From Comment section in https://www.moonofalabama.org/2024/03/deterrence-by-savagery.html#more

A selvajaria é uma jogada perdedora. Ao jogá-la os EUA e Ocidente estão a destruir toda a sua legitimidade e influência ideológica, normativa e institucional. Eles não podem sequer vencer militarmente o Hamas, Ansarallah e o Hezbollah, pois estes sobrevivem e lançam suas estratégias de supressão do inimigo e de luta de guerrilha. O objetivos de Israel não se concretizaram e os EUA estão mais isolados e extremistas, do que jamais estiveram. Isto não será esquecido; existem alternativas agora ao seu domínio.
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quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

MEDICINAS ALTERNATIVAS E HUMANISMO

A HOMEOPATIA E RICHARD DAWKINS 

DAMÁSIO E A ESTRANHA ORDEM DAS COISAS  

Existe um fascínio, hoje em dia, que é muito bem explorado e publicitado, para tudo o que é «medicina alternativa», ou seja, afinal o quê?

Nós sabemos que a Medicina foi sendo codificada, ao longo do tempo, assim como a sua prática foi sendo regulamentada, de modo cada vez mais estrito. 
Os futuros médicos foram sujeitos a uma formação académica cada vez mais diversificada e rigorosa nos requisitos científicos, ao ponto de que, cada vez mais, a figura do médico se confunde com a dum «cientista», que passa os seus dias fechado no laboratório a fazer pesquisa.
Esta imagem ingénua é mais difundida do que se pensa. As pessoas continuam a ter uma veneração muito especial pelos que dispensam a «cura», como nos tempos dos alquimistas, que infestavam as cortes e propunham a monarcas e súbditos pseudo-curas, a começar pela «cura de juventude»... os famosos elixires que tinham essa propriedade mágica do rejuvenescimento. A transmutação dos metais como o chumbo em ouro, era apenas uma forma de confirmar o poder mágico dos alquimistas, detentores da «pedra filosofal», que tudo curava.

                                     

Em relação à homeopatia, vale a pena ver e ouvir este pequeno vídeo acima, realizado por Richard Dawkins, um autor que - com certeza - tem ideias bem definidas sobre o que seja ciência e racionalidade. Dawkins tem a coragem de questionar as suas próprias convicções, de ir buscar argumentos que dêem razão à parte contrária. Não é neutro, pois é impossível ser-se neutro neste domínio. 
Se, efectivamente, a homeopatia for uma pseudo-ciência, anda-se a vender uma falsa esperança a milhões de pessoas, anda-se a desviar também recursos escassos (não apenas dinheiro, como meios técnicos e humanos consideráveis), à conta do contribuinte!  

Na verdade, estou interessado em procurar um caminho de empatia, quer para com os pacientes, quer para com os terapeutas, especialistas em terapias ditas «alternativas». 

Isto, porque acredito na eficácia do efeito sobre o paciente da convicção do terapeuta; do facto do paciente compreender que o terapeuta é uma pessoa com grande desejo de ajudar, que se preocupa em ouvir o paciente, que o examina com cuidado, etc. 

Se, por cima deste efeito de empatia, temos um efeito concreto das terapias ensaiadas ou não, é algo que pode ser sujeito a teste, a verificações objectivas, tratadas estatisticamente, para se verificar se, sim ou não, existe um mecanismo bioquímico ou biofísico no paciente que o conduz à cura, ou à regressão dos sintomas. 
Foi o que vários estudos tentaram fazer, mas os resultados destas avaliações são ambíguos, não esclarecem de facto, ao contrário do que  Dawkins diz no referido vídeo.

O complexo da questão reside no facto de estarmos perante um ser que sente e pensa, o paciente, o qual tem uma psique, que exerce um poderoso efeito sobre o «corpo» ou a «soma»: os efeitos psicossomáticos são muitos e complexos. Aliás, têm sido estudados muito a sério pela medicina e psicologia. 

O efeito placebo, nomeadamente, é tão importante, que os estudos para testar a eficácia terapêutica de qualquer medicamento, antes de ser aprovado, obrigatoriamente têm de incluir ensaios-controlo, em que todas as variáveis são iguais, excepto que a substância supostamente terapêutica, é substituída por algo inócuo, «um placebo», que não tem nenhuma acção curativa da doença, mas que também não afecta os voluntários. 
Assim, grande parte da melhoria observada nestes sujeitos é apenas devida a um efeito psíquico, o «efeito placebo»: o indivíduo, convencido de que está a tomar algo que terá efeitos positivos, tende a melhorar significativamente. 
Há um mecanismo misterioso e complexo que se põe em marcha, que fortalece as defesas endógenas do organismo, melhora o funcionamento dos órgãos, numa série de retro-controlos que se exercem, numa escala de complexidade impossível de se analisar. Impossível, porque não faz sentido fragmentar um todo, que é o ser, o indivíduo, com a psique unida ao corpo.

Agora, o que me parece cardeal é tirar a lição razoável das medicinas alternativas. 
Em vez de procurar denegrir/deslegitimar/ilegalizar algo que tem marcados efeitos benéficos em certos indivíduos, pelo menos, os médicos convencionais deveriam aprender dos terapeutas «alternativos», as formas mais atenciosas, mais pessoalizadas, do trato com o paciente.                                                  
Eu acredito que o paciente irá fazer muito caso das prescrições  e recomendações terapêuticas que o médico (convencional ou «alternativo») fizer, se e somente se plenamente convencido de que o terapeuta é uma pessoa realmente idónea, empenhada, que deseja sinceramente ajudar. 
Se o médico ou terapeuta se mostra apressado, distraído, ausente, nervoso, impaciente... o que estamos à espera? 
- Qualquer pessoa sensível irá sentir-se diminuída, na sua própria essência, sentirá que, ou se «submete» ao tratamento que não é questionável, ou então abandona. Muitos fracassos terapêuticos têm mais que ver com a falta de convicção do paciente do que com outros aspectos. 

As pessoas deveriam - de forma acessível ao seu nível de compreensão dos conceitos da biologia - receber uma explicação honesta das razões porque se fez um determinado diagnóstico, porque se segue um determinado tratamento. 
Há que convencer, que fazer com que o paciente assuma a sua quota-parte de responsabilidade, não no mero sentido do médico se descartar, para o caso de as coisas correrem mal, mas no sentido da cura ou melhoria ser comparticipada pelo paciente.
É evidente para mim que, se o paciente tiver a compreensão das causas da enfermidade e dos meios de sua superação, ele irá participar, conscientemente e também com o seu sub-consciente, no processo de cura. 
A terapêutica, seja ela qual for, terá maior eficácia, desta forma. Pois, só assim poderá conseguir mobilizar o organismo a operar internamente as transformações que conduzirão à derrota dos factores patogénicos. De facto, é assim que a terapêutica pode ir ao encontro do ser profundo; é assim que ambos se aliam, se conjugam e harmonizam. Quer a doença seja causada por factores intrínsecos ao indivíduo, ou por agentes externos, ele vai produzir moléculas que interferem com os agentes patogénicos. 

Sabemos como é complexo o mecanismo da imunidade, a vários níveis. Sabemos como são complexas e subtis as regulações homeostáticas  nos seres vivos, dos mais elementares (bactérias), aos mais complexos (humanos).

                                                   Bertrand.pt - A Estranha Ordem das Coisas

António Damásio produziu um belíssimo ensaio, cuja leitura aconselho a todos: «A estranha ordem das coisas». 
No decurso da sua leitura pude reafirmar ou fundamentar melhor as minhas convicções de longa data, como biólogo e como apaixonado da ciência da evolução. Foi uma ocasião para eu reflectir sobre conceitos biológicos que nos apresenta este autor, sob forma inteligível, incluindo as surpreendentes formas que a vida inventou para conseguir alcançar seus objectivos. Refiro, nomeadamente, os conceitos de sentimento, de autonomia, de homeostase, e muitos outros. É verdade, trata-se de uma «estranha ordem», quer para leigos, quer para estudiosos de biologia.

Se os princípios da homeoestasia, da simbiose e da empatia tomam cada vez maior importância na ciência de hoje, como parece ser o caso, tenho esperança de que algo se passe ao nível da relação das pessoas com a sua saúde, em geral. 
Tenho esperança que as pessoas assumam as suas responsabilidades na manutenção do equilíbrio corpo-espírito e que tomem parte activa na recuperação deste equilíbrio, quando caem doentes. 
Haverá maior preocupação na sociedade, em seguir os princípios da sabedoria? Assumiremos cuidar de nós próprios e dos outros, com verdadeiro amor?
Da parte dos profissionais de saúde, espero que haja mais humildade, maior respeito pela natureza. Esta é tão mais sábia, tão mais subtil nos seus fenómenos e processos, do que os saberes e técnicas, disponíveis ao nível médico-científico! 
Maior humanismo também, se deveria esperar de todos os agentes de saúde, médicos ou não, não esquecendo nunca que o paciente é um ser humano, digno da maior consideração.