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quinta-feira, 4 de outubro de 2018

RELAÇÃO AMBÍGUA DE PORTUGAL COM O SEU PRÓPRIO PASSADO

                          Portugal


A proclamação da república em 5 de Outubro de 1910 foi resultante de um golpe civil-militar que conseguiu derrotar militarmente as últimas forças fiéis ao monarca. D. Manuel II subiu ao trono em 1908, depois do regicídio que vitimou D. Carlos e seu irmão, o príncipe herdeiro, D. Luís Filipe.

                    Imagem relacionada

A história dos tempos conturbados da 1ª República e os que precederam a revolução republicana de 1910, está ainda largamente ignorada pelo grande público. 
Os republicanos dos finais do século XIX eram um grupo heterogéneo, tanto nas classes sociais, como nas ideologias. Havia alguns com uma concepção «social» da república, nomeadamente os que tinham militância ou afinidades com os movimentos operários, muito influenciados pelos ideais socialistas e anarquistas. 

               

Mas outros, eram membros da grande burguesia, industrial ou latifundiária, cujo fim era a implantação de um regime que favorecesse o desenvolvimento industrial do país. 
A grande massa porém, era constituída por funcionários públicos, por empregados do comércio e serviços, sobretudo na capital e nas grandes cidades, imbuídos de um republicanismo com colorações nacionalistas. 
Não esqueçamos que o Partido Republicano explorou a veia nacionalista aquando do episódio do «ultimato», da humilhação sofrida por Portugal face à aliada Grã-Bretanha («a pérfida Albion»). 
Muitos republicanos da viragem do século XIX para o século XX eram firmes defensores do colonialismo português. Muitos tinham uma visão paternalista da relação do povo colonizador com os povos colonizados. Um destacado exemplo disso foi Norton de Matos, escolhido pela oposição republicana como candidato presidencial em 1948, o qual tinha tido uma larga carreira como administrador colonial em Angola

É um erro projectar os valores dos finais do século XX na mentalidades do início deste mesmo século. A chamada «república democrática», foi tudo menos democrática, pelos padrões comuns hoje em dia. 
- A eleição parlamentar era censitária: Só quem fosse instruído e tivesse um mínimo de rendimento podia votar. Os deputados eram eleitos por círculos desenhados de acordo com as conveniências do poder. As mulheres, em geral, estavam arredadas dos cargos públicos. Muitas eleições tinham uma taxa de participação muito fraca. Eram frequentes as «chapeladas» (fraudes eleitorais).  
- Os operários eram reprimidos violentamente, durante as greves. Afonso Costa era admirado e louvado, em certos meios, por ter «quebrado a espinha» aos movimentos grevistas. As prisões enchiam-se de sindicalistas e outros militantes operários. 
- Havia uma polícia política em embrião, ligada ao aparelho do Partido Republicano. 
- A corrupção era potenciada pela instabilidade política e pela desorganização da economia. 
- O anti-clericalismo radical de certos políticos favoreceu a aliança entre os conservadores republicanos, os monárquicos e o clero. Esta aliança esteve na origem do peculiar fascismo clerical português. 

No golpe de 28 de Maio de 1926, que veio proporcionar a posterior ascensão de Salazar, participou uma facção republicana do exército. Talvez por isso Salazar nunca se tenha atrevido a restaurar o regime monárquico, como o fizera Franco, o outro ditador ibérico. 

Uma obra da república com verdadeiro mérito foi o esforço enorme, apesar das condições económicas, para alargar a alfabetização do povo, para propagar um ensino laico e de acordo com os métodos pedagógicos mais avançados para a época. 
Foi esta obra, a da educação pública, que Salazar se esmerou em anular, fechando as Escolas do Magistério Primário, centros de formação de professores primários, instaurados pelo regime republicano desde muito cedo, e entregando a instrução primária ao clero e «regentes escolares» com formação rudimentar, para educação das classes pobres.

Hoje em dia há uma larga ignorância das pessoas em relação ao seu passado, não tão longínquo. 
Tal como em relação à história do colonialismo, em relação à da Iª República, há imenso a fazer: sobre os antecedentes, o conturbado período de sua vigência, ou o seu derrube. 

O povo português ignora importantes períodos da sua história, particularmente os finais do século XIX e a primeira metade do século XX. Na forma como é ensinada no ensino básico e secundário, é reduzida a uma série de chavões e lugares-comuns, que mais ocultam a verdade do que realmente esclarecem sobre os factos. 

Um povo que ignora o seu passado não pode compreender o presente, pelo que está mais susceptível de ser enganado e arrastado para falsas soluções.   


terça-feira, 22 de maio de 2018

CASAMENTOS REAIS E COMO OS PRÍNCIPES E PRINCESAS PERPETUAM O STATUS-QUO



Sendo Portugal uma república há mais de cem anos, existe ainda assim um número não insignificante de monárquicos assumidos. Para além destes, o número dos que consideram ser a realeza uma coisa «boa» ou positiva, não deve ser pequeno. Isto porque, em muitos países, a aura da realeza exprime-se através do fausto e pompa dos casamentos seja nas casas reinantes, seja nas casas de dinastias que perderam os tronos. Este espectáculo ajuda a perpetuar a mitologia da monarquia como forma governativa não apenas «civilizada», como até ideal.
Estas pessoas que olham maravilhadas o «conto de fadas» dos casamentos dos príncipes e princesas, deviam pensar que este aparato todo se faz à custa do erário público. Toda esta despesa se faz por «boas razões», num determinado regime político e económico. Destina-se, sobretudo, a manter  o status: 
É a forma subtil de induzir as pessoas à submissão, à «naturalidade» de existirem pessoas que - apenas por razões genéticas, ao fim e ao cabo - estão «destinadas» a exercerem o poder. 
Note-se que se trata do poder propriamente dito, não apenas os símbolos do mesmo. A rainha de Inglaterra também é chefe de Estado de uma série de ex-colónias britânicas... além de figurar individualmente entre as mulheres mais ricas do Mundo, ela é detentora de uma fortuna globalmente maior do que não poucos Estados. 
Ela é também o chefe supremo das forças armadas, o que significa que um militar possa ser destituído, ou mesmo preso, se recusar «jurar fidelidade» pessoalmente ao Monarca.
Os verdadeiros beneficiários deste sistema são os próprios monarcas e respectiva família,  assim como um pequeno número de pessoas que gravita e é beneficiado  pelas benesses ou empregos geridos pela coroa.
Mas o sistema político, numa monarquia, fica impossibilitado de evoluir, a não ser por revolução, coisa que não é fácil de imaginar e ainda menos de concretizar nos tempos que correm, de controlo Orwelliano das sociedades. 
Quem tem vantagens na manutenção do regime, não vai emitir juízos de valor desfavoráveis à monarquia, em geral: os muito ricos, os aristocratas, os privilegiados...

Cinicamente, a classe dominante aceita os luxos e o esbanjamento de dinheiro dos impostos, causados pela existência de uma monarquia, sabendo muito bem quanto isto custa ao Estado. Mas, para eles, o papel que representam, é muito mais útil do que o dinheiro gasto em mais ou melhores creches, hospitais, serviços às comunidades, etc.
Eles sabem que as monarquias são garantes da manutenção da ordem burguesa, senão todas as monarquias teriam sido varridas do mapa da Europa no decurso do século XIX, o século das revoluções nacionais burguesas. 
Muitas vezes, os pobres morreram julgando que estavam a lutar pelo advento da «república social», quando na verdade, após o triunfo dos revoltosos se instaurava um regime constitucional monárquico, satisfazendo assim a componente burguesa dessas revoluções.