From Comment section in https://www.moonofalabama.org/2024/03/deterrence-by-savagery.html#more

The savagery is a losing card. By playing it the US and the West are undercutting every ideological, normative and institutional modality of legitimacy and influence. It is a sign that they couldn't even win militarily, as Hamas, Ansarallah and Hezbollah have won by surviving and waging strategies of denial and guerilla warfare. Israeli objectives have not been realized, and the US looks more isolated and extreme than ever. It won't be forgotten and there are now alternatives.
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terça-feira, 1 de agosto de 2023

REPÚBLICA DOS POETAS nº4 - Cecília Meireles






                                              https://www.youtube.com/watch?v=rcNpV5vNpt8


A poesia da brasileira Cecília Meireles não se pode filiar em nenhuma escola estética, embora possua traços de simbolismo. Esta inclinação da poeta, talvez se relacione com seu conhecimento de poetas orientais, que traduziu (indianos, chineses, japoneses). 

O poema «Naufrágio» foi posto em música por Alain Oulman e cantado por Amália Rodrigues, num disco* que reúne notáveis expoentes da poesia de língua portuguesa. 

Em «Naufrágio», transparece o sentido trágico da perda inexorável de um referencial, o que é transposto simbolicamente na imagem do navio que se afunda no mar. Mas, este navio simboliza as esperanças da poeta, seus sonhos e esperanças perdidas. 

Mas, a última quadra escapa à fatalidade inexorável. Ela não foi incluída na versão cantada de Amália Rodrigues. 

A última estrofe muda o significado dos versos anteriores, pois a serenidade alcançada («tudo estará perfeito») é resultante de catarse, de ir ao fundo da dor e desespero, para renovar as energias interiores e renascer. Mas, isso é obtido por alto preço: «as minhas duas mãos quebradas».

Um poema muito belo, especialmente quando completo.

                                           Naufrágio


Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
– depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio…

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça


Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

Cecília Meireles (1901-1964), Viagem, Lisboa, 1939

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*Além do referido disco, Amália cantou fados com letras de grandes nomes de poesia lusófona. Um dos mais célebres fados é «Fado Português», poema de José Régio e música de Alain Oulman: https://www.youtube.com/watch?v=CFLO_zObeUI

domingo, 21 de julho de 2019

RÃO KYAO - FADO BAILADO


A qualidade deste trabalho - de 1983 - faz dele, no presente, uma óptima escolha para audição de fado instrumental. É um clássico, num certo sentido. 
Esta versão instrumental dos fados - plena de requinte e inspiração - beneficiou das prévias incursões do saxofonista e flautista pelos territórios do jazz e da música indiana.


segunda-feira, 1 de julho de 2019

E HÁ OS CÉLEBRES ESQUECIDOS...

Recordo aqui o poeta mais original que produziu esta «Pátria de poetas», mas que os ignora com a mesma boçalidade com que os apregoa...
Ele foi surrealista - como muitos outros - e desvinculou-se desse movimento estético... 
A sua poesia é uma com a sua vida. Não se tomava demasiado a sério; a sua poesia é anti-enfática. 
Pode - ainda hoje - desencadear o espanto e uma gargalhada...
- Sim, estou a falar do poeta Alexandre O'Neill, muito célebre por causa de um poema posto em canção, mas cuja restante obra poética é quase desconhecida!

Amália foi uma grande embaixadora, não só do fado, mas da cultura portuguesa, tendo interpretado - de forma inspirada - poemas de alguns grandes poetas lusos, na maior parte, postos em música por Alain Oulman, um excelente compositor. 

Gosto de recordar a «formiguinha», a ironia irreverente de O'Neill:




terça-feira, 7 de agosto de 2018

AMÁLIA LÊ «LIBERTAÇÃO» DE DAVID MOURÃO FERREIRA+ GRAVAÇÃO DE FADO AO VIVO (1952)


           Libertação
David Mourão-Ferreira



Fui à praia, e vi nos limos A nossa vida enredada, Ó meu amor, se fugirmos, Ninguém saberá de nada! Na esquina de cada rua, Uma sombra nos espreita. E nos olhares se insinua, De repente, uma suspeita. Fui ao campo, e vi os ramos Decepados e torcidos. Ó meu amor, se ficamos, Pobres dos nossos sentidos! Em tudo vejo fronteiras, Fronteiras ao nosso amor. Longe daqui, onde queiras, A vida será maior! Nem as esperanças do céu Me conseguem demover. Este amor é teu e meu, Só na Terra o queremos ter.



Estes dois documentos video complementam-se magnificamente.
No vídeo da leitura do poema, David Mourão Ferreira aparece por breves instantes, embora não fale. 
A gravação do fado foi feita ao vivo no café Luso, em 1952. Nesta gravação, pode-se apreciar a qualidade vocal de Amália e sua perfeita adequação ao conteúdo poético.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

POESIA DO FADO PORTUGUÊS





                                     










TUDO É BELO NESTE ÁLBUM mas, para mim, «Gaivota» é a mais extraordinária e rara combinação de talentos: a letra do poeta Alexandre O'Neill, a música do compositor Alain Oulman, com a interpretação inultrapassável de Amália Rodrigues.


- MINHA SINGELA HOMENAGEM.

FADO*

No vinho procurei o abrigo
Que teus braços recusaram
As doçuras cedo acabaram
Só mágoas guardo comigo

Do peito pisado como uva
Rios de sangue ardente
Tingiram esta alma doente
De negro manto de viúva

Sem carinho, sem ternura
Como viver esta vida
Errante, triste e dura...

Alma pra sempre dorida
Perdida em noite escura
A Morte lhe dê guarida

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* Da recolha de Poemas «Tenção»; inéditos de 1973 -1978 de autoria de Manuel Banet