From Comment section in https://www.moonofalabama.org/2024/03/deterrence-by-savagery.html#more

The savagery is a losing card. By playing it the US and the West are undercutting every ideological, normative and institutional modality of legitimacy and influence. It is a sign that they couldn't even win militarily, as Hamas, Ansarallah and Hezbollah have won by surviving and waging strategies of denial and guerilla warfare. Israeli objectives have not been realized, and the US looks more isolated and extreme than ever. It won't be forgotten and there are now alternatives.
Mostrar mensagens com a etiqueta diplomacia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta diplomacia. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 7 de março de 2024

AS RATAS SÃO AS PRIMEIRAS A ABANDONAR O NAVIO QUE ESTÁ A AFUNDAR-SE

 

  Victoria  Nuland distribuindo bolinhos e sandes aos manifestantes na pr. Maidan em Kiev, no Inverno de 2013

https://johnhelmer.net/nothing-in-nulands-life-became-her-like-the-leaving-of-it/#more-89522 


Analisando a súbita renúncia de Victoria Nuland ao cargo de Secretária Suplente para o Estrangeiro, compreende -se que ela não foi motivada pelas razões apresentadas em vários órgãos de imprensa corporativa. Segundo eles, tratava-se da sua deceção em continuar a ser preterida a favor de A. Blinken, no papel de Secretário de Estado (o equivalente nos EUA a ministro dos negócios estrangeiros na Europa). Mas, esta foi uma escolha de Biden, devida a uma longa amizade. Portanto, não é suscetível de haver mudança no final do mandato presidencial. 
Não, se Nuland se conformou com esta situação desde o princípio do governo de Biden, por que razão iria ela agora renunciar a um cargo que lhe permitia levar a sua política (como representante dos «neocons») ao âmago de várias questões políticas e estratégicas? 
Pensa John Helmer, no seu brilhante artigo, que se trata dela não querer estar associada à derrocada do regime de Kiev, que ela ajudou a instalar. Igualmente relevante, deve ser a sua russofobia patológica: assim não será forçada a negociar com a Rússia. Esta parece ser a tendência, agora, que a oligarquia imperial está a tentar fazer uma viragem na sua postura, que lhe permita limitar os estragos duma presidência desastrosa, como nunca antes, na História dos EUA. 
Além disso, tornou-se claro, até para os mais encarniçados inimigos de Trump, que este irá ganhar as eleições e que não haverá lugares para os neoconservadores. Ora, Victoria Nuland é, sem dúvida, a chefe de fila dos neocons.



Se a sua saída corresponde ao proverbial abandono pelas ratazanas do navio que se afunda, então devemos em breve assistir à corrida para a saída, às demissões no governo e administração, da parte de personagens de maior ou menor relevo na Administração Biden. 
Veremos...

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

JEFFREY SACHS - A liderança dos EUA está cometendo o maior erro que se possa conceber


 https://www.youtube.com/watch?v=MKMxMUG4cKA

A barragem de censura e de propaganda faz com que a media corporativa não se «atreva» ou não «goste» de publicar testemunhos independentes e corajosos, como o de Jeffrey Sachs.

Oiça com atenção este homem, professor universitário nos EUA, muito conhecido e respeitado e que tem mais de trinta anos de experiência, enquanto conselheiro económico dos governos soviético, russo e ucraniano, desde o início dos anos 90. 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

PAZ AGORA, POSSÍVEL E DESEJÁVEL

 Desde sempre que sou a favor da paz. Numa guerra, de parte e de outra, há  sempre argumentos válidos ou considerados como tais, para continuar e mesmo intensificar as ações bélicas. Mas, sob nenhum prisma, conseguem convencer-me. Tudo o que invocam os generais de poltrona, resume-se a dois falsos argumentos ou falácias:

1) Falácia do "ou eles, ou nós": se não formos nós a infligir uma derrota sem apelo, serão eles a fazer isso mesmo. Esta aparente necessidade "lógica" deixou de fazer sentido, quando sabemos que um inimigo poderoso, em vias de ser derrotado militarmente, pode ter a tentação de recorrer às armas nucleares. Mas, o argumento também vai contra a realidade histórica, visto que muitas guerras se resolveram através de diplomacia, de negociações para a paz. 

2) Falácia d' "os bons versus os maus": Que eu saiba, as guerras são sempre produto de seres humanos. Nunca nenhum lado tem 100% de razão. Os dirigentes políticos, os governantes de um e doutro lado, tiveram oportunidade de resolver o conflito por meios pacíficos, antes de recorrer a meios militares. Se não conseguiram fazê-lo, isso não significa que fosse impossível, mas que não houve empenho suficiente para encontrar um acordo. Os dirigentes e os propagandistas dirão sempre que a culpa, a falta de boa-fé, veio do lado contrário. De facto, os povos de ambos os lados é que são as vítimas, quase todas inocentes, de tudo o que de perverso, cruel, soberbo ou louco, os seus dirigentes congeminaram. 

Não existe qualquer desculpa para as partes em conflito não negociarem um cessar-fogo, verificado por entidades neutrais, como primeiro passo para as negociações de paz.

A passividade das pessoas, ou sua tomada de partido irracional por um dos lados, em detrimento do outro, tem permitido que os elementos belicistas, de um e de outro lado, pressionem os respetivos governos. Porém, qualquer pessoa culta, com conhecimentos de política, história e diplomacia, sabe que qualquer guerra tem, como desfecho, negociações. Nos casos em que não existiu um acordo de paz, as sociedades continuaram a viver no medo do reacender da guerra.

Se qualquer guerra tem de se concluir por negociações de paz, sabendo nós os incontáveis sofrimentos humanos, sabendo também a imensa destruição e empobrecimento geral, além dos perigos reais de confrontação nuclear, só loucos ou criminosos sociopatas não colocam como primeira prioridade o fim desta guerra e negociações para uma paz duradoura.

Na verdade, quem viu com seus próprios olhos uma guerra, sabe que não existe nada mais próximo do  "inferno na Terra", que isso. Mas, não é indispensável ter-se estado numa situação de guerra para se perceber e sentir verdadeira compaixão pelas vítimas, civis ou militares.

A paz agora é possível e desejável, cabe a cada um de nós fazer o seu melhor para apressar essa solução. A cada momento que passa, nas operações militares em curso, morrem pessoas, quase todas inocentes, mesmo as que vestem uniforme. A melhor maneira de parar uma guerra, é recusar embarcar na lógica falsa que acima apontei e demonstrar - por todos meios - que os povos não querem a guerra, e que os governos têm de trabalhar para a paz.






quarta-feira, 2 de março de 2022

INTERESSES ECONÓMICO-FINANCEIROS NAS REVOLUÇÕES E NAS GUERRAS




                                         Jogadas iniciais no xadrez da  2ª Guerra Fria 

O ambiente de histeria impede muitas pessoas de apreender «the big picture». O vento da propaganda traz o «nevoeiro da guerra», o qual é bastante espesso, agora. Mas, se a memória não me falha, não existiu nenhuma grande guerra, ou revolução, que não tenha tido, por detrás, interesses financeiros muito concretos.

Sobrevoando a Idade Moderna, podemos dizer que  as Guerras de Religião, iniciadas no século XVI com a ruptura teológica entre Lutero e o Papado, foram financiadas por banqueiros, quer do lado católico, quer do lado protestante. Depois, banqueiros judeus ou não, protestantes ou católicos, por igual, foram financiadores de muitas outras guerras: Por exemplo, da guerra de independência dos Estados Unidos. Financeiramente, a França depois de ter ajudado os rebeldes americanos, ficou em situação financeira mais precária. Terá sido um factor relevante para os acontecimentos de 1789? Uma boa pergunta, creio, para os historiadores económicos. Mas, alguns anos depois, a era napoleónica foi bastante ilustrativa da ligação entre grande banca e poder político. O golpe do 18 Brumário 1799, que instalou o Consulado, cujo primeiro-Cônsul era o general Bonaparte, foi levado a cabo com a colaboração de financeiros. Eles garantiram que Bonaparte e seus partidários tivessem pleno sucesso. Não admira que, também nessa época, tenham sido necessárias somas avultadas, para corromper diversos políticos e militares. Mas, pouco tempo depois, com a Europa toda em guerra, os diversos Estados tiveram de pedir emprestado aos banqueiros. A família de banqueiros Rothschild, com sucursais em vários países europeus, teve um sucesso enorme. Eles acabavam sempre por ganhar, quer tivessem apoiado financeiramente o lado ganhador ou o perdedor. Um século depois,  poderosos interesses financeiros (Industrialists Round Table, nomeadamente) jogaram a favor do eclodir da 1ª Guerra Mundial e da entrada dos EUA na mesma. O financiamento e o apoio concreto aos bolcheviks, antes e depois de 1917, por vários capitalistas, está hoje bem estabelecido: Trotsky conseguiu obter fundos e armas, junto de banqueiros e magnates nos EUA e no Canadá. Sem isso, o governo bolchevique talvez não tivesse sobrevivido, durante a longa e cruel gerra cvil.

No Ocidente, o fortalecimento do capital monopolista e da grande finança, colocaram as economias sob controlo dum punhado de ultra-ricos, com capacidade para apoiar a subversão do poder instituído. Tal financiamento e apoio foi sempre favorável aos golpes anti-democráticos, totalitários, sempre ao lado de Mussolini, Salazar ou Hitler. Eles desempenharam um papel-chave no derrube violento de governos legítimos, como o da República Espanhola em 1936

Mas, o pós IIª Guerra Mundial e, sobretudo, o pós Guerra Fria nºI, foram momentos da viragem definitiva, da transformação das «democracias liberais» em oligarquias, controladas discretamente por grandes banqueiros e governadas pelos seus homens-de-mão. 

Algumas situações imprevistas e desagradáveis - para a oligarquia - acontecem por vezes, visto que o sistema dito democrático implica a existência de sufrágio universal. Os países onde os resultados das eleições não sejam do agrado da elite, recebem duas formas de tratamento: Ou o golpe de Estado, ou a corrução da classe política

- Assim, no primeiro caso foi o que aconteceu, após a ascenção ao poder de Mossadegh no Irão, num golpe orquestrado pela CIA, e instalção do Xá. O triunfo da Frente Popular no Chile, foi seguido poucos anos depois pelo sangrento golpe de Pinochet. A subversão violenta da democracia ocorreu, também, no golpe do «Euromaidan» em 2013 na Ucrânia, golpe fomentado pelos EUA e pela UE.  

-Alternativamente, os resultados eleitorais são nulificados pela corrupção e pela traição, anteriores às eleições, mas só visíveis passado algum tempo, dos chefes e dos partidos. A corrupção acaba por ser mais poderosa do que as balas, pois há circunstâncias em que «a bala sai pela culatra», ou seja, os resultados esperados pelo fomentar da subversão violenta, falham (veja-se o caso recente do Casaquistão). No caso da subversão por instrumentos financeiros, é quase garantido o seu sucesso e - cinicamente falando - acaba até por ser menos dispendioso. 

Com efeito, a ruptura da vida política dum país, implica fazer correr sangue - embora os financeiros se importem pouco ou nada - mas também, a ruptura do tecido económico. Mas, a gravidade e extensão dessa ruptura é imprevisível. Por isso, o derrube violento do governo às vezes implica que as destruições são tais - pensem no Iraque, na Líbia, no Iémen e noutros Estados - que os golpes deixam de ser «rentáveis»: A economia desse pais deixa de estar em condições de fornecer os rendimentos esperados pelos financiadores do golpe para pagar os custos da operação.  

Um efeito da guerra mista que estamos a presenciar, com suas frentes militar e económica, assim como a da  informação ou propaganda, tem como resultado evidente, desde logo, que todos os intervenientes perdem. 

Basta pensarmos um pouco e observarmos a realidade: Portanto, podemos esperar perdas no domínio económico e financeiro, nos países mais envolvidos do lado Ocidental, nos países da NATO. Claro que a Rússia também irá sofrer perdas severas, mas as sanções possiveis foram, com certeza, avaliadas e foram tomadas as devidas precauções, com muita antecedência.  

De momento, é a China que está a «ganhar nos vários tabuleiros»: 

- Diplomático: Irá ajudar nas negociações entre as partes em conflito. Isto é uma vitória diplomática importante para a China, pelo facto de ser chamada para ajudar a resolver um conflito na Europa

- Economia e geoestratégia: A China fica com a Rússia (muito mais) dependente dela. Note-se que, antes, a Rússia podia equilibrar a influência ao nível comercial e económico, do grande parceiro do Oriente, com os parceiros do Ocidente. Agora, há um fosso profundo entre a Rússia e o Ocidente, que dificultará a retoma de relações económicas, mesmo depois desta crise passar. 

- Finalmente, os EUA, os inimigos principais da China que, aliás não o escondem,  saem diminuídos e desprestigiados. Depois de terem empurrado a Ucrânia, país seu aliado, para uma guerra, faltaram às suas promessas. Portanto, muitos países olham agora com maior prudência as alianças com o Tio Sam.  Mesmo os governos dos países europeus, por mais vassalizados que estejam, irão questionar-se: Vão entregar sua defesa coletiva à NATO, recheada de políticos e generais atlantistas, vassalos dos americanos, agressivos e incompetentes? Não seria melhor uma verdadeira estrutura de defesa europeia? Esta hipótese tem sido periodicamente levantada por europeus, desde os anos 1990, pelo menos, mas tem ficado «no papel», pois temem desagradar ao «Big Brother» Yankee.

NB: Alguns links para artigos recentes, abaixo, mostram como a oligarquia, as grandes corporações e bancos influem, discretamente, nos acontecimentos políticos, diplomáticos e militares. 

https://www.unz.com/article/jewish-subtexts-in-ukraine/

https://www.zerohedge.com/energy/big-oil-turning-its-back-russia

https://www.armstrongeconomics.com/international-news/politics/war-and-inflation-to-impact-us-midterm-elections/

https://www.zerohedge.com/news/2022-03-06/ukraine-and-ngo-archipelago


PS1: Neste momento (03/03/2022), quem deseja a paz e quem deseja a CONTINUAÇÃO da guerra?
Os primeiros são o povo ucraniano, incluindo as forças armadas; os segundos são os imperialistas americanos, os seus vassalos mais abjetos na Europa (como U. Van der Leyen) e sobretudo o capital financeiro, que cada dia que passa, tira mais vantagens e lucros, em resultado da especulação sobre os mercados, sobretudo, os mercados de capitais. Os russos estão numa situação paradoxal, cumprindo os objetivos do ponto de vista militar, mas isolados, com sanções económicas e fraco apoio diplomático. Mesmo a China não está a apoiá-los «de corpo e alma», mostra reticências muito evidentes quanto à fatídica decisão de invadir a Ucrânia. Acredito que os russos preferem um cessar-fogo, agora, que estão em boa posição no plano militar. Poderiam fazer mais pressão a favor da solução que eles pretendem alcançar com a guerra. Sei que o que escrevi acima, é muito evidente; apenas quero enfatizar que há demasiada propaganda nos media, fazem guerra psicológica, mas não ao povo russo, antes ao seu próprio povo!


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

NUNCA FOI TÃO CLARO QUEM QUER A GUERRA NA EUROPA

Alexander Mercouris é um analista de geopolítica, que tem pautado suas análises pela descrição rigorosa dos movimentos no terreno, quer militares, quer diplomáticos. Tenho uma visão positiva do seu trabalho, porque graças a ele, tenho melhorado muito a minha visão dos problemas e do que realmente conta, neste mundo complicado e muitas vezes enganador das potências em concorrência e de ameaças de guerra, por vezes. 


Ora, aquilo que Mercouris diz, não podia ser mais claro. Ele corrobora a minha tese de que os americanos desencadearam toda esta crise de «ameaça» russa de invasão da Ucrânia para inviabilizar a independência energética  da Alemanha, impedindo que o gasoduto Nord Stream 2 entrasse em funcionamento. 
Os americanos não tiveram a mínima consideração pelos interesses dos próprios ucranianos, ao ponto de desprezarem e ignorarem as posições oficiais do governo e presidente da Ucrânia, de que não estaria iminente qualquer invasão russa. 
Esta posição de Washington tinha como motivação de base, reforçar a coesão dos aliados europeus da NATO, em torno das posições americanas, mas teve exatamente o efeito oposto. Vemos assim uns EUA, tentando aumentar a conflitualidade nas fronteiras da Rússia, em detrimento dos países envolvidos, sejam eles da NATO, ou candidatos, como é o caso da Ucrânia. 
Eles, como diz muito acertadamente um editorial do «oficioso» Global Times chinês, não se importam em desencadear uma guerra a milhares de quilómetros das suas fronteiras, pois isso vem servir os seus objetivos de hegemonia. Aliás, muitos cidadãos americanos não fazem ideia onde se encontra a Ucrânia e - portanto - o poder de Washington tem as mãos livres para fazer a sua política sem preocupação significativa sobre a opinião das populações americanas, as quais - certamente - seriam afetadas (talvez entre as primeiras!), caso houvesse uma guerra nuclear!

Reforça-se, portanto, a convicção de que a geopolítica mundial se tem estado a organizar em torno de dois grandes eixos geopolíticos: 

- O eixo «atlantista», composto pelos EUA, potências anglófonas Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia e pelos países do continente europeu sob bandeira da NATO: São no total 30, desde a poderosa economicamente, mas subordinada militarmente, Alemanha, até ao minúsculo Montenegro, da ex- Iugoslávia. 

- O eixo euro-asiático, composto pela China e Rússia e pelos países da Ásia Central aliados, nomeadamente, os que fazem parte, ou são candidatos, à Organização de Cooperação de Xangai. 

No resto do mundo, existem muitos outros países, uns que estão do lado atlantista, outros do euro-asiático, enquanto muitos outros balançam entre os dois.

A Rússia tem todas as razões para estar preocupada, visto que comprometeu-se a defender as populações russófonas do Don, sendo estas ameaçadas pelo poder de Kiev, que não desiste de usar a força, fazendo tábua rasa dos acordos de Minsk, por si assinados, em que o processo de paz foi delineado, mas nunca implementado por Kiev.

 Neste processo, as partes em conflito, a Ucrânia (Kiev) e as duas repúblicas separatistas de Donetsk e de Lugansk, aceitavam um cessar-fogo controlado e monitorizado pela OSCE, seguido por um processo de referendo, com vista ao estatuto de autonomia das províncias separatistas. 

Nada disto foi implementado, porém, havendo até leis votadas no parlamento de Kiev, que negam a própria letra dos acordos de Minsk. No entanto, é inegável que não existe outra solução. 

O desgaste - pelas frequentes incursões dos nazis ucranianos do Batalhão Azov, assim como os cobardes bombardeamentos contra populações civis das duas repúblicas separatistas - não pode fazer vergar a população. Apenas aviva a resistência e não tem outro fim, senão de garantir aos russófobos e neonazis, que o governo de Kiev «merece a sua confiança». Ou seja, este governo é refém da extrema-direita sem aspas, que glorifica Stepan Bandera e outros colaboradores dos nazis durante a IIª Guerra mundial, autores e cúmplices de crimes de guerra.

Enquanto houver uma chantagem permanente do império americano, querendo conservar a sua hegemonia, sobretudo no continente europeu, nós europeus, seremos apenas «carne para canhão», quer estejamos nas margens do Atlântico, quer nas fronteiras russas, quer em Paris, ou Berlim, ou Kiev ou Moscovo! 

É assim que nos veem os globalistas que controlam o poder em Washington. Note-se que os próprios governos da Europa sabem isso perfeitamente, embora o disfarcem. O paradoxo é gritante: A NATO, aliança supostamente criada e mantida para a segurança dos seus membros, em vez de trazer segurança ao continente europeu, apenas traz riscos de guerras e - mesmo - de guerra nuclear.

O caminho para o desmantelar da NATO, já o delineei em artigo anterior: uma conferência entre potências europeias (como a conferência de Westfália) em que se estabeleçam tratados, garantindo a segurança das fronteiras e a utilização sistemática dos canais diplomáticos para resolução dos conflitos, presentes ou futuros.

PS1: Exibindo a sua arrogância e ignorância, Liz Truss, a Secretária dos Negócios Estrangeiros, fez gaffe sobre gaffe no encontro com Lavrov (um excerto abaixo):

According to Russian media, Lavrov questioned whether London recognizes Moscow’s sovereignty over the Rostov and Voronezh Oblasts, in which Truss replied: “[the UK] will never recognize Russia’s sovereignty over these regions.” British Ambassador to Moscow Deborah Bronnert had to embarrassingly intervene and remind Truss that the two oblasts are actually considered Russian territory by London and are not claimed by any other country, including Ukraine.

This embarrassment follows on from Truss saying on January 30 that “we are supplying and offering extra support to our Baltic allies across the Black Sea” – the Baltics and the Black Sea are on the opposite sides of Europe to each other.

    Geografia segundo Liz Truss, secretária dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido


quarta-feira, 31 de março de 2021

NEW YORK TIMES E A CAMPANHA DE DESINFORMAÇÃO CONTRA CHINA E RÚSSIA


As linhas abaixo são a tradução de um excelente artigo de «Moon Of Alabama». O artigo completo (em inglês) encontra-se aqui

«... Eis a declaração conjunta do encontro Lavrov-Wang Yi que contradiz a insinuação do New York Times :

O mundo entrou num período de elevada turbulência e de mudança rápida. Neste contexto, apelamos à comunidade internacional para pôr de lado quaisquer diferenças e fortalecer a compreensão mútua, edificando a cooperação no interesse da segurança global e da estabilidade geopolítica,  para contribuir para uma ordem mundial mais justa, mais democrática e racional.
  1. Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis e interrelacionados...
  2. A democracia é uma das realizações da humanidade...
  3. A Lei Internacional é uma condição importante para a continuação do desenvolvimento da humanidade. ...
  4. Ao promover a cooperação multilateral, a comunidade internacional tem de aderir a princípios tais como a abertura e a igualdade, a abordagem não ideológica.... 

(Nota: para avaliar como o NYT distorce e inventa declarações, veja o que disse o ministro dos negócios estrangeiros chinês Wang Yi )

O Ministério dos Negócios Estrangeiros Chinês informa sobre  a publicação da Declaração em Quatro Pontos, citando Wang Yi :

Hoje, iremos publicar a declaração conjunta sobre vários assuntos relativos à governança global, expondo a essência de conceitos fundamentais tais como direitos humanos, democracia, ordem internacional e multilateralismo, reflectindo as exigências colectivas da comunidade internacional, em especial, dos países em desenvolvimento. Apelamos a todos os países a participar e a melhorar a governança global no espírito de abertura, inclusão e igualdade, abandonando a mentalidade de soma zero e o preconceito ideológico, pondo fim à interferência nos assuntos internos de qualquer país, favorecendo o bem-estar dos povos de todos os países através de diálogo e cooperação e construção conjunta de uma comunidade com um futuro partilhado para toda a humanidade.

Em caso algum a China rejeitou os direitos humanos, a democracia ou o direito. O autor do New York Times simplesmente fabricou isso. »

Leia artigo completo em inglês, aqui

Meu comentário: Sei que estas declarações são formais, sei que existe uma distância entre as declarações e as realidades no terreno. 

Mesmo assim, o que fez o NYT é essencialmente desinformar, pois as pessoas poderão ser levadas a acreditar que a posição oficial conjunta dos ministros dos negócios estrangeiros dos dois países é de arrogância, de querer «dar lições aos EUA» e de desprezo pelo direito e legalidade internacionais. 

Este tipo de falsificação é recorrente e estende-se a uma série de artigos, deste e doutros jornais, quando se trata da Rússia e/ou da China. 

Os media, ditos «de referência», transformaram-se em armas de propaganda, sem qualquer objectividade, apostados em condicionar a opinião pública e a fazê-la aceitar como «inimigos» estes países...   

É este o nível confrangedor do direito à informação - e, logo, à própria democracia -  nos EUA e nalguns outros países ocidentais.

PS: Estamos já na 3ªguerra mundial, pois se aplica a célebre citação, atribuída a Ésquilo: «Na guerra, a verdade é a primeira vítima.»

segunda-feira, 28 de maio de 2018

CIMEIRA KIM - TRUMP: HAVERÁ, NÃO HAVERÁ?

                       US officials in talks with North Korea over Trump-Kim summit – State Department
     [soldado sul coreano, fotografado no local de reuniões na linha de separação norte-sul coreana, em Panmunjom]

Decididamente, Kim Jon Un tem-nos habituado a sensações fortes, a voltefaces inesperados, a jogos diplomáticos subtis... tudo no oposto da pesada máquina da «diplomacia» americana, que apenas sabe jogar com o registo da ameaça da força bruta, militar, para vergar as outras potências, aliadas inclusive.
As afirmações de Pence estão na origem de um incidente diplomático, duma atitude de repúdio muito compreensível, expressa por uma ministra do governo Norte Coreano, portanto, para tomar como um aviso muito sério.  Em substância, o vice-presidente dos EUA, em entrevista televisiva, afirmou que a «solução líbia» (ou seja, o invadir, arrasar e assassinar o presidente) era a opção, caso as conversações de paz não chegassem a bom termo. Isto numa altura em que as diplomacias dos dois países se ocupavam com os pormenores para a cimeira Trump - Kim. 
Não há dúvida que Pence é um instrumento dócil do «Estado profundo» dos EUA, tanto mais que, na abertura dos jogos olímpicos de inverno, na Coreia do Sul há apenas alguns meses, tinha feito declarações muito ofensivas, pouco diplomáticas, até uma total ausência de cortesia para com a Coreia do Sul, ao comentar de forma provocatória os contactos exploratórios e a aproximação «olímpica» entre as duas Coreias.

Estes episódios rocambolescos que antecedem a famosa cimeira não devem dar qualquer ilusão de que é neste cenário que coisas importantes se vão decidir. Quando a cimeira ocorrer, se tiver lugar, tudo já estará tratado. Mesmo  assim, vai ser importante para Trump, como um golpe de publicidade para a sua capacidade na arena internacional e para Kim, como consagração do regresso (se é que jamais lá esteve) aos circuitos «normais» da diplomacia e da abertura da Coreia do Norte a um diálogo  com a República Sul Coreana...

Nos EUA  - e, mesmo, na Coreia do Sul - não são poucas as forças que desejam e apostam no fracasso destas iniciativas de paz. 
A guerra é o seu sustento: Literalmente, no caso dos fabricantes de armas e seu poderoso lobby; mas indirectamente, em relação a todos os que, quer sejam democratas, quer republicanos, têm feito a sua carreira em torno da reactivação da Guerra Fria. 
São estas as pessoas que fazem parte do «Estado profundo» (altos funcionários da CIA, NSA, Pentágono, Departamento da Defesa...), ou que por ele se deixam manipular. 
Pence, embora vice-presidente de Trump, mais parece um vice-presidente do «Estado profundo». É um actor secundário, mas ficámos a saber - pela sua própria boca - como é que seria - ao nível das relações internacionais - a «presidência Pence», caso ocorresse algo ao actual presidente (morte súbita, assassinato, impeachment...). 

Curiosamente, nos EUA, maior potência mundial, as políticas externas são ditadas - numa larga medida - pelas intrigas da política interna. Não existe visão geoestratégica de largo alcance, ao contrário do que seria de esperar, de quem pretende guardar para si a hegemonia mundial.