o assumir, sob pena de estar a ser hipócrita. Desde que me conheço tenho adoptado uma atitude crítica em relação aos poderes, que se exercem sobre as pessoas e os povos. 

Tenho observado que os que são escolhidos (por meios ditos democráticos, ou por outros) para chefiar os outros são - muitas vezes - pessoas muito pouco apropriadas, pelo perfil psicológico: pessoas que têm ânsia do poder, que se consideram uns iluminados, personalidades narcisistas... 
Assim, não admira que o seu modo de «resolver» os problemas não seja do meu agrado. 
Não digo que umas escolhas, feitas com base em deliberações horizontais, estejam automaticamente isentas de erro. Mas, as que efectivamente são erros, são susceptíveis de ser corrigidas mais depressa e melhor, do que as que foram tomadas por algum «chefe». O próprio princípio do poder hierárquico implica que um indivíduo possa tomar decisões de modo discricionário, sem dar contas a ninguém: assim, apenas e tão somente, o apontar dum erro já será considerado «crime de lesa majestade». 

Algumas pessoas, assumem que a organização hierárquica é inevitável. Dizem que a  sociedade contemporânea é de uma imensa complexidade. Porém, a sociedade de há um século atrás, não era «muito mais simples». A minha resposta, é que o ser humano tem uma capacidade de se organizar de modo maleável, tendo em conta as circunstâncias em que está vivendo.

Iludidos pelas tecnologias de comunicação, fazemos «de conta» sobre as coisas que realmente contam. Estas, são coisas demasiado profundas, não podem ser descartadas como se fossem «velharias». 
Nem têm que ver com o suporte informacional onde assenta a mensagem: a mentira é uma mentira, quer seja propalada oralmente, por um texto manuscrito num papiro,  por telemóvel, ou ...etc.

A atitude inteligente e adulta tem de ser crítica, prudente, racional, pedagógica em relação aos nossos semelhantes, ou seja, a grande maioria das pessoas. 

Não é difícil os «lobos» meterem «a cunha» entre pessoas, até mesmo amigas, até mesmo com grande afinidade de ideais: o facto é que a nossa civilização decadente tem hipertrofiado o indivíduo, endeusado o ego, o que tem sido muito eficaz para controlar as «massas», reduzidas a entidades nucleares, isoladas, totalmente alienadas e ignorantes de que o são... 
Trabalhar no sentido oposto é privilegiar a troca directa, a entre-ajuda, a não competição, a audição permanente do outro, a construção de algo em comum, a vários níveis.
Ao fim e ao cabo, necessitamos de estar conscientes da «regra de ouro» veiculada, desde tempos imemoriais pelas religiões e pela sabedoria dos povos:  «Trata os outros como gostarias de ser tratado/a» ou, na sua formulação negativa: «Não faças aos outros aquilo que não gostarias que te fizessem a ti».
Porque, se formos até ao fim da nossa reflexão e quisermos mesmo cumprir a regra, teremos de ser conscientes, amáveis, abertos, solidários, responsáveis, confiáveis... 
Todas as pessoas no nosso entorno acabarão por sentir a transformação. Podemos ter a certeza que - a partir desse momento - haverá correspondência, não em todas as pessoas, mas nalgumas, com certeza.


quinta-feira, 6 de julho de 2017

CONFERÊNCIA POR ROGER SCRUTON - «O VERDADEIRO, O BOM E O BELO»


O Dr. Scruton representa  uma corrente de filosofia sobre estética, que tem sido completamente posta de lado pelas correntes do pós-modernismo, que revela a ligação (óbvia) a meu ver, da estética com a moral (quer individual, quer colectiva).
Uma conferência apaixonante, do princípio ao fim.


sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

UMA QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA

Tenho seguido com um interesse crescente os debates que circulam na Internet sobre as precárias liberdades de expressão neste médium e noutros, na sociedade em geral. 
Tenho estado a observar, desde há alguns anos, a deriva para uma atitude passiva da maior parte das pessoas que se refugiam no seu círculo de «amigos» virtuais e não passam desse casulo, como o de insetos, tecidos por eles próprios, mas envolvendo as suas mentes, não o seu corpo.
A maneira como este processo atua é semelhante à exposição repetida a uma agressão. Nos primeiros momentos, a dor pode ser muito intensa, mas com a repetição, a intensidade do efeito doloroso torna-se menor. Sabemos que isso se deve à secreção de «endorfinas» essas morfinas naturais, segregadas pelo cérebro… Pois a exposição a algo violento, destruidor da nossa própria moral, etc. segue uma curva semelhante:  a dor, a indignação vai ser substituída, a pouco- e-pouco, por um «acostumar», uma indiferença, um encolher de ombros.
Instala-se o relativismo moral, causando a apatia, a anomia, dos indivíduos e da sociedade em geral. Os poucos que conservam sua consciência despertada estão em minoria; são «neutralizados» perante um oceano de «consciências zombificadas». 
A «Nova Ordem Mundial», que é temida e considerada um pesadelo orwelliano por muitos, já está praticamente instalada. Para amostra disso, veja-se como a propaganda dos media ditos de referência, na realidade, porta-vozes do governo e das grandes corporações, consegue,  na indiferença mais geral, perseguir media alternativos que têm uma ínfima fração do auditório e igualmente uma ínfima fração dos recursos humanos, financeiros, técnicos, etc. destes mastodontes.
De facto, os media alternativos, os cidadãos-repórteres,  constituem um «perigo», não para a cidadania, mas para a credibilidade de governos e media corporativos e portanto devem ser  difamados, banidos, criminalizados.
Isso não parece inquietar muito os nossos concidadãos… Estamos realmente num resvalar para uma sociedade completamente totalitária. 
O totalitarismo do nosso século é insidioso, não é óbvio como os que o precederam. Pois estes baseavam-se na repressão a quente, no medo físico.
O totalitarismo atual baseia-se na «gestão do medo», na manipulação da perceção do medo, como que instigando as pessoas a terem medo da sua própria sombra.
Que outra explicação dar para a onda do «politicamente correto» que nas universidades americanas já tem foros de patologia social e institucional? Dentro desse paradigma do politicamente correto usam o termo «hate speech» (discurso de ódio).
Supostamente, as pessoas teriam o direito de «serem protegidas» dum discurso de ódio. Mas quem decide que tal ou tal discurso é «de ódio»? E quem tem o atrevimento de negar a minha própria liberdade de avaliar e de julgar -por mim próprio - o que penso de tal ou tal discurso?
 É que o discurso de ódio propriamente dito costuma ser produzido, está constantemente a ser produzido aliás, pelas instâncias do poder. Eu «sofro» este discurso do poder, como é inevitável, embora não fique nada impressionado por ele.
Também não fico «lesionado» ou «influenciado» por ouvir ou ler um discurso de ódio de uma seita nazi, de uma seita islamita radical, estalinista, ou outra qualquer!
Posso dizer então que a «proteção» contra o «discurso do ódio» é afinal um alibi para coartar a nossa liberdade de acesso às fontes de informação, de ajuizar por nós próprios, de exercermos o nosso sentido crítico e finalmente, coarta aquilo que supostamente diz defender, os direitos humanos, a liberdade de pensamento e de expressão!
É típico da gente totalitária criar uma imagem negativa dos outros, sem nenhum respeito pela verdade, exatamente como espelho daquilo que eles próprios são e praticam.
Se acusam outros de não respeitarem a «verdade»,  tenham como certeza que eles se esmeram a confundir e ocultar os factos, a transformar informação em mero invólucro de propaganda, ou pior ainda, perseguir e calar por todos os meios, quem se atreve a dizer a verdade e em dá-la a conhecer. Não esqueçamos  Manning, o soldado preso, torturado e condenado a prisão perpétua por ter revelado crimes de guerra americanos no Iraque.
A redoma que nos envolve, uma Noosfera que Pierre Theilhard de Chardin profeticamente anunciara, tem lados magníficos, como a capacidade de nos cultivarmos e alcançarmos um grau de saber quase infinito do ponto de vista do potencial, através da Rede.
Mas proporciona o contrário disso, ou seja, o enredar da própria mente dentro dos seus mitos, dentro da narrativa que conforta mais o ego: esta é – sem dúvida- a atitude mais frequente.
O cérebro ativa circuitos do prazer em função dos estímulos que recebe do exterior. Existem circuitos que são ativados e ativam a secreção de neurotransmissores, a ocitocina é um deles. Ele obtém maior remuneração psicológica/bioquímica por ver, ler, ouvir, as coisas que nos agradam, do que coisas sobre as quais discordamos, que nos afligem, que nos inquietam. Aliás, a adicção ou viciação, instala-se precisamente dessa maneira: quando o cérebro precisa de certos estímulos específicos para obter uma «dose» de moléculas, ativadoras dos circuitos do prazer.
Não existe possibilidade de combater o totalitarismo quando o próprio público ou uma maioria muito grande dele apela para ele ou está completamente indiferente.
Ele nunca se instala de forma ostensiva, aberta. Se o tentasse, naturalmente seria repudiado e combatido, haveria reações violentas adversas.
A sua artimanha é apelar áquilo que as pessoas têm de mais profundo, os seus medos, muitos dos quais vêm da primeira infância e são parte integrante da nossa personalidade.
A ciência psicológica é posta ao serviço desse controlo, pois a maneira de nos condicionar para consumir uma determinada marca de um produto é essencialmente a mesma que para determinado comportamento político ou social.
O ser humano – todos nós – só pode começar a libertar-se da nova forma de totalitarismo quando uma grande maioria das pessoas se aperceber das suas consequências nefastas nas suas vidas pessoais e sociais, causadas por esse sistema.
Antes disso, os que têm consciência, serão colocados na mesma posição que os «heréticos», os «livres-pensadores», tiveram: serão segregados, discriminados, a sua voz será calada por todos os meios.
Eu faço o mea culpa pois cri durante algum tempo que não seria possível nunca mais haver totalitarismo, nunca mais regimes como o hitleriano ou estalinista.
Porém, o novo totalitarismo aqui está a bater à porta. Já não se baseia no terror «físico», mas sim no terror psíquico, no medo que as pessoas têm de serem apontadas a dedo, de serem acusadas, ostracizadas, agredidas, pelos próprios concidadãos.
O futuro dirá como é que esta deriva totalitária se irá desenvolver, se vai ou não tomar as sociedades ditas «mais avançadas» e o mundo em geral.
Eu penso que as pessoas dissidentes no espírito serão os «monges» da nova «idade das trevas».
Nos anos em que a civilização romana ruiu e se instalou a sociedade feudal, os reis eram chefes de guerra, analfabetos e brutais. Destruíram ou presidiram à destruição de muitas obras materiais e imateriais inestimáveis, que resultaram da acumulação de ciência, saberes, artes, durante vários séculos.
 Os mosteiros eram pequenas ilhotas de paz, no meio da violência e da miséria, causadas pelos senhores feudais. Estas ilhotas preservaram, em manuscrito, muitos tesouros do pensamento, da arte, dos saberes, da filosofia… muitos milhares de copistas/monges se dedicaram, para que algo da civilização fosse transmitido às gerações vindouras.
Será talvez uma analogia, com toda a imprecisão que têm as analogias. Porém, ao esboçar-se uma nova «idade das trevas», onde residirá a luz do saber, da consciência, como sobreviverá?
Quem serão os «monges» que manterão - de geração em geração - o legado do passado? Os do presente e futuro, não serão necessariamente monges ou freiras;  não haverá necessidade de uma vida monástica, estritamente falando.
Têm de ser pessoas corajosas e pacientes, que mantêm uma postura crítica. As que teimam em dar a conhecer as realidades aos seus concidadãos, os «whistle-blowers» ou dadores de alerta, que defendem utopias não autoritárias, que mantêm uma postura moral no meio do relativismo moral ambiente, na sua diversidade e heterogeneidade, serão capazes de manter a chama do humanismo acesa? 
Cabe a cada leitor escolher o seu lado, aceitar ou não o meu ponto de vista.
Mas se escolher o lado do humanismo contra a barbárie, então não baixe a guarda, não caia nas múltiplas armadilhas do totalitarismo, que se veste de roupagens «livres» ou mesmo «libertárias», para impor o seu relativismo moral. Em suma, o espírito crítico exerce-se sobre nós próprios e os nossos atos ou falta deles.
Parafraseando o Pastor Bonhoeffer, «O que é decisivo para avaliar a moral de uma sociedade é o género de mundo que ela está produzindo e irá legar aos seus descendentes» (“The ultimate test of a moral society is the kind of world that it leaves to its children.”)

PS: Phil Butler apresenta uma ideia de noosfera que se deve ao Presidente Putin ou a alguém próximo. Vale a pena ler: