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sexta-feira, 1 de março de 2024

Vem aí o CIRCO ELEITORAL


A realidade do Mundo não se conforma com narrativas. Mas, as narrativas envolvem, na sua teia, as mentes embotadas que já não conseguem ler o real, que não distinguem os discursos, das realidades. Estão nesta condição muitas das gentes partidárias de esquerda ou de direita, sejam crentes em religiões ou ateias, pelo que a comunicação social de massas tem a sua tarefa facilitada: grande parte das suas almas cativas já não percebe nada. Elas são piores que criancinhas, pois estas últimas (teoricamente), podem ser ensinadas a ver a realidade.


O público adulto das ditas «democracias», tornou-se de tal maneira cobarde, que prefere não ver a realidade. Assim, não terá que agir, de uma ou outra forma, perante essa realidade. Creio que este é o maior bloqueio das sociedades contemporâneas. Seus cidadãos foram enredados em teias de falsidades, numa série de novelos cujos fios têm de ser pacientemente separados, um a um. Isto equivale a dizer que a quase totalidade dos súbditos modernos não será capaz de se desembaraçar sozinho das cadeias que os prendem.
Mas, esses súbditos não sabem. Pois as cadeias não são físicas, mas são mentais; é mais fácil para eles pretender que não existem. Assim, não terão o trabalho e a angústia de enfrentar a «gigantesca tarefa». Ou antes, a tarefa, que é afinal muito simples, em si mesma. Mas, isto tem de ser ocultado, senão os súbditos poderiam começar a libertar-se em massa da «matrix» em que estão enredados.
Entra aqui o medo: o medo paralisa o juízo crítico. Impede as pessoas de se interrogarem sobre as suas experiências. Torna as pessoas abúlicas, distraídas e passivas. Verifica-se como têm sido vãos os esforços para despertar estes pacientes do estado de hipnose cognitiva em que se encontram. Estes esforços são derrotados pelas estratégias de evitação e denegação, desenvolvidas pelos próprios. A chamada «cultura de cancelamento», afinal, reduz-se a isso. Uma autoritária negação de se exprimirem pontos de vista diferentes da norma, sob pretexto de que são «agressões», de que aumentam «o estresse» ou que vão contra o «politicamente correto». Note-se que este tipo de comportamento não tem nada que ver com direitos humanos básicos, nem liberdades fundamentais: porém, as pessoas estão tão alienadas, que esperam que os poderes as livrem do confronto penoso com outra narrativa, diferente e contraditória com aquela em que banham. Cúmulo da contradição, essas tais pessoas, que apelam ao controlo autoritário sobre os diversos canais de comunicação, clamam que estão a defender a democracia e a liberdade, os direitos civis, quando estão a realizar exatamente o contrário. Não creio que se possa esperar grande coisa de pessoas assim. Vão continuar no registo estritamente egoísta, míope, cheias de medo de serem vistas como saindo fora do rebanho. Nestes casos, apenas um choque emocional muito forte poderá fazer despertar tais indivíduos, fazê-los ver que estavam na ilusão. Mas, mesmo isso não é garantido pois, consoante a sua personalidade, o choque emocional poderá desencadear ainda maior inibição. Poderão, por exemplo, se auto- culpabilizar dos males que lhes acontecem, em vez de se libertarem das vendas que lhes tapam os olhos.
O plantar duma convicção, que pode ser absurda ou sem qualquer substância racional, é possível e corriqueiro na sociedade: Fizeram-se experiências de psicologia social, em que pessoas são persuadidas da veracidade duma teoria errada. Depois delas estarem convencidas, é-lhes demonstrado racionalmente que essa teoria estava errada. O descolar da convicção anterior de que a dita teoria era verdadeira, é muito mais lento neste grupo de pessoas, do que no grupo de controlo, ao qual não se lhes foi apresentada previamente como verdadeira, tal teoria. A estes, é-lhes exposta a teoria, mas conjuntamente com a explicação porque a mesma é falsa. Este grupo de controlo aceita muito naturalmente a falsidade da referida teoria. Porém, no grupo que ficou previamente persuadido da verdade da teoria, há indivíduos com dificuldade em estruturar o seu pensamento de outro modo, para aceitar que afinal a teoria era falsa. Isto não acontece porque as pessoas sejam «estúpidas» ou «teimosas». Esta situação ocorre com todos os tipos de pessoas, incluindo mentes brilhantes, cultas, com contacto com as ciências.
Portanto, é um mecanismo psicológico profundo, aproveitado pelos que querem moldar as nossas opiniões através dos «mass media» ao serviço dos poderosos. Eles sabem utilizar esta e outras propriedades curiosas da mente humana.
É possível que tal controlo exercido sobre o nosso espírito seja combatido e de forma eficaz. Mas isso implica haver consciência, além da noção clara e não ingénua, dos mecanismos que são aplicados. Há pessoas que conseguem evadir-se deste condicionamento mental abusivo, mas são poucas. A imensa maioria pulsa de acordo com as paixões primárias: A salvaguarda do ser físico, a satisfação das necessidades primárias em alimento, abrigo e segurança, essencialmente; ou ainda, necessidades afetivas e sociais como o amor, a estima, a proteção, o reconhecimento social. O ódio contra o inimigo, seja ele real ou não, entra revestido como salvaguarda do indivíduo. O inimigo é visto como aquele que põe em risco (de forma real ou fictícia) a satisfação das necessidades enunciadas acima.
A um certo nível, o medo é importante para a sobrevivência. Trata-se dum sentimento profundamente ancorado na nossa biologia. O indivíduo que não tem medo está muito mais exposto, do que aquele que - ocasionalmente - pode ter medo, mas que o consegue superar, para enfrentar o risco.
Todos os mecanismos psicológicos, na publicidade comercial, envolvem componentes profundos dos nossos desejos "animais": necessidade de afeto, de status, de prazer sexual, etc. Em geral, os mecanismos de comunicação na esfera política fazem intervir aqueles mesmos componentes atrás referidos, juntamente com o medo, que entra em combinação com os outros.
Na política, convencem-se os adeptos de que é preciso odiar intensamente o inimigo; sobretudo, é preciso convencê-los de que os sentimentos dos dirigentes espelham os dos militantes de base. Os mecanismos de identificação e reforço fazem-se através de objetos de ódio/medo comuns. Isto acontece perante uma imagem da realidade distorcida, falseada: Face a tal configuração psicológica, o que os dirigentes fazem, constantemente, é ativar e reforçar, nos seus seguidores, os sentimentos doentios de ódio, de vingança, de desprezo, de superioridade... A política, assim vista e praticada, não é mais do que uma forma larvar ou efetiva de guerra civil. É uma representação, também. É um teatro que os eleitores são supostos seguir, com os seus golpes, escândalos e revelações-surpresa. Nada de positivo pode sair da política-espetáculo: No melhor dos casos, trata-se de narrativas, juntamente com um rol de boas intenções, para apresentar aos cidadãos.
O discurso político é feito para adormecer o espírito crítico e estimular os desejos mais obscuros do eleitor: A projeção de suas frustrações e seu desejo de vingança simbólica, ou real, sobre o grupo de indivíduos percebidos como opositores, como obstáculos, como sabotadores, etc.
A única maneira de sairmos da «gruta», é percebermos que vivemos no seu interior; que as imagens com que nos entretêm, são projeções fantasmagóricas dos nossos medos; que este espetáculo nos é oferecido, para não despertarmos da letargia ou hipnose, mantendo-se assim o grupo restrito ao comando "da barca". É isso, no essencial, a política.
Não pode haver uma política de adultos feita para adultos, enquanto o povo se deixar tratar e levar, como se fosse uma criança. O povo tem o potencial para despertar e começar a auto- governar-se sem a casta de parasitas que nos quer domar através das suas demagogias, da política-espetáculo, das manipulações do aparelho de Estado, para obter o poder. É o poder, acima de tudo, que interessa aos sociopatas que nos governam. É este o fim último dos seus esforços: conquista e conservação no poder.
As eleições, que passam por ser o aspeto central da democracia, não são mais do que a ocasião dos bandos políticos desenrolarem seu estendal de demagogia para cativar os eleitores: Tudo é utilizado como pretexto para o show, menos as questões de real importância para os destinos do país! Ou, ainda, a valorização de pseudo- soluções para os problemas, como se tudo se resumisse a tais «soluções», sendo eles - os do bando X - os únicos capazes de as viabilizar.
Em qualquer dos casos, o circo eleitoral infantiliza o eleitor, promove a sua regressão ao estado de criança, a quem as várias propostas são apresentadas e ele só tem de «escolher». Mas, neste processo, o eleitor «é quem menos ordena»: é o pobre diabo enganado, desta triste comédia. Seus desejos e as promessas de os satisfazer são logo esquecidos, assim que se fecham as urnas. A partir deste momento, os políticos profissionais irão dar «uma lição de realismo» ao povo. É aqui que se vai revelando, aos poucos, o verdadeiro programa, aquele que os vencedores irão desenvolver no governo. Durante a campanha eleitoral foi mantido cuidadosamente fora do olhar do vulgo, pois possuía demasiados amargos de boca para o povo e muitas benesses para os privilegiados.


Manuel Banet

 Parede, Portugal, a 01de Março de 2024

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terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

A DEMOCRACIA PARLAMENTAR É UM LOGRO

 Praticamente todas as pessoas se conformam com este estado de coisas. Mas, quase todas, tecem severas críticas ao funcionamento do regime de partidos e aos efeitos desse regime sobre a «moral pública», ou seja, quase todos estão de acordo que a democracia parlamentar tem como corolário, a corrupção.

 Porém, eu vou mais longe que esta constatação banal de que existem políticos corruptos em todos os países onde haja democracia parlamentar: Eu nem sequer considero esta corrupção como inerente à natureza humana. Se assim fosse, teríamos de aceitar que não existe possibilidade nenhuma de haver democracia genuína, seja parlamentar ou outra. 

Não; eu assumo que existem determinadas formas de organização do poder político que convidam à corrupção; que são mesmo, estruturalmente, formas corruptas, em si mesmas, até quando seus protagonistas não tenham pessoalmente cometido atos de corrupção, ativa ou passiva. 

A democracia parlamentar assenta sobre o princípio da representação. Mas, este princípio é viciado, se não for complementado pelo princípio de responsabilidade. 

O que entendo por esta expressão? Responsabilidade, por aqueles que votam uma lei ou medida, das suas consequências; se votaram algo que vai contra o programa eleitoral, ou que contradiga as promessas feitas aos eleitores, estes deputados devem demitir-se ou ser demitidos, porque traíram a confiança dos eleitores. Para isso, tem de haver uma espécie de assembleias permanentes, onde os deputados venham prestar contas aos seus respectivos eleitores. 

A proximidade dos deputados aos seus eleitores respectivos não será fácil. Costuma-se objetar com o facto do poder legislativo ser de representação nacional. Note-se que existe a possibilidade de se fazer um sistema em patamares, em que o patamar mais na base - com um número de membros que coubesse numa grande sala pública - discutiria os assuntos em agenda. Dessa discussão, iria resultar uma orientação, que seria levada para a assembleia de grau intermédio, composta por mandatários escolhidos pela base. 

O desenvolvimento dos meios tecnológicos veio proporcionar que tal sistema se instalasse na sociedade, se tal fosse a vontade política da grande maioria. Hoje em dia, a tele- conversa, o voto eletrónico, etc. são meios de viabilizar, de remover os obstáculos a uma democracia descentralizada, direta: É perfeitamente possível, se as pessoas quiserem. Mas, nesta sociedade tecnologizada, também há grande inércia, indiferença e ignorância, que se conjugam para obstaculizar tal mudança. Não há dúvida de que tal é desejado e estimulado pelo sistema. 

De qualquer maneira, o que se verifica é o afastamento da pessoa comum em relação à política. Os chefões dos partidos, os funcionários e os ativistas partidários, adoram isso, pois só desejam que o cidadão comum «participe» com o voto. A fraude é muito clara; participar não é votar. Votar só pode ser assumido como participação ativa, se associado a um conjunto de reflexões e de ações políticas dos cidadãos. 

Num sistema de democracia direta, em que os cidadãos tenham voz nos assuntos que afetam suas vidas, as questões serão debatidas entre eles - de diversas maneiras - e, portanto, haverá uma participação natural e não forçada, num referendo, local, regional ou nacional, ou numa proposta de lei. 

Fosse a participação das pessoas efetiva, isso equivaleria a dizer que a ação dos deputados eleitos, ou de agentes políticos, assim como das instituições, estaria sempre sob escrutínio, que haveria conhecimento sobre quais as medidas votadas e estas seriam comparadas aos programas eleitorais respetivos. Não seria uma democracia perfeita; mas a componente de participação iria dar o controlo efetivo dos eleitos, pelos eleitores. 

Quando a democracia não é compreendida como uma efetiva participação dos cidadãos, incluindo na criação das leis, mesmo que este processo envolva várias etapas, acaba por se transformar numa competição entre as diversas «elites» pelo poder: Interiormente aos partidos e entre os diversos partidos. 

Pode-se imaginar todos os golpes baixos aplicáveis e aplicados, numa luta sem quartel, contra os próprios colegas de partido, já para não falar dos adversários. A demagogia torna-se a arma principal. O engano, a falsidade, estimulam os instintos mais baixos dos eleitores; são estes truques que mais «rendem», em termos eleitorais. O terreno político é propício às demagogias, ao ódio, à ganância, ao racismo, à vaidade. Quem tiver menos escrúpulos, mais indiferentismo moral, é quem triunfa, dentro deste sistema. Há um favorecimento dos sociopatas, dos psicopatas, para ascenderem na hierarquia dos partidos e dos cargos públicos.

Nem sequer abordarei aqui as problemáticas da educação e da informação, que deveriam ser não enviesadas, não controladas por monopólios. Toda a média de massas está ao serviço dos interesses capitalistas e especializada em fazer lavagens ao cérebro do público. No seu conjunto, existem muitos elementos que fazem com que este tipo de «democracia» parlamentar seja uma farsa.

De qualquer maneira, não conheço nenhum exemplo na História em que uma classe, ou grupo poderoso, esteja no poder e conforme-se com ser retirada do poder. As eleições são a possibilidade de alternância consentida pelo sistema, no seu interior, não existe alternativa senão de fora, senão derrubando as instituições caducas, viciadas, feitas para favorecer um restrito grupo. 

O problema, que não é equacionado devidamente pelos marxistas-leninistas, é que a instauração de um novo poder só se pode efetuar pela violência, sendo impossível graduar ou classificar essa violência, como legítima ou ilegítima, sendo essas tentativas classificatórias meras capas verbais para legitimar o poder ditatorial. 

Historicamente, os bolcheviques e até alguns anarquistas, seguiram a palavra de ordem de Lenine, de tomada do Palácio de Inverno, para descobrir, pouco depois, que - eles também - acabaram sendo triturados pela máquina de poder instaurada. 

Depois, os herdeiros da IIª Internacional (os partidos socialistas), sobretudo depois da IIª Guerra Mundial, foram os gestores do capitalismo (por ele instalados). Deve-se-lhes o chamado «Estado de Bem-Estar» ou «Estado Social». Os comunistas, com algum atraso, também se amarraram ao barco do parlamentarismo, sendo eles agora, outra versão, «mais à esquerda» da social-democracia. 

Neste momento, em Portugal, a deceção e a ausência de formação dos trabalhadores estão na origem da subida espetacular de intenções de voto num partido de extrema-direita. Tal como noutros países europeus, estes partidos têm sido apoiados discretamente pela burguesia, não porque ela se identifique com as suas fórmulas e programas, mas porque lhes permite fazer uma política muito direitista, com a ameaça implícita de que «se não formos nós, serão eles». 

O centro, em Portugal, é constituído por dois partidos, que têm nomes que em nada correspondem às suas políticas (partido «socialista» e partido «social-democrata»): Estão permitindo e até favorecendo o tal «monstro» da extrema-direita, assim como o fez François Mitterrand, ainda nos anos oitenta, ao permitir que o Front National de Jean-Marie Le Pen se fosse apresentar nas eleições. 

Enquanto a classe trabalhadora não gerar a sua própria democracia, com critérios próprios,  exercida através de assembleias (onde não haja capangas a comandar quem tem a palavra e indicando quais são os «bons» e os «maus»), ela será joguete de forças partidárias exteriores.  

Preconizo uma forma de sindicalismo e de cooperativismo entre os trabalhadores, em que eles possam realmente manter o controle das organizações em suas mãos. Que estas não se tornem «correias de transmissão» de partidos, como tem sido demasiado frequentemente o caso, em Portugal, nestes 50 anos depois do 25 de Abril

A democracia parlamentar é sempre feita de acordo com a vontade da classe dominante, que a «inventou» e manipulou, de forma a que ela servisse os seus interesses. A democracia proletária, no sentido amplo, é baseada na pertença a um grupo socioprofissional e à adesão a formas de participação igualitária, na deliberação e tomada de decisão, assim como no controlo, pela base, dos mandatários escolhidos.


quinta-feira, 10 de novembro de 2022

O MUNDO VISTO ATRAVÉS DAS PAREDES DUM AQUÁRIO

 


Estamos num mundo dividido, mas não segundo as linhas ideológicas traçadas por Biden num discurso recente, entre «autocracias» e «democracias». Ele queria de facto que as pessoas identificassem «autocracias» com todos os governos que não se conformam com a «rules based order» ou seja, o que os EUA consideram como «ser-se bem comportado». Pelo contrário, seriam «democracias» todos os que alinham com o imperialismo americano, seja qual for o seu registo de violações dos direitos humanos mais básicos, a começar nos próprios EUA!

Mas, para mim, não existe diferença onde Biden quer colocar a grande divisão. Existem países com governos que se comportam razoavelmente dentro do que se convenciona ser a «democracia representativa» no outro lado da «nova cortina de ferro», enquanto -do lado de cá - há bastantes cujo governo e as práticas se podem claramente identificar como «autocráticos». A visão dicotómica é falsa, pois qualquer país pode virar de ser uma relativa «democracia», para uma autocracia, quando existe um reforço das tendências autoritárias. Estas tendências, digam o que disserem, existem mesmo nas chamadas democracias ocidentais e nós temos abundantes provas disso, com a crise do COVID e com a histeria instrumentalizada contra a Rússia, não só contra o governo, como contra as pessoas e a cultura russas. Temos aqui uma prova cabal de que muitos governos do ocidente, dito «democrático», se comportaram como autocráticos, em relação à sua própria população. Em relação ao exterior, têm assumido posturas agressivas, belicistas e imperialistas, ou auxiliares da potência imperial.

Perguntarão: E do outro lado? Não há atropelos aos direitos humanos, não há governos autocráticos? Os que assim argumentam, provavelmente não se estão a aperceber de que é uma falácia, ou seja, não é um verdadeiro argumento. Sobretudo, não anula quaisquer dos factos comprovados em relação aos regimes do que convencionamos chamar «Ocidente», que inclui a Austrália, o Japão e outros, e que deveríamos antes chamar «Alinhados com os EUA». 

Demonstração da falácia

Primeiro, existe uma barragem de propaganda tal, que aqui, nos nossos países não somos informados mas desinformados, intoxicados de propaganda contra os países e governos que não se conformam ao modelo americano, sobretudo a China, a Rússia, o Irão e outros. Como tal, é impossível distinguir, em muitos casos, a realidade da propaganda. A não ser que cada um de nós se transformasse em jornalista e fosse visitar esses países, fazendo inquéritos e avaliando o pulsar da vida dessas populações. Isso é impossível, claro. Mas, pessoas que são jornalistas profissionais, não estão nos diversos pontos do globo a fazer um trabalho sério. A sua objetividade - sem viés ideológico ou partidário - deveria ser inquestionável, sobretudo, onde existam governos «autocráticos». Mas eles, quase sempre, só enviam - pelos seus media respetivos - uma visão distorcida, onde os aspetos negativos são amplificados e os positivos minimizados, ou passados sob silêncio. 

Segundo, mesmo que a imagem desses regimes, por eles enviada, fosse rigorosa e objetiva (hipótese infelizmente só teórica), tal não seria argumento válido: Se um determinado indivíduo se portar muito mal, não é por isso que eu sou um «santo». O mesmo se passa com os governos, os regimes dos diversos países: Não é por um regime A perseguir cidadãos ou não respeitar direitos humanos dos mesmos, que o regime B, onde nos encontramos, tem legitimidade para fazer igual, até mesmo que num grau menor. A legitimidade das ações do Estado e do governo, do ponto de vista formal e jurídico, é o que caracteriza um Estado de Direito. Este existirá, de facto, se os governos respeitarem e fizerem respeitar as constituições respetivas, se não permitirem derivas, nem desrespeito pelos direitos dos cidadãos. 

Em terceiro lugar, faço notar que a democracia não é nem nunca foi, artigo de consumo que se possa exportar. Não foi nunca assim. Os exércitos da República Francesa triunfante não exportaram a «democracia» na ponta das suas baionetas. O mesmo se pode dizer com todos os governos coloniais, que supostamente iriam «civilizar» os povos, o que implicava ensiná-los a viver em «democracia», segundo a metrópole. Mais recentemente, a invasão do Afeganistão pelas tropas da NATO, chefiadas pelos EUA, não trouxe senão devastação, nenhum bem-estar ou progresso e, sobretudo, o regime que ficou após o fim de 20 anos de ocupação dos ocidentais, foi o governo Talibã, ou seja, da mesma natureza que eles tinham derrubado na «guerra-relâmpago» de 2001... O mesmo descalabro (1) se pode verificar com o resultado de guerras na ex-Jugoslávia, Líbia, Iraque, Síria, etc.  Note-se que isto não é um argumento formal, mas substancial.

Em quarto lugar, o argumento de que existe uma real «democracia», quando um regime tem eleições, é um sofisma. Pois estas podem muito bem ser falsificadas, pode haver restrições explícitas, ou não, a certos partidos concorrerem, ou não existirem liberdades de opinião e de imprensa, etc. E tudo isto, pode ser num grau maior ou menor, pois raramente as situações são classificáveis como «preto ou branco», «positivo ou negativo», «bom ou mau». A «democracia» nos EUA, entre outras vicissitudes, foi objeto de distorções eleitorais (2) muito graves. Por exemplo, em 2000 com a fraude que afastou Al Gore e permitiu a eleição de G. W. Bush ou com a fraude que permitiu afastar Trump, em 2020. Trata-se de fraude comprovada; Trump recebeu maior votação que qualquer outro presidente anterior, que se tenha submetido a sufrágio. Digo isto, não por simpatia por Al Gore, nem por Donald Trump: Mas, são comentadores políticos, dentro da sociedade americana, que o dizem.

A vontade do povo e a expressão desta, é que deveriam ser os fatores distinguindo a democracia, de todas as outras formas de governo. Por isso, sou convicto «abstencionista» nos assuntos internos dos outros povos. Eles são compostos por pessoas adultas, tão capazes como eu de raciocinar: Saberão bem o que é melhor para seu país.

As «intervenções solidárias», que significam apoiar grupos dissidentes em determinados países, são formas de ingerência. Note-se que estas ingerências não são realizadas por idealismo, mas para derrubar ou, no mínimo, colocar entraves aos governos dos países em causa. Ora, assim como as sanções, este tipo de intervencionismo funciona, na prática, como ponta-de-lança das ambições imperiais.

Não há dúvida de que a propaganda também é dirigida aos cidadãos do «império ocidental». Especialistas em informação encarregam-se de moldar a opinião pública dos próprios países, usando toda a panóplia, desde a difamação, a falsa informação (fake news), a repetição de «clichés» (por exemplo: «Putin é isto ou aquilo...»), até a uma tendenciosa seleção de notícias, onde nada do que contradiga a narrativa fabricada, é deixado filtrar.

Se os peixes de aquário falassem, eles diriam que vivem em plena liberdade e que seu universo os satisfaz plenamente.

Os cidadãos do «ocidente», que estão satisfeitos e consideram que seus governos estão do lado do «bem», da «justiça», da «democracia», etc. são como os peixes de aquário, acima referidos. Quanto a estes últimos, serão espécimes das nossas águas ou de ambientes exóticos. E quanto aos primeiros, serão como robots ou zombies, não genuínos cidadãos.

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(1) Veja o vídeo seguinte sobre as guerras secretas do império: U.S. Secret Wars EXPOSED  
(2) Gonzalo Lira comenta AQUI as eleições para o Congresso. O problema com as fraudes, é que perante denúncia, as consequências legais apenas serão extraídas se o sistema não estiver corrompido.

sábado, 4 de junho de 2022

DEMOCRACIA NÃO É «LOBBYISMO»

 


Estou agora a ler um livro sobre política: chama-se «Red Handed» (de Peter Schweizer) e mostra como as elites do dinheiro e do poder nos EUA, se entrelaçam com os interesses das hierarquias «comunistas» de Pequim. Explica-nos quando e como são montadas sociedades, grupos, joint-ventures, comités, etc. destinados a corromper figuras como Joe Biden, Dianne Feinstein, Nancy Pelosi, Mich McConnell e muitos outros. É evidente que este tipo de captura, para servir interesses de determinados grupos, países ou indústrias é um facto generalizado e aceite como «trivial», faz parte dos costumes políticos nos EUA.
Este método de exercer pressão sobre políticos no poder, através de lobbies, tem muito maior eficácia do que advogar as mesmas ideias, ou soluções, junto dos eleitores. De facto, a maneira tradicional de fazer política, que passa por seduzir os eleitores e mobilizá-los em torno de ideias, slogans, ideologias, para votarem em pessoas, supostamente capazes de as concretizar, é uma falsidade em si mesma. Para fazer esta política eleiçoeira, os candidatos vão tudo prometer, para obter o máximo de votos, sendo certo que a partir do momento em que cheguem ao poder, o «realismo político» impõe-lhes fazerem «compromissos», ou até «viragens de 180º», em relação às promessas eleitorais.
Mas, a política «por lobbies» vai mais além: serve-se de demagogia eleiçoeira, mas desenvolve-se num quadro de compromisso secreto/subordinação com altas esferas dos negócios. Quanto mais poderosos forem os financiadores, maior capacidade terão de corromper.
Os políticos, mesmo que comecem por ser generosos e idealistas, caem depressa nas malhas de redes de interesses entrecruzados. Chegam a cair em armadilhas, que permitem serem chantageados a preceito. Não tenho compaixão por eles/elas, porém: Estão conscientes do jogo e jogam-no. Não o fazem por idealismo mas, porque terão poder e fortuna. Se não se rebelarem, se servirem bem os interesses da oligarquia, poderão tornar-se membros da casta dos multimilionários.
Eu estou certo que este modelo está espalhado por todo o globo, obviamente também em países onde existam ditaduras: O livro acima mencionado, não deixa a mínima dúvida (com múltiplas provas) de que o poder, em Pequim, segue caminhos análogos. A única diferença, é que não é apenas o poderio do dinheiro que conta, mas a combinação deste com a posição hierárquica dentro do Partido Comunista da China.
O que as pessoas mal informadas não percebem, é que não existe qualquer superioridade moral das chamadas democracias do Ocidente. Não são menos corruptas, que os chamados regimes autocráticos ou totalitários: Na verdade, a vontade popular é posta de lado, a única «concessão», são as eleições. Porém, nestas, os candidatos não são os nossos: Eles já foram capturados previamente, por uma série de lobbies. Sem isso - sem esses grupos de interesses - não teriam exposição mediática, apoios financeiros, ou cumplicidades dos que também querem uma fatia do bolo do poder.
Uma questão política de fundo, no contexto das democracias ocidentais é a de saber-se como as pessoas se podem autoeducar, como se podem descolar duma visão ingénua, que é resultante da propaganda que se despeja sobre elas. Isso implica um sentido crítico elementar, um distanciamento. Mas as pessoas continuam a aderir aos discursos, às narrativas, da media mainstream.
Para haver uma democracia genuína, sem aspas, a condição elementar é as pessoas estarem esclarecidas e atentas às ações de governantes e parlamentares. Só assim poderão fazer escolhas, realmente. Só nestas circunstâncias haverá expressão da sua vontade. Só havendo uma educação política real, poderá existir democracia. Como este mecanismo foi sabotado, negado, eliminado, temos apenas «ficções de democracia».
A realidade é que os Estados são governados por uma aristocracia do dinheiro, usando «homens e mulheres de palha», que se prestam a fazer esse jogo de simulação. Este processo fraudulento é que permite explicar por que razão nos países ocidentais, pode haver uma liberdade aparente, mas - na verdade - estamos em ditadura totalitária «soft». Que haja outros países também em ditadura, soft ou hard, não impede que as pessoas no Ocidente sejam enganadas e espoliadas. Em especial, é-lhes negado o direito de participar e decidir sobre o rumo do seu país:
- Se a soberania reside no povo, isso não se nota. Então, é porque foi confiscada pela casta no poder!

domingo, 10 de abril de 2022

A IRRELEVÂNCIA DA ESQUERDA É FRUTO DA SUA DERIVA NEOLIBERAL





Quando se souberem os resultados da primeira volta das eleições presidenciais francesas, haverá uma catadupa de análises, umas mais inteligentes que outras. 

Mas, hoje, Domingo 10 Abril 2022 (antes de qualquer resultado ter saído das urnas), já posso afirmar com 100 % de certeza, quem perde, neste confronto eleitoral. É a esquerda política; arrastando consigo na sua queda a esquerda sociológica, ou seja, todas as pessoas espoliadas dos seus direitos, da sua cidadania e do fruto do seu trabalho. Ficarão a perder os trabalhadores, que não possuem um estatuto de privilégio, os que nem podem beneficiar das migalhas que os muito ricos distribuem para eles ficarem tranquilos, quando não para apoiar ativamente os candidatos escolhidos pelo sistema.

É este o resultado final da incúria de hierarcas de esquerda, sem dúvida alucinados com a possibilidade de partilhar o poder com a classe oligárquica. Quanto a esta, chamá-la burguesia já não seria correto, visto que a casta oligárquica se conta - num país como a França - pelas centenas de indivíduos, enquanto a burguesia inclui muitas dezenas de milhares, muitos deles empreendedores, muitos dos quais também esmagados pelo poder opressor dos monopólios e oligopólios que detêm o verdadeiro poder.

Mas, o pior deste período de ocaso da democracia ocidental, é a inexistência de verdadeiros contrapoderes. Não existe verdadeira força sindical autónoma nas mãos dos trabalhadores, ou se ela existe, tem uma expressão demasiado minoritária no seio das classes que é suposto defender. Não existe partido de esquerda no sentido de confronto contra o poder do capital, com expressão suficiente para poder desencadear a contestação eficaz contra medidas gravosas, por parte do governo e seus agentes. O que fica então, é uma representação teatral de esquerda. Resta uma esquerda esquálida, saudosa das glórias do passado, sem qualquer hipótese de ser protagonista em batalhas significativas do presente.

De qualquer maneira, não há verdadeira oposição de esquerda ao superestado da União Europeia, com o seu parlamento fantoche, suas instituições burocratizadas, sua rígida arquitetura e seu «tratado» de Lisboa. Este último, é - na verdade - uma constituição, contra a qual não existe um repúdio, uma vigorosa e organizada contestação, como seria de  esperar duma esquerda anticapitalista. Com efeito, este «tratado» obriga a que os países se rejam e se coadunem plenamente pelas regras do capitalismo.

É conveniente para a ínfima oligarquia, ter as forças antagónicas domesticadas, ao ponto da hipótese duma agitação séria, nos países que hoje constituem a UE, seja mais provável vinda de partes espoliadas e esmagadas da população, mas sem qualquer perigo. A castração da esquerda política e social significa, no pior dos casos, que haverá insurreições espontâneas, mas sem um rumo definido: apenas explosões de raiva e frustração. Quanto muito, estas manifestações, apesar dos guardiães de esquerda e direita da ordem neoliberal, serão recuperadas por grupos de ultradireita, de nacionalistas extremos, de demagogos arvorados em soberanistas. Mas, ao fim e ao cabo, isto é algo com que o poder está habituado a lidar.    

A deriva neoliberal, anti- luta de classes, anti- autonomia da classe trabalhadora, ocorreu num espaço de tempo dilatado, pelo menos numa geração (25-30 anos). 
As pessoas que estão enredadas na galáxia do que se chama «esquerda» hoje, são cultores do «wokismo», do pensamento «politicamente correto». Ao ponto de terem inteiramente substituído a luta de todo o povo explorado, dos oprimidos, dos proletários, pela «luta identitária», fazendo das «questões de género», de «raça», de «orientação sexual» o eixo da sua atividade militante. É exclusivamente por estas «causas» que estão ativos/as em estruturas partidárias ou sindicais.


É, portanto, uma vitoria absoluta para a classe dominante e uma terrível derrota com consequências duradoiras, para a classe dos oprimidos e explorados.



Murtal, Parede 14:30 de 10 de Abril 2022

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

O DESFAZER DA FRAUDE CHAMADA GOVERNO

                                             

Uma imagem da distopia tecnocrática que os governos, sob a liderança globalista do WEF e de outros nos quer fazer aceitar



                                       

Kenneth Rexroth escreveu a propósito da mentira social

«Visto que toda a sociedade está organizada para satisfazer os interesses das classes de exploradores e visto que, se os homens souberem isto, vão parar de trabalhar e toda a sociedade irá ruir, tem sido sempre necessário, pelo menos desde as revoluções urbanas, que as sociedades sejam governadas ideologicamente e por um sistema de fraude.»

Em tempos conturbados como o nosso, desmontam-se mais facilmente alguns aspectos do que se pode chamar a fraude social, ou seja, do exercício do poder sobre os cidadãos, mas falaciosamente apresentado como sendo «por, para e dos» cidadãos.

Aqui, neste blog, tenho tentado dar notícia e esclarecer criticamente os leitores sobre as diversas falácias do poder, daquilo que mantém uma pequena minoria ao leme, muitas vezes por trás das cortinas, com uns batalhões de mercenários mediáticos contratados, confeccionando esses ingredientes que levam a que se estabeleça e mantenha o «consenso social».

Temos oportunidade de ver os mecanismos de coerção social, doseados com mecanismos de persuasão (propaganda), na ocasião da pandemia fictícia: não que o vírus seja fictício, mas é empolado e transformado numa espécie de praga do fim do mundo, para justificar as medidas liberticidas e de controlo social que, até agora julgámos (inocentes!) serem apanágio de regimes totalitários (ver meu artigo de 22 de Março último). 

De facto, os adjectivos (democrático, ditatorial, etc) dos regimes são gradações de autoritarismo, do que se convenciona chamar democracias até ao totalitarismo mais feroz. A «democrática» América impõe - com punho de ferro - a sua lei ao mundo... Mas, interiormente, até há pouco tempo, a oligarquia governante e as suas agências, conseguiram fazer crer aos cidadãos que viviam numa democracia, e não uma qualquer, mas a «melhor» e mais «justa» do mundo... Poderia multiplicar os exemplos e polvilhá-los dos ingredientes, observáveis nestas construções artificiais, chamadas Estados ou governos... Mas, isso não é o meu propósito aqui, nesta crónica. 

Hoje, gostaria de por em evidência que o famoso «Great Reset», que nos vêm promovendo através de múltiplos canais, não é de facto, uma reestruturação da sociedade, uma reforma, ou uma transformação das estruturas, que muitos almejam e com perfeita legitimidade. O «Great Reset» que nos querem impingir, é apenas o lance dos muito ricos - em «fóruns» como o de Davos, mas não só - para que o Mundo esteja ainda mais polarizado, para que exista uma classe de senhores e que esta mantenha, com pão e circo, a classe dos servos, os semi-escravos, que têm de se submeter, agradecendo a generosidade dos senhores do mundo, que lhes outorgam o direito de viver neste Planeta. 

As pessoas gostam de fantasiar que as suas aspirações - magicamente - vão ser satisfeitas com o acto - também mágico - de colocar um voto na urna. 

Porém, a verdade é que o sistema montado, é tal que, os mais destituídos de qualidades, mormente morais, são os que têm maior probabilidade de serem seleccionados para os postos de comando. Claro que este tipo de selecção «anti-dawiniana» (ou pseudo-darwiniana) se torna possível, apenas porque a oligarquia (os verdadeiros patrões) fornece todos os meios para que os seus candidatos tenham assegurada a eleição. 

As coisas só poderão ficar tremidas, se houver dois grupos, na oligarquia, com interesses contraditórios. Se os dois grupos tiverem um somatório de trunfos bastante semelhante, a luta torna-se muito depressa violenta, selvagem, desaparece o verniz «democrático», entra-se num período de guerra civil, larvar ou real. A farsa chamada eleição presidencial nos EUA, está aí para ilustrar o que acabo de dizer. Mas noutros países podem ocorrer, e têm ocorrido, semelhantes fenómenos.

Então perguntarão: que sistema de governo preconizas? 

- Que organização de sociedade tornará inviável o abuso sistemático de poder, pelos responsáveis políticos?

Eu respondo: 

- Será necessário um governo? Será impossível existir uma sociedade onde não ocorra uma diferença abismal de riqueza e de poder, entre as pessoas? 

Evidentemente, não desejo que a sociedade entre em regressão para eras pré-tecnológicas, como se tal tivesse o condão mágico de restaurar a «pureza» de tudo e de todos! 

Porém, as formas de domínio que existem, quanto mais elas acentuam as assimetrias de poder e de riqueza, mais se afastam do que é o nosso comum entendimento de justiça e de equidade. 

A eliminação destas formas de opressão só poderá ocorrer pela tomada de consciência das pessoas, por compreenderem que estão uns poucos - pouquíssimos, na verdade - a parasitar o trabalho honesto e esforçado da imensa maioria, desviando parte substancial da riqueza produzida para satisfazer luxos, mas - sobretudo - para reforçar o seu arsenal e fortificarem-se melhor, nos seus domínios.

Daí, a importância do controlo da informação, através de mecanismos subtis, ou não, de influenciar a opinião da imensa maioria. As pessoas não se apercebem que estão sob influência, estão convictas de que, aquilo que pensam, resulta somente do seu espíritoque este pensamento não é fruto de permanente matraquear de «informação», na realidade, de propaganda disfarçada.

A construção duma sociedade onde não haja esta enorme divisão de poder é possível e desejável, para muitos. Porém, não estão as pessoas suficientemente alertadas para as armadilhas, como a de confiar que num partido, corrente, ou líder, é que reside a «verdade», a «salvação»; apenas são construções de poder, onde alguns manipulam os sentimentos e raciocínios dos adeptos.  

Eu acredito que grupos de pessoas, que partilhem uma visão de como a sociedade se deve auto-regular e auto-construir, podem desde já tomar passos decisivos para construir colectivos, ou sociedades em miniatura, que se rejam pelos valores da igualdade, da participação e partilha real do poder, que sejam autónomas o suficiente dos que dominam a sociedade presente, para não temerem serem esmagadas, logo que comecem a ter sucesso. Mas, é também crucial que estes colectivos se mantenham em contacto permanente com o resto da sociedade; não devem ser ilhas ou «colónias» isoladas. Tem havido, ao longo dos séculos, alguns grupos assim, isolacionistas, mas eles não duram muito, ou porque se desenvolvem tendências autoritárias no seu interior, que deitam a perder o que havia de bom neles ou, porque suscitam hostilidade no entorno, porque não captam a simpatia das pessoas que vivem nas proximidades. 

Creio que existem muitos caminhos para nos desfazermos das opressões, mas é preciso ter em atenção que são necessárias capacidades estratégicas e que estas devem ser partilhadas:

- É necessário compreender bem os mecanismos pelos quais se perpetuam as diversas modalidades de opressão nesta sociedade. 

- É preciso compreender quais os factores críticos para se manter o presente status-quo

- É necessário saber construir estratégias alternativas, que nos permitam satisfazer necessidades básicas; comida, abrigo, protecção. 

- Mas, sobretudo, é preciso uma forte motivação. 

Infelizmente, temo que só haverá tal motivação forte na maioria das pessoas, quando a sociedade entrar em colapso e houver muito perigo no dia-a-dia, pessoalmente e para os nossos familiares e amigos. Uma situação de guerra ou guerra civil, é o que nos vem logo à cabeça e com razão porque, nestas circunstâncias, vem ao de cima o que existe de pior nos humanos... 

As pessoas renunciaram demasiado à liberdade, a favor da ilusão da segurança. As oligarquias no poder sabem como aproveitar o medo e têm usado esse saber - infundindo o medo irracional da morte, por exemplo - para impor a sua lei. Mas o seu desempenho, apesar de triunfar na aparência, está a causar uma ruptura nos fundamentos da civilização, do contrato social implícito. Neste, os humildes, os explorados, todos os que não são beneficiários do poder, são mantidos numa passividade, aparentemente satisfeitos mas, na realidade, por medo de perder o pouco de conforto que conseguiram, senão mesmo a vida. Para pessoas cativas nesta configuração mental, uma posição radical não tem razão de ser: seria fútil e inútil. Quando as pessoas «já não têm mais nada a perder, senão os seus grilhões», segundo a fórmula consagrada, é aí que se mobilizam para encontrar outra forma de vida. 

A escala da destruição do «Great Reset» em andamento mundialmente, já é assustadora, mas ainda não atingiu o grau que a oligarquia mundial pretende. 

Talvez -inadvertidamente - estejam a insuflar os ventos da revolução, mas da verdadeira, não da falsa «revolução verde» e da «rebelião contra a extinção», ou doutras mascaradas, orquestradas por eles, para desviar a energia das massas, das pessoas jovens, que sentem não ter seu lugar dentro desta sociedade. Muitas pessoas, que caem neste logro, rejeitam este capitalismo caduco, predador, anti-ecológico, daí que sejam manipuladas a darem a sua adesão a este beco sem saída da perpetuação do capitalismo sob outras colorações.

                      

PS1: Veja as fotos abaixo nos EUA, centenas ou milhares de pessoas nos seus carros fazem bicha para obterem ajuda alimentar. Esta cena vai tornar-se banal em toda a área do chamado Ocidente, dentro de pouco tempo.


                             Isto aconteceu no passado 16 de Nov.

PS 2: é sintomático o caso do Tribunal Supremo da Áustria, que considerou não-constitucionais as leis e regulamentos passados pelo governo, na sequência da crise do COVID, noticiada a 22 de Julho deste ano. Em toda a media europeia, esta notícia de grande relevância, passou despercebida, como se nada fosse. Estamos perante ditadura não declarada, ao nível europeu. Está-se nos primeiros passos de um estado totalitário.

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PS 3: «O que está em curso é um processo de concentração de riqueza (e de controlo de tecnologias de ponta), sem precedentes na História mundial, pelo qual os potentados financeiros (detentores de créditos no valor de biliões de dólares) se posicionam para se apropriar de bens tangíveis (não financeiros), propriedade de empresas falidas e de Estados.» 

 Prof Michel Chossudovsky citação no seu livro electrónico "The 2020 Worldwide Corona Crisis..."

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PS4: Matthew Ehret diz-nos no artigo seguinte qual a verdadeira face dos globalistas: Nazi Healthcare Revived Across the Five Eyes: Killing Useless Eaters and Biden’s COVID Relief Bill

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

O RESULTADO DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NOS EUA...

 É sempre o pior possível! Quando a máquina poderosa do Estado Profundo dos EUA se põe a manipular tudo e todos, sobretudo os candidatos aos mais altos cargos de poder, muita coisa pode acontecer, mas nunca em favor do povo. 

O povo é que NUNCA ganha, enquanto o «establishment», os grandes e poderosos lobbies que constantemente rondam Washington, sim: com qualquer candidato eleito, ganham eles, porque mantêm o controle... 

Como escreve a excelente jornalista Caitlin Johnstone, «o retrato do Império USA é o de um sorridente assassino em série.»  

                     

Pouco importa a que gang pertença, se ao «Partido Democrático» ou ao «Partido Republicano», as duas alas do Partido Único no poder. 

A violência política é o espelho de uma mentalidade intolerante. Tanto mais intolerante quanto, no fundo, estão de acordo sobre muitas coisas, os activistas que se confrontam, se agridem e se matam. Confrontam-se em torno de etiquetas, de símbolos, de figuras carismáticas ou odiadas. 
Sobre as coisas que realmente interessam, tanto ao povo americano como ao mundo, adoptam «naturalmente» o ponto de vista do poder. Estão - à «esquerda» e à «direita» - sujeitos a uma lavagem ao cérebro constante e em profundeza, desde pequenos. 
Não conseguem realmente raciocinar, os que estão por baixo, só uns poucos escapam a esta situação. Há um fosso, não apenas de riqueza material, entre ricos e pobres, mas também no acesso à cultura e à educação, a uma educação de qualidade onde se possa desenvolver o pensamento crítico. 

Nesta altura é importante que o mundo compreenda que - com Trump ou Biden - o rumo estratégico internacional dos EUA já está definido por pessoas que nunca foram eleitas e que o público, em geral, ignora quem sejam. 

Para caracterizar o poder nos EUA, a melhor analogia é o símbolo da hidra de múltiplas cabeças, da mitologia: de nada servia seccionar algumas dessas cabeças, pois as outras iriam tomar o seu lugar. 


Com efeito, a solução ao problema, não é «cortar algumas cabeças da hidra», mas tirar de cena o monstro (o imperialismo e totalitarismo), que tem devastado o planeta e continua a ameaçá-lo com guerras e todas as desgraças possíveis, para conseguir sobreviver e se manter no poder, durante mais um ou dois decénios (no máximo).


PS1 (08/12/2020): veja a entrevista de Gerald Celente sobre esta eleição e o sistema eleitoral dos EUA.

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

O QUE É DESIGNADO POR «DEMOCRACIA» É SIMPLESMENTE UMA FRAUDE



ALTERNATIVA À FRAUDE ... EXERCÍCIO DIRECTO DO PODER PELAS PESSOAS
                                  

Estamos num período crítico, não porque se avizinham eleições presidenciais nos EUA, o super poder mundial, mas pela existência de uma crise terminal do capitalismo (não há Covid que possa disfarçar!). Ela está aí mesmo, é preciso tomar a realidade como ela é: por isso, a famosa citação de Emma Goldmann - há cerca de um século - é sempre válida, mas agora será mais actual do que nunca.

Os que se auto designam como dirigentes, quais lobos interessados em apaziguar o rebanho de ovelhas, vão dizer-lhes tudo aquilo que elas gostam de ouvir, para as adormecer. Na verdade, não são da «raça» dos lobos, são antes da «raça» dos abutres, que se alimentam de despojos de seres vivos. 

Vão prometer tudo como o costumam fazer, porque o eleitorado sofre de amnésia crónica: esqueceu, com certeza, as promessas solenes que lhe foram feitas, de um extremo ao outro do espectro político, pelos candidatos... nas eleições anteriores.

Além disso, vão exibir ao eleitorado um engodo, um engodo tão grosso que será difícil - do lado dos oprimidos - escapar. Estou a referir-me ao «rendimento básico universal» (ou incondicional), o «maná» caindo, não do céu, mas do banco central, que está/irá imprimir (digitalmente) triliões, para fornecer a qualquer pessoa, sem condições. 

Esta quantia será apenas o suficiente para a pessoa não morrer de fome. É preciso ter em conta que irá de par com o disparar da inflação, que se irá transformar muito depressa, em hiper - inflação. Mas isto, os políticos não o dizem. 

A medida, tida por muitos como um avanço social, não vai aligeirar nada, antes vai sobrecarregar as pessoas que ainda têm trabalho. Estas, terão de trabalhar mais e terão muito mais insegurança no posto de trabalho: logo, não terão reais possibilidades duma vida decente.

O grande capital já compreendeu que o futuro é a robótica: um robot pode escangalhar-se, mas não faz greve; o seu «salário», é apenas um pouco de electricidade. 

A outra face da sociedade robotizada, é a existência de 80% de pessoas redundantes, do ponto de vista do processo produtivo. 

Numa sociedade socialista, a robotização não seria um problema, pois seria ocasião para aligeirar as horas de trabalho dos trabalhadores, repartindo-o por vários, criando novos postos de trabalho, úteis socialmente, mas que hoje em dia têm pouco ou nenhum reconhecimento social e portanto não são remunerados, ou são-no miseravelmente. 

Uma sociedade socialista iria aproveitar para libertar as energias criativas que existem em cada um, permitindo que muitos possam exercer «hobbis» ou aprofundem sua formação, o que irá enriquecer a sociedade no seu conjunto.

Mas, para capitalistas, malthusianos e globalistas do tipo «Davos», isto está fora de questão. Eles têm de manter as rédeas da produção e mesmo, determinar o que deve ser a sociedade do futuro. Aliás, não têm dúvidas acerca da sua própria superioridade: muitos são, de facto, racistas e elitistas, porém espertos o suficiente para não o declararem em público.

A única maneira das pessoas retomarem o controle sobre suas vidas, é abandonarem a ilusão de que esta sociedade é democrática, tanto no sentido etimológico - que significa «poder do povo» - como em qualquer outro sentido. 

Compreender que a propaganda, o «marketing político» - que não é, afinal, diferente dos outros - tem como objectivo fazer as pessoas aceitarem como bom, exactamente aquilo que lhes retira qualquer poder, que os transforma em escravos modernos. 

As pessoas precisam de acordar, deixarem de ser iludidas pela propaganda, pela difusão constante de mensagens assustadoras, causadoras de psicose colectiva. Mas para tal, precisam de falar entre elas, precisam de quebrar barreiras internas e artificiais que impedem que haja uma troca de opiniões entre familiares, amigos, colegas, ou conhecidos...

As pessoas irão acordar e perceber que as estiveram a iludir, a meter-lhes medo, para as levarem a aceitar algo que, na véspera, pura e simplesmente consideravam inconcebível.

Acredito que existe saída para a FRAUDE que infesta as sociedades ... Chama-se EXERCÍCIO DIRECTO DO PODER PELAS PESSOAS (ou Democracia Directa).

terça-feira, 12 de novembro de 2019

ESPANHA: SANCHEZ E IGLESIAS ALCANÇAM ACORDO DE GOVERNO

Segundo notícia de hoje de El País, os líderes do PSOE (Sanchez) e Unidos/Podemos (Iglesias)  chegaram hoje a um acordo de governo, que está delineado e foi divulgado nas suas grandes linhas. Este acordo será a base para a apresentação do novo governo nas Cortes, tendo boas probabilidades de ser um governo com viabilidade para os 4 anos da legislatura.

Se houver um desempenho na realização deste acordo, com os vários pontos programáticos, é caso para felicitar as forças em causa (PSOE e PODEMOS) e o povo de Espanha, porque me parecem ter o bom-senso fundamental das transformações possíveis e para melhoria do povo, especialmente os mais carenciados.


                       Pedro Sánchez y Pablo Iglesias antes de reunirse el pasdo 11 de junio en el Congreso.

Pode-se inverter o tacanho provérbio português e dizer: «De Espanha, bons ventos e bons exemplos»!

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

QUAL É O VERDADEIRO CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES?

Neste início de 2019, escrevo reflexões que podem - ou não - estar caducas, obsoletas, dentro de pouco tempo. Mas, de qualquer maneira, se escrevo «para a posteridade», é só para a posteridade de mim próprio, ou seja, para eu próprio saber me situar no futuro em relação ao presente, uma medida do caminho que o mundo percorreu e que eu acompanhei, ou não...

Em primeiro lugar, estamos perante uma viragem tectónica de civilização. De uma civilização mundializada sob um paradigma totalitário tecnológico, estamos a passar para um paradigma onde se podem afirmar uma multiplicidade de actores, de poderes, de produtores de saber e técnica. Neste aspecto sou optimista, pois este tipo de evolução - creio  - será mais benéfico para a humanidade e para a civilização, do que uma monstruosa centralização de poder, por cima de diferenças culturais e de desenvolvimento económico, como o globalismo mais desenfreado nos queria (e quer) impor. 

Em segundo lugar, confirma-se a tendência para a perda de hegemonia do dólar enquanto moeda principal das trocas comerciais e como moeda de reserva dos bancos centrais ao nível mundial. Assim, estou convencido de que os próprios EUA vão estar mais centrados em si próprios, mais interessados em desenvolverem o seu próprio potencial e menos interessados em projectarem o seu poderio em todas as direcções. 
O mundo vai sofrer uma crise económica de grande amplitude, esta vai ser um banco de ensaio para novas soluções ao nível monetário.
Consoante ganhe a visão totalitária tecnológica ou a visão multipolar soberanista, teremos um tipo de relacionamento diferente ao dinheiro e à forma como o encaramos: Como reserva de valor, ou como instrumento de submissão e chantagem; como fruto do trabalho, ou como produto de extorsão (mais-valia)...

As múltiplas facetas do dinheiro vão estar em jogo neste período de transição. Vai continuar a tentativa de digitalização absoluta e total, o que forneceria aos Estados e grandes corporações um meio de controlo totalitário dos cidadãos, até ao pormenor mais ínfimo das suas  vidas. Mas também se vão desenvolver criptomoedas completamente fora do controlo dos Estados, assim como esquemas de troca, de partilha, de construção de relações sociais não-mediadas pela visão capitalista de valor. 


A perda de centralidade do valor "trabalho" para a estruturação das sociedades e das vidas individuais das pessoas vai continuar a desenrolar-se e a causar muito sofrimento e disfunções: por muito que sofram desta disjunção as actuais gerações, a continuidade da sociedade, enquanto tal, deverá obrigar a um salto qualitativo dos valores que enformam a mesma: Vai haver outros meios para manter uma coesão social, para permitir um funcionamento colectivo do organismo social. 
Não posso adivinhar quais serão esses outros meios, nem sequer quanto tempo durará este processo de desagregação da sociedade baseada no valor trabalho. Mas, tenho a certeza que esta tendência se irá reforçando, pois ela se verifica, no mínimo, há três décadas; não é uma novidade.

O binómio capital-trabalho precisa de ambos os pólos para subsistir: se o pólo «trabalho» é inviabilizado, o pólo «capital» está imediatamente condenado, também. Por isso mesmo, embora tenha esperança na transição para uma sociedade pós-capitalista, não posso concebê-la como um tipo de capitalismo de Estado, vulgarmente designado como «socialismo» ou «comunismo», isso seria uma aberração. 
O Estado está para o capital, como o cofre está para o dinheiro ou as jóias que contenha. A função do Estado é preservar a estrutura da sociedade, onde se procura uma concentração de poder cada vez maior. O desígnio do Estado, enquanto tal, e de todos os seus actores políticos relevantes, ou seja, que disponham de alguma forma de poder, é de centralizar - cada vez mais - o referido poder sob todas as suas formas: político, jurídico, militar, policial, administrativo, económico, educacional e cultural... Por isso mesmo, qualquer partido é tendencialmente totalitário, mesmo que se auto-defina como «anti-totalitário», na sua ideologia. Com efeito, todos os partidos aspiram ao poder e, uma vez no poder, não desejam realmente partilhá-lo com os outros; se o fizerem, é porque não têm outra escolha. 

No sistema político dos países ditos «ocidentais», o poder dos aparelhos ideológicos e dos partidos, em particular, está fortemente limitado. Não é que as suas propostas tenham perdido actualidade, ou sejam menos adequadas ao mundo de hoje, do que o foram no momento do seu auge (talvez o auge, na sociedade portuguesa, tenha sido nos anos 70 -80 do século passado). 
A verdadeira razão da decadência do pensamento ideológico e partidário é que todos estão espartilhados por uma série de dependências económicas profundas, de conivências, cuja trama apenas é perceptível para os que observam o lado de dentro, do outro lado do palco, dos bastidores. 
O regime instaurado nas chamadas democracias liberais é um sistema intrinsecamente corrupto, independentemente da integridade pessoal do actor A ou B ou C. 
Isto, porque a capacidade de ganhar ou perder eleições está constantemente dependente de enormes máquinas de propaganda, que custam dinheiro, muito dinheiro mesmo. 
Todos os que querem ascender a presidentes ou primeiros-ministros, sabem que a  possibilidade de o serem depende - em primeiríssimo lugar  -da capacidade de veicular a sua mensagem, de «vender» a sua pessoa, ao eleitorado. 
Para tal, os conselheiros de imagem, que fazem o marketing eleitoral, são pagos a peso de ouro e dispõem de somas colossais para as suas campanhas de imagem. Sem isso, não haverá hipótese de qualquer candidato vencer. 
Por outro lado, os que fornecem os fundos são grandes capitalistas, empresas, entidades ou pessoas que têm algo a ganhar em termos muito pragmáticos, se o eleito for o candidato A e não B. As doações de tais entidades estão implícita ou explicitamente associadas a promessas e favores... 
O simples cidadão pode ter a ilusão de fazer uma escolha, mas esta, na realidade, não existe pois o jogo é determinado pelas forças do poder económico (incluindo potências estrangeiras e empresas multinacionais).

As pessoas só tomarão as vidas nas suas próprias mãos, quando descobrirem como têm sido desapossadas, menorizadas, como lhes tem sido extorquida a seiva vital. 
Todas as formas de autonomia, de cooperação, de entre-ajuda, de associativismo, que a humanidade já experimentou e experimenta, são bases perfeitamente adequadas para a construção duma sociedade política e económica do futuro: a única coisa que falta é lucidez e vontade de autonomia. 
As jovens gerações irão ser constantemente desviadas por ideologias e por consumismos, umas e outros com aparência de serem soluções «fáceis», imediatas, que vão ao encontro das aspirações confusas dos jovens. Acredito que algumas comunidades intencionais possam realizar - em parte - uma aproximação a esse novo paradigma social. 
Não acredito que uma revolução política possa trazer isso. 

As revoluções políticas que vimos ao longo do século XX trouxeram sofrimento, opressão, injustiças, por vezes ainda piores que as que vigoravam anteriormente. Os motivos profundos que levaram ao seu triunfo e manutenção têm a ver com o estádio de desenvolvimento das sociedades respectivas e da necessidade de consolidação dos Estados, como esteios do modo de produção capitalista. 
Pouco importa, se estes sistemas produziram capitalismos baseados na propriedade individual ou colectiva (capitalismo de Estado). O facto, é que em ambos os casos, oprimiram - tanto quanto o necessário - os seus povos. 
Não interessa reproduzir os erros do passado; por isso mesmo é muito importante estudá-lo atentamente, de forma a que se compreenda o que não fazer... 

É mais fácil agora imaginar sociedades funcionando segundo esquemas descentralizados, com as revoluções das comunicações e das energias renováveis. 
Uma e outra, que - aliás - estão muito estreitamente associadas, foram desviadas pelos senhores do capital para obterem um suplemento de centralização e de poder. Mas basta pensar um pouco, para vermos como podem ser instrumentos excelentes nas mãos de pessoas apostadas em fazer surgir núcleos económicos e sociais de autonomia, como «cogumelos» de nova forma de organizar a vida, a produção, o relacionamento de uns com os outros. 
Não é preciso, nem é conveniente, esperar pacientemente que venha uma hipotética «transformação cataclísmica». Podemos, em qualquer momento, pôr as mãos à obra e na nossa família, no nosso entorno social, na nossa comunidade, criar as bases para isso. 

Afinal, este será o verdadeiro «choque de civilizações»: o choque entre uma civilização caduca, esgotada e aquela que está nascendo debaixo dos nossos olhos (mas... é preciso abri-los, para a ver!)